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Capítulo - 06

Sem reação eu fico encarando o homem a minha frente, ainda mais lindo do que eu me lembrava, mas ao mesmo tempo tão diferente do jovem rebelde que eu conheci que usava jaqueta de couro e coturnos. Este parece mesmo ser um homem de negócio, apesar de não estar de terno, como no dia que nos esbarramos, estando com a sua camisa azul clara com os primeiros botões abertos e as mangas dobradas até os antebraços.

Mas os cabelos continuam da mesma forma, ondulados e revoltos o suficiente para caírem na testa, assim como os seus olhos azuis, apesar de parecem ainda mais intensos como eu jamais havia visto antes, com o acréscimo de uma barba muito bem desenhada em sua face e o corpo musculoso, que a sua camisa não consegue esconder.

Tento ignorar o meu coração que está mais acelerado como eu nunca havia sentido antes, as minhas mãos que começaram a suar e a tremer e o revirar ansioso do meu estômago, mas então mais uma vez eu me lembro do que aconteceu no passado e no mínimo ele deve estar aqui para exigir que eu me afaste dos seus irmãos, pois não deve ser difícil que ele tenha ficado sabendo que nos encontramos novamente.

— Desculpe-me, Senhor! Mas acredito que não temos nada para conversar. — Dou-lhe as costas e tento retomar o meu caminho, mas logo sinto a sua mão segurando o meu braço, fazendo-me encará-lo.

— Pelo menos você não tentou negar quem era dessa vez, não é mesmo, Júlia? — Ouço o seu sarcasmo e puxo o meu braço de sua mão.

— Acredito que não há razões para eu fazer isso, tendo em vista que o Senhor veio com destino certo, justamente por saber quem eu era. — Respiro fundo, sentindo-me ainda mais nervosa pela forma que ele está me olhando. — Se o Senhor teve o trabalho de vir aqui pessoalmente, sem enviar alguém como o seu intermediário, como aconteceu no passado, devo dizer que perdeu o seu tempo, pois eu não sou mais uma adolescente e os seus irmãos também são adultos, capazes de tomarem as suas próprias decisões. — Ele franze o cenho, e por um momento parece mesmo não saber o que estou falando, mas no passado eu também me enganei com ele.

— Intermediário? Passado? Do que você está falando? E o que os meus irmãos têm haver com o fato de eu estar aqui para falar com você? — Dou uma risada nervosa e me afasto mais uma vez dele, percebendo que ele se aproximou.

— Senhor Johnson, vamos...

— Pare de me chamar de Senhor, pelo amor de Deus, Júlia! — Ele se irrita, interrompendo-me e passa uma mão em seus cabelos. — Se tem alguém aqui, que deveria estar querendo respostas por causa do passado, com toda certeza seria eu, mas eu quero apenas conversar. Será que poderemos fazer isso? — Agora quem franze o cenho sou eu.

— Como assim respostas por causa do passado? Não foi o bastante quando você exigiu que a sua avó nos expulsasse? — Ele dá um passo para trás, olhando-me sem entender.

— Eu o quê? Sobre o que você está falando? — Nego com a cabeça, engolindo de volta o nó que está querendo romper por minha garganta, mas não darei esse gostinho a ele de me ver chorar.

— Esqueça Edgar! Isso é passado e deve permanecer enterrado. — Ele continua me encarando como se eu fosse louca, mas volto a negar com a cabeça e dou dois passos para trás, ainda o encarando. — Como pode ter percebido, não temos nada para conversar, mas já adianto que se veio aqui com a intenção de me comprar para que eu me afaste dos seus irmãos, esqueça! Porque isso não vai funcionar. Agora eu preciso ir. — Não espero a sua resposta e simplesmente me viro, acelerando os meus passos, mas sei que ele não está vindo atrás de mim.

Respiro fundo mais uma vez, pois não irei chorar por causa de uma paixão do passado, mesmo que o meu coração trouxa não tenha se esquecido dele, mas eu irei! O que eu tenho ciência que poderá ser um pouco mais difícil agora, por eu ter retomado a minha amizade com a Eloise e o Pietro, o que não pretendo mudar.

Pelo menos não por causa dele ou qualquer outra pessoa que possa ser mesquinha, esnobe e preconceituosa, que se acha no direito de comprar alguém, para tentar se livrar de "futuros problemas" como ele e sua avó já fizeram antes.

[...]

Dormi foi praticamente impossível e agradeço por não dividir mais o quarto com a minha mãe, pois ela iria perceber — ainda mais — que alguma coisa está me incomodando. Eu achei melhor não falar sobre isso com ela, até porque não seria justo que eu a enchesse ainda mais de preocupações por uma coisa boba, ainda mais presenciando a felicidade dela em ver que a Bonanza aos poucos está ganhando forma com a decoração sendo iniciada.

Não que eu queira esconder isso dela, pelo menos não totalmente, mas achei melhor deixar o passado no passado, como eu disse ao Edgar. Às vezes se mexermos em feridas que já estão praticamente cicatrizadas só farão com que elas voltem a sangrar, e nesse caso, o melhor é deixar como está. Primeiro por eu não querer relembrar algo que ainda me machuca tanto, e segundo, eu não quero deixá-la preocupada com um assunto que não precisa mais ser mencionado.

Mas por que me sinto incomodada por me lembrar do olhar confuso do Edgar, como se realmente não estivesse entendendo o que eu estava falando? E que respostas ele esperava ouvir do passado, quando foi por causa dele que a sua avó nos expulsou daquela forma? Sinceramente eu não sei mais o que pensar, porque até então eu estava tão bem, pelo menos dentro do possível, com as novas mudanças que estão acontecendo na minha vida e na da minha mãe.

Conheci pessoas que agora considero como verdadeiras amigas e reencontrei dois amigos queridos do passado, mesmo que sejam irmãos de quem tanto machucou o meu coração — apesar dele não saber ou apenas não se importar com esse fato —, além de querer dar uma nova direção para a minha vida, voltando a estudar e parar de apenas me lamentar. E quem sabe eu até consiga conhecer alguém e me apaixonar?

Porém quando eu penso nisso, o meu coração idiota, que apesar de tudo que eu já passei não deixa de sonhar, fazendo-me lembrar das palavras da Ana quando contei a ela o que aconteceu na casa da Senhora Eleanor Johnson, no momento que fomos jogadas para a rua, como se não fossemos ninguém.

"Júlia, ser pobre não é nenhum defeito e muito menos ser negra, pois não é isso que qualifica uma pessoa e muito menos que determina o valor que ela tem, além de você ser linda e tenho certeza que muitos homens estariam correndo atrás de você se você desse uma chance".

É impossível não sorrir com o otimismo da Ana, além de ficar maravilhada com a forma que ela enxerga as pessoas, sempre buscando bondade, até mesmo onde seria impossível encontrar, mas ela está certa em um ponto. Afinal ninguém deveria ser julgado por suas características físicas ou o quanto tem ou deixa de ter numa conta bancária.

Porém da mesma forma que um ser humano, como a Ana, consegue enxergar a essência do próximo, há também àqueles que apenas se preocupam com status e aparência não se preocupando o quanto isso machuca, às vezes causando danos irreparáveis em quem está ouvindo toda essa depreciação.

Pensando em tudo que eu já ouvi e passei em meus 23 anos, a convivência com pessoas que realmente gostam de mim da forma que eu sou e o apoio incondicional da minha mãe, eu cheguei à conclusão que eu não preciso mudar ninguém. Não preciso ser aceita por ninguém e muito menos tentar agradar aqueles que pouco se importam comigo, pois a mudança e a aceitação tem que partir de mim, e é isso que começarei a fazer, mudando, sendo uma pessoa melhor por mim mesma e não por alguém.

E a partir de hoje, não permitirei mais que me humilhem ou que me diminuam e muito menos que me menosprezem, mesmo que o processo seja gradativo, pois sei que não é fácil mudar de um dia para outro. Mas tenho que ter um ponto de partida e começarei me aceitando como eu sou sem me esquecer de tudo que me foi ensinado, pois não sou e muito menos quero ser melhor do que ninguém. Eu quero apenas... Ser eu.

Levo um susto e coloco a mão no peito tentando diminuir as batidas do meu coração, quando ouço o interfone tocando, o que me faz franzir o cenho, pois ninguém costuma vir aqui, principalmente num sábado, mas me apresso para atender.

— Oi?

Senhorita Lopes?! É o Heitor Salazar, eu poderia conversar com a Senhorita por um momento? — Fico confusa, mas deve ser alguma coisa referente à decoração da Bonanza.

— Claro que sim, Senhor Salazar. Pode abrir o portão lateral e subir as escadas.

Destravo o portão e confesso que fiquei um pouco ansiosa e também curiosa para saber o que ele está fazendo aqui, mas me apresso em abrir a porta, encontrando-o parecendo um pouco desconcertado, enquanto me olha minuciosamente, como se procurasse ou confirmasse algo. Desvio o olhar dos seus e percebo que há uma pasta em suas mãos.

— Desculpe-me por aparecer assim, sem avisar. — Nego com a cabeça e dou passagem para que ele possa entrar.

— Não há problema, entre, Senhor...

— Apenas Heitor, por favor!

— Claro Heitor! Mas me chame de Júlia então. — Ele assente e sorri de lado, mas o silêncio começa a ficar incômodo, deixando-nos desconfortáveis. — É... A minha mãe saiu há alguns minutos, mas se eu puder ajudá-lo enquanto ela não chega? — Ele nega com a cabeça e dá um suspiro.

— Na verdade, eu vi o momento que a Senhora Lopes saiu e confesso que precisei de um pouco de coragem para vir até aqui, por que... Eu realmente precisava falar com você. — Franzo o cenho, não entendendo que assunto ele teria para falar comigo, mas por alguma razão sinto que não irei gostar do que ele tem a me dizer.

— E o que seria? — Ele respira fundo, mas antes que comece a falar, a porta é aberta, assustando-nos.

— Júlia, eu acabei... Heitor?! — Minha mãe questiona assustada, mas vejo que está também nervosa e irritada. — Ficou alguma coisa pendente sobre o quê conversamos ontem?

Mais uma vez franzo o cenho, pois ela não havia comentando que ele veio aqui ontem, o que sempre costuma fazer, principalmente pela animação que ela fica vendo a Bonanza saindo de fato do papel e criando forma.

— Sim, Amélia! E me desculpe, mas a Senhora sabe exatamente o que eu vim fazer aqui. — Minha mãe fica o encarando por um momento, negando com a cabeça.

— Você sabe a minha resposta e continua sendo não.

— A Senhora não acha que a Júlia quem deveria decidir isso? Pelo que me consta, ela tem 23 anos, no entanto é maior de idade e pode muito bem decidir por si mesma. — Ele é direto, mas sem ser rude, e fico ainda mais confusa com a tensão entre eles.

— Sobre o quê vocês estão falando? — Minha mãe me olha receosa, mas com um sorriso forçado nos lábios.

— Não é nada, Filha. — Mais uma vez tenho o sentimento que ela está mentindo para mim, mas nego com a cabeça.

— Não parece ser nada, Mãe. Sobre o quê o Heitor está falando? E sobre o quê eu deveria decidir? — Ela nega com a cabeça, mas volta a encarar o nosso convidado de uma forma que eu nunca a vi olhar para alguém antes.

— Eu preciso pedir que saia da minha casa, pois a minha resposta continua a mesma de ontem, e é não! — Heitor nega com a cabeça, ignorando o que a minha mãe acabou de falar, direcionando a sua atenção para mim.

— Júlia, eu pensei muito sobre vir ou não falar com você e respeitei a decisão da sua mãe por dois anos, mas quando eu...

— Heitor! — Minha mãe o interrompe, mas quem nega com a cabeça agora sou eu.

— Mãe, deixe-o falar ou se preferir, fale a Senhora! Mas eu quero saber o porquê dele ter vindo até aqui para conversar comigo. E agora eu consigo ver que a Senhora tem total conhecimento sobre o assunto. — Ela continua negando com a cabeça e vejo lágrimas começarem a deslizar por seu rosto, assustando-me. — Mãe? O que está acontecendo? — Penso por um momento e me dou conta de algo que Heitor acabou de dizer. — Espera! Você disse dois anos? Então quer dizer que...

— Sim, Júlia! Há dois anos eu encontrei vocês, mas como ainda não havia me mudado em definitivo para Seattle, precisei voltar para New York, apenas por poucos dias, mas foi tempo suficiente para vocês mudarem de casa. Só que não demorei a encontrá-las novamente, porém eu respeitei o pedido da sua mãe, dizendo que ela mesma quem deveria lhe contar a verdade.

Penso por um momento e me lembro disso, justamente por eu ter chegado do trabalho e a encontrei, muito nervosa, enquanto organizava as nossas roupas, deixando-me confusa, pois tínhamos praticamente acabado de nos mudar para aquela casa.

Mas ela apenas me disse que seria melhor e sem questionar, apenas a ajudei, mesmo que a outra casa fosse bem mais longe e ainda tivemos que gastar nossas poucas economias com alguns móveis, pois diferente da outra, a "nova" não estava mobiliada, sendo o local que vivemos até que fomos despejadas há pouco tempo.

— Então... Foi por isso que a Senhora ficou estranha quando ele e a Jamilly chegaram para conversar com a Ana, não foi, Mãe? — Ela me encara e vejo culpa, mas também medo em seus olhos. — Vocês já se conheciam, mas decidiram agir como se estivessem se conhecendo pela primeira vez. — Afirmo o óbvio, fazendo-a assentir.

— Sim, quando eu procurei por uma Empresa de Arquitetura e Design de Interiores, eu jamais imaginei que a S&C Arquitetura seria do Heitor e da Jamilly, mas isso só prova que por mais que tentamos o passado de uma forma ou de outra volta para nos cobrar à verdade. — Eu que o diga, penso, mas não verbalizo, pois não é o momento para pensar em Edgar, quando ainda preciso entender o que está acontecendo aqui.

— Amélia, eu não quero prejudicar vocês, pelo contrário. A única coisa que eu sempre quis foi me aproximar da Júlia e poder conviver com ela. — Fico ainda mais confusa, mas minha mãe assente e olha para Heitor, sem a raiva de antes, enquanto se senta no sofá e fazemos o mesmo, pois ainda estávamos em pé no meio da sala.

— Eu sei Heitor. Eu jamais culparia você ou a Jamilly por isso. E sinceramente? Se fossem outros no lugar de vocês, possivelmente agradeceriam por eu continuar querendo esconder a verdade da minha filha. — Ele nega com a cabeça e pega na mão dela.

— Nós jamais faríamos isso, Amélia, até porque a Júlia também tem os seus direitos, assim como a Jamilly e eu. — Sinto o meu estômago se revirar e não é de uma forma boa, mas forço as palavras a saírem por meus lábios, temendo a resposta.

— Sobre... Sobre o quê vocês estão falando? Direitos? Direitos do quê? — Minha mãe desvia o olhar do Heitor, levanta-se e senta ao meu lado, no sofá oposto que ela estava antes, enquanto segura a minha mão.

— O Heitor... — Ela respira fundo, controlando as suas lágrimas e sinto os meus olhos marejarem. — Ele... Ele é o seu irmão, minha Filha.

— O quê? — Afasto-me dela e me levanto do sofá, encarando-os, mas essa minha atitude fez com o que o choro dela se intensificasse.

— Isso mesmo, Júlia. Jeffrey Salazar, que é o meu pai, também é o seu. — Nego com a cabeça, porque isso não faz sentindo.

— Não. Deve estar havendo algum engano. — Quem nega com a cabeça agora é a minha mãe, levantando-se e voltando a pegar na minha mão.

— Não é um engano, minha Filha. Jeffrey realmente é o seu pai, infelizmente.

Ouço a amargura em suas palavras, apesar de ver o medo em seus olhos, possivelmente temendo uma reação negativa da minha parte em relação a ela, o que não acontecerá, pois independente de quem seja o meu genitor, a minha mãe sempre esteve comigo, ao meu lado, enfrentando o mundo para poder me criar, mas eu só quero entender tudo isso.

— Como... Como isso é possível? Esse homem ele é... — Minha mãe nega com a cabeça, talvez imaginando o que eu estou pensando, mas Heitor se levanta, aproximando-se também.

— Júlia, não julgue a sua mãe antes de saber o que aconteceu, por favor? — Lentamente, ele pega a minha mão livre, mas eu nego com a cabeça, pois jamais a julgaria antes de ouvir o que de fato aconteceu. — E não me odeie também, pois desde que fiquei sabendo da sua existência, eu sempre quis conhecê-la, porque você também é a minha irmã.

— Eu... Na verdade eu nem sei o que pensar ou sentir, porque isso é tão... Confuso. — Ele assente, dando um sorriso de lado. — Por um tempo, eu realmente quis saber quem era o meu pai, porque eu sentia falta de ter um, mas isso foi na minha infância. Depois eu me acostumei à ideia que não teria alguém para receber esse título em minha vida e a minha mãe sempre supriu essa necessidade.

— Eu consigo entender o que está querendo dizer, porque não há nenhum sentimento da sua parte em relação ao seu genitor, mas... — Ele respira fundo e percebo que está emocionado. — Eu sei que ainda sou um estranho para você, mas eu gostaria que me desse uma chance de fazer parte da sua vida e de nos aproximar, pois eu realmente quero conviver com você e quem sabe futuramente, não consiga me aceitar como o seu irmão.

Aperto a sua mão e apesar de ainda estar perdida com toda essa história, consigo entender que se há um culpado por eu não conviver com o meu pai, com toda certeza não é ele ou a sua irmã.

— Eu sempre quis ter irmãos, Heitor. E confesso que quando nos conhecemos eu senti algo diferente, uma sensação de familiaridade, mesmo não conseguindo ver lógica para isso, mas... Eu só preciso de tempo para conhecer, entender e digerir direito essa história. — Ele assente e me pega de surpresa, quando se aproxima beijando a minha testa, antes de se afastar completamente.

— Eu entendo e respeitarei qualquer decisão que você tomar, depois de conhecer a história que envolve o nosso pai e a sua mãe. — Apenas assinto, por não saber exatamente o que dizer. — Deixarei que conversem e esperarei para saber qual a sua decisão em relação a mim e a Jamilly, tudo bem?

Mais uma vez assinto e depois de nos olhar por mais alguns segundos, ele pega a pasta, que estava sobre o sofá, entrega para a minha mãe e sai do nosso apartamento, deixando-nos sozinhas.

— Eu contarei tudo que você precisa saber minha Filha.

Mais uma vez assinto, enquanto nos sentamos e seja o que for, acredito que não vou gostar muito do desfecho final dessa história.

[...]

Sempre quis conhecer o meu passado e as razões para que eu não tivesse um pai como a maioria das pessoas, principalmente quando eu ainda era apenas uma garotinha. Mas então o tempo foi passando e comecei a entender que se a minha mãe evitava tocar nesse assunto, além de ficar triste quando eu perguntava, era por alguma razão que eu não precisaria ter conhecimento de fato sobre quem seria o meu pai.

Hoje eu entendo! E jamais julgaria ou ficaria magoada com a minha mãe por não me contar a história, que pertence apenas a ela, mesmo que eu, como filha, tivesse sim, o direito de saber sobre quem havia sido o responsável para que ela me gerasse. Porém saber disso hoje, em nada irá mudar a minha opinião quanto ao meu genitor.

Aliás, muda sim, pois não faço questão que esse homem seja alguém presente na minha vida, mas não vejo razões para não me aproximar dos meus irmãos — e isso ainda é estranho de dizer —, que parecem realmente me querer por perto. Eu só preciso primeiro me acostumar com essa mudança, inclusive para que eu consiga pelo menos dizer isso a alguém, melhor dizendo, para os meus amigos que eu sei que posso confiar esse meu novo "segredo".

E falando neles, mesmo que a minha cabeça não parasse de pensar em tudo que anda rondando a minha vida, inclusive o Edgar, eu não poderia ter passado um fim de semana melhor na companhia deles. E agradeço por não ter recusado o convite da Ana para o churrasco na casa dela — ou do namorado dela, que é a mesma coisa —, pois por um momento, depois que eu permiti me divertir, consegui me esquecer dos problemas e focar apenas no presente.

Mas isso serviu para que eu pensasse também na decisão que já havia tomado, antes do Heitor aparecer no apartamento, em começar a mudar as minhas atitudes e parar de me lamentar ou insistir na autocomiseração diante das adversidades. Sempre tive um exemplo de força e perseverança dentro de casa, e é nela, a minha mãe, que irei continuar me espelhando, agora mais do que nunca.

— Faz um expresso para mim, agora, Copeira! — Encaro a figura a minha frente, vendo que ela não mudou como eu acreditava, estava apenas reservando a sua "educação" para o momento que a Loja voltasse a funcionar.

— É para algum cliente?

— Claro que não! Está surda? Acabei de dizer que era para mim. — Dou de ombros e verifico a hora, percebendo que já está no meu horário.

— As cápsulas estão no suporte e a máquina de café logo acima, então fique à vontade. — Ela arregala os olhos, mas depois faz uma cara de escárnio.

— Está achando que é quem para falar assim comigo? Esqueceu qual é o seu lugar, só porque a sua amiguinha agora está brincando de ser a CEO da Empresa? — Respiro fundo e retiro o meu avental, encarando-a em seguida.

— Não, Andrea. Eu sei exatamente o meu lugar, assim como a função que exerço aqui, mas pelo visto você é quem não sabe, então irei lhe dizer. — Aproximo-me alguns passos, mantendo o contato visual. — Eu sou sim, a Copeira da GRS, estou aqui para servir os clientes e também os meus colegas de trabalho. Porém, não sou obrigada a atender alguém que, mesmo sendo uma mera funcionária assim como eu, não consegue ter a mínima educação para pedir algo. — Ela abre a boca, mas não profere nenhuma palavra. — Agora eu preciso ir, mas da próxima vez, experimente pedir com gentileza e humildade, e perceberá que isso não faz de você inferior a ninguém, muito pelo contrário, pois atitudes assim apenas enobrecem quem as coloca em prática.

Ela permanece em silêncio e saio da Copa indo para o vestiário trocar as minhas roupas, sentindo uma sensação boa em não baixar a cabeça e simplesmente aceitar a falta de educação, que Andrea sempre fez questão de me tratar, desde que comecei a trabalhar na Loja. Mas agora eu percebi que não preciso ser aquela que todos pisam e acham que podem humilhar. Eu posso continuar sendo simples e humilde, mas também firme sem deixar a educação que recebi de lado.

— Boa noite, Senhor Leônidas!

— Boa noite, Júlia! Tenha um bom descanso.

Retribuo o seu sorriso gentil e aceno para o outro Segurança que está um pouco mais distante, e saio da Loja, feliz que mesmo com todos esses novos Seguranças que foram contratados, ele não foi demitido, pois apesar de ser um Senhor com mais de 50 anos, é um bom profissional, além de sempre ter sido muito educado, não apenas comigo, mas com todos que trabalham na Loja. Porém assim que dou alguns passos pela calçada, estaco no lugar, sentindo o meu coração acelerar tanto que parece que vai saltar pela minha boca.

— Boa noite, Júlia! — Respiro fundo e aperto a alça da minha bolsa, buscando algo em quê eu possa me segurar.

— Boa noite, Edgar!

Ele desencosta da lateral do seu carro — e este sim se parece com o jovem rebelde que conheci em sua jaqueta de couro, jeans e coturnos —, aproximando-se, fazendo-me sentir o seu perfume... O mesmo perfume que eu me lembrava de quando éramos adolescentes.

— Eu gostaria de conversar com você... Apenas conversar, sem discutir. — Ele me interrompe, no momento que eu iria negar, fazendo-me fechar novamente a boca, mas dou um suspiro profundo, tentando acalmar as batidas aceleradas do meu coração.

— Você não vai desistir, não é?

— O que eu mais fiz até hoje na minha vida foi desistir de procurar verdades que sempre estiveram bem diante dos meus olhos, mas não pretendo fazer mais isso. Então não, Júlia! Eu não desistirei até que você fale comigo. — Fico confusa com o que ele está querendo dizer, mas novamente dou um suspiro e assinto.

— Tudo bem.

— Poderemos ir para um... — Nego com a cabeça, mesmo que eu esteja cometendo um erro, mas me sentirei mais segura.

— Se quer conversar, faremos isso, mas será na minha casa. — Ele pensa por um momento, mas acaba assentindo.

— Certo. Então vamos?

Assinto e o acompanho até o seu carro, onde só agora percebo que há um homem do lado de fora, quando abre a porta traseira para mim, enquanto Edgar dá a volta, entrando do outro lado.

— Boa noite!

— Boa noite, Senhorita! — Dou um sorriso contido e me sento ao lado de Edgar.

Depois de orientar o Motorista — ou Segurança, eu não sei dizer —, como chegar ao apartamento, um silêncio sufocante predomina dentro do carro, mas por alguma razão sinto que não sou a única a estar nervosa e isso de certa forma me deixa satisfeita. E confirmo isso vendo a forma que ele balança freneticamente a perna direita, hábito que ele não perdeu desde que o conheço na sua fase rebelde, assim como a mania de passar a mão várias vezes em seus cabelos, bagunçando-os ainda mais.

Agradeço pelo trajeto ser curto, ou eu iria acabar sufocando com o Edgar sentado nesse banco, ao meu lado, e assim que o carro para de frente ao sobrado, eu abro a porta, sem esperar que o Motorista o faça por mim. Procuro a chave dentro da bolsa e me apresso em abrir o portão, não prestando atenção no que Edgar conversa com o seu Motorista/Segurança, até porque estou mais preocupada, pensando o quê ele tem para conversar comigo.

— A sua mãe...

— Não está em casa e vai demorar ainda um tempo para chegar, então não se preocupe que poderemos conversar, seja qual for o assunto, sozinhos. — Respondo assim que fecho a porta, vendo-o olhar em volta.

— Certo.

Aponto o sofá para que ele possa se sentar, e faço o mesmo, mas novamente o silêncio se faz presente e me sentindo incomodada com a forma intensa que ele me olha, resolvo iniciar logo o assunto e acabar com essa tortura e dúvida que me deixa ainda mais nervosa.

— E então? Sobre o quê você quer conversar, Edgar? — Depois de mais alguns segundos me olhando, ele respira fundo e começa a falar.

— Por que você e a sua mãe fizeram aquilo? — Fico completamente confusa, não entendendo a sua pergunta tão direta e cheia de rancor.

— Aquilo o quê? Sobre o que você está falando? — Ele dá uma risada sem humor e nega com a cabeça.

— Júlia, apesar de ter passado alguns anos, não consigo acreditar que você esqueceu o que fez, antes de saírem da casa da minha avó. Então será que poderia ser sincera comigo e me falar a verdade? — Continuo confusa, pois se alguém tem que estar magoada aqui, seria eu e não ele.

— Eu adoraria responder a sua pergunta se eu soubesse sobre o quê você está falando, Edgar. Mas só para deixar claro, a minha mãe e eu não saímos da casa da sua avó, nós fomos expulsas do jeitinho que você exigiu que acontecesse. — Ele se levanta e passa a mão no cabelo, nervoso.

— De novo com isso? Aquele dia você falou a mesma coisa, mas eu jamais exigi nada, muito menos que vocês fossem expulsas! — Ele nega com a cabeça, pensando por um momento. — E pare de tentar me confundir, pois já tive a minha cota de mulher manipuladora na minha vida. Eu quero apenas saber o porquê você me acusou de tê-la seduzido, o que claramente, eu não fiz, pois eu sempre a respeitei. — Levanto-me também, começando a ficar irritada de uma forma que raramente acontece.

— Eu realmente não estou entendendo o que você está querendo dizer, mas é melhor que comecemos a falar a mesma língua ou encerraremos essa conversa por aqui, pois eu nunca o acusei de absolutamente nada! — Agradeço mentalmente por ter conseguido ser firme nas palavras, e ele continua olhando fixamente em meus olhos, como se buscasse algo, e não sei o que ele conseguiu ver, pois o seu semblante irritado, passa para confuso e depois incrédulo.

— Você realmente não sabe sobre o quê estou falando, não é?

— Não, Edgar! Eu não sei e estou repetindo isso desde que você começou a falar a mesma coisa. — Ele analisa as minhas palavras e nega com a cabeça, parecendo frustrado, decepcionado, não sei dizer ao certo.

— Eu não acredito nisso! Tem que ter alguma explicação, porque não acredito que ela foi capaz de fazer algo assim! — Ele começa a andar pela sala e parece falar consigo mesmo, e quem pensa por um momento agora, sou eu, vendo a forma perturbada que ele está.

— Edgar, você por um acaso exigiu que a sua avó nos expulsasse da casa dela, porque ficava incomodado com a minha presença? — Ele para de andar e me olha como se eu fosse louca.

— É claro que não! De onde você tirou isso, Júlia? — Nego com a cabeça, voltando a me sentar, percebendo que ele está mesmo falando a verdade e agora tudo faz sentido. — Júlia? — Ele se senta ao meu lado, fazendo-me encará-lo, quando pega na minha mão, e vejo a confusão em seus olhos azuis. — Poderia me contar o que realmente aconteceu naquela noite que eu cheguei bêbado na casa dos meus avós e na manhã seguinte que vocês foram embora?

Relembrar algo que por muito tempo me machucou, o que não foi diferente do que ouvi a minha vida inteira, não é nada agradável, mas eu sinto que para eu conseguir passar mais essa página da minha vida e realmente alcançar a mudança interior que decidi buscar, eu preciso mexer na ferida e fazê-la sangrar mais uma vez, pois só assim conseguirei curar o que parecia nunca querer cicatrizar completamente.

— Contarei o que aconteceu, só não sei se você vai realmente acreditar e muito menos gostar de tudo que eu irei falar agora.

— Como eu disse, parece que às verdades que eu sempre acreditei serem reais, não passavam de mentiras que sempre estiveram na minha frente, e eu nunca fui capaz de enxergá-las. Então acredite quando eu disser que estou preparado para ouvir tudo o que for me contar.

Respiro fundo e por mais que seja difícil para que eu possa relembrar, assim como será para ele ouvir, começo a contar toda a história, desde a hora que ele chegou bêbado, batendo o portão, até o momento que minha mãe e eu deixamos aquela casa, depois de ouvir as palavras docemente cruéis de Dona Eleanor Johnson.

Minha nossa Senhora dos mal-entendidos 😱😱! Alivia um pouco a barra para que esses dois possam pelo menos conversar, Amém 🙏🏻🙏🏻!

Edgar está ferido por ter sido acusado injustamente! Júlia está ferida por ter escutado tanta baboseira da Vovó Johnson! É ferida demais para poder cicatriz, minha nossa 🥴🥴!

Eita, que o segredo da Amélia foi revelado 😱😱! E Júlia é nada mais, nada menos que filha do Senador de New York 😱😱! Ahhhh, isso aí ainda vai dar o que falar viu 😏😏!

Só eu que achei o Heitor um fofo 🥺🥺! Tudo bem que ele incentivou por livre e espontânea pressão que Amélia contasse a verdade 🤭🤭, mas ele tinha razão, a Júlia merecia saber, e a decisão final deveria mesmo ser dela.

Nossa, Júlia 😱😱! A Andrea até estava de colete a prova de balas, mas o tiro foi na testa, e ela não não conseguiu evitar 🤭🤭!

Ahhh! Até que enfim esses dois cabeçudos começaram a falar a mesma língua 🙄🙄. Agora o resultado da conversa. Saberemos domingo, no capítulo do Edgar! Até lá 😘😘!

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