Já se fazia um mês que Miguel se mudou e nossa amizade cresceu um pouco, ele até que me surpreende às vezes.

- Vai mesmo terminar com Joshua? – Megan me questionou esperançosa, ela detestava ele.

- Já escutou menina, vamos logo antes que mude de ideia. – Respondi seguindo até a casa dele, bati apressadamente na porta e o amigo traficante dele atendeu. – Cadê aquele garoto? – O questionei.

- Vai procurar garota. – Peguei com força na camisa dele e o empurrei até a parede o lançando um olhar de fúria.

- Acho que não escutei... – Sorri cinicamente com a voz intimidadora.

- Está no quarto. – Respondeu assustado.

- Obrigado. – Soltei ele e subi as escadas apressadamente, arrebentei a porta e quando vi meu namorado fazendo coisas indecentes com a Jane, juro que só não o matei porque eu sabia que era errado.

- Ester? – Se assustaram.

- Oh loira com roda a bolsinha na esquina! – Me referi a Jane. – Da o fora antes que se arrependa. – Ameacei e ela saiu só de lençol correndo assustada.

Tranquei a porta e Joshua tentou fugir, mas o impedi.

- Se aparecer novamente na minha frente Joshua, eu te aconselho a mudar de cidade, ou melhor... De país! – Avisei enquanto ele arregalava os olhos com medo de mim.

- Eu vou contar pra todo mundo quem você é realmente! – Ele rebateu.

- Aiiii... Oh que dar um de valentão me amaçando? Ouviu isso Megan? Mas é tão burro, se você realmente viu o que aconteceu naquela noite Joshua, sabe então do que sou capaz, não sabe? Mas vou te poupar... Não estou a fim de pegar prisão perpetua por sua causa... Mas já está avisado. – O encarei seriamente e Joshua estava tremulo.

- Amanhã vou embora.

- Hoje.

- Mas... – O interrompi lançando um olhar furioso. – Hoje. – Sorri vitoriosa, me afastei dele e me aproximei de Megan.

- Não ouse voltar Joshua... Não ouse. – Avisei pela última vez e desci as escadas com um olhar sério e Megan me levou pra casa.

~***~ No meu quarto... ~***~

- Onde estava? – Miguel apareceu de novo no meu quarto, ele acabou se acostumando a fazer isso e todo dia vem estudar comigo.

- Nada demais, apenas resolvendo alguns assuntos. – Respondi enquanto folheava o livro de matemática.

- Estava pensando em irmos ao retiro da igreja, o que acha? – Miguel diminuiu suas insistências comigo sobre a igreja, mas ainda assim aproveitava nossos momentos juntos para falar pelo menos alguma coisa.

- Não posso, meus pais vão viajar e terei que ir junto, vamos pro Japão. – Respondi acabando com a felicidade dele.

- Dá próxima então. – Respondeu segurando o desanimo. – Ainda não me contou sobre o que seus pais trabalham.

- Minha mãe roda a bolsa à noite e papai e chefe da máfia. – Não dei atenção, estava lendo um livro.

- Sua imaginação me comove... Fala sério, por favor.

- Okay... Mamãe é enfermeira no hospital particular e papai trabalha como construtor, mais alguma pergunta? – Ele se permaneceu em silêncio. – Então vamos estudar.

Ficamos um bom tempo estudando e depois nos deitamos na grama que envolve a casa dele e observamos as estrelas.

- Deus fez cada coisa tão perfeito que às vezes me espanto como as pessoas não reconhecem o poder dEle. – Miguel dizia impressionado, com um brilho no olhar, era bonita a forma dele dizer. – O que você acha? – Me fitou.

- Está certo no que diz Miguel, mas eu não sou uma pessoa tão certa para lhe responder, eu não tenho um relacionamento com Deus e não conheço muito bem a sua grandeza. – Confessei o deixando intrigado.

- Mas pode conhecer se quiser.

- A minha vida é tão obscura Miguel que duvido se um dia Deus poderá me perdoar de tudo que fiz. – Confessei desanimada, sabia da realidade, Miguel que não queria enxergar.

- O que fez de tão ruim para achar que Ele não te perdoaria?

Algumas memórias me vieram à cabeça de relance.

- Por favor! Eu imploro! Poupe a minha vida! – O homem gritava desesperado, em meio à chuva torrencial, ele estava deitado na lama pedindo clemencia.

Só se ouvia o estalo da bala atingindo de certeiro o seu coração, o resto não me recordava.

- Melhor não saber. – Respondi e nos olhamos fixados um no outro, Miguel se aproximou aos poucos e por pouco um beijo iria rolar, mas eu desviei rapidamente antes que me arrependesse. – Não quero que participe da minha vida Miguel, existe alguém melhor do que eu... Tchau. – Levantei num pulo e me afastei dele, começando a escalar a árvore.

- Até mais tarde Ester. – Respondeu e entrei no meu quarto sem o responder, fechei a janela antes que me arrependesse e fechei os olhos desejando que isso nunca mais acontecesse... Não podia acontecer. – Senhor sabe que não mereço o teu perdão, mas, por favor, apenas proteja o Miguel, pelo menos isso!

Joguei-me na cama e fui descansar, amanhã seria um longo dia.

~***~ Na escola... ~***~

- Porque Joshua se mudou? Nem comentou com os professores. – Os colegas insignificantes da minha sala comentavam curiosos com a mudança repentina daquele tolo... Não minto que um sorriso se abriu de canto no meu rosto, mas não eram motivos de felicidades, pois mais uma vez eu errei.

- A culpa é sua, você o ameaçou! – Jane se levantou apressada e ficou do lado da minha carteira, enquanto eu estava toda espreguiçada sem dar ouvidos a ela.

- Acha mesmo que tem direito de me afrontar? – Falei com um sorriso cínico. – Pelo que eu saiba, não sou que fica rodando a bolsinha a noite não é mesmo? – Jane me olhava com ódio e desprezo.

- Ester... – Megan murmurou pedindo para parar.

- Vou te denunciar pra polícia! – Jane berrou.

- Jane como você é cínica... – Sorri. – Pois bem, faça como queira, acho que seu pai vai gostar de saber que você dormiu com meu namorado e ainda fumou umas... – Respondi enquanto fingia observar minhas unhas.

- Sua... – Jane ia me socar, mas na hora eu coloquei minha mão na frente da sua mão fechada a parando e ela tentou fazer força para continuar, mas era fraca demais. – Aiii... – Comecei a apertar sua mão e...

- ESTER! – Miguel me interrompeu e eu a soltei, a mão de Jane ficou vermelha.

Olhei pra ele com um ar superior e o encarei seriamente.

- Não se intrometa Miguel... Não arcarei com as consequências. – Bati na mesa dele e falei bem devagar para ele entender.

- Você não é assim... – Exclamou suspirando pesadamente e sorri de canto.

- Você não conhece nem a metade Miguel... – Virei meu olhar para Jane que estava tentando aliviar a dor e ela ficou com medo que rapidamente se sentou na carteira, todos ficaram em silêncio e suspirei profundamente e percebi os olhares de medo para mim.

- Vamos começar a au... la? – A professora apareceu e se espantou com o clima pesado na sala. – Vocês estão bem? – Perguntou e eu passei por ela saindo da sala sem permissão. – Ester! – Chamou mais fui embora da escola... Quando já estava bem distanciada do local, me desabei em lágrimas, foi terrível a forma que Miguel me olhou, ele estava espantado e com medo.

- ISSO É TUDO CULPA SUA! PORQUE FEZ ISSO COMIGO? POR QUÊ? – Questionei a Deus com raiva por dentro e tentando me libertar dessa dor. – Eu não sou digna de nada, não tenho direito de pedir perdão... Eu já estou morta. – Ajoelhei no chão e depois me deitei de lado pensando em tudo...

Eu não tinha mais esperanças...