0 2 - Os mistérios de cada um
Rafael sentou-se a uma mesa afastada, apertando as têmporas tivera um dia cansativo e não estava com vontade de ir para casa, desde que encontrara o irmão o fantasma de seu pai o tem perseguido em casa, olhou ao redor e suspirou, o local estava lotado, censurou-se, afinal sabia disso era o local preferido de dez há cada dez morador, incluindo ele.
Geralmente ele quase se sentia confortável naquela cidade, era um bom lugar para se viver e, apesar da população está aumentando e consequentemente o movimento e o perigo também, ainda era um lugar tranquilo e agradável, o ambiente familiar na Confeitaria Ana conhecida pela população por 'a bela e a fera', dava um ar de conforto e paz o que levava as pessoas até o local desde o momento que abria às seis da manhã a vinte e duas horas, horário que fechava.
Havia ainda as pessoas que frequentava o local fora de hora para investigar a vida alheia, sorriu com esse pensamento, reza a lenda que desde que o pastor Tiago e a família chegaram à cidade e começaram a investigar os assassinatos da 'fera de Granville' a Confeitaria virara o QG dos investigadores amadores da cidade, agradeceria para sempre àquelas pessoas, graças a eles encontraram seu irmão com vida.
Fez sinal para Rodrigo, para assentiu sorrindo, pegou o celular olhando as mensagens do dia, naquele dia estivera tão cheio de papelada para preencher, ainda das coisas estranhas que acontecera na clínica onde o irmão fora encontrado, ele sabia o que acontecera, Deus operara um milagre naquele lugar, salvando as vidas de seu irmão e do doutor Alan, mas como explicar isso para uma justiça cega que não acredita em milagres?
- Boa noite senhor. – Cumprimentou timidamente a garçonete.
- Boa noite. – Respondeu rispidamente, arrependendo-se imediatamente, não era de sua índole ser mal-educado, mas seu dia não começara bem e fora só piorando, no entanto não era culpa da garota, levantou o olhar com um meio sorriso. – Desculpe-me, boa noite senhorita. – Franziu o cenho diante do sorriso dela, era estranhamente familiar.
- Tudo bem. Imagino que seu dia tenha sido difícil, o Rodrigo pede desculpas, mas hoje isso aqui está uma correria.
- E quando não está? – Perguntou sorrindo.
- O senhor é o Rafael filho da senhora Eugênia, não é? – Perguntou chamando sua atenção, a família ficara conhecida por algumas pessoas pelo irmão que ainda estava internado no hospital e a história que os levaram até a cidade, mais ele não era tão conhecido assim, ele a encarou franzindo a testa ela achando-a ainda mais familiar.
- Sim, sou eu. E você é? – Perguntou mais curioso do que gostaria.
- Eu sou Sabrina sua sobrinha. – Respondeu erguendo a cabeça, ele sorriu pensando na irmã, assim como a filha ela erguia a cabeça daquela maneira quando se sentia ameaçada, agora compreendia por que era tão familiar.
Ele soubera pela mãe que Micaela morava na cidade e trabalhava no hospital, mas ela ainda não queria falar com ele e, como sempre ele ficara na dele estava esperando o momento em que ela quisesse se encontrar com ele, mas não se recordava da mãe falar nada sobre o filho ou filha que a irmã esperava quando fora expulsa de casa. Levantou-se desajeitado.
- Oi. – Disse verdadeiramente alegre, gostaria de poder fazer algo de útil por ela como sentia que fazia por Beatriz. – A minha mãe não me disse sobre você.
- Teria feito alguma diferença? A minha mãe disse que o senhor nunca se importou muito com ela ou com meu tio e, vejo que ela tinha razão afinal o senhor ainda não foi procura-la. – Havia muito ressentimento na voz dela, ele franziu o cenho.
- Ela não quer falar comigo e eu tenho muita dificuldade de impor às pessoas. E quanto ao que ela disse, entendo a posição dela, mas não é verdade que eu não me importava com eles, eu apenas tinha medo. – Confessou, viu o brilho no olhar dela mudar.
- Obrigada, por falar a verdade. – Disse sorrindo. – Minha mãe é mesmo muito orgulhosa e teimosa.
- Boa noite, tudo bem Rafael? Algum problema Sabrina? – Perguntou Isabella olhando de um para o outro.
- Boa noite Bella está tudo bem. – Respondeu Rafael tenso. – Você deve se recordar da minha irmã Micaela que foi expulsa de casa e etecetera e tal! – Isabella assentiu confusa, afinal Sabrina era muito nova para ser a irmã perdida de Rafael, a moça mais nova sorriu.
- Eu sou filha da irmã dele, ele é meu tio. – Ela respondeu sorrindo.
- E desde quando você sabe disso menina? – Disse alegre abraçando a funcionaria.
- Desde quando meu tio deu entrada no hospital a minha mãe trabalha lá serviços gerais. – Respondeu orgulhosa da mãe.
- Deveria ter me dito, assim eu não ficaria histérica imaginando o que você ou o Rafael teriam feito um para o outro para estar aquele clima mais tenso do que quando meu pai esquece o aniversário da minha mãe.
- E isso alguma vez aconteceu? – Perguntou Rafael imaginando o que dona Rebeca faria se isso acontecesse.
- Meu pai ainda está vivo, então o mais provável é que isso nunca tenha acontecido. – Disse sorrindo. – Converse com o seu tio, eu vou atender suas mesas. – Disse pegando o cardápio.
- Imagina Bella, você já faz demais por mim, eu falo com ele outra hora. – Disse segurando o cardápio.
- Sabrina, a gente tem que aproveitar toda oportunidade em estar com a família, principalmente em consertar o que está errado, se você não acertar as coisas com seu tio, hoje você não fará parte da divisão dos doces no final do expediente.
- Não seja por isso. – Disse a moça sorrindo soltou o cardápio puxando uma cadeira, Rafael sorriu.
- Obrigado. – Disse à Isabella sem som, ela piscou sorrindo.
- Quando vocês estiverem prontos para fazer os pedidos me chama.
- Ela é maravilhosa! Eu comecei a trabalhar aqui quando ela estava grávida dos gêmeos, nunca imaginei que ela e o Eric fossem pessoas tão especiais, principalmente depois de tudo que esse povo falava do Eric o tempo que ele estava escondido.
- Eu soube. – Disse distraidamente.
- Tio, por isso eu estou aqui, a minha mãe me proibiu de me aproximar do senhor, mas eu pensei que o senhor iria aparecer lá em casa e ter uma conversa franca com ela e se resolverem, eu acredito que as pessoas têm o direito a se defender, ainda que aparentemente não aja defesa.
- Como eu disse, eu me importava sim com meus irmãos, mas eu morria de medo, e além do mais eu pensava que não importava o que fizéssemos jamais sairíamos daquela situação, toda vez que seu avô era preso ou desaparecia por sei lá qual motivo, nos enchíamos de esperança e, logo ele voltava e tudo voltava a ser o que sempre fora. – Disse sem nenhuma emoção. – Sua mãe e o Thiago pensam que eu não sofria, mas eles estavam enganados e, acho que eles ficariam felizes com o que aconteceu depois que eles se foram. – Disse com o olhar distante.
Ele era invisível, a prova disso não estava no fato de não ser tão castigado quanto os outros, mas no fato de que os pais realmente não o viam. Durante algum tempo pensou que de fato ele conseguia manter a violência do pai longe dele por ser sempre obediente e prestativo, mas depois que o Thiago saiu de casa, os pais simplesmente o ignorava, algumas vezes o pai chegava bêbado e o confundia com o irmão, se de fato isso acontecia ou se ele apenas queria humilhar o filho, Rafael não saberia dizer.
- Thiago venha aqui, tira o meu sapato. – Dizia o pai bêbado jogado no sofá.
Rafael compreendia que ele bêbedo poderia confundi-los, afinal eram gêmeos idênticos, pelo menos na aparência, pois, ele sabia também que jamais o irmão faria algo assim, e desejava agir como ele e recrutar, mas simplesmente não conseguia. Aproximava-se para tirar o sapato do pai e ele o chutava agressivamente.
- Sai para lá imprestável, pensei que fosse meu filho, você não passa de um encosto imundo, por que você não saiu de casa no lugar dos meus filhos? Por que você não morre e para de me incomodar com a sua presença sem graça e brilho! – Dizia toda vez que o confundia com o Thiago.
O mais difícil para Rafael era saber que a fúria do pai contra ele, era justamente por que ele conseguia enfrenta-lo como os irmãos faziam, foi naquela época que ele percebeu que não era ele quem se fazia invisível para os pais, de fato ele não existia para eles.
Certa vez adoecera ficara uma semana de cama, e mãe enfermeira não percebeu que o filho estava doente, naquela semana ela o colocara para limpar a sujeira que o pai fizera bêbado, vomitara a sala toda e ele muito fraco por estar doente e sem se alimentar direito ao abaixar para limpar ficara tonto e para não cair na sujeira apoiara-se no que encontrara e para seu desespero fora a perna do pai, ele o chutara com tanta força na cara que lhe quebrara o nariz.
Essas lembranças já não o machucavam tanto quanto machucava alguns anos atrás, converter-se ao Evangelho de Jesus, fora a melhor coisa que fizera na vida.
- O que aconteceu tio depois que minha mãe e meu tio foram embora? – Perguntou solidária.
- Deixa isso pra lá minha filha, não vale apena remoer o passado. Fale-me de você. – Ela encostou-se sorrindo.
- Tio a minha mãe está esperando que o senhor procure por ela, na cabeça dela o senhor foi o único que não sofreu na mão dos meus avós, isso a deixa muito ressentida. Mas vamos lá, o que o senhor quer saber sobre mim? – Perguntou sorrindo.
🍎🍎🍎
Samara despediu-se de Rosa e Eric e foi direto para a clínica, ao pedir emprego para o Eric e pedir um tempo para dizer a Rosa que estava na cidade não tinha a intenção de ficar escondida só precisa de tempo para se acostumar à ideia de estar em casa novamente, pois essa era a sensação que enchia seu coração depois de tanto tempo, estava em casa, finalmente se reencontrara, apesar das dúvidas e incertezas que as cartas que encontrara de Rosalina lhe causavam.
Naquela manhã ao chegar a sua casa sentiu-se sozinha e desamparada, na noite anterior, no intervalo ouvira a história de Micaela e as duas choraram juntas, e ela sentiu falta de alguém que pudesse chamar de família, por isso ao retornar decidira reencontrar Rosa, no entanto não se sentia mais confortável nem mais tranquila depois de vê-la, sentira tanta falta dela e dos meninos, vivera sozinha em uma casa enorme, sem amigos. Rosalina não permitia que ela fizesse amigos ou que mantivesse contato com os amigos do orfanato, só soubera e que ela nunca enviou nenhuma de suas cartas e das cartas que eles escreveram para ela, quando estava quase morrendo.
A única lembrança que tinha antes do orfanato era de uma mulher vestida de preto deixando-a na floresta e dizendo a ela para procurar ajuda e por nada voltar para casa, pois enquanto o pai estivesse doente ela corria perigo, passara todo o dia sentada debaixo da árvore onde a mulher a deixara esperando que ela voltasse para busca-la, conforme escurecia começou a ficar com medo e quis voltar para casa, mas não fazia ideia de onde estava nem para onde ir, andara por algum tempo, mas quanto mais andava mais ficava com medo e mais perdida se sentia, na época ela tinha oito anos, naquela noite fora picada por uma cobra e acordara no hospital da cidade, como não se recordava de nada e, ninguém a conhecia fora mandada para o único orfanato existente na cidade, um orfanato para garotos, Felipe um garoto tímido que sofria bullying nas mãos do Eric e do Ulisses a apelidara de branca de neve e os sete anões pelo fato de ser a única menina entre sete meninos.
- "Como é possível duas pessoas que se amavam tanto quando eram crianças, se tornarem inimigas como o Eric e o Ulisses?". – Pensou intrigada.
O Eric jamais se tornaria inimigo de alguém, ele era um garoto marrento e estava sempre aprontando com os mais novos, mas era o que tinha o coração mais bondoso, se Ulisses não tivesse se metido com a família dele, ele ainda seria capaz de perdoa-lo, mas o idiota matou a esposa a filha e ainda tentou sequestrar a namorada do cara, só mesmo Deus para entender a psicopatia.
Como sempre chegou adiantada ao hospital, gostava de falar com Micaela antes de começar de fato seu expediente, naquela noite a encontrou reclamando com alguém pelo telefone, Samara preocupou-se com ela, pois parecia bastante irritada. Nos últimos dias Micaela estivera profundamente angustiada com o irmão que permanecia internado, mas para a Honra de Deus estava fora de perigo.
- Algum problema com o seu irmão? – Perguntou quando a outra desligou o aparelho.
- Não exatamente, pelo menos não com o Thiago, mas com o idiota do Rafael. – Samara cruzou os braços, não queria se meter mais em sua opinião Rafael era qualquer coisa menos um idiota, isso sem falar no quanto era lindo! Constrangida engoliu seco.
- E o que aconteceu com o Rafael? – Perguntou como quem não quer nada.
Elas tornaram-se próximas nos últimos dias, logo de cara gostaram uma da outra, e finalmente na noite anterior Micaela tomara coragem e lhe contara seus dramas familiares, por isso apesar de achar o irmão da outra tudo de bom, compreendia seu ressentimento com o irmão, mas também compreendia o motivo do irmão continuar afastado.
- A Sabrina está toda derretida pelo tio, agora ela acha que eu sou injusta com o titio dela. – Reclamou cruzando os braços, Samara se conteve para não rir da indignação da outra.
- Eu já te disse a minha opinião, você deveria procurar por ele logo e falar tudo o que está entalado na sua garganta e fazer as pazes com seu irmão, Micaela a profissão dele é de risco e se Deus nos livre você não tiver a chance de dizer que também sentiu a falta dele e que lamenta tê-lo deixado para trás.
- Eu nunca disse a ninguém que lamentava tê-los deixado para trás, principalmente ele. – Retrucou irritada, Samara arqueou a sobrancelha. – Tá bom, - disse erguendo as mãos, - de todos nós ele era o que mais precisava de proteção. Mais eu nunca vou admitir isso para ele, ele foi sim um covarde com a gente o tempo todo.
- Ele era só um garoto, e as pessoas são diferentes, cada uma reage à dor de uma maneira diferente e você sabe disso, além do mais, admitir que ame seu irmão e que você está sim magoada por que ele nunca foi capaz de te defender não faz de você menos do que é, pense nisso.
- A questão é que eu compreendo ele ficar na dele, mas isso não evita que eu sinta raiva por ele ficar lá parado com os olhos grandes nos olhando, sinceramente me partia o coração vê-lo chorar, mas ao mesmo tempo me dava um ódio tão grande dele. – Disse triste. – Eu sei, é confuso.
- Não acho que seja confuso. Você só queria que vocês três estivessem sempre juntos, para apanhar ou para correr, mais juntos.
- E parecia que era sempre apenas eu e o Thiago, era como de fato ele não estivesse ali. – Disse entre aliviada e triste.
- Deixe esse orgulho bobo de lado e vai falar com ele, e pare de proibir a Sabrina de estar com a família que também é dela.
- Até por que agora não adianta mais, se ela estava toda apaixonada pela avó, prima e tia, agora está também pelo tio.
- "Eu a superintendo" – Pensou sorrindo. - Vamos trabalhar que nascemos lindas, não ricas. – Beijou a bochecha da amiga.
Continua...
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