02 - Eu o instruirei e o ensinarei no caminho.
Claudia e Luciana guardavam as compras. Apesar da tristeza que a estava sufocando, foi uma tarde tranquila, ela precisou se esforçar um pouquinho para não estragar o almoço, pois os dois não tinham culpa do seu estado letárgico. Lembrou da mãe, detestava deixa-la triste, mesmo que isso acontecesse bem mais do que ela gostaria que acontecesse. Ela foi embora muito chateada com a filha; e Claudia se prometera que iria almoçar com os pais assim que possível.
🌞🌞🌞
Os três fizeram as compras e voltaram para casa, mas como já estava tarde, Claudia os convidou para almoçar em uma restaurante que havia na frente do prédio, não sabia se a comida era boa, iriam descobrir juntos, Luciana constrangida não queria sair para almoçar com a patroa, mas Claudia a convenceu e foram os três almoçar deixando as compras para guardar na volta.
Logo de início Marcelo e Luciana descobriram que tinham muita coisa em comum, e uma dessas coisas nada mais era que a fé; e pronto, desde então os dois não pararam mais de falar. Era um negócio de Deus é bom pra cá, Deus é fiel pra lá, Deus é misericordioso com o pecador, e blá blá blá.
- "Eu só queria saber onde estava esse Deus tão estupendo, quando eu estava sendo estuprada, espancada; sendo violada de maneiras inimagináveis, por um bando de idiotas, que estão por aí soltos até hoje." - Pensara ela mexendo na comida em seu prato.
A vantagem de almoçar com pessoas que tem coisas em comum e que obviamente estão se dando as mil maravilhas, é que você não precisa abrir a boca, é como se você nem estivesse ali. Claro que vez ou outra Marcelo lhe lançava um olhar preocupado, mas sua atenção estava toda voltada para a doce Luciana.
🌞🌞🌞
Quando terminaram de guardar as compras, Claudia perguntou se Luciana gostaria de tomar um chá, assim as duas conversavam, pois ainda não haviam acertado as coisas para trabalharem juntas, e a outra aceitou prontamente. Claudia fez com que a outra sentasse e ela preparou o chá de ambas, o que deixou Luciana extremamente constrangida.
- Não fique constrangida. Você está aqui para fazermos companhia uma para a outra, e nos ajudar mutuamente. Você estuda? - Perguntou surpreendendo-a.
- Não! - Respondeu simplesmente, se mexendo inquieta na cadeira.
Claudia serviu chá para ambas, e sentou de frente para ela.
- Mas você não estuda porque não quer, ou porque é complicado para você estudar? - Perguntou séria.
- É complicado! - Respondeu mexendo em seu chá.
- Eu deveria ter perguntado, você prefere café? - Perguntou mordendo a bochecha.
- Na verdade sim eu prefiro café. - Respondeu sem graça. - Mas está tudo bem, eu gosto de chá.
- Entendo. Eu também prefiro café. - Disse tomando um gole do seu chá.
- Não sei se minha mãe te falou, mas tenho problemas de sono, então só tomo café pela manhã, mas você pode ficar à vontade.
- Obrigada! E sua mãe me disse sim, que você tem problemas para dormir. - Respondeu tímida.
Claudia sorriu, ao imaginar o que a mãe poderia ter dito para aquela moça, sobre os seus gritos no meio da noite, sem dizer a causa deles, suspirou, iria ver no que isso ia dar, de repente ela se cansaria da patroa desiquilibrada, e iria embora.
- Bem Luciana, voltando aos seus estudos. Você gostaria de voltar a estudar? - Perguntou cautelosa.
- Como eu disse é complicado.
- E eu entendo, mas para trabalhar comigo, vai ter que estudar. Você terminou o ensino médio? - Ela assentiu. - Ótimo! E o que você gostaria de estudar agora?
- Eu gostaria de fazer um técnico em enfermagem.
- Se é o que você quer, é o que você vai fazer. Vamos buscar um curso para você fazer.
Luciana olhava para ela, como se ela fosse uma louca, pois bem, ela estava quase certa.
- Eu acho isso muito difícil. Eu trabalho o dia todo, então falta tempo; tenho que ajudar a minha família, então falta dinheiro. - Lamentou Luciana.
- Bem, somos só nós duas aqui, e eu não sou quadrada, então você não precisa ficar o dia inteiro, limpando, lavando, passando, cozinhando e sei lá mais o quê, então você tem tempo. Infelizmente eu não posso te pagar mais do que o salário, mas meu pai vive bancando bolsas por aí, então conseguiremos uma pra você, logo você terá como estudar.
Claudia viu um brilho de esperança no olhar da garota, e sorriu.
- Acha mesmo que seria possível eu conseguir uma bolsa? - Perguntou animada pela primeira vez.
- Nós vamos atrás disso. Você nunca pensou em fazer enfermagem?
- Se eu consegui o técnico já está bom, além disso técnico não precisa de vestibular. - Disse sorrindo.
- Isso é verdade. - Concordou também sorrindo.
- Hum! Esse cheiro invandiu meus aposentos. - Disse Marcelo entrando na cozinha.
- Credo, Marcelo! Aposentos? - Qual a sua idade cara? - Brincou a prima.
- Olha quem fala! A mais idosa da família! - Disse ele procurando por uma xícara.
- Errado! Sua irmã é a mais idosa. - Disse indo pegar a xícara para ele. Os dois sentaram.
- Deixa ela pelo menos sonhar, que você está chamando ela de idosa.
Os dois riram, e ele ficou sério de repente.
- Estou preocupado com o Davi, a Edith não põe limites no garoto, e o Geovane, só faz o que a mulher quer, nunca vi coisa igual. - Lamentou.
- Com licença. - Pediu Luciana, se levantando.
- Não, não. Por favor senta, vou parar de falar da minha irmã. - Ele pegou na mão dela, e sem jeito ela sentou.
Ele tirou a mão da dela, e Claudia fingiu não ver o gesto.
- Eu tenho um convite para as damas, que tal sairmos, não sei talvez uma pizza, ou um caldo... - Sugeriu olhando para as duas, e elas se olharam, Luciana toda constrangida.
- O que você acha Luciana? - Perguntou Claudia.
- Não sei, mas eu acho que é melhor eu ficar por aqui, já saí para almoçar, me parece abuso. - Sussurrou tímida.
- Nada haver! A não ser é claro que você não queira sair com a gente, nesse caso claro que compreendemos. - Disse Marcelo dramático, Claudia só assentiu.
- Claro que não é nada disso, eu só... - Olhou para Claudia pedindo socorro, que a ignorou. - Tudo bem então, se está tudo bem para vocês, então tudo bem pra mim.
- Ótimo! - Disse Marcelo animado. - Pizza então?
- Pizza me parece muito bom. - Disse Claudia.
- Podemos pedir a pizza... - Começou Luciana.
- Ah, não! Eu estou de férias, quero sair. Vamos ver o que a noite palmense tem a oferecer. - Disse empolgado.
Claudia e Luciana olharam uma para a outra e gargalharam.
- O que foi? - Perguntou encabulado.
- Acho que você vai se decepcionar com a noite palmense. - Disse Claudia séria.
- Eu acho que não! - Disse com um meio sorriso, e o jeito como ele olhou para Luciana, Claudia teve certeza que ele não estava pensando na noite palmense.
🌹🌹🌹
Michael foi até o quarto da filha, já pronto para sair. A encontrou na frente do computador.
- Mocinha hora de desligar o computador. - Disse beijando a testa da filha. - Eu já estou saindo, mas a dona Neuza está aí, e qualquer coisa é só me ligar. - Ela abraçou o pai.
- O senhor sabe que eu já sou uma mocinha, não preciso mais de babá.
- A dona Neuza não é sua babá, ela é nossa amiga, que me ajuda a cuidar de você, e é justamente porque você é uma mocinha, que você não pode ficar sozinha. Eu preciso da dona Neuza para manter os mocinhos bem longe da minha mocinha. - Disse sorrindo.
- Ai, ai, papai! - Exclamou rindo. - Eu te amo!
- Eu te amo muito mais. E não esqueça, hora de desligar o computador, e nada de celular. - Disse se afastando dela.
- Tá bom, eu já vou desligar, e não vou mexer no celular. - Disse voltando sua atenção para o computador. - E o senhor não esqueça de orar antes de sair.
- Não esquecerei, e você também não esqueça de orar antes de deitar. - Beijou a filha e saiu.
- Papai! - Chamou, e ele se virou para ela. - Não vou esquecer, e vou orar para o senhor encontrar minha mãedrasta hoje. - Michael gargalhou.
- Todos os dias, você me diz isso, e eu te digo que não estou procurando por uma esposa. - Lembrou ele.
- Sim, eu sei que o senhor não está procurando por uma esposa, mas o senhor está a tempo demais sozinho. E o senhor só não a encontrou ainda, porque Deus está preparando o momento certo. E o senhor precisa está cheio do Espírito Santo para ver a ação de Deus.
- Boa noite filha, eu ficarei atento.
Saiu do quarto da filha, com um sorriso bobo, em que momento da sua vida começou a receber conselhos amorosos da filha de onze anos? Desceu as escadas ainda pensando na filha e sorrindo. Encontrou dona Neuza assistindo televisão.
- Dona Neuza, a Katie está no computador, daqui a dez minutos a senhora vai até lá dar uma verificada, e se ela ainda estiver no computador, faça conforme o nosso combinado por favor!
- Claro, Mike! Provavelmente ela já está fazendo o que você pediu, mas pode deixar que eu cuidarei da nossa pequena princesa. - Disse sorrindo.
- Certo, boa noite dona Neuza. - E saiu.
Em todo o trajeto até a pizzaria, ele não parava de pensar no que a filha lhe dissera, o que era muito estranho, porque ela lhe falava, aquelas coisas sobre madrasta, todos os dias praticamente. Às vezes ele se perguntava porque não voltara a se casar, e não conseguia pensar em uma resposta adequada, na realidade ele estava esperando que Deus lhe mandasse uma mulher que lhe completasse, que lhe fizesse esquecer todas as amarguras da vida, que tivesse a mesma fé que ele, e que se interessasse pela obra de Deus assim como ele.
Chegou na pizzaria antes de artur; como sempre o amigo estava atrasado. Era impressionante, a pessoa nunca conseguia chegar na hora em um compromisso, o único compromisso em que ele sempre chegava no horário era no trabalho. A pizzaria estava lotada, não iria ser fácil conseguir uma mesa, se ao menos o atrasado estive dentro do horário!
- Boa noite Mike. - Cumprimentou Fernando, o dono da pizzaria. - Está esperando o Artur? - Perguntou o outro sorrindo.
- Como sempre. Agora me diz, porque ainda sou pontual, quando marco com ele? - Perguntou irritado.
- Porque você é muito certinho, e você ainda tem a esperança, de que um dia ele vai mudar, e vai surpreender a todos nós chegando em algum compromisso que não seja o trabalho, na hora marcada.
- É verdade! Eu tenho fé! - Disse sorrindo.
- Quer esperar no balcão, enquanto desocupa uma mesa? - Perguntou solícito.
- Não, obigado! Vou esperar aqui fora, vou tentar ligar para ele.
- Não se afaste demais, você sabe que aqui não é muito seguro. - Disse preocupado.
- Não vou me afastar, não se preocupe.
Continua...
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro