03 - As inseguranças de cada um.
Naquela manhã Thiago seria mandado para uma clínica especializada para ajuda-lo com a dependência química, obviamente que ele estava reticente quanto a essa internação, a última vez que confiara em algo assim terminara como um rato de laboratório, infelizmente Sofia não compreendia a insegurança do esposo, e ela se tornou a 'fera de Granville', o ameaçando sumir no mundo com a filha.
Para não interferir Rafael decidiu sair do quarto, não queria se meter na discursão do casal, a verdade era que ele compreendia a insegurança do irmão quanto à internação. Graças a Deus muito sabiamente o pastor Tiago pediu um momento sozinho com Tiago e todos saíram deixando-os, Sofia ainda indignada reclamava da inércia do esposo.
- Sofi é sério que você não entende por que ele está tão inseguro? Por vocês ele arriscou tudo para ficar limpo e ficou preso por três anos, você no lugar dele, simplesmente confiaria nessa nova clínica e pronto? – Perguntou irritado.
Geralmente não se irritava com a cunhada que era uma moça ponderada e responsável, mas naquele momento estava irritado com ela, se bem, que também não compreendia nada de relacionamentos, envergonhada ela abaixou a cabeça em silêncio, o pastor Thiago retornou sorridente.
Delicadamente o pastor expôs a razão para o jovem está tão inseguro quanto à internação, e todos entendiam seus traumas e medos, a família inteira estava preocupada, mas era necessária essa intervenção para uma recuperação completa e definitiva, sorrindo o pastor confirmou que ele concordara em ir à clínica.
Rafael ficou ali parado no corredor olhando a família entrar um a um, sentia-se tão inseguro quanto o irmão afinal se isso desse errado seria culpa sua, fora ele que procurara por aquela clínica.
- "No Nome de Jesus vai dar tudo certo, e ele vai voltar sóbrio e pronto para cuidar da linda família que Deus lhe deu". – Pensou adentrando o quarto com as mãos nos bolsos. Encontrou o irmão sorrindo com a esposa, diferentemente de minutos antes, sacudiu a cabeça quem que entende os casais?
- Pessoal eu gostaria falar com o meu irmão em particular antes de ir para a clínica, por favor! - Pediu cuidadosamente.
Sofia o beijou e sorrindo apertou o ombro de Rafael, todos saíram, desde que o irmão acordara ainda não tinham ficado sozinhos, ao tomar o depoimento de Thiago o delegado o aconselhou a não participar do depoimento, pois a presença dele poderia deixar o irmão gêmeo constrangido, afinal poderia haver coisas que fossem difíceis para ele confessar na frente do irmão.
- A Sofia não gostou de sair de perto de você, vocês ficarão mais algum tempo longe um do outro. – Disse tímido.
- Fecha a porta. - Pediu assustado. Rafael franziu o cenho.
- O que houve? Você parece preocupado. - Disse sentando ao seu lado.
- Rafa, - sussurrou, - o Olavo era só um peão nesse jogo, tem alguém grande e poderoso que pretende destruir essa cidade. - Sussurrou angustiado. - Por favor, irmão pega nossa família e vai embora daqui o mais rápido possível.
- Irmão do quê você está falando? Todos estão felizes aqui, até a mãe fazia muito tempo que eu não a via tão feliz, ela vai começar a trabalhar aqui, - deu um meio sorriso – na verdade tem alguém que não está feliz, sua filha, ela está irritadíssima porque todo mundo vê o pai dela menos ela. - Disse em gracejo, apesar de ser verdade.
- A Sofia me disse. - Disse pesarosamente, o vinco de preocupação ainda estava na testa do irmão. – Mais você sabe por que não quero que ela venha aqui, eu não quero que ela veja esse trapo humano.
- Eu sei, e compreendo. Falei apenas para que fique registrado, porque ela me pediu várias vezes para te explicar que somos nós os responsáveis por ela não te ver, e não porque ela não queira. – Disse sorrindo.
- Oh! Ela pensa que vocês que estão a proibindo de vir aqui e que eu posso pensar que seja ela que não queira me vê? – Perguntou emocionado.
- Exatamente. Nós achamos melhor assim, não queremos que ela pense que o pai não a ame e não queira vê-la.
- Obrigado irmão. Eu não sei o que teria sido da minha família se não fosse você, a Sofia me disse tudo o que você fez por elas.
- Irmão, eu estou aqui por vocês e farei tudo para ajuda-los, neste momento se preocupe apenas com a sua recuperação, eu vou cuidar da nossa família, se for o caso eu dou minha vida por elas, ninguém vai tocar em um fio de cabelo de nenhuma delas, eu te dou a minha palavra. - Disse fervoroso.
- Eu sei que você cuidará delas, mas o problema com este lugar é muito mais perigoso do que podemos ao menos imaginar, o Olavo e o Rubens conversavam perto de nós, penso que eles acreditavam que não poderíamos ouvi-los ou que morreríamos de qualquer jeito.
- Eles falaram no cara por trás deles? - Perguntou curioso.
- O Olavo só o chamava de chefe, já o Rubens o chamava de 001, parece que o Rubens era o contato direto com o tal chefe, ele sabia sobre o esquema mais que o Olavo; ele dizia claramente que o foco do 001 é destruir esse lugar e todas as pessoas que estiverem aqui e, que ele estava furioso por causa de tal ''Bella' ou 'Fera', não tenho certeza, mas parece que esses foram os responsáveis pelo turismo da cidade se expandir - disse apertando a cabeça - tem situações que ficam embaralhadas na minha cabeça, mas outras são claras como água cristalina.
- Acalme-se! Por que ele estaria furioso com a Bella e o Eric? - Thiago o olhou confuso. - Desculpe-me você ainda não conhece a história, mas basicamente a 'bela e a fera' são Isabella e Eric.
- Bem depois dessa história de fera e bela a população cresceu o que segundo o Rubens dificulta os planos do chefe ou 001 como ele dizia. Rafa ele quer os tesouros de Granville. - Rafael sorriu deduzindo que o irmão estava estressado.
- Que tesouros podem ter aqui? - Perguntou mais tranquilo.
- Cara pálida, você nunca se perguntou como uma cidade com um terço da população de São Paulo se tornou o Vaticano brasileiro?
- Mano o Vaticano é um País, Granville é só uma cidade. – Comentou já não mais tão tranquilo, afinal ele tinha razão.
- Uma cidade independente do resto do País, com suas próprias leis e regras, como ela conseguiu isso? Como ela se mantem?
Na verdade nunca pensara em nada disso, e o irmão não deixava de ter certa razão, era mesmo muito estranho; como a cidade se mantinha totalmente sozinha?
- Descansa e se recupere, eu vou ficar atento, se acontecer qualquer coisa que as coloquem em risco eu fujo com elas de volta para o Rio de Janeiro, você sabe que eu sou muito bom em fugas. - Disse pesarosamente, sabendo que o irmão concordaria.
- Você não é mais assim, não se esqueça de que a Sofia me disse o que fez por ela e pela Bia, e eu estou muito orgulhoso do meu irmão, obrigado mano, por tudo e principalmente por não desistir de me procurar.
Rafael sentiu um nó na garganta, era a primeira vez que ele via admiração por ele no olhar do irmão, uma batida na porta os tirou desse momento de intimidade.
- Oi. - A mãe colocou a cabeça para dentro. - O pastor Tiago tem outras coisas para fazer meu filho. - Disse entrando acompanhada por Sofia.
Os gêmeos entreolharam-se Rafael viu a dúvida e o medo no olhar do irmão, aproximou-se apertou sua mão e assentiu, desejando passar toda a segurança que ele precisava naquele momento, Thiago sorriu e o coração do seu gêmeo acalmou-se.
- Eu prefiro que o Rafael me leve, por favor! – Pediu calorosamente.
- Vocês não estão aprontando alguma coisa estão? - Perguntou a mãe olhando de um para o outro.
- Mãe eu prometi ao pastor que se eu desistisse ele poderia me dar uma surra, e a senhora acha que ele perderia essa oportunidade? - Perguntou Thiago sorrindo, todos riram.
- Não mesmo! - Respondeu Rebeca que entrava com o esposo.
🍎🍎🍎
Samara encontrou Micaela tomando café na cantina do hospital, tinha profundas olheiras e parecia de mau humor.
- O que foi criatura, por que essa cara? Parece que não dormiu nada a noite. – Disse tentando parecer descontraída.
Na verdade estava preocupada com a amiga, ela não estava aceitando bem a amizade da filha com o tio e, para completar até o esposo estava do lado do cunhado, e ela ainda se recusava a falar com o irmão, mesmo depois que o outro gêmeo o encheu de elogios para a irmã mais velha.
- Eu não consegui dormir a noite toda. – Disse de maneira conspiratória olhando para os lados. – E se o lugar que estão mandando meu irmão for uma armadilha como a que ele veio parar aqui?
- Mica, o pastor Tiago, o Rafael e o Eric verificaram pessoalmente as acomodações do lugar, eles... – Micaela ergueu as mãos interrompendo-a.
- Esse pastor tem a vidinha dele de contos de fada, meu irmão é um covarde que se esconde atrás daquele distintivo e o doutor Eric nem conhece o meu irmão. – Desabafou, desabando na cadeira chorando. – Tudo o que eu não chorei nos últimos anos eu estou chorando ultimamente. - Resmungou fungando.
Samara a abraçou solidariamente, a compreendia, a situação que o irmão chegara naquele hospital deixara toda a equipe médica preocupada, na realidade ninguém tinha esperança de que ele saísse daquela e, para surpresa geral, ele sobrevivera, ainda estava esquelético, mas a vontade de viver queimava em seu olhar.
- Mica querida, você tem todo o direito de estar desesperada e chateada, até mesmo de pensar mal das pessoas que você não conhece, eu também não conheço o pastor Tiago ou ao seu irmão... – Ela riu sarcástica.
- Ah! Mais quanto ao meu irmão eu o conheço, - ela a interrompeu furiosamente, - e ele é exatamente o que eu disse que ele é não se iluda com aqueles olhos azuis; o único motivo para ele querer que o Thiago vá para essa clínica é para se ver livre e não ter que cuidar dele, a verdade é que ele não quer ter trabalho com o irmão.
- Você sabe que seu irmão precisa de ajuda profissional e também de Deus, ninguém sabe quais outras drogas aqueles loucos aplicou nele, deixando-o ainda mais dependente, você já viu as crises que o seu irmão teve depois que acordou. Mica o pastor é um bom e honrado homem e o meu irmão apesar daquele jeito debochado de quem pensa que o mundo é um grande parque de diversão, é muito responsável, principalmente com as vidas que Deus coloca nas mãos dele.
- Eu sinto muito ter falado mal do Eric, às vezes eu esqueço que você o tem como irmão. Eu estou muito preocupada com o 'meu irmão'. - Frisou.
- Eu sei que não sou ninguém para ficar dando palpites, afinal não tenho irmãos, a não ser alguns de consideração, mas eu imagino que toda a sua família esteja preocupada com o Thiago.
- Por favor! Perdoe-me, eu não queria ser tão insensível. – Pediu triste.
- Está tudo bem, eu sei que você não quis me ofender, mas eu admito que esse assunto seja delicado para mim. - Disse encarando-a. – Minha querida, o que eu quero que você compreenda, é que essa família não é mais a mesma que você deixou para trás, por mais difícil que seja você aceitar, eles mudaram, cresceram, são pessoas que talvez você goste de conhecer, você mesma admitiu que fora muito produtiva a conversa com a sua mãe.
- E foi mesmo. – Concordou sorrindo. – Foi um peso que eu tirei das costas.
🍎🍎🍎
Rafael deixou o quarto do irmão a pedido da mãe, à procura de Micaela para se despedir do Thiago, disseram que ela estava na cozinha, constrangido dirigiu-se para lá.
- "Não sei por que não mandou a Sofia, a Micaela prefere vê o bicho ruim a mim". – Pensou empurrando a porta.
Ouviu o desabafo da irmã, e deu um passo à frente para defender o pastor e o doutor Eric que estavam sendo mais que pai e irmão para eles, quando ouviu a voz de Samara.
A única vez que falara com ela fora naquela manhã na UTI, sempre a via pelo hospital, na confeitaria, sempre dizia que na próxima vez falaria com ela, mas a coragem sempre acabava e, depois que descobriu que ela e a irmã eram amigas sua coragem minguou de vez, com certeza depois de ouvir tudo o que a irmã tinha para falar dele, ela não queria nem saber dele na vida dela.
Envergonhado por ouvir a conversa alheia voltou para o corredor, deu um tempo para elas, suspirou profundamente e antes de empurrar a porta chamou pela irmã entrando.
- O que é? – Gritou irritada, ele entrou constrangido pelo grito dela e pela enfermeira que estava em pé ao seu lado, inclinou a cabeça na direção dela em cumprimento, ela respondeu da mesma forma.
- A mamãe está te chamando, o Thiago já vai sair e quer se despedir de você. – Disse timidamente.
- Eu já vou. – Disse se levantando e saindo sem ao menos olhar para ele, desejou ser criança novamente e poder se encolher em qualquer canto, exasperado passou a mão na cabeça.
- Sua irmã é uma boa mulher, ela só precisa de mais tempo. - Disse Samara impulsivamente.
- Obrigado, mas infelizmente não creio que seja esse o caso. - Disse triste, ela sentiu um aperto no coração, gostaria de conforta-lo. - Com licença! - Disse saindo.
- Como não me iludir com esses olhos azuis? - Sussurrou. Ele se virou para ela, sentiu o rosto arder. - "Meu Deus ele me ouviu". - Pensou apertando a mesa onde encostara quando ele adentrou a cozinha.
- Você sabe me dizer se o doutor Alan está no hospital? - Perguntou sério.
- Ele está no quarto da Luna. - Respondeu nervosa.
- Obrigado. Samara! - Disse inclinando a cabeça, o som do seu nome saindo de seus lábios tinha uma entonação diferente, que a fez sentir um frio na espinha dorsal.
- "Ela reparou nos meus olhos!" – Pensou ele eufórico, já era alguma coisa.
Continua...
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