Declarações
Naruto.
Quando acordei, um pouco atordoado, avistei Hinata dormindo debruçada sobre a cama. Ela balbuciava coisas desconexas e estava em uma posição desconfortável. Fiz menção de acordá-la, só que mudei de ideia, Hinata parecia cansada e decidi deixá-la dormir. Apenas passei a alisar seus cabelos escuros, quando a ouvi murmurar a palavra "cachecol" franzi o cenho me perguntando sobre o que Hinata sonhava.
Seria comigo? Conosco?
Não demorou muito para ela despertar e eu quis perguntar, mas entendi que haveria outra oportunidade para isso. Eu estava vivo e não a deixaria escapar novamente, imploraria seu perdão se fosse necessário. A minha certeza era que precisava tê-la na minha vida, compreendi a magnitude do meu amor por Hinata enquanto permanecia desacordado.
No meu estado de inércia mental, não fiquei totalmente apagado. Eu sonhei com meus pais, aliás, não sei se foi somente um sonho. Foi tão real, parecia que eu realmente vivenciei aquilo.
O que importa mesmo, é que meu pai me aconselhou a abandonar o ódio e a mágoa e focar no que realmente é valioso. No que pode de fato curar o coração e a alma... O amor. E nesse instante, o que preenche meu peito é o meu sentimento por Hinata e o desejo de vê-la feliz, junto da sua família. Portanto, é nisso que colocarei minhas energias, já não me importa a vingança contra Toneri. Ele será punido pela justiça, não por mim, era esse o desejo dos meus pais e eu o realizarei.
Comecei a por em prática tudo o que planejei naqueles poucos segundos antes de ela acordar, iniciando pelo pedido de perdão até declarar meu amor por ela. Me senti mais leve assim que o fiz, um peso saiu dos meus ombros e meu coração se encheu de uma tranquilidade que eu não sentia há muito tempo.
Agora tudo o que eu quero é vê-la novamente, porém tenho que ter certeza de que Hinata descansou. Afinal, se ela dormiu a noite toda nessa cadeira, deve estar com o corpo todo doído.
Decidi perguntar a Rin, enquanto ela me examinava, após a saída de Hinata do quarto. Se foi como interpretei mesmo, se Hinata ficou ao meu lado enquanto eu dormia.
— Rin? — chamei, enquanto ela anotava coisas em sua prancheta médica.
— Hinata passou a noite aqui?
Ela abaixou o objeto para olhar nos meus olhos, balançando a cabeça em confirmação. Meu coração se contraiu. — Deixamos Hinata aqui por volta da uma da madrugada e ela permaneceu do seu lado até que acordasse.
— Compreendo. — consegui formular, minha cabeça girava, já meu coração estava a ponto de correr pelo quarto. Um sentimento tão grande de magnitude, misturado com remorso tomou conta de mim. Levei a mão até o peito, puxando a camiseta naquela região, como se isso fosse amenizar aquela miríade de sensações se sobrepondo uma a outra.
— Não se culpe, Hinata se preocupa com você. Vou pedir que descanse um pouco para conversarmos mais tarde, tudo bem? — tocou minha mão e eu assenti devagar. — Você também precisa se recuperar para podermos avançar no plano.
— Verdade, coloquei tudo a perder. — afirmei desgostoso.
— Não pense assim, Naruto. — Rin discordou. — Todos nós te amamos de alguma forma e só o que queremos é que fique bem. O restante podemos correr atrás, Hinata está segura, nada foi perdido.
Eu amava essa confiança nela, e sua capacidade de acalmar os ânimos não importava a situação. Obito também possuía esse dom e imediatamente a culpa me assolou novamente. Eu não fui exatamente gentil com eles, durante muito tempo foi como se não existissem para mim. Eu culpava Obito pela morte dos meus pais, consequentemente meu laço com Rin não era muito melhor. Percebi minha injustiça ali, observando a mulher que me trouxe de volta à vida.
— Me perdoe, Rin. Por tudo o que já disse para você e o Obito. — iniciei, ganhando confiança. — Se puder, peça para que ele venha aqui, por favor. Tenho coisas a dizer.
Ela fez que sim e notei lágrimas em seus olhos. Rin era a coisa mais próxima que eu tinha de uma mãe, pelo menos a partir dos meus dezoito anos que foi quando a conheci pessoalmente. Antes eu só tinha contato com Obito, que vinha me visitar e me trazia o que eu precisava desde muito tempo. No começo eu não entendia porque ele não podia me adotar, já que era mais velho e sempre me visitava. Hoje eu compreendo, Obito têm suas desavenças com a polícia, me adotar implicaria em papelada que me colocaria no mundo como um alvo. Toneri chegaria a mim de uma forma ou de outra. Já foi complicado a troca de nome por baixo dos panos, imagina uma adoção? Seu foco era me manter seguro até que eu pudesse sair do orfanato. Agora eu reconhecia.
— Vou chamá-lo, porque em seguida você precisa descansar. — e assim ela saiu do quarto, não antes de afagar meus cabelos.
Aguardei impaciente e ensaiando mentalmente o que eu queria dizer. Era estranho estar nessa posição, eu e Obito não nós batíamos muito. Mas eu era grato a ele por toda ajuda e pela proteção. Foi graças a Obito que descobri sobre a morte dos meus pais, ele quem investigou Toneri inicialmente. Até que Sasuke assumisse. Enfim, eu precisava deixar claro meu novo posicionamento, ainda que fosse tão difícil e tardio.
— Naruto.
— Obito. — dissemos em uníssono.
Limpei a garganta e prossegui, antes que perdesse a coragem:
— Eu gostaria de pedir per... — mas fui interrompido.
— Não precisa falar o que acho que vai. — iniciou, sua voz soando grave e forte. — Tudo o que fiz foi visando te proteger, eu gostaria de ter feito mais, só que infelizmente não pude. Então não me agradeça e não peça perdão pelo passado. É no passado que ele deve ficar. Eu aprendi a te enxergar como um filho e fico feliz por estar bem. Agora nosso foco é manter Hinata e você seguros, é só isso o que importa. — não esperava nada menos do que isso vindo dele.
Obito não fazia o tipo de muitas palavras ou de demonstrar sentimentos profundos facilmente. Exceto com Rin, a quem ele se desmanchava de amores, o restante era tratado com certa frieza e distanciamento emocional. Não porque Obito fosse frio ou desprovido de sentimentos. Pelo contrário, ele fazia o tipo que sentia mais do que dizia e ouvi-lo declarar que eu era como um filho, soou muito profundo dada às limitações dele. Não adiantaria forçar nada agora, eu o conhecia o suficiente para compreender que insistir só o irritaria. De modo que deixei passar, por hora.
— Obrigado por tudo. — resumi. — Meu pai deve estar feliz vendo que nos entendemos.
Ele riu, foi um riso passageiro. E com um aceno de cabeça Obito me deixou sozinho.
Nunca fomos de conversar muito, o diálogo seria algo que precisaríamos trabalhar futuramente. Eu sabia que meu pai foi muito importante para ele, que o salvou da morte quando Obito ganhou aquela cicatriz no rosto. Mas não sabíamos detalhes, isso ele guardava para si. Eu também tinha ciência que Obito chegou aos meus pais um pouco depois de Toneri. Porém, não conseguiu salvá-los e prometeu que cuidaria de mim ali, assistindo a morte deles. Deve ter sido complicado. Eu não conhecia a profundidade da relação entre meu pai e ele, porque o protegeu, porque Obito quis me proteger em memória do meu pai. Contudo, naquele momento, me senti grato por toda a ajuda que recebi dele. Obito fez o seu melhor de acordo com suas possibilidades limitadas.
Com esse pensamento eu mergulhei em um sono calmo e sem sonhos.
(...)
Hinata.
Naruto dormiu praticamente o dia todo, ele recebia soro na veia para se manter forte. Mas precisava se alimentar. Portanto, peguei algumas frutas, sopa de missô e segui em direção ao quarto. Disposta a fazê-lo comer alguma coisa.
Ao longo do dia, Sakura ligou para o supervisor e avisou que precisaria se ausentar por um tempo. Inventou uma desculpa e "garantiu" o emprego, assim não correria perigo. Sasuke não permitiu que fosse embora, alegou que algum capanga do Toneri iria atrás dela para obter informações e eu fiquei desespera apenas com a possibilidade. Agora o nosso foco é chegar nele o mais rápido possível para retomarmos nossas vidas.
Já eu quero muito que Naruto se recupere logo, vê-lo naquela cama não acalma meus nervos. Muito menos melhora minha ansiedade atacada devido a toda essa situação. Eu não queria voltar a tomar remédio para ansiedade, mas estava cada vez mais surtada. O que resultaria em palavras saindo da minha boca sem minha permissão ou coisa pior.
Nesse instante, conforme eu caminhava em direção a Naruto, ele acordou e nossos olhares se cruzaram. Uma estranha ligação se formou entre nós, era como se o ar se tornasse mais pesado à medida que Naruto me observava se aproximar.
— Oi — eu disse, insegura e constrangida.
— Oi — ele respondeu, seu sorriso se alargando conforme eu me aproximava. — Descansou?
A pergunta me pegou de surpresa e sacudi a cabeça em resposta. Não diria a ele que estava uma pilha de nervos e que dormir não era opção para mim no momento. Rin informou que se eu não descansasse por conta própria, ela me daria um mata leão natural. Eu estava quase cedendo, porque me sentia à beira de um ataque. Cochilei à noite nessa cadeira dura, mas não foi nem de longe um descanso digno. A maior parte da noite passei observando Naruto dormir, eu precisava desligar por algumas horas. Entretanto, mantive essa informação só para mim.
— E você precisa comer. — mudei de assunto, dispondo a bandeja ao lado da cama. — Está se sentindo bem?
— Sim, não se preocupe, hime. — era sempre gostoso ouvi-lo me chamar de hime.
Me remetia há tempos antigos, quando brincávamos na neve ou quando roubávamos comida da cozinha escondido. Indo mais profundo, quando eu estava quase para sair do orfanato e Naruto me pediu em casamento para que nunca nos separássemos. E eu o esqueci... meu peito doeu e fechei os olhos, as lágrimas vieram sem minha autorização.
— O que foi, hime? Eu falei algo que não devia?
— Não, Naruto. — neguei — As lembranças de nós dois estão voltando... — a frase ficou incompleta.
— Não se sinta culpada por não ter se lembrando antes, Hina. — ele buscou minha mão e permiti que Naruto a envolvesse com a sua. — Vem cá — chamou e eu hesitei, temerosa de machucá-lo. — Vem cá, hime — insistiu e eu cedi.
Me ajeitando de lado na cama, com todo o cuidado do mundo para não feri-lo ainda mais.
As lágrimas a essa altura inundavam meu rosto. Como um tsunami de emoções conflitantes.
— Ei, não fica assim — sua voz se tornou suave e apaixonada. Como quando falamos com um bebê. — Fica aqui comigo, não quero te ver triste. Você não tem culpa de nada, tá bom? — ele beijou minha testa com ternura e eu relaxei, me permitindo ser mimada por Naruto.
Que passou a alisar meu rosto e a enxugar minhas lágrimas com o máximo zelo.
— M-me desculpa — gaguejei e ele calou meus lábios com o dedo indicador.
— Shiuu só fica quietinha nos meus braços. Não existe culpa neste caso. Eu te amo, é só isso que importa.
Eu sorri involuntariamente, sentindo o carinho e o afeto de Naruto transpassar as barreiras antes impostas por mim mesma. Desarmando todas as minhas defesas e me fazendo enxergar o quanto eu era especial para ele.
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