24 - As descobertas de cada um.
Rafael não conseguiu dormir seus pensamentos ora voltados para Samara ora para Bernardo e Thiago, se perguntava se o irmão perdoara facilmente ao outro, ou tivera problemas com isso, estava sensibilizado com toda a história ele ouvira e compreendia a situação do garoto, mas também não conseguia deixar de pensar que fora ele a levar seu irmãozinho para aquele lugar, obviamente que ele compreendia que antes de qualquer outra pessoa fora decisão do próprio Thiago embarcar naquela situação desde o início com o primeiro entorpecente.
Desistindo de dormir, levantou-se e começou a escrever e desenhar. Os primeiros raios de sol adentraram seu quarto e ele saltou da cadeira para preparar o café para a mãe e a sobrinha, infelizmente a mãe já estava de pé.
- Bom dia mãe, sua benção? Eu queria preparar o seu café hoje. - Disse franzindo a testa.
- Deus te abençoe meu filho. Por acaso você passou a noite em claro? - Perguntou tocando de leve sua bochecha.
- Foi uma noite tensa, mas não se preocupe eu estou bem. - Respondeu a beijando. - Deixe-me ajuda-la.
Naquela manhã antes de levar a sobrinha à creche, ele mandara uma mensagem ao delegado que iria se atrasar e uma para o Isaac encontra-lo na casa do pastor Tiago.
O pastor e a esposa juntamente com Isaac ouviram toda a história de Bernardo em silêncio, Rebeca estava em prantos no final da narrativa.
- Ele não sabe que é filho do Albert e nem que a Samara que estão tentando matar é irmã dele. - Constatou o pastor.
- Eu estou mais interessado é em saber se podemos mesmo confiar nele. - Retrucou Isaac.
- Você está sendo cético meu filho, - disse o pastor - vamos dar a ele o benefício da dúvida.
- Só falta o senhor falar que devemos acreditar na bondade do Evil por ter salvado o garoto. - Ironizou Isaac.
- Não estou dizendo isso meu filho, apesar do gesto nobre de salvar o rapaz, imagino que haja algum interesse por trás disso, mas também não podemos ter certeza, sabemos Deus muda quem Ele quer mudar, e precisamos orar para que o Espírito Santo de Deus faça a Boa Obra em todas as pessoas. - Disse o pastor pensativo, os dois jovens concordaram.
- Rafael você acredita mesmo que ele não trairá o Evil? - Perguntou Rebeca.
- Eu acredito que não, pelo menos enquanto ele não tiver conhecimento de nenhum podre por traz do seu salvamento, além disso, ele não o salvo apenas de morrer na clínica o garoto gosta verdadeiramente dele, o que pesa também contra o Evil é o parentesco do garoto com a Samara. - Respondeu Rafael.
- Ele talvez não goste do seu protetor estar querendo matar sua irmã, mas também pode ser que ele não se importe afinal, a parentela dele não é das melhores. - Argumentou Isaac.
Por alguns minutos ainda falaram de suas opiniões sobre o relacionamento de Evil e Bernardo, não tendo mais o que fazer Rafael despediu-se precisava trabalhar, Isaac o acompanhou.
- Comprei as passagens para São Paulo para amanhã, - Disse Isaac depois que saiu da casa fechando a porta. - Eu queria que enquanto eu estivesse fora você fique de olho na Natália e nos meus sogros, por favor!
- Você é filho do delegado. - Brincou. - Ele fará qualquer coisa pela nora.
- Eu sei, mas assim como ele não quer que eu saiba de nada sobre quem está por trás da clinica dos horrores, eu também não quero que ele saiba que sei mais do que ele imagina, - ele sorriu da cara de Rafael. - Elementar meu caro Rafael, mas eu sei que tem homens de confiança do meu pai espionando o seu irmão e os meus sogros, e também que você nos omitiu algumas coisas do que ouviu do tal Stranger com o Ricardinho. - Os dois pararam encarando-se sérios. - Que tal dizermos um ao outro o que descobrimos e, juntos decidimos o que fazer? - Perguntou Isaac sorrindo.
- Eu fiz uma promessa ao seu pai que não os envolveria nisso, por favor, não me comprometa. - Disse Rafael dividido entre o desejo de saber o que Isaac sabia e a necessidade de manter-se fiel ao que prometera ao delegado.
- Jamais te comprometeria. Podemos apenas falar sobre o que temos, e você não está levando em conta que eu já estou envolvido nisso, eu entendo que meu pai queira nos proteger, mas a ignorância a maneira mais fácil de nos colocar em risco.
- O que você tem? - Perguntou Rafael.
- Na verdade eu tenho mais perguntas que respostas. - Disse gargalhando.
- Vamos à confeitaria, e conforme o que você tiver a gente troca uma ou outra informação.
Sentados na confeitaria um com um pedaço de torta de chocolate e o outro com um pedaço de torta de abacaxi, sussurravam entre si.
- Quais são suas dúvidas? - Sussurrou Rafael.
- Quem é o financiador ou 'os financiadores', e tão importante quanto, quem está produzindo as drogas? Sabemos que eram produzidas na clínica dos horrores, mas tudo foi destruído, se ainda estão fazendo o trabalho sujo dele ele tinha um comparsa, alguém para quem ele passou suas descobertas loucas.
- Acredita que apenas nessa madrugada eu pensei sobre isso? - Perguntou sorrindo, pelo visto ser jornalista acionava a curiosidade mais que ser policial. - Você tem razão, mas a questão é, quem poderia estar produzindo a droga? Os homens que temos conhecido nos últimos dias não tem conhecimento técnico para fazer esse tipo de trabalho.
- Verdade. Se bem que sabemos que traficantes misturam qualquer coisa em suas porcarias para lucrar mais.
- Sim. Mais o intuito de quem está por trás disso tudo não é apenas ganhar um pouco mais com suas porcarias, a coisa é muito maior do imaginamos, essa pessoa é perigosa Isaac, seu pai tem razão de querer vocês longe disso.
- Você sabe mais do que está me falando. - Disse fitando seus olhos, Rafael manteve o olhar.
- Talvez eu saiba de uma coisa ou outra que prometi ao seu pai não te dizer, mas não ajudam em nada nossas dúvidas atuais, então por enquanto vamos deixar as coisas como estão.
- Deveria ter perguntado ao Bernardo, ele deve saber de mais coisas.
- Possivelmente, mas como eu disse só pensei nisso de madrugada.
Envergonhado abaixou a cabeça, afinal preocupara-se tanto com Samara que se esqueceu até dos malfeitores do irmão.
- A Natália disse que entregou à polícia tudo que havia na casa da mãe que era do padrasto, seria possível a gente dar uma olhada nessas coisas? - Perguntou Isaac esperançoso.
- Difícil vai ser despistar seu pai para chegarmos até àquelas coisas. - Disse sacudindo a cabeça. - Até por que ele enfarta se descobre que você está metido nisso.
- Meu pai pensa que eu ainda sou bebê. - Disse revirando os olhos, Rafael ficou sério, imagina que todo pai preocupado com seus filhos era assim, sacudiu a cabeça afastando tais pensamentos.
- Isaac você sabe quem comprou a casa da mãe da Natália? - Perguntou calmamente.
- Não. Eu até comentei com a Nati que achei isso muito esquisito, a pessoa fez uma oferta maior do que a que o Alan tinha em mente, simplesmente para derruba-la! Isso está muito estranho.
- Como assim? - Perguntou alarmado.
- Um advogado procurou meu sogro dizendo que havia um cliente interessado em comprar uma casa aqui para passar férias, até aí tranquilos sabemos que o interesse das pessoas por Granville aumentou bastante nos últimos dois anos e aparentemente essa pessoa não gosta de ficar em hotéis o que também é compreensivo, eu comecei a desconfiar quando o advogado colocou um valor muito superior ao que o meu sogro havia pensado, bem maior do que de fato a casa vale, - disse sorrindo - você conhece o Alan, ele ainda quis negociar por que não era justo e tal, mas o advogado estava irredutível, quando a semana passada eu estava na prefeitura quando o vi lá, descobri que ele queria licença para demolir a casa.
Rafael deu um meio sorriso, um estalo em seu cérebro o fez lembrar-se da primeira vez que vira o irmão fumando maconha, um pisca-alerta acendeu em sua cabeça.
- Se ele queria um local para passar férias por que demolir? - Perguntou Rafael franzindo a testa. - Precisamos entrar naquela casa antes que a licença saía. - Disse empolgado.
- No que você está pensando? - Perguntou eufórico.
- Quando descobrimos que o Thiago usava drogas procurávamos por toda a casa, mas nunca encontrávamos um dia eu o peguei fumando e brigamos feio, - lembrou-se triste, - foi a primeira e última vez que a gente brigou assim para valer mesmo, - sacudiu a cabeça dissipando as lembranças - a questão é que me escondi e fiquei observando e o vi esconder a droga atrás de um tijolo.
- Carambola! - Exclamou Isaac arregalando os olhos. - E se o Olavo tiver escondido alguma coisa na casa? Cara você é um gênio. Temos que ir lá hoje, eu quero participar da casa ao tesouro maldito.
- Só mesmo você Isaac. - Retrucou sorrindo. - Você descobriu o nome do comprador da casa? - Perguntou tentando soar o mais despreocupado possível.
- Não. Apenas iniciais. O cara é tão audacioso que nem tem uma rubrica usa as iniciais. - Disse pegando seu celular, mostrando uma foto para Rafael, era a nova escritura da casa.
- Como você conseguiu isso? - Perguntou com o coração acelerado observando as inicias. T. T. M., engoliu seco.
- Essas iniciais te dizem alguma coisa? - Perguntou guardando o celular.
- Não. - Mentiu tenso. - Talvez deva ser por isso que ele as usa ninguém sabe de quem se trata.
- Verdade. Eu tive vontade de falar com meu pai, mas imagino que o motivo da demolição seja por que ele queira esconder alguma coisa, e se for isso, meu pai não vai me dizer uma palavra e ainda vai me proibir de continuar na cola dessa gente.
- Por falar em seu pai - disse sorrindo levantando-se - eu vou trabalhar. Vou vê o que posso fazer para termos acesso às coisas do Olavo, e pensar em uma maneira para entrarmos na casa.
- Eu também vou pensar em alguma coisa, a gente vai se falando.
- E não se preocupe enquanto estiver fora, eu vou cuidar da sua noiva e da família dela, não esqueça que o pai dela cuidou do meu irmão melhor que nosso próprio pai. - Despediram-se cada um indo a uma direção.
Sempre que Sofia precisava viajar ao Rio de Janeiro ele levava Beatriz à creche e dona Rebeca que cuidava dela a tarde buscava a menina, mas depois do último ocorrido ele queria pessoalmente pegar a sobrinha, arrumava-se para sair quando recebeu a mensagem de Eric o convidando para almoçar em sua casa, franziu o cenho recordando-se que Samara estava hospedada na casa do amigo.
Nervoso tocou o interfone da casa de Eric e Isabella, havia deixado a sobrinha na casa do pastor e andava de um lado para o outro quando ouviu a voz de Samara, por alguns segundos ficou parado sem saber o que dizer ou fazer.
- Oi! - Repetiu a voz dócil e carinhosa no interfone, a risada do pai ao seu lado o fez saltar.
- Vai ficar aí mudo e parado feito o idiota que você é? - Disse o pai gargalhando.
- Sua praga porque você não some de vez! - Sussurrou entredentes. - Oi, eu vim me encontrar com o Eric. - Disse nervoso.
- Se identifica seu bicho do mato. - Gargalhou o pai ainda mais, ele abriu a boca para se identificar quando ouviu o estalo do portão sendo aberto.
Sacudiu a cabeça, ela não deveria abrir o portão sem uma identificação, ela estava sendo caçada por um monstro pior que o pai dele, jamais imaginou que um dia viveria essa situação.
Ela o recebeu com um sorriso lindo e cativante, emocionado, por um momento esqueceu-se de tudo, recordando-se apenas da sensação de tê-la em seus braços, de seu corpo quente contra o dele, sentiu o rosto arder, resistiu à tentação de abaixar a cabeça e sorriu de volta.
- Você não deveria abrir o portão sem a pessoa se identificar. - Disse no tom de brincadeira, mas seus olhos dizia que era sério, e ela se alegrou com a preocupação dele.
- Eu reconheci sua voz, e o Eric disse que você estava chegando para almoçar conosco. - Disse alegremente.
- E cadê ele? - Ouviu-se um choro.
- Se importa de me ajudar com os gêmeos? - Perguntou sorrindo.
- Sou fera em cuidar de crianças. - Disse piscando. - Os dois subiram ao quarto das crianças.
- Quero só ver, eles são exatamente o Eric e a Bela em versão mini. - Disse sorrindo.
- Eu cuido da Bia desde que nasceu. - Disse entre divertido e triste. - Percebendo a tristeza na voz dele ela mudou de assunto.
- O Eric e a Bela foram à casa do pastor e as crianças estavam dormindo, por isso estou de babá, mas ele disse que o pastor vai coloca-los para voltar da porta por que não os levaram. - Disse rindo.
- Eu que não duvido. - Respondeu também rindo.
- Você demorou a se acostumar com o jeito deles? - Perguntou o encarando.
- Até que não! Eu e o Thiago gostávamos de ouvir as palestras do pastor 'xará' como dizia ele, então meio que já estava acostumado com o jeitinho meigo dele, uma surpresa mesmo foi a dona Rebeca. - Disse sorrindo.
- Os dois são iguaizinhos! - Concordou Samara sorrindo também. - A Rosalina dizia que com a convivência os casais ficam cada dia mais parecidos. - Comentou encarando-o, constrangida virou o rosto abrindo a porta do quarto os dois choravam a plenos pulmões.
- Oi Débora. - Disse Samara.
- Oi Benjamim. - Disse Rafael.
As crianças os encararam fechando a cara para eles que se entreolharam e sorrindo, sem uma palavra eles trocou de gêmeos, imediatamente Débora estendeu os bracinhos para Rafael e Benjamin para Samara.
- Não vou me esquecer disso dona Débora. - Brincou Samara tocando o rosto da criança, ela deitou no ombro de Rafael. - Vou te traduzir o que esse gesto dela significa, 'depois a gente resolve isso, no momento estou muito bem obrigada!'. - Disse imitando voz de bebê e os dois saíram do quarto rindo.
- Não se preocupe Débora, enquanto o tio Rafael estiver aqui você está segura, e depois qualquer coisa me liga. - Disse sorrindo.
- Mais fácil eu te ligar pedindo socorro, você precisa ver como ficam os dois quando estão zangados. - Disse no mesmo tom descontraído, ele sorriu simplesmente feliz por estar ali com ela.
Continua...
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