26 - A demência de cada um.
Chocado o delegado Abraão olhava os mapas e as fotos, não sabia o que dizer ao seu subordinado, aquela história já estava indo longe demais.
- Eu sei que o senhor não quer envolver sua família no assunto Tobias, mas o Isaac está muito perto, e talvez só talvez, a verdade seja a melhor proteção que eles possam receber agora.
- Eu queria tanto que meus filhos fossem todos iguais ao Mesaque, tranquilo e quieto. - Resmungou passando as mãos na cabeça.
- Estivemos observando esses mapas com o símbolo de explosivo, - Rafael começou mudando de assunto - se houver explosões simultâneas nesses locais a cidade afunda, levando em conta o subterrâneo. O senhor sabia dessas jazidas e das nascentes d'agua?
- Sim. Nosso papel como delegado é proteger a cidade e seu subsolo, todos antes de mim também tiveram acesso a essa informação. - Ele encarou Rafael. - Segundo as investigações de Melinda o Tobias quer recriar Granville à sua maneira e tomar posse de suas riquezas.
- Que cara louco! Destruir uma cidade por pura ganância. - Disse tenso. - Como será que ele descobriu tudo isso? - Desanimado o delegado sacudiu a cabeça.
- Não faço a menor ideia, mas desconfiamos do meu predecessor ou do ex-prefeito Ricardinho, apenas os delegados e os prefeitos da cidade têm acesso a essas informações, e fazemos um voto de nunca dizer nada disso a ninguém, nem mesmo às nossas esposas. - Retrucou.
- E a câmara de vereadores?
- Eles nem imaginam o que tem aqui embaixo, e justamente por isso eu gostaria de entender como que um segredo guardado a sete chaves é de conhecimento público desse jeito, até o idiota do Olavo sabia disso.
- Chefe, ninguém tem mais ranço do Olavo do que eu, mas sou obrigado a discordar do senhor, aquele lá era muitas coisas menos idiota. Eu e o Eric ainda estamos verificando alguns documentos que encontramos, mas sinceramente? Eu pessoalmente acredito que isso daí era uma espécie de seguro de vida, e se eu estiver certo, vamos encontrar o motivo de ele ter guardado tudo isso.
- Certo, digamos que você esteja certo. Ainda assim minha preocupação é como tem tanta gente sabendo do que tem debaixo da cidade, isso era para ser secreto. - Disse irritado, Rafael sorriu sacudindo a cabeça pensava que o delegado estava exagerando.
- Quanto a mim não se preocupe, não tenho nenhum interesse de ter alguém escavando onde eu moro com minha família.
- Eu sei meu filho, na verdade fico feliz por poder falar contigo, já que não estou podendo falar com a Melinda.
- E por que não? Aconteceu alguma coisa com ela? A vinda dela ainda está de pé, não está? - Perguntou ansioso.
Ouvira sem querer uma conversa do delegado com a moça, e desde que descobrira que havia alguém disposto a fazer o possível para pegar aquela criatura, ele ficara mais aliviado, não que não confiasse em seu chefe, mas porque sabia que ele se segurava naquela investigação por que conhecia muito bem os filhos e, tinha certeza de que no momento em que ele mergulhasse de cabeça naquele maremoto, Eric e Isaac, principalmente o Isaac, mergulharia junto com ele.
- Infelizmente ela não vem mais, houve um problema com o pai dela e não poderá vir, sei que saúde é coisa séria principalmente de pai, mas me sinto traído, confiei nela e ela deu para trás.
- Mais ela passou todas as informações que tem para o senhor, não passou? - Perguntou preocupado, queria pegar o cara que financiara o sofrimento do seu irmão e agora que sabia que ele pretendia destruir a cidade que adotara, queria para-lo o mais breve possível.
- Sim, mas não é a mesma coisa. Eu contava com ela para pega-lo. - Resmungou desanimado, Rafael suspirou devia ser difícil para um delegado trabalhar com tantos membros de sua corporação corruptos.
- Nós vamos pega-lo, tenha fé.
Enquanto isso na grande São Paulo.
Inacreditavelmente Isaac encarava a mulher parada à sua frente, estivera com ela mais cedo e ele poderia jurar que ela estava dopada até a alma, e qual não fora sua surpresa quando a recepção ligou dizendo que Valentina Snow estava ali para vê-lo!
- Por favor, entre. - Disse ainda surpreso, dando-lhe espaço.
- Desculpe-me, vir assim sem avisar, - disse nervosa passando por ele esfregando as mãos, - mas meu irmão disse que posso confiar em você.
Se Isaac já estava surpreso com sua visita, naquele momento ficara extremamente surpreso e curioso.
- Seu irmão? - Perguntou fazendo-se de sonso, ela sorriu.
- Ele disse que você se faria de desentendido, mas ele tem certeza de que o irmão do Thiago te contou tudo o que ele lhe disse.
- Você conhece o Thiago? - Perguntou cético.
- Como você acha que meu irmão foi parar naquela clínica?
- Não faço ideia, se o Bernardo disse ao Rafael, ele não me contou. - Respondeu deixando de lado as encenações.
- Ele não disse. - Ela sentou cruzando as pernas. - Quando meu irmão começou a aliciar jovens para aquele lugar ele não se importava de fato com o que estava acontecendo por lá, se ele acreditava de fato que os jovens estavam sendo ajudados ou não eu não sei, mas o Thiago era diferente, até conhecê-lo, meu irmão nunca soube o que era ter alguém disposto a defendê-lo apesar das circunstancias, e por isso ele quis saber para onde ele estava sendo levado, eu o ajudei a ir atrás do amigo, mas infelizmente não conseguimos chegar longe o bastante, eu era tola o bastante para pensar na época que a pessoa que eu amava era um homem decente e me amava também, de modo que contrariando meu irmão confiei no meu digníssimo esposo e o resultado fora meu irmão preso naquela clínica e, eu dopada de remédios.
- E agora a senhora sabe que ele não é o que pensava. - Ele disse gentilmente.
- As perguntas que você fez ao Albert, não foram perguntas tradicionais, já o vi recebendo jornalistas o suficiente para saber que você não está atrás de uma entrevista com o 'empresário' que ele finge ser, aliás, eu te aconselharia a ir embora o mais rápido possível, agora mesmo ele deve estar tramando algo contra a sua pessoa. - Disse olhando-o nos olhos. - Como você pode ver eu sei sim que ele não é nada do que um dia eu pensei que ele fosse.
- Eu já imaginava que ele fosse tentar algo contra mim, o que apenas aguça ainda mais a minha curiosidade, o que a senhora veio fazer aqui? E o que aconteceu que minutos antes a senhora estava catatônica e agora está mais lúcida que eu? – Perguntou intrigado, ela sorriu.
- Quando eu fui levada de volta para casa pelos capangas dele, ele conseguiu uma enfermeira para cuidar de mim, ela era responsável por me manter fora de combate. Até que um belo dia, uma nova enfermeira começou a cuidar de mim, como eu vivia catatônica ninguém mais se importava comigo, então por três dias fiquei trancada sem vê ninguém apenas minha nova enfermeira, quando eu estava totalmente lúcida ela perguntou se eu gostaria de ouvir uma história, eu estava tão indignada com tudo e todos que nem me dei ao trabalho de responder, tinha certeza de que ela voltaria a me dopar, diante do meu silêncio ela me contou que o Albert e minha mãe eram amantes, desde antes de ele se casar com a Alicia, que eles iniciaram meu irmão nas drogas, por que ele descobriu o caso deles; que a prisão dele fora uma cilada, por que eles precisavam de alguém para aliciar aqueles jovens; estranhamente eu sabia que ela estava falando a verdade, por várias vezes o Be tentou me dizer o que estava acontecendo, se eu o tivesse ouvido, talvez agora ele não estivesse arriscando a vida mais uma vez para nos salvar.
- Como assim para vos salvar?
- Ele sabe que desde que a Celeste começou a trabalhar comigo eu nunca mais fui dopada, nós apenas fingimos, e nós compreendemos que mais cedo ou mais tarde o Albert vai descobrir e matar a mim e a ela. - Respondeu com os olhos brilhando, Isaac sorriu, ela era corajosa.
- E o que a senhora quer que eu faça? - Perguntou interessado. Ela levantou e foi até a porta, franzindo a testa a seguiu.
- "Sério? Vai embora assim? Sem mais nem menos?" - Pensou intrigado. Ela abriu a porta e chamou alguém, uma moça loura entrou com uma maleta na mão.
- Boa tarde. - Cumprimentou séria, ele apertou sua mão, ela tinha um aperto forte.
- Boa tarde. - Respondeu olhando de uma para a outra; discretamente elas trocaram um olhar e Valentina assentiu.
- Eu sou Celeste filha de uma das amigas da mãe da Samara. Sou afilhada do William e da Rosalina, não sei se você chegou a conhecer meu padrinho, mas imagino que não, você parece ser muito jovem, e eu soube que ele morreu anos atrás.
- Só um minuto, está difícil acompanhar. - Disse encarando-as. - Segundo a Rosalina - disse apontando o dedo para Valentina - vocês eram todos amigos, mas você disse não reconhecer a enfermeira.
- E realmente não a reconheci, eu a vi menina, depois do atentado todos eles me deixaram já não eram mais meus amigos. – Respondeu triste. - Eles pensaram que eu estava por trás do ocorrido, que eu queria me livrar do Albert e da Samara. - Concluiu com dificuldades para respirar.
- Acalme-se. - Pediu Celeste.
- Se eles tivessem continuado ao meu lado teriam visto o meu sofrimento pelo desaparecimento da menina, eu a amava como uma filha. - Disse às lágrimas. - Eu só voltei a ser feliz depois do nascimento do Be.
- Então por que a senhora o deu para a sua mãe? - Perguntou sem pensar.
- Como que é? - Perguntaram as duas entreolhando-se, então elas caíram na gargalhada.
- Você pensa que ele é meu filho por causa da semelhança com o Albert? - Perguntou chorosa. - Antes fosse! Eu morreria antes que alguém fizesse mal a ele. Sério jornalista que você ainda não entendeu? Ainda somou dois mais dois? - Perguntou sarcástica, Isaac colocou a mão no peito dramático finalmente percebendo.
- Meu Deus! - Disse se jogando no sofá. - Ele é filho da sua mãe com o seu marido. - Compreendeu.
- Nosso tempo está acabando, - disse Celeste entregando-lhe a maleta - aqui tem tudo o que nós conseguimos nos últimos dois anos. Infelizmente não temos como provar que a dona Elizabeth esteve envolvida na morte da tia Alicia e no atentado, e todas as pessoas que poderiam testemunhar de que ela foi à nossa casa oferecer dinheiro pela cabeça da Samara estão mortos, com exceção de mim, mas eu era só uma criança na época... - Exasperado ele ergueu a mão.
- Desculpe-me interrompe-la, mas deixa-me vê se eu entendi. – Disse tentando por os pensamentos em ordem. – Você está me dizendo que a mulher que procurou o William depois do atentado era a sua mãe? - Perguntou apontando para Valentina que simplesmente assentiu. - E diga-me como é possível que eles não tenham reconhecido a sua mãe, se vocês eram todos amigos? - Perguntou desconfiado.
- Eles não reconheceram a minha mãe, pelo simples fato de que ela se recusava a conhecer meus amigos pobres. - Respondeu triste. Uma batida na porta a assustou fazendo-a puxar o braço de Celeste.
- Acalme-se! Provavelmente é o casal de pastores da minha igreja você os viu pela manhã. - Disse colocando a maleta sobre a mesa. Valentina relaxou afastando-se da amiga, que tensa alcançou o braço de Isaac.
- Eles são de confiança? - Perguntou ela nervosa.
- Completamente. - Respondeu Isaac encarando-a
- Está tudo bem Celeste, eu falei contigo sobre eles. - Disse aproximando-se lhe apertando o braço.
- O fato de o Bernardo confiar neles não significa que sejam de confiança, ele confia no Evil. – Disse Celeste frustrada, Valentina suspirou e Isaac deu de ombro indo à porta.
O casal entreolhou-se no momento em que viram Valentina e a outra os encarando, eles também estiveram mais cedo com a mulher catatônica, enquanto Isaac entrevistava Albert eles tentaram conversar com a mulher que mantinha o olhar fixo no nada, e definitivamente não havia nada naquela mulher que lembrasse a que eles viram mais cedo.
- O que está acontecendo aqui meu filho? - Perguntou Rebeca visivelmente desconfiada cruzando os braços.
Isaac sorriu, ele sabia o quanto ela amava Natália e se ao menos supusesse que ele a tivesse traindo seria capaz de lhe dar umas boas palmadas como sua mãe faria.
- Ela veio conversar. - Explicou rapidamente.
- Conversar sobre o quê? - Perguntou Rebeca ainda desconfiada. - Por que não conversou conosco quando nos encontramos? Ficou fingindo demência? - Perguntou irritada.
- Meu bem. – Começou o pastor apaziguador. - Vamos ouvir primeiro. - Pediu a abraçando, Isaac agradeceu intimamente.
- Desculpe-me por mais cedo, - Começou Valentina constrangida - mas o que eu tenho para falar não poderia ser na frente do meu marido, além disso, ele pensa que eu realmente sofro de demência ou sei lá o que! - Respondeu esfregando uma mão na outra, sem olhar para ela Celeste segurou sua mão afastando-as.
O casal entreolhou-se novamente, e desconfiados encararam Isaac, irritada Celeste revirou os olhos.
- Não devemos explicação nenhuma a nenhum de vocês, o único motivo de estarmos aqui, é porque o Bernardo nos garantiu que vocês eram de confiança e sinceramente espero que ele não esteja errado, dessa vez. - Disse olhando o relógio de pulso. - Precisamos ir Valentina, eles chegarão logo.
- Eles quem? Chegarão onde? - Perguntou Isaac aflito.
- Todas as tardes, os seguranças nos levam para o parque, para eu tomar ar, mas eles não gostam de ficarem lá me vigiando, então eles saem e nos deixa sozinhas. - Respondeu Valentina.
- E logo eles chegarão lá, precisamos estar no lugar de sempre quando chegarem. - Concluiu Celeste. - Isaac, a vida de muitas pessoas depende do que você vai fazer com o que tem naquela maleta.
- Não se preocupe, faremos o que estiver ao nosso alcance para ajuda-las. - Disse Isaac sério. - Vocês precisam de ajuda para chegar ao parque?
- Não. Tem alguém nos esperando. - Respondeu Celeste praticamente puxando a outra.
- O que foi isso exatamente? - Perguntou o pastor Tiago.
- Depois pastor. – Respondeu Isaac colocando o notebook na mochila. - Agora precisamos sair daqui imediatamente, vamos para a rodoviária. - Disse pegando a maleta.
- E o que nós vamos fazer na rodoviária? - Perguntou Rebeca.
- Porque vamos de táxi, o hotel que fará a ligação para chamar, sendo assim será rastreado e saberão exatamente para onde fomos.
- E da rodoviária iremos finalmente para o aeroporto. – Concluiu o pastor orgulhoso do seu rapaz.
- Exatamente! - Disse sorrindo.
Continua...
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