Destrinchando#21 - Objetos Cortantes
Esconda as facas, metais e todos os seus primos afiados. Garanta que Camille Preaker não os encontre.
Gillian Flynn, autora de Garota Exemplar e Lugares Escuros, teceu uma rica trama que aborda distúrbios psicológicos, reclusão familiar, padrões de beleza e uma investigação policial em busca de um possível serial killer. E assim surgiu Objetos Cortantes que viria a ser o romance de estreia da autora.
Sobra a leitura: instigante, assustadora. Jornada prazerosa, apesar de bem dolorida.
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Pontos negativos
Final corrido: Uma coisa que me incomodou em relação ao livro foi o seu desfecho. A autora condensou no epílogo todas as reviravoltas finais, inclusive todo o segredo que rondava o assassino. A intenção dela talvez fosse pegar no pulo os leitores que já tinham uma aparente conclusão do arco dos personagens nas mãos, mas me vi pensando que se o epílogo fosse distribuído por mais dois ou três capítulos a revelação teria mais impacto. Não é algo que tire o brilho do desenvolvimento da obra, mas que poderia entregar um final de terceiro ato muito mais envolvente.
Pontos positivos
Quando vida pessoal e profissional se juntam para te assombrar: Repórter do Daily Post em Chicago, a protagonista tem uma oportunidade de virada na carreira, mas para isso terá que retornar para seu local de nascimento, uma cidade interiorana da qual ela sempre quis se libertar.
Ela aceita. Mas para seu azar tanto a relação que ela tem com a família quanto os rumos da investigação que tem em mãos alcançam níveis sufocantes.
Essa união foi um dos elementos que deu um diferencial para narrativa que além de revirar a mente de Camille e trazer à tona toda a problemática ao redor da personagem, ainda pega um gancho para explorar o lado negativos dos repórteres, que tiram proveito do sofrimento alheio e utilizam de artimanhas politicamente incorretas para conseguir o que querem.
Outra coisa legal é como a autora consegue deixar o livro perturbador do começo ao fim. Os elementos narrativos e as escolhas de palavras atiçam o leitor, que mesmo em cenas da Camille tomando um café ou fumando há todo um viés macabro que fica latejando o tempo todo.
Personagens tridimensionais: É interessante o comprometimento da autora em mostrar o lado negro de suas personagens, sem medo ou restrições. Mesmo os secundários, que aparecem vez por outra, conseguem ter traços de tridimensionalidade e mostram seus conflitos através de uma narrativa sem rodeios. Para a autora, eles são o que são. Ponto.
Essa profundidade das personalidades, consegue de uma forma quase assombrosa transmitir todas as emoções, principalmente da protagonista.
A cena que tem uma forte ligação com o título, me fez parar, sair do quarto para tomar um ar e só depois voltar para a leitura. É um misto de sensações.
A autora é uma feminista assumida também, mas ela tem uma maneira peculiar de mostrar isso. Suas protagonistas não trazem consigo aquele ar de "fodona", muito menos se contentam com os arquétipos. Acredite, eu respeito muito as "fodonas".
Mas nos livros da Gillian Flynn vemos essas mulheres errarem e acertarem durante as histórias. Errarem, principalmente. Pelo menos eu, enquanto lia sobre a Camille, lembrava de algumas pessoas que eu conheço que tomaram atitudes parecidas com as da personagem. A intenção não é que a personagem permaneça dentro do livro, mas que salte para fora. Serem palpáveis é o que as fazem fortes.
Diálogo entre tema e narrativa: Há um traço peculiar da narrativa que eu não poderia deixar passar. Camille Preaker cortava palavras em seu corpo. Muitas com uma conotação nada agradável.
E são muitas as vezes em ela solta frases do tipo:
" De repente, em minha panturrilha esquerda, esquisita suspirou."
" Logo abaixo do meu seio esquerdo, fardo começou a coçar."
Além de contextualizar as situações que ela vive durante a narração, essas passagens estabelecem um diálogo com o problema que enfrentou e que, às vezes, retorna para tentá-la.
Essa é uma versão interessante do mostre, não conte. Gillian Flynn, não diz apenas que existem cicatrizes em Camille, ela faz essas marcas na nossa pele também.
** Os trabalhos de capa desse livro também são muito bons.
Essa é a edição de Portugal. A Bertrand Editora conseguiu os direitos e levou a obra para o país.
Essa é a jacket que a Intrínseca lançou em comemoração a série de TV. Disponibilizado pela HBO, o programa tem uma bela fotografia, além de um elenco de peso, tendo a atriz Amy Adams no papel principal. A escolha da atriz foi um tiro certeiro, bem próximo daquilo que eu imaginava da protagonista. Toda a vibe sombria que reside nas cenas mais simples do livro foi transferida para as telas.
SOBRE O LIVRO:
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* Perdi meu fôlego com esse capítulo. Espera um pouco.😥😥😥
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