09 - Ele é o Senhor que nos livra da morte.
Naquela noite, Marcelo e Luciana foram visitar a igreja dela; Claudia preferiu ficar em casa, e antes que os dois saíssem o pai ligou chamando-a para jantar, e ela concordou.
Chegou à casa dos pais, pouco mais depois das oito horas, e apesar de ela ainda ter as chaves, pois os pais não permitiram que nenhuma das filhas ficassem sem as chaves de casa, ela preferiu tocar a campainha.
- Oi minha filha! - Cumprimentou a mãe. - Cadê a sua chave?
- Estão na bolsa mamãe! - Respondeu beijando a mãe.
- E por que você tocou a campainha? - Perguntou confusa.
- Acho melhor assim. Não moro mais aqui, agora sou apenas uma visita.
- Essa casa é sua, e jamais você será apenas uma visita na sua própria casa. - Disse a mãe melancólica.
- Não precisa ficar assim mamãe, eu estou bem assim. Se precisar usar a minha chave eu usarei, não fique triste.
- Vocês duas vão ficar até quando aí na porta fuxicando? - Perguntou Pablo sorrindo, vindo ao encontro da filha e abraçando-a.
- Oi papai! Tudo bem? - Perguntou abraçando-o também.
- Estou bem! Apenas com saudades da minha filha mais velha. - Comentou pesaroso.
- Eu também papai, eu também! - Sussurrou desolada.
O jantar como sempre estava ótimo. E ao terminar de jantar, ela pediu licença e foi falar com a cozinheira, uma senhora que ela conhecia desde criança, e amava profundamente.
- Oi nana! - Cumprimentou da porta. A boa senhora, apareceu em seu campo de visão, sorrindo genuinamente, feliz em vê-la.
- Oi minha filha! Como você está? - Disse dona Conceição, abraçando-a fortemente.
- Eu estou bem! E a senhora? Só com saudades da sua pupila? - Brincou sorrindo.
- Com certeza eu estou com saudades, sem você aqui minha cozinha fica muito arrumada.
Claudia apenas sorriu, lembrando das inúmeras vezes, que foi imensamente feliz na cozinha da dona Conceição; de todos os funcionários que a família tinha em São Paulo, apenas ela quis seguir com a família para o Tocantins.
- Você está diferente hoje! Está mais alegre, os seus olhos estão brilhando. - Comentou sorrindo.
- Eu estou me sentindo diferente. Não sei o que está acontecendo, de repente é como se eu estivesse mais leve, não sinto tanta raiva mais, não sei explicar.
A boa senhora a abraçou, chorando.
- Oh, minha filha! Deus ouve as orações dos que o amam. - Disse emocionada.
- Ah, não! Até a senhora dona Conceição! Quando foi que a senhora, passou para o lado de lá? - Perguntou curiosa, e a senhora sorriu.
- Se você quer dizer o lado de Deus, desde sempre minha filha. - Respondeu olhando-a nos olhos.
- E por que nunca me disse nada? - Perguntou desconfiada.
- Era regra, para eu continuar trabalhando aqui. Mas agora você não mora mais aqui, então não me importo de ser mandada embora. - Disse voltando para os seus afazeres.
- Nana, por que a senhora se preocupa tanto comigo? - Perguntou confusa.
- Eu sempre me preocupei com todas vocês. - Disse firme.
- Eu sei. Mas eu já vi, a senhora enfrentar os meu pais por mim, qual é o segredo que há entre vocês? - Perguntou curiosa.
- Claudia deixa a Conceição trabalhar em paz! - Esbravejou a mãe.
A mãe parecia furiosa, exatamente como acontecia quando Claudia era criança; mas algo no tom da voz dela fez, Claudia perceber que ela estava certa, havia sim um segredo, e que os pais fariam qualquer coisa para que ela não descobrisse, e algo lhe dizia que era sobre a sua origem.
- Conceição mande um café para nós na sala. - Ordenou e saiu, sem olhar para a filha.
- O jantar estava maravilhosamente saboroso como sempre. Obrigada! Eu sei que o escondidinho foi especialmente para mim.
Claudia a abraçou. Desde criança sempre amou esse cheiro que exalava da boa senhora, ela inspirou e apertou o abraço.
- Sempre que for possível eu vou fazer seus pratos preferidos. - Beijou o rosto de Claudia. - Vai minha filha, antes que sua mãe venha atrás de você de novo.
- Claudia! - Gritou a mãe. As duas se olharam e sorriram.
- Até logo nana! - Se despediu e foi ao encontro dos pais.
- Até logo, minha filha. - Claudia sorriu ao ouvi-la, virou e piscou para ela.
- Não precisava gritar mãe! - Disse Claudia sentando ao lado do pai.
- Como foi no trabalho filha? - Perguntou o pai antes que a mãe pudesse falar qualquer coisa.
- Tranquilo! Se bem que o trabalho mesmo só começa amanhã. - Comentou Claudia tensa.
A dona Conceição levou café e chá. Dona Marta optou por servir, e dispensou a senhora, Claudia ficou calada observando a mãe, que tremia levemente. Tornou a se concentrar no pai, afinal qual o propósito desse súbito interesse por seu trabalho?
- E como foi com a dona Benta? - Perguntou calmo.
- Tudo bem eu acho! Hoje ela estava um pouco diferente, ou talvez fosse só impressão minha. - Os pais se olharam, despertando a curiosidade Claudia. - Algum problema pai? Ela reclamou de mim para o senhor? - Perguntou ansiosa.
- Não. Claro que não. Na verdade, eu imaginei que depois, de você conhecer melhor sua chefe, talvez talvez você não quisesse mais trabalhar lá.
Claudia conhecia o pai, o suficiente para saber que ali, havia algo muito errado!
- E por que eu mudaria de ideia papai? - Perguntou inocente.
- Não sei minha filha, talvez ela não se mostrasse a pessoa que você conheceu na entrevista. - Respondeu desinteressado, e foi exatamente o que disparou o alarme em sua cabeça, e ela suspirou.
- Pai! O senhor não daria um jeitinho para que eu deixasse meu emprego, daria? - Perguntou ansiosa.
- Filha, você não pode me condenar por querer um emprego melhor para você!
- Emprego melhor? - Ela levantou furiosa. - Eu queria fazer jornalismo, porque eu queria ser uma jornalista investigativa, e vocês me convenceram de que eu não era capaz; pedagogia era bom pra mim, algo tranquilo, que não exigiria demais de mim! - Gritou ressentida.
- Chega Claudia! Nos respeite! Você não tem o direito de falar assim conosco, quem você pensa que é? - Esbravejou a mãe alterada.
- Eu jamais pensei, que fosse alguém nessa família! - Disse amargurada. - E o que eu sei, é que eu consegui esse emprego sozinha, sem usar o nome de vocês, e espero sinceramente que vocês tenham o mínimo de escrúpulo, e não use o nome de vocês para que eu o perca.
- E você acha que vai manter esse emprego até quando? Você é instável, assustada, deprimida...
Ela não esperou a mãe terminar o que falava, pegou a bolsa e o capacete e saiu. Chegando na porta ela voltou-se, com lágrimas nos olhos, piscou várias vezes tentando contê-las, e fungou de raiva e frustração.
- Se vocês fizeram com que eu perca esse emprego, eu vou atrás do meu pai biológico e deixarei de ser a filhinha imprestável de vocês.
Marta riu histericamente, indo às lágrimas, surpreendendo a filha.
- E você acha que ele se importa com você? Que algum dia ele quis saber de você? Vai minha filha atrás dele, e quando ele te rejeitar, como rejeitou a sua mãe, você volta pra cá com o rabinho entre as pernas, exatamente como a sua mãe fez.
- Ótimo então eu vou atrás dela...
- Chega! - Gritou Pablo interrompendo-a. - As duas parem com isso agora! Por favor, Claudia vai para a sua casa, depois com os ânimos mais amenos nós conversamos, e no dia em que você quiser conversar sobre os seus pais biológicos, nós te contaremos tudo. Boa noite, tranca a porta quando sair.
Sem esperar qualquer comentário da parte dela, ele abraçou a esposa e saiu da sala, sem nem ao menos olhar na direção dela, para ver que a filha estava destruída. Era assim, eles sempre faziam com que ela se sentisse um monstro. Mas talvez ela fosse mesmo uma pessoa monstruosa.
Aos prantos ela trancou a porta, e colocou a chave na caixa de correio, não havia motivos para ela ter a chave daquela casa. E saiu em alta velocidade, quanto mais chorava mais acelerava, e quanto mais acelerava mais chorava.
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Michael guardou sua bíblia e ajoelhou-se para orar, quando seu coração se afligiu. Aquela mesma aflição, que o levou a psicólogos, psiquiatras, e finalmente a Deus. E agora quando se sentia assim, não entrava mais em pânico, e nem tomava remédios, apenas orava.
- "Porque, aquele que pede recebe, e eu estou aqui na Sua Presença Senhor, para Lhe pedir. Perdoe-me, pelas minhas falhas, especialmente pelas vezes em que eu não falo do Seu amor para com os outros. E ajude-me neste ano que se inicia, para que eu seja luz para aqueles alunos, e para os meus colegas que ainda não te conhecem, proteja-me e ajude-me para que eu jamais te envergonhe. Dê-me sabedoria para com aqueles pais desestruturados, para que eles e seus filhos tenham o prazer de Te conhecer. Senhor muito obrigado pela minha família em especial pela minha filha, que ela continue crescendo para a Sua Honra e Glória, e que ela não se desvie do Seu Caminho. Pai amado quero te pedir mais uma vez Senhor, guarde aquela garota do mal, proteja-a das ciladas do inimigo, e se ela ainda não te conhece Senhor, aquebrante o seu coração para que ela descubra a maravilha, que é te ter como Guia e Senhor, como é bom deixar em Suas Sábias mãos o controle de nossas vidas, cure as feridas físicas e emocionais, que aquela fatídica noite deixou nela. Abençoe a todos nós, para que possamos dar o nosso melhor no nosso trabalho secular, e todas aquelas crianças, tenham um futuro promissor, e que seja o Senhor o centro de suas vidas. Mais uma vez eu quero te pedir, em favor do Artur, não o abandone Senhor, pegue-o pela mão, e guie-o para que ele viva esse amor incondicional, obrigado pela vida da Vick e do Edu, e da dona Neuza, obrigado, Senhor. E ainda quero te pedir Senhor, guarde a Claudia do mal, e prepare o meu coração para o que o Senhor tem guardado para mim, eu te amo Pai, e sei que a Sua Vontade para a minha vida, é o que há de melhor, em nome de Jesus, amém." - Orou.
Foi até o quarto de Katherine, que dormia tranquilamente; desceu até a cozinha, encontrou dona Neuza lendo a bíblia.
- Oi meu filho precisa de alguma coisa? - Perguntou fechando a bíblia.
- Não senhora! Só vim beber água, não quero atrapalhar a senhora.
- Não está atrapalhando, eu já terminei. Só estou sem sono, então continuei lendo, nada como a bíblia para nos acalmar e nos dar uma boa noite de sono. - Respondeu distraída.
- Está tudo bem dona Neuza? - Perguntou preocupado.
- Está sim meu filho. É que às vezes eu sinto uma necessidade de orar, mas não sei exatamente por quem, são tantos os que necessitam de Deus na minha família. - Disse pesarosa.
- Posso orar com a senhora? Também estou com essa sensação de que alguém precisa da proteção de Deus, mas não sei quem.
- Se você não se importar de orar com a empregada! - Disse encabulada.
- Antes de patrão e funcionária, somos irmãos em Cristo. Oramos juntos na igreja, por que não podemos orar em casa? - Perguntou, se dando conta, que nunca orou ou leu a bíblia com ela, mesmo sabendo que todos os dias ela lia a bíblia e orava com a filha.
- Obrigado, dona Neuza por estar na minha casa, e principalmente por me ajudar com o crescimento espiritual da minha filha.
- Então você sabe? - Perguntou tímida.
- Sim eu sei. A Katie sempre tem novidades que tem aprendido com a senhora, obrigado!
- Imagine meu filho, a sua filha é muito interessada nas coisas de Deus, e isso vem de você que tem sido um bom pai, ensinando o caminho em que ela deve seguir.
Ela sorriu humildemente, e Michael propôs em seu coração que iria incluir a boa senhora nos cultos domésticos que fazia com a filha.
Os dois ajoelharam e oraram, por todas as pessoas que estavam vulneráveis ao mal; a quem estivesse sofrendo violência; ou que estivesse enfermo ou enlutado; e por todos que trabalhavam à noite por essas estradas Brasil a fora. Pediram pelos familiares que ainda não haviam entregue suas vidas a Jesus; e pelos colegas de trabalhos que também ainda não conheciam o amor de Deus.
E ao findar as orações, os dois se retiraram aos seus aposentos, e ao entrar em seu quarto Michael tornou a a pensar em Claudia.
- "Senhor guarde-a do mal" - Pediu antes de deitar.
E naquele momento, Marcelo, Luciana, Victória e esposo, Michelle e o esposo, e a dona Conceição, também oravam por Claudia.
Continua...
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