Do you get déjà vu?

🎶Olivia Rodrigo, Deja Vu.*

PRESENTE.

PRIMA DONNA POSAVA MAJESTOSAMENTE para as fotos, sentada no colo de sua dona como uma rainha. Um empregado de confiança, Jackson, havia trazido a gata geniosa do veterinário recentemente. Seu pelo cheirava a lavanda, ela usava um lacinho vermelho no topo da cabeça e uma coleira de mesma cor com um pingente prateado de uma patinha de gato. A gata persa tinha somente dois aninhos de vida, e fora um presente de aniversário de Flora Seaborn para Destiny. Uma última lembrança antes de a garota ir para outra cidade terminar o ensino médio.

O fotógrafo ajoelhado à sua frente estava concentrado em capturar os melhores ângulos das duas. Sentada no divã de revestimento creme em um estúdio de paredes artísticas, com as longas pernas estiradas e o corpo relaxado, Destiny fazia carinho no pelo escuro e macio de Prima Donna em um ritmo lento. Já fazia pelo menos uma hora que trocavam de posições, embora a gata continuasse com a expressão de desgosto e tédio de sempre.

As fotos faziam parte de uma campanha de divulgação posterior. Destiny havia organizado um evento de apoio a um instituto para animais domésticos abandonados. O dinheiro arrecadado no leilão seria convertido em fundos para melhorar as instalações e capacidade de acolhimento do local. Destiny não queria — seu instinto a fazia querer esconder tudo sobre si —, mas Niklaus insistiu que sua gatinha aparecesse nas fotos, como forma de demonstrar seu total apoio à causa.

No estúdio, além do fotógrafo contratado, havia um estagiário que não tirava os olhos dela — principalmente das suas pernas longas estiradas no divã — e a dona do Instituto Leopoldo Springs (nome dado em homenagem ao seu falecido marido, maior idealizador da causa). A senhora de cabelos grisalhos e muitos sorrisos comentava vez ou outra sobre a beleza da joia rara, em tentativas de preencher o silêncio daquela sala. Além do som dos flashes e dos palpites do fotógrafo experiente, não havia sido dito muito hoje.

Destiny estava aérea. Sua mente ainda não havia deixado Vincent ou a conversa que tiveram no bar recluso do Moonchild. O colar barato em seu bolso pesava em seu coração e mente.

Se ela estava de volta, significava que... Não, pensou, com os dentes rangidos. Não significava nada.

— Parece um pouco tensa, senhorita. Poderia relaxar um pouco? — Sugeriu o fotógrafo experiente. — Que tal tirarmos algumas fotos sem a gata agora?

— Claro — Destiny sorriu, forçando-se a sair do transe e deixar Prima Donna livre no ambiente.

Aquele era seu segundo compromisso do dia, e ainda nem era o horário do almoço. Na entrevista que concedeu mais cedo, se limitou a falar sobre o evento que aconteceria hoje à noite e a responder às perguntas do entrevistador de maneira monossilábica. Não estava com cabeça para isso após ouvir tudo que Vincent Kim tinha a dizer e, para sua sorte, a Revista JJ fora estúpida e insolente o suficiente para mandar um iniciante para conduzir a entrevista. John Carter gastou seu precioso tempo lidando com o nervosismo, flertes baratos e a presença ofuscante de Destiny em vez de expor todo material que preparou. Ao se levantar da sala e vir de encontro a senhora Helena Springs, ela viu em seu bloco de notas barato que somente uma parte das perguntas haviam sido devidamente respondidas. Sentiu pena do rapaz, é claro, mas não estava em um bom dia para fazer caridade não programada.

Já seria um sacrifício vender seu tempo e carisma no evento de hoje à noite.

Destiny seria o prêmio principal do leilão; o momento em que todas as figuras importantes convidadas dariam seus melhores lances. Todo esforço para conseguir ter um momento a sós com a joia rara, em um restaurante de vista para o mar cuja reserva já estava confirmada. A jovem cantora estava mentalizando inúmeras vezes que o sofrimento que passaria hoje seria por uma causa nobre — o que era verdade, mas, se estivesse em seus poderes, adiaria o evento para um dia mais agradável. Aquela apreensão acumulada em seu estômago não combinava com uma noite regada a sorrisos e aparições públicas.

Destiny esfregou as têmporas e suspirou profundamente.

— Não acha que já temos fotos suficientes, senhora Springs? — a pergunta escapou-lhe de maneira suave. Prima Donna espreguiçou-se e pulou em cima do colo de Destiny antes de ouvir uma resposta, também parecendo cansada.

Helena conversava com o fotógrafo estagiário, e levou um leve susto ao ouvir a interrupção da jovem cantora.

— Claro, querida. Você deve estar cansada de posar para fotos por tanto tempo — disse sem pestanejar, gesticulando com as mãos enfeitadas de anéis, e tocou o ombro do fotógrafo ajoelhado. — Vamos olhar o resultado e escolher as melhores no seu estúdio, sim? — Falou a Harold, o fotógrafo experiente cujo nome gravou após ser mencionado novamente.

Destiny serviu-se de café sem leite ou açúcar, trazidos à sala mais cedo por Jackson, e direcionou o seu melhor sorriso a senhora Springs. Tinha certeza de que, depois de toda essa produção, as fotos estavam muito bonitas, embora extravagantes demais para o intuito do evento e a realidade do instituto. Helena até mesmo obrigou-a a trocar de roupa para as fotos, agora trajando um vestido verde que poderia facilmente ser palco em uma de suas apresentações.

Mas isso não importava, no final das contas. Destiny não queria mudar a perspectiva dos convidados quanto a esses assuntos importantes, ela só queria arrancar um pouco da montanha de dinheiro que eles tinham e tentar fazer bom uso dele, já que poucos fariam por conta própria.

— Olha só como você é exuberante — a senhora Springs rasgava elogios sempre que o silêncio na sala a incomodava, suas mãos não paravam quietas. No final das contas, o segundo fotógrafo, cujo nome descobriu ser Hoseok, era a companhia mais agradável no ambiente. O rosto da jovem cantora estava naturalmente corado. Era sempre receptiva a elogios, ainda mais se fossem verdadeiros. — Está animada para hoje?

Destiny assentiu, torcendo os lábios comprimidos enquanto engolia um gole do seu café.

— Já reservei a melhor roupa.

— Teremos convidados muito bonitos e jovens, escolhi a dedo cada um dos nomes. Algum deles chamou sua atenção?

Destiny nem sequer havia olhado a lista. A pessoa ideal para fazer isso não trabalhava mais consigo, o que jogava uma dor de cabeça a mais em suas costas.

Helena Springs, como uma boa senhora da classe alta, não perdia a oportunidade de formar pares vantajosos em seus eventos. Era sua diversão enquanto nós assumíamos as rédeas dos seus negócios por algumas horas. Hoje, ela seria a anfitriã ao seu lado. Na metade do tempo em que Destiny administraria a noite, ela certamente partiria para o ataque.

Destiny repousou a xícara vazia numa mesinha de centro, sorrindo comedidamente para Helena.

— Como todas às vezes, é uma lista tão bonita que não consigo listar todos os nomes — respondeu, por fim.

Helena Springs gargalhou alto, satisfeita com o elogio. Nada como inflar o seu ego para conseguir desviar do assunto. Ela empenhava muitas horas do seu dia organizando isso, apreciar seu esforço era o melhor caminho.

— Com sorte, um deles dará o melhor lance hoje a noite — piscou sugestivamente na sua direção. — E se jogar as cartas certo, ganhará seu coração.

Ela duvidava muito, mas se limitou a sorrir com certo constrangimento.

Diante do seu silêncio, ela continuou, sonhadora:

—Ah, mas são tantas opções que não sei qual a melhor. Farei com que conheça o senhor Bill Hudson, a rede de restaurantes dele está dando o que falar nos últimos anos. Ou, talvez, eu possa apresentá-la ao queridinho do momento, o senhor Jeon...

Destiny pigarreou, deixando que sua segunda xícara de café amargo caísse em um baque brusco no chão. Um ato proposital, que serviu para assustar os devaneios de Helena. Prima Donna se aproximou com o rabo eriçado e passos sutis, mas abandonou o conteúdo antes mesmo de dar a primeira lambida. Aquele tipo de bebida não era nem mesmo para o paladar da gata.

— Oh, Meu Deus! Cuidado, minha querida! — Helena exclamou.

— Não se preocupe, minha amiga. Estou bem. A xícara escorregou de minhas mãos — prontificou-se a dizer. Todos parecem ter engolido suas desculpas, menos Hoseok.

Helena Springs terminou seu café e, com as mãos apoiadas nos joelhos, levantou-se.

— Ainda temos muito a fazer para o evento — declarou, o que chamou atenção dos dois fotógrafos contratados também. — Vamos organizar suas fotos para divulgação, querida. Todas elas — piscou para Destiny mais uma vez e apertou suas mãos calorosamente. — Vou chamar um funcionário para limpar essa bagunça também. De qualquer forma, muito obrigada pelo seu tempo.

— Estarei lá no horário marcado — disse Destiny, abraçando-a. — Muito obrigada pelo trabalho e pelo empenho de vocês — ela se referia a todos na sala, principalmente ao fotógrafo indicado por Helena, que realizou mais de cinco sessões de foto nas últimas semanas só para o evento de hoje. Helena fez questão de ter a imagem de Destiny fotografada em vários ângulos, com várias roupas e propostas de divulgação diferentes. O ensaio de hoje sequer estava marcado com antecedência, foi um pedido feito de última hora.

Sozinha na sala, Destiny bebeu o conteúdo da garrafa com café quase inteiro. Era um vício que havia adquirido graças ao seu início de carreira, quando precisava ficar acordada por noites afinco cantando em pequenos eventos e bares de Olive Springs e cidades vizinhas.

A jovem cantora aguardava a companhia para o almoço. Niklaus estava trinta minutos atrasado. O convite surgiu ontem à noite, enquanto eles conversavam sobre os compromissos de hoje. Era difícil os dois terem horários do dia livres para fazerem algo, por isso não deixou a oportunidade passar.

Uma batida na porta de entrada do estúdio chamou sua atenção. Destiny, que fazia carinho em Prima Donna distraidamente, direcionou seu olhar até a porta. Niklaus estava encostado no batente da porta, usando um terno corriqueiro e com os braços cruzados.

— Há quanto tempo está parado aí? — perguntou, sorrindo.

Destiny pegou a gata em seus braços e a colocou dentro da caixa de locomoção.

— Poucos minutos — ele suspirou. — A reunião com os investidores da nova filial demorou mais do que o esperado. Estão fazendo inúmeras exigências e colocando vários empecilhos na proposta.

A nova filial...

— Tenho certeza que você pode lidar com todos eles — Destiny o encorajou, aproximando-se para ajeitar a gravata frouxa. — Então... — pigarreou — você vai insistir mesmo na ideia?

Niklaus encarou-a com olhos enigmáticos.

— Podemos conversar sobre isso durante o almoço? — sugeriu, sorrindo de lado.

Destiny não queria esperar tanto, mas sorriu em resposta e assentiu. Não era nada concreto ainda, afinal...

Juntos, sob os olhares de alguns curiosos, os dois foram parar num restaurante casual e de clima aconchegante do outro lado da cidade, distante do Moonchild. Destiny adorava a comida e a hospitalidade daquele local, não era a primeira vez que vinham aqui. Por muito tempo, depois de ter deixado sua casa em Olive Springs, ela se retraiu e viveu trancafiada na quitinete que Niklaus alugou para ambos. Ainda hoje a joia rara buscava preservar sua imagem ao máximo, mas ela adorava quando Niklaus a chamava para sair do hotel e ir para um lugar mais distante do que o normal.

Pediram o de sempre ao sentarem na mesa favorita. Destiny comia carbonara regada a muito queijo e molho divino, enquanto Niklaus apreciava uma salada com frutos-do-mar. Não comentaram sobre o assunto principal, embora Niklaus soubesse que eventualmente a jovem cantora não conseguiria segurar a pergunta pairando sobre sua cabeça. Mas para preservar o momento e seu apetite, Destiny e Niklaus conversaram sobre trivialidades. Ela contou o que fez hoje — omitindo o teor da conversa com Vincent — e ele a ouviu atentamente, fazendo alguns comentários quando julgou pertinente.

— Iremos juntos ao evento hoje? — Destiny questionou, limpando a boca com um guardanapo de pano enquanto ambos aguardavam a sobremesa.

Niklaus respirou fundo.

— Não podemos, Pearl — chamou-a pelo nome, pois não havia ninguém prestando atenção nos dois ali. Ela sabia que ele estava repreendendo-a. Eram apenas seis anos de diferença, mas Niklaus adorava usar esse tom enviesado quando discordava dela, lembrando-a que ele era mais velho e, consequentemente, mais sábio. — Alguns rumores são fáceis de lidar, quando apenas a mídia está fomentando o assunto. Mas os investidores estão de olho em mim agora.

Ela assentiu. Já esperava essa resposta dele, mas não custava nada arriscar.

— Mas você estará lá, certo?

Niklaus alcançou a mão dela discretamente e sorriu, as covinhas profundas aparecendo.

— É claro. Estarei na primeira mesa.

— Dando seu melhor lance? — provocou.

Niklaus riu alto e soltou a sua mão ao ver que atraiu mais olhares do que esperava.

— Não acredito que seja esse o intuito da senhora Springs. Ela foi bem clara quando disse que eu estava proibido de concorrer pelo maior prêmio da noite.

Destiny apoiou o rosto no punho e fez beicinho.

— Será um completo tédio então. Mal posso esperar por um jantar com um estranho — revirou os olhos. — Tive que fazer uma cena hoje mais cedo apenas para fazê-la parar de falar sobre sua lista VIP.

Ele manteve o sorriso divertido.

— Vou pedir ao Jackson para organizar a lista com informações dos convidados. Devia dar uma olhada nela hoje à tarde, precisa começar a conhecer as pessoas...

— A única pessoa que tenho a intenção de conhecer é...

— Sim, eu sei — Niklaus a interrompeu. — Estamos nos falando. Ele olhou o material que mandei sobre você e disse que estava interessado em conhecê-la. Provavelmente chegará na cidade em algumas semanas.

Destiny bateu palminhas de empolgação.

Jordan Bales era simplesmente o produtor musical mais quente do momento. Niklaus, por pura coincidência, acabou o conhecendo em uma de suas viagens a negócios em Paris. Desde então, os dois vinham mantendo contato. Destiny mal podia esperar para encontrá-lo pessoalmente, mesmo que sua sonoridade — concentrada no blues — não fosse tão compatível com o estilo dele, torcia para que ele pudesse indicá-la para alguém. Era um grande passo, e a jovem cantora sentia que sua carreira estava prestes a alavancar.

A sobremesa chegou e Destiny se permitiu aproveitar as primeiras garfadas do cheesecake com calda de frutas vermelhas em silêncio. A sobremesa era sua parte favorita das refeições e esta, com certeza, estava divina. No entanto, ela lembrou-se do assunto que a incomodava havia alguns meses.

— Então, sobre a possibilidade de expandir o Moonchild para outros lugares... — a fatia do cheesecake arranhou ao descer por sua garganta, o que fez com que ela precisasse beber bons goles d'água antes de continuar: — Vai realmente acontecer?

Niklaus mastigou calmamente e limpou o canto dos lábios cheios com um guardanapo.

— Sim, pelo menos espero. Tenho planejado isso já faz longos meses. Os lucros do hotel vem crescendo absurdamente já faz mais de um ano e há um universo de possibilidades para seu sucesso em outros lugares. — Ele fez uma pausa categórica. — Por quê?

Destiny abaixou a cabeça e balançou a cabeça várias vezes, sentindo o frenesi em seus nervos.

— Não é nada. Eu apenas... — sorriu sem graça, partindo mais um pedaço da sua sobremesa subitamente não tão apetitosa. — O que faremos com as atrações... A atração, quero dizer — ela olhou para os dois lados e sussurrou com diversão pouco natural: — Não poderei cantar nos dois lugares.

Niklaus riu alto e acenou positivamente. Ao contrário dela, parecia realmente descontraído com a situação, ao passo em que Destiny estava tensa.

— Não se preocupe, Pearl. Se formos manter a proposta de shows todos os finais de semana, como no Moonchild, irei contratar uma cantora para abrilhantar a noite de lá também. Exatamente como você já faz aqui.

Destiny conseguiu sustentar um sorriso convincente o suficiente e conseguiu comer cada migalha da sua sobremesa favorita daquele lugar, havia aprendido a fingir sua nova vida inteira, então não era tão difícil. Mas, ao contrário da leveza que pairava no semblante de Niklaus durante o resto do almoço até o momento em que ele a beijou no banco de trás do seu carro e a deixou no hotel, as palavras do seu companheiro a assombrariam pelo resto do dia.

Àquele ponto, não havia como ficar pior.

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*Tradução:

"Você tem um déjà vu?"

Espero que tenham gostado do capítulo! Não se esqueçam de votar e comentar, por favorzinho. »🥺«

Beijos da Blue e até o próximo capítulo! »💙«