Destrinchando#15 - Stephanie Mayer e a geometria do romance
Lá vem eu e minhas loucuras.
Olá para você. Sei que deve ter olhado para o título e não entendeu bulhufas, mas calma que eu explico.
Esse é um capítulo experimental que resolvi publicar para saber da repercussão com vocês.
Essa resenha consiste na avaliação de obras que apresentam uma temática ou abordagem semelhantes e como tudo isso funciona na trama. Será um texto mais comparativo e o estilo dos autores será mais trabalhado.
Para evitar certas confusões vou avaliar obras do mesmo autor. Não quero promover nenhuma rixa de fãs nos comentários.
Mas isso não dificulta a minha avaliação, muito pelo contrário, em minhas leituras notei que os autores sempre tem um tema em comum e trabalham de forma distinta de obra para obra.
Dito isso, vamos para mais uma resenha. 👍👍👍
As obras de hoje serão Crepúsculo e A Hospedeira da autora Stephanie Mayer.
Para melhorar a compreensão e também a organização, dividi a resenha em tópicos que focam em elementos comuns em obras e como eles acontecem aqui nessas duas.
Aviso: Esses capítulos serão um pouco mais reveladores que os outros. Vou tentar atenuar ao máximo as informações, mas talvez eu solte alguma coisinha específica aqui ou ali. Se você é spoilerfóbico e não quer ver nenhum detalhe antes da leitura, sugiro que volte depois que estiver melhor preparado.
Se você não tem nenhuma objeção, cola comigo e vamos logo porque eu estou enrolando demais.
》Trama: Crepúsculo apresenta a história de uma adolescente que, após mudar para uma cidade pequena, entra em uma relação com um vampiro e também conhece um novo mundo através desse amor. Em A Hospedeira, somos apresentados a uma Terra que foi tomada por uma raça alienígena que passou a tomar os corpos humanos e acompanhamos a jornada de uma jovem que foi capturada e que agora, com uma hospedeira em seu corpo, fará de tudo para voltar para sua família.
Em comparação, a trama de A Hospedeira me instigou muito mais que a de Crepúsculo por apresentar fatores muito mais chamativos que a aparente receita batida na qual o outro livro se apoia. O romance ganha muito mais foco em Crepúsculo por utilizá-lo como ponto de partida para os eventos se desenrolarem. É legal observar também a diferença de gênero no qual a autora transitou. Ambos são romances, mas o primeiro tem um apelo fantástico enquanto o outro recai em uma temática de ficção científica.
》Mundo: O mundo de A Hospedeira nos é apresentado algum tempo depois da invasão alienígena, não sendo especificado o nível de resistência da humanidade ou se houve algum tipo de guerra antes disso. Os humanos rebeldes restantes vivem reclusos e escondidos em pequenas comunidades. Em Crepúsculo, viajamos junto com Bella Swan para a pequena cidade de Forks e embarcamos em uma trama escolar que tem toques de fantasia urbana, mesclando elementos reais e ficcionais.
Os elementos de mitologia trabalhados no segundo livro, são melhor explicados que no primeiro. Toda a história dos vampiros e lobisomens funcionam muito bem como background para Crepúsculo e são explicados com muita clareza. Em A Hospedeira vemos um pouco da bagagem de Peregrina, a alma que tomara o corpo de Melanie, mas há muitos menos detalhes aqui.
》Protagonistas: As personagens tem muitos paralelos entre si. Ambas são jovens, são lançadas em situações incomuns e se envolvem em um amor geométrico. Mas Melanie e Peregrina me conquistaram muito mais do que Bella.
Elas divergem muito no que se diz à motivação. Melanie deseja muito voltar para casa e para seu irmão chegando a quebrar a confiança de Peregrina para conseguir isso. Bella está muito presa à Edward e a suas escolhas, me parecendo muito apática no decorrer do livro.
A dinâmica que é estabelecida entre a dupla é muito boa. Mesmo compartilhando o mesmo corpo, desconfiam uma da outra no início e é muito legal ver elas estabelecendo uma cumplicidade mútua com o decorrer da trama.
Em relação aos secundários, as obras apresentam bons personagens, sendo o meu preferido o tio Jeb de A Hospedeira. Mas Crepúsculo também cresce muito quando somos apresentados a família de Edward e todos os dilemas que envolvem a imortalidade.
》Geometria amorosa: Agora sim, vamos ao tópico que dá título ao capítulo.
Os triângulos amorosos já se tornaram um ícone para tramas românticas. Posso formular uma lista bem extensa de livros que utilizam esse elemento.
Mas o que diferencia os dois livros em questão é a dinâmica estabelecida.
No triângulo de Crepúsculo, envolvendo Bella, Edward e o lobisomem Jacob, a trama recai muito em situações clichês e inverossímeis. Algumas vezes, dá para sentir a autora forçando alguns acontecimentos.
Antes que você fale, eu me dei ao trabalho de ler até o terceiro livro da saga, Eclipse, para ter uma visão mais ampla, mas a dinâmica da relação desses personagens sempre me pareceu afetada, mais pelas personagens em si do que com o desenvolvimento. Mas eu não posso negar que a autora consegue transmitir o pessimismo e as inseguranças da protagonista muito bem, apesar de não ser algo muito forte ao qual se apegar. Os secundários me surpreenderam com seu desenvolvimento, um destaque para Rosalie que estabelece um bom contraponto a entrada de Bella para o mundo vampiro. Mas os personagens centrais careciam de algo que os destacasse, podem até causar alguma impressão isoladamente, mas nunca em equipe.
Em A Hospedeira, somos apresentados a um caso diferente. Estou falando de um quadrado amoroso.
De início vemos Peregrina tendo que lidar com os sentimentos de Melanie para com Jared, um fugitivo que desenvolveu um relacionamento com a garota antes de sua captura. Mas conforme a trama avança, Peregrina se vê balançada por Ian que parece ter um interesse peculiar por ela.
Apesar de possuir alguns gatilhos clichês, as situações que envolviam essas personagens foram agradáveis e melhor acertadas. O romance aqui é muito mais verdadeiro e crível. A criatividade da autora para o desenvolvimento desse quadrado merece elogios. E não pense que o foco principal é o romance, mas todos os percalços para a sobrevivência humana ganham força e dão mais profundidade a trama.
Apesar de os dois casos discutirem o preconceito de raças, A Hospedeira conseguiu me alcançar melhor por não estar soterrado por distrações e o desinteresse dos personagens abordados.
》Evolução: Eu não posso ir embora sem citar a marcante evolução que eu percebi na escrita de Mayer.
Acho que o maior erro que eu cito em Crepúsculo é o que posso chamar de super adjetivação, principalmente na introdução de personagens.
Nas descrições a autora parecia não querer omitir nenhum detalhe, trazendo longos trechos com bombardeios de adjetivos. E isso era muito maçante. Há também um uso excessivo de advérbios: longamente, firmemente...
Mas não posso dizer que o trabalho é de todo ruim. Apesar de já ter visto algumas críticas que detonavam a escrita de Stephanie, acredito que faltou apenas polimento para a obra.
Em A Hospedeira, as passagens são bem mais construídas e enxutas, apesar de algumas quase beirarem o problema de Crepúsculo. Mas o estilo que a autora implementa consegue tapar alguns desses buracos e trazer uma experiência até prazerosa.
Eu não sei o que a autora fez, mas funcionou muito.
Stephanie conseguiu sucesso em Crepúsculo por essa nova roupagem de contos de terror e essa união do romântico com o macabro, mas é legal perceber que ela não se acomodou. Meu joinha para ela.👍
Curiosidades: Mayer teve a ideia de Crepúsculo depois de um sonho que teve com uma jovem sendo confrontada por um vampiro e as implicações do relacionamento com ele. A autora desenvolveu a história a partir daí e essa parte compreende o que viria a ser o capítulo 13 do livro. Com A Hospedeira, ela passeava pela praia e brincava de inventar histórias. Imaginou o conflito de alguém preso no corpo de outro e mesmo sem querer já tinha dado o pontapé inicial para o livro.
Ambas as obras possuem adaptações cinematográficas.
Em entrevista, a autora já comentou sobre a possível continuação para A Hospedeira e chegou a dizer que já estava produzindo rascunhos para esse projeto.
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* Acho que vocês podem imaginar o tempo que gastei com leitura e pesquisa para esse capítulo. Mas, eu gostei do resultado. Diz aí sua opinião sobre minha análise, sobre essas obras e se quer mais publicações nesse estilo.
Até a próxima😀😀😀
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