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5. Bar

Oh! Darling, please believe me
I'll never do you no harm
Believe me when I tell you
I'll never do you no harm.

🎶The Beatles, Oh! Darling.*

PASSADO.

SENTIA-ME PATÉTICA por ter que fazer as coisas às escondidas, mas mamãe não abria o espaço para diálogo. E quando era possível iniciar uma conversa mais séria com ela, suas palavras tinham o poder de me manipular até fazer com que eu esquecesse os motivos pelos quais aquele assunto era tão importante para mim, de qualquer maneira.

Hoje, um pouco mais confiante do que das primeiras vezes, não esperei ficar tão tarde até sair de casa, principalmente porque não queria perder o melhor da noite. Esperei apenas até que todos ou a maioria estivesse dormindo, havia pulado o jantar mais uma vez e mamãe provavelmente não viria mais me visitar com os bilhetes desagradáveis que deslizava por debaixo da minha porta, como se estivesse restringindo nossa comunicação àquilo, fugindo das minhas investidas.

O foco dela parecia outro. Enquanto eu falava sobre nossos planos iniciais, da época em que ela trabalhava no bar de beira de estrada na nossa antiga cidade, ela só sabia falar no Vincent Kim.

Vincent Kim e sua beleza; Vincent Kim e o seu charme misterioso; Vincent Kim e suas riquezas absurdas; Vincent Kim e o fato de termos idades compatíveis, embora ele seja alguns anos mais velho... Eu poderia escrever uma biografia com informações que havia recebido dela, em formato de bilhetes. Havia uma série de cartões jogados na primeira gaveta da minha penteadeira.

Eu sabia bem onde ela queria chegar com tais insinuações, por isso evitava.

Já faz alguns dias desde que Vincent estava hospedado em nossa casa, sob o pretexto de visitar um amigo querido do pai e expandir seus negócios com a montanha de dinheiro que herdara após sua morte. Mamãe havia ficado histérica ao nos ver passeando pelo jardim como se fôssemos bons amigos — ou jovens amantes — naquele segundo dia de sua estadia, porém, nossa interação não havia passado disso. Nos esbarramos pelos corredores algumas vezes, afinal, o quarto dele ficava no mesmo andar, mas Vincent não havia trocado mais do que alguns "bom dia" comigo. Confesso que gostava mais dessa sua versão que não andava por aí fingindo que me conhecia e sabia demais de coisas que sequer foram contadas por mim. Apesar de não odiá-lo — até porque não há razão plausível para isso —, a distância que ele vinha mantendo era agradável e bem-vinda.

Katherine pensava totalmente o contrário, é claro. E suas investidas para me fazer ficar a sós com o senhor Kim eram quase desesperadas, como ontem, quando ela me obrigou a ter uma "aula de canto aberta ao público" — como denominou — na sala de visitas, apenas porque Vincent estava lá conversando com Duarte. Os dois, no entanto, foram embora ao me ver chegar acompanhada da professora, a pedido de Vincent. Katherine insistiu para ficarem, mas foi em vão, e eu quase o agradeci por isso na frente de todos, mesmo que ele não tivesse noção das investidas de mamãe.

Afastei aqueles pensamentos quando avistei a entrada do estabelecimento a que estava me dirigindo. A placa na entrada não era chamativa, o único funcionário do bar, um homem chamado Niklaus, não parecia muito preocupado em relatar esses problemas com a decoração ao seu chefe ausente. Mas algo na sua proposta de entretenimento fazia o local lotar todos os finais de semana. Parecia um homem ambicioso, em busca do sucesso, e não duvidava que o conseguiria cedo ou tarde.

Arrastando a bicicleta pelo guidão, deixei-a presa num poste de luz trêmula próximo à entrada. Na cesta presa à frente do veículo, retirei um boné e uma máscara facial. Eu me vestia para não chamar tanta atenção, usava apenas calças jeans clara e uma camisa azul sem estampa. Meus cabelos eram longos e possuíam um corte retilíneo padrão, não havia nada de marcante nele, então eu me misturava na multidão — que, para a minha sorte também, na maioria da noite estava bêbada demais para lembrar da minha figura.

Haviam pessoas do lado de fora, a maioria bêbada demais para seguir seu caminho até sua casa. Mesmo que tentassem conter a desorganização, tinha sujeira na entrada dos vômitos das pessoas e bebidas derramadas. Sua aparência era deplorável demais, em geral. Se Katherine soubesse que já era a quinta vez que vinha aqui, com certeza iria surtar. Mas aquela vinha sendo a minha forma de estar em contato com pessoas reais, com problemas reais e desinibidas de quaisquer empecilhos na hora de contar suas histórias — o álcool era responsável por remover a trava mental deles. Além de a música ter sido o chamado inicial da minha atenção quando estava vagando pela cidade desconhecida pela primeira vez, as histórias contadas nas mesas dos bares também eram motivos para eu ficar.

O bar administrado por Niklaus — na ausência do verdadeiro dono — podia ser feio e pouco atrativo por fora, mas tinha seu charme interior. E era com ele que eu estava me deparando ao embarcar em mais uma noite cheia de emoção e vida.

Atravessei a cortina esvoaçante da entrada e recebi aquele ar quente e barulhento com um sorriso escondido atrás da máscara. No palco acessível ao público, um homem cantava seu coração para fora ao confessar seus sentimentos para uma mulher na plateia, que assistia tudo com holofotes manuais e baratos iluminando seu rosto jovem.

Era sempre assim com a proposta daquele lugar, você não sabia o que ou quem iria encontrar. Niklaus havia dinamizado e permitido o acesso à música pelos seus clientes, uma espécie de karaokê disponível a todo público. Segundo ele, era uma alternativa também de não precisar contratar algum músico, pois seu empregador não fornecia dinheiro para isso. Assim, deixava com que seus clientes bêbados disputassem o som e o palco. Alguns cantavam bem, e acabavam gerando um clima agradável que não custava em nada no seu bolso; outros, passavam vergonha e garantia risadas pelo resto da noite. Ainda tinha dúvidas quanto a esse proprietário que sequer dava o ar da graça no próprio estabelecimento. O local pertencia muito mais a Niklaus — devido a suas ações e investimentos próprios — do que a pessoa que detinha apenas uma escritura atestando propriedade adquirida.

Avistei-o servindo bebidas no balcão ao lado, com um pano manchado pendurado no ombro, que claramente servia para limpar as bebidas que derramasse durante a noite.

Logo, fui em sua direção.

Eu o conheci no meu primeiro dia aqui. Perdida no local, acostumando-me ao frenesi de uma sexta à noite agitada, e tentando achar um espaço em que pudesse me misturar, acabei esbarrando na sua figura alta e forte, que logo percebeu que eu nunca havia frequentado um local como este antes. Ele me ofereceu uma bebida — que eu recusei prontamente, pois seria passar demais dos limites —, sua atenção e conversa por uma noite inteira. Após cinco noites vindo ao bar onde trabalhava arduamente, o considerava um amigo.

Já frequentara lugares piores antes, fui praticamente criada no bar em que mamãe trabalhava. Quando era pequena, eu costumava ficar na casa de uma colega esperando Katherine largar do trabalho, mas, depois da mãe dela descobrir que Katherine passou a vir me buscar nos dias específicos em que ela não estava em casa, apenas o seu marido, não pude mais passar as tardes e as noites lá. Descobri, depois, pelos comentários das mães na escola, que eles estavam tendo um caso. O pai da minha amiga era um desocupado. Só causava problemas e vivia pulando de empregos enquanto sua esposa tentava segurar as pontas como diarista e babá. Katherine e ele com certeza se mereciam, mas não enquanto ele fazia a esposa de idiota e todo o bairro sabia. Foi um escândalo na escola. Eu tinha nove anos.

Na minha adolescência, não tinha com quem ficar, então apenas ficava escondida no banheiro feminino do mesmo estabelecimento esperando o momento em que seu chefe me chamaria para levá-la para casa, pois, além de funcionária, Katherine era consumidora árdua das bebidas que tinha à sua disposição. O salário que ela levava para casa no final do mês por conta disso era ridículo.

A questão é: eu nunca havia pisado num local assim para simplesmente... aproveitar — se é que houvesse algo assim a se fazer por aqui. No entanto, cá estava eu aproveitando a música (fosse ela boa ou ruim), as risadas e as histórias.

Sentei em um dos bancos e ele sorriu ao me ver. As covinhas profundas apareceram nas suas bochechas douradas.

— Você fica cada vez mais patética quando aparece aqui, sabia? — Com o indicador e o médio, ele bateu na aba do boné e o arrastou para baixo até cobrir meus olhos.

— E você continua mais desastrado toda vez que eu apareço — resmunguei e indiquei o pano em seu ombro com o olhar. — Qual é o lance com esse pano sujo? Cheguei mais cedo e parece que já aconteceram alguns desastres por aqui.

Niklaus fez uma careta e estalou a língua. Ele mantinha vícios de linguagem do seu país de origem, falava coisas como "Aish!", "Ya!" e "Aigoo!" sempre que podia. Como fez agora, dizendo a segunda delas antes de tirar o pano do seu ombro e jogar no meu rosto. Ou pelo menos tentar, já que o capturei no ar com uma expressão de tédio.

— Não pensei que funcionários de bares atacavam seus clientes — provoquei. — Podia ter tentado fingir uma postura de mais seriedade quando me conheceu.

— Por que eu deveria ter uma postura séria enquanto converso com você? — Arqueou uma sobrancelha brevemente, antes de se concentrar em atender outro cliente. Enquanto servia uma cerveja de um lado, ele se inclinou na minha direção e completou: — Parecia um gatinho assustado quando a conheci, era capaz de sair correndo caso eu agisse de forma rude.

Arregalei os olhos e apontei o indicador na sua direção.

— Eu já expliquei que estava procurando um lugar confortável, não tenho culpa de você ter esbarrado em mim e ter derramado um copo de uísque nas minhas roupas. — Foi um desastre, fiquei desesperada quando o cheiro grudou em mim como cola. As empregadas iam me dedurar, e Katherine ia me matar se soubesse. Mas lá estava eu, confiando em um estranho quando ele reclamou comigo em outra língua e me arrastou até uma sala nos fundos do palco para me ajudar. Nem sequer prestei atenção no que havia por lá, estava preocupada demais pensando nas consequências futuras dos meus atos quando chegasse em casa. Acabou que passamos um bom tempo conversando enquanto eu me limpava.

Naquela noite, descobri que Niklaus queria ter seu próprio negócio um dia, embora tenha se acomodado a um emprego que exigia dele a tomada constante de decisões na ausência frequente do seu chefe. Morava com o pai e uma irmã mais nova nesse pedaço do mundo haviam sete anos. Falava dois idiomas fluentemente. Tinha covinhas profundas, um sorriso gentil e a mania recorrente de quebrar coisas.

— Ora, não seja teimosa! Foi graças a isso aqui — ele apontou para suas covinhas profundas — que você se sentiu confortável na minha presença. Até passou o resto da noite ao meu lado, mesmo após ter se limpado. Devia me agradecer por ser um quase dono de bar carismático.

Ah, é. Ele também estava juntando dinheiro para fazer a proposta de comprar essa espelunca quando o verdadeiro dono voltasse de sua viagem a Paris.

— Você também deixa seus quase clientes pagarem depois? É tão legal assim? — Provoquei, com uma sobrancelha erguida.

Ele parou de frente para mim. Tive que erguer a cabeça para manter o olhar preso ao dele. O clima agitado e eufórico dentro desse espaço apertado tornava o calor intenso, mesmo durante as noites, eu conseguia ver suor se espalhando pela camisa branca de Niklaus, permitindo que o tecido se tornasse quase transparente aos olhos. Era um homem muito bonito e que passava a imagem de ser uma pessoa culta, apesar da forma como trabalhava.

— Vamos combinar o seguinte: — começou — enquanto eu quase administrar esse bar sozinho, posso ser simpático com quem eu quiser. Isso mudará quando essa espelunca começar a fazer sucesso.

Sorri fechado e apoiei os cotovelos na bancada, sentindo a superfície pegajosa do álcool mal limpado provavelmente. Com a cabeça apoiada nos punhos cerrados, gracejei:

— Então vai ser legal apenas comigo?

Ele coçou a nuca e se afastou com um sorriso preso aos lábios. As covinhas evidentes.

— Quando ele volta? — Mudei de assunto, observando-o preparar um copo com água e limão para mim.

Eu não bebia, e das vezes que passei as noites aqui eu sempre pedia um copo com água e limão — já que Niklaus esclareceu que não tinha mais nada a me oferecer além de batatas-fritas murchas e carne de preparo duvidoso. Mas eu dispensei a carne, pois não comia; e a batata-frita foi recusada também após vê-la em meu prato — estava mesmo murcha e super gordurosa.

— Recebi uma ligação hoje pela manhã. Ele disse que queria discutir comigo sobre o futuro do bar. Prometeu trazer ideias interessantes, graças ao que observou nos bares de Paris.

Niklaus me entregou o copo e um canudinho enquanto divagava em seus afazeres. Beberiquei o líquido amargo por alguns segundos.

— Acha que ele vem para ficar dessa vez?

— O Colecionador é um homem de negócios, Pearl — ele sabia meu nome verdadeiro. Confiei-lhe essa informação. — Ele permanece onde acredita que pode auferir vantagens. É muito incerto saber.

— Aposto que irá embora novamente e lhe deixar atolado de projetos — estalei a língua, fazendo careta. — Não há absolutamente nada interessante nessa cidade e nessas pessoas.

Um homem de meia-idade me olhou de canto de olho quando proferi as palavras alto demais. Aparentava estar ofendido. Mas não me importei.

— Que ele volte para Paris e venda esse bar para você o quanto antes — emendei. Niklaus sorriu de lado, transbordando doçura pelo único vão aparente em sua bochecha direita.

— Você é uma figura — estalou um peteleco em minha testa, e ignorou minha reclamação logo após —, mas não é assim que as coisas funcionam. Além disso, eu li essa semana no jornal que a região está prestes a atingir um novo recorde de investimentos. O governo local está focado em alavancar a economia e atrair turistas para explorar a cultura e comércio regional.

Ele vasculhou por algo atrás do balcão de madeira ruída e jogou o jornal praticamente em meu colo. Peguei o papel pegajoso e dei uma rápida lida nas letras grandes. Eu não lia jornais com frequência. Normalmente, só chegavam até minhas mãos as revistas de moda ou sobre fofocas de celebridades. Era lá que eu deveria aparecer um dia, segundo mamãe.

— Você é tão culto para trabalhar num bar... — Dobrei o jornal com cuidado e o depositei na bancada a minha frente, com um ar irônico estampado em minhas feições. Niklaus me olhou de soslaio, enquanto recebia o pagamento de um cliente e devolvia seu troco próximo à máquina registradora.

— Em qual outro ramo eu posso ficar rico e me divertir ao mesmo tempo, certo? — Ele indicou o palco atrás de mim com o olhar.

Girei no banco desconfortável e olhei para onde ele apontava. Um homem cantava uma música da Madonna enquanto fazia uma dança improvisada na cadeira. A visão não era agradável a primeiro momento, mas eu estava adorando a forma como ele cantava sem se importar com a opinião alheia.

— Vai cantar hoje? — Emendou outro assunto, ao perceber o quanto eu estava entretida com a cena. Sua voz soou próxima aos meus ouvidos, sabia que ele estava parado bem atrás de mim, com os braços fortes apoiados no balcão.

— Eu deveria? — Observei o palco me chamando por longos minutos.

Havia comentado também sobre minha vontade de ser cantora, mas não sabia se naquela ocasião Niklaus havia compreendido o tamanho da minha sede por isso. Uma sede que vinha mantendo controlada enquanto ainda depositava minhas fichas em Katherine.

— Nada como uma plateia de bêbados para te ajudar a perder a vergonha. Pode confiar — ele deslizou vagarosamente o copo na minha direção e eu dei um longo gole na bebida quase esquecida atrás de mim.

— Droga! — Balbuciou, de repente, reclamando consigo mesmo.

Desci o olhar do palco e voltei a observá-lo. Ele mexia freneticamente nos bolsos da calça, enquanto seu olhar não desviava do relógio barato em seu pulso.

— Aconteceu algo? — Indaguei, confusa.

— Eu tinha um compromisso agora. Prometi buscar a Areum após os seus ensaios — ele falou como se eu soubesse de quem se tratava.

Abri a boca, mas me impedi de oferecer minha ajuda em um primeiro momento.

Aish! Não estou achando as chaves da minha moto...

— É muito longe daqui? — Ele estava tão distraído que não respondeu a minha pergunta. Areum parecia ser uma pessoa muito importante. Sua mãe não poderia ser. Sua irmã, talvez? Pode pegar minha bicicleta, se servir. Ela está presa a um poste do lado de fora.

Quase bati na minha boca após perceber o que eu mesma estava dizendo.

Torci que ele não tivesse me ouvido dessa vez também, mas ele parou e ergueu seu corpo alto, voltando sua atenção para mim.

— Sim, uma bicicleta serve — declarou, apressando-se em sair detrás da bancada. Ele veio até onde estava sentada e se aproximou tanto que senti que me derrubaria dali caso desse mais um passo, ou me beijaria. Por precaução, recuei o tronco. Então, segurou minhas mãos entre as suas e prometeu: — Estarei de volta antes que você tenha que voltar para casa.

Vi em seus olhos que ele estava preocupado e com pressa. Seu pedido era urgente. Mas, ainda assim, perguntei:

— E quanto ao bar? — Apontei na direção das bebidas. — Você trabalha sozinho, esqueceu?

Niklaus ponderou por meio segundo, mas decidiu rapidamente, de forma determinada.

— Um dia de prejuízo não vai parar o sucesso do meu chefe podre de rico... com sorte.

Com isso, subiu na bancada e virou na direção dos seus clientes pouco lúcidos. Céus, ele só podia ter enlouquecido! Com um grito inesperado, todos fixaram os olhares nele. Encolhi-me no meu assento, pois, consequentemente, eu recebia parte daquela atenção.

— Atenção, pessoal, devido a alguns previstos terei que fechar o bar agora. Peço que todos se retirem o mais rápido possível!

Ouvi reclamações, mas Niklaus permaneceu firme em sua decisão. Areum, seja lá quem fosse, era uma pessoa importante para ele.

Ergui a cabeça e sussurrei-lhe enquanto as pessoas se dirigiam a saída:

— E quanto a mim?

Ele me olhou de soslaio e suspirou.

— Pode ficar aqui dentro até eu voltar, apenas tenha certeza de trancar a porta assim que todos saírem.

Mordi o lábio e assenti receosa, vendo as pessoas passarem por mim, resmungando, sem realmente se importarem com minha presença.

Com o salão vazio, Niklaus partiu, me deixando a tarefa quase opcional de organizar as mesas caso eu ficasse entediada demais.

Não pretendia fazer o que ele pediu, mas o tempo foi passando muito devagar e eu estava entediada. Assim, organizei as mesas lentamente, limpei as bebidas derramadas e as garrafas vazias deixadas em cima delas. Então, passei a organizar as cadeiras espalhadas. Era um bar pequeno por dentro. Além do palco, haviam os sofás de couro preto para proporcionar uma estadia mais agradável a alguns clientes, enquanto que haviam mais mesas e cadeiras de madeira com assento acolchoado. A decoração das paredes era de um tom mais claro, pintadas na cor cobre e com alguns discos de vinil pendurados. Não era um ambiente chique, mas preenchia os requisitos caso você apenas buscasse encher a cara durante a noite toda. Se o tal "Colecionador" — como Niklaus se referia ao chefe — resolvesse investir mais recursos na qualidade das bebidas e dos serviços, poderia atrair mais do que bêbados locais que mal possuíam dinheiro para pagar a conta.

O tempo passava e Niklaus não retornava. Sabia que não seria descoberta por mamãe, porque não era tão tarde ainda, mas não via a hora de chegar em casa e pegar qualquer coisa na cozinha. Estava morrendo de fome e, por mais que eu tenha vasculhado nos armários de Niklaus, havia achado apenas bebidas e as comidas ruins que ele mesmo preparava. Ele precisava urgentemente de um ajudante.

Após organizar tudo que julguei necessário, sentei-me na beirada do palco, os pés pendendo para fora da plataforma da longa passarela que desaguava na parte principal do palco. O microfone abandonado ao meu lado deslizou até eu pegar com ambas as mãos. Os caixas de som ainda estavam ligados, embora nenhuma música tocasse. Apagara a maioria das luzes e havia apenas a que iluminava o palco improvisado e a entrada.

Nesse cenário, não pensei muito antes de começar a cantar. O som reverberou alto pelo ambiente, preenchendo o silêncio com o eco da minha voz. Não tinha planejado esse momento, não tinha planejado algo para cantar. Do contrário, honestamente, nem sequer estava com ânimo para isso, devido à fome que sentia cerca de horas atrás. Então, quando minha mente pensou primeiro na letra de Oh! Darling, dos Beatles, deixei que esta fosse a escolha final e, assim, continuei.

Era estranho cantar só para mim. Normalmente, eu estava sempre acompanhada de mamãe e minha professora, o que implicava dizer que eu sempre estava mais próxima das críticas. Tecnicamente falando, sempre havia algo que podia melhorar — desde o meu fôlego até a forma como pronuncio as palavras ou me porto em um palco fictício, mamãe quase pagava aulas de oratória para mim apenas por causa disso. Isso me tornou mais crítica em relação ao meu desempenho, ao ponto de me autossabotar sem sequer ter experimentado como seria a sensação de ser julgada por outras pessoas. Era excessiva a forma como mamãe me protegia da possibilidade de ser exposta ao ridículo caso eu falhasse.

Por isso que este bar era a oportunidade perfeita que eu havia encontrado. Cantar para bêbados, por mais depreciativo que fosse, diria muito sobre minha evolução pessoal. Um dia as pessoas não iriam tirar os olhos de mim enquanto me apresentasse, mas, para isso, eu sabia que precisava escapar da redoma criada por Katherine.

Eu cantava de forma lenta, testava as palavras em minha língua enquanto ajustava meu próprio ritmo e meu próprio tom, aproveitando-me do fato que não havia um som tocando ao fundo. A música acabou e eu engatei em outra e, depois, mais outra. Mantinha a cabeça baixa e os olhos fechados, arrancando a voz que saia de dentro de mim...

Até que ouvi um barulho vindo da entrada.

Parei de cantar imediatamente e abri os olhos, assustada.

Pensei que seria Niklaus chegando derrubando tudo que encontra pela frente, mas meu estado de surpresa apenas aumentou quando vi uma figura familiar que não era necessariamente ele.

O boné e meus cabelos ajudavam a me esconder, e não demorou um segundo até eu alcançar minha máscara e colocá-la de volta. Não tinha como ele ter me visto, certo?

Apoiei a mão no chão, pronta para me içar para cima caso precisasse fugir — fugir, pois, sabia que ele me reconheceria.

Vincent, no entanto, foi cauteloso ao falar. Sua voz parecia veludo acariciando minha pele.

— Perdoe-me a minha intromissão, eu não queria assustá-la e não quero machucá-la, mas a porta estava aberta e...

Ele deu alguns passos em minha direção. Minha reação o fez recuar — tanto nas palavras quanto nos movimentos. Eu estava tão instável que me levantei de qualquer forma, exasperada, mas o movimento foi tão brusco que fiquei tonta, o que piorou pelo mal-estar instalado no vazio da minha barriga, o que me levou a tropeçar nos fios da aparelhagem de som e cair no palco...

Desacordada.

»🎙️«

*Tradução:

"Oh, querida

Por favor, acredite em mim

Eu nunca lhe farei mal

Acredite quando eu disser 

Que nunca lhe farei mal."

Espero que tenham gostado do capítulo! Não se esqueçam de votar e comentar, por favorzinho. »🥺«

Beijos da Blue e até o próximo capítulo! »💙«


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