Olá, leitores. Segurem-se nas poltronas que a resenha de hoje é especial.

Se você curte homens suados, feitiços de procedência duvidosa e overdoses de descrições tão bem feitas que as palavras quase saltam para fora da página, pode chegar mais perto que esse livro é pra você.

Damnatio, dos autores WesleySoares e
LazMorcega, nos apresenta a história de um ferreiro que está disposto a ir até as últimas consequências para corrigir uma tragédia do seu passado. Uma trama que faz um recorte de um dos sentimentos mais pungentes e assustadores que, na atual situação do mundo, parece se tornar mais recorrente a cada dia que passa, seja nas telas da tevê ou dentro da nossa própria casa: o luto.

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PONTOS NEGATIVOS

Cavando um túmulo: No geral, gostei muito da história que Damnatio me entregou. Um conto sombrio, mas com aquele toque certeiro de agilidade na narrativa que cria um ritmo muito bom.

Mesmo assim, eu ainda consegui enxergar algumas fragilidades no que diz respeito à construção da trama. Eu entendo que o conto tem o propósito de ser uma leitura curta e rápida, mas a falta de aprofundamento acaba tirando o impacto que a história poderia causar.

Toda essa questão da perda do protagonista, a ânsia dele em buscar meios de consertar algo que não está em seu controle e o visível período de negação que ele atravessa poderia ter sido melhor trabalhado. Apesar de o luto ser esse sentimento de natureza universal e de fácil identificação, o verdadeiro poder de histórias que se propõem a falar sobre ele está nas minúcias, no íntimo, no pessoal.

Existe também uma falta de background para certas passagens que a história apresenta, algo que os autores tentam suprir com algumas inserções breves, quase flashbacks, mas que não conseguem contextualizar relações e história de vida do personagem, conferindo a esses acontecimentos um ar meio atropelado e um certo aperto na progressão da história. Algo parecido com cavar uma sepultura pequena demais para o caixão que se deseja enterrar.

Personagem: "Olha só, jurei realizar o pedido de uma seita e em troca eles me deram esse feitiço sombrio."

Eu: Meu Deus, como assim?. Como você conseguiu? O que eles pediram em troca?

Personagem: "Aconteceu uma tragédia na minha vida"

Eu: Como aconteceu? Como você lidou com isso? Esperneou? Quebrou móveis em um acesso de fúria? Chorou copiosamente? Me fala os detalhes! Eu quero saber!

Compreendo que a intenção era deixar um gostinho de quero mais , porém, em alguns casos, esse apelo à curiosidade pode ser interpretado como uma derrapada no desenvolvimento aos olhos de quem está lendo. Tudo isso culmina em um final que, apesar de bem encaixado com a problemática, acaba soando seco e abrupto.

Claro que isso talvez seja só eu buscando profundidade nas coisas que leio, mas levando em conta os paradigmas que a história apresenta, a trama brilharia ainda mais se houvesse um espaço maior, tanto para o leitor quanto para o protagonista de expor, julgar e compreender seus próprios sentimentos.

PONTOS POSITIVOS

Tá quente aqui, não é?: Descrições são uma parte essencial para a construção de uma história, seja para apresentar lugares, pessoas ou objetos. Isso já é senso comum até para escritores que estão começando agora.

Construir essa ponte autor-leitor pode ser algo complicado, principalmente se levarmos em conta que escrever um livro é como montar um instrumento de telepatia e viagem temporal. Na hora da leitura, você não vai falar, seu leitor não vai falar e mesmo assim haverá um diálogo, e embora seu texto tenha sido escrito em 2005, suas palavras poderão chegar até alguém no ano de 2050. Minha cabeça entra em parafuso quando paro para pensar nisso.

Enfim, tudo isso foi pra dizer que os autores de Damnatio dão um show quando o assunto é descrições.

Aproveitando-se de um vasto vocabulário e de um bom uso de figuras de linguagem, os parágrafos iniciais do conto fisgam o leitor rapidamente e são muito eficazes em estabelecer os cenários. Toda a ambientação da forja, as chamas projetando sombras na parede, o som do martelo contra o metal, o suor descendo pela testa e encharcando a barba... sério, comecei a ficar com calor nesses trechos. Sem exagero.

As descrições também utilizam o ritmo e as palavras certas para dar um tom condizente com os acontecimentos que estão sendo contados. Isso é algo muito bacana para se notar durante o conto.

Com certeza, a narrativa de Damnatio é algo que deve ser apreciada com muito carinho, principalmente se você tem dificuldade com as descrições. E, apesar da trama que ela abriga não ser tão redondinha quanto eu estava esperando, a história consegue deixar uma boa impressão ao final da leitura.

SOBRE O LIVRO:

* Se você gostou dessa resenha Diamante, deixe seu voto. Comente também sobre o que achou do capítulo. Se você já leu ou pretende ler e encontrou outras lições de escrita pode deixar aqui também. Deixem suas considerações sobre os pontos que eu levantei e some sua voz a discussão.

Vai lá conferir se o ProjetoW10 está aberto para inscrições e participe. Se não estiver, adicione o livro na sua biblioteca e fique atento que a rodada pode começar a qualquer momento. Quem sabe o seu livro não aparece por aqui, hein...

Até o próximo capítulo😊😊😊