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Capítulo único

Todos os anos, na véspera do dia das bruxas, o parque de diversões abria dando lugar a um espectáculo diferente do resto do ano. A decoração era horripilante e as diversões também. Os carrinhos de choque e os carróceis davam lugar a casas assustadoras e labirintos. Era lindo de se ver e para mim, era a altura perfeita de ser eu mesma sem ter de me preocupar com a censura alheia.

O meu pai tinha sempre um pouco de receio de me deixar sair à minha vontade, mas cedia sempre. Claro que me dava imensas recomendações e expressava a sua preocupação, mas no final, eu acabava sempre por sair e corria tudo bem... até então.

No ano em que eu tinha quinze anos, tal como todos os outros, saí de "casa" e lá fui eu directa ao parque com algum dinheiro que o meu pai me dera.

Chegando lá, o meu sorriso abriu-se no instante, de um jeito mágico. Para mim aquilo era mágico, mesmo.

Ao entrar, um drácula deu-me as boavindas e elogiu a minha aparência maravilhosamente assustadora, segundo ele. Do lado esquerdo e direito via-se todo o tipo de barracas de tiro ao alvo, venda de bugigangas monstruosas e coisas do gênero. E no mesmo sítio de sempre, reconheci a relote da cigana chamada Danúsia exatamente no mesmo sítio de sempre, ao lado da casa dos gritos. Como sempre, decidi entrar, eu gostava daquela mulher.

Bati à porta e ouvi "entre". Abri a porta para trás e passei a cortina de contas vermelhas que conhecia tão bem. Quando Danúsia me viu, deu um enorme sorriso.

- Que bom ver-te, Imara.

- Lembra-se do meu nome! - declarei admirada.

- Claro que sim, mas não vou ser hipócrita, só me lembro de ti, porque és especial, que nem a gente.

Com "a gente" ela queria dizer o pessoal do circo do qual ela fazia parte, ele encontrava-se no meio do parque temático e há meia-noite em ponto começava o espetáculo. Era um circo de horrores. Os humanos adoravam, mas eu sentia-me um pouco sensível com aquilo. A maneira como os humanos olhavam para a mulher barbuda, o homem-lobo e outros tantos fazia o meu estômago dar um nó. Talvez isso os fizesse sentir melhor, mas a mim não, porque eu não me achava superior a eles e sim pertencente do clã, assim como Danúsia pensava.

Dei uma tossidela indelicada.

- Pode ler-me a sina?

- Claro, pequena Imara. Senta-te - disse mostrando-me a cadeira vazia - Como sempre, podes escolher, as mãos, a bola de cristal ou as cartas?

Por norma eu escolhia sempre as mãos na primeira vez que lá ía, quando o parque abria. Antes do parque fechar eu escolhia a bola de cristal, mas desta vez foi diferente. Não sei o que me deu, mas eu pedi as cartas.

Danúsia olhou para mim, que nem um burro para um palácio e até seu rosto recuou em seu pescoço. O que me fez notar a cicatriz que ela tinha no pescoço, no sítio onde eu sabia que lhe haviam tirado a tiroide.

- Isso é uma novidade - ela comentou, mas deitou as cartas num ápice, com uma agilidade invejável, até para os mais experientes jogadores de poker.

Eu não entendia nada daquele tarôt: a papisa, o diabo, a morte, a torre, o louco, a imperatriz... mas conforme eu escolhia uma carta, ela me explicava. Era vaga nas explicações, dizia sobretudo que havia imensas possibilidades e variadas interpretações, mas pela posição e ordem das cartas, em breve eu conheceria alguém especial e nutriria por si fortes sentimentos. Se não foi isso que Danúsia disse, foi isso que eu ouvi. Como sempre, não botei muita fé nas suas premonições e depois de falarmos um pouco saí e fui para outra atração, a casa dos gritos, que se encontrava mesmo ao lado. Ao entrar quase esbarrei num casal, mas sem alarmes. Sentei-me nos lugares de trás da carruagem. Conforme ela andava admirei perplexa a decoração do sítio, mais assustadora que no ano precedente. Os elementos sonoros estavam muitos bons e realistas e eu até dei um salto quando uma cabeça de lobisomem rosnou e se dirigiu direto em meu rosto. Podia jurar que ela não estava lá nos outros anos.
😁
A meio da viagem, o rapaz da frente virou-se para mim e perguntou se eu não estava muito assustada. Respondi-lhe que "sim" porque me pareceu o certo a fazer. O objectivo da casa dos gritos era assustar. Não pûde perceber bem do que ele estava fantasiado, porque estava muito escuro ali dentro, mas a voz aveludada dele, que me fez lembrar a do Diogo Infante, eu reconheceria mais tarde e poderia entender se ele era assustador ou não. Pelo menos assim o esperava.

Ainda era cedo para o circo dos horrores, então andei pela feira e comprei dois olhos numa cabana. Passei por uma cabana fechada que produzia um filme de terror diferente a cada vez que acabava o precedente. Reparei que estava a dar o meu filme preferido: A morte te dá parabéns, mas não parei para ver, embora o meu pensamento tenha por breves instantes ponderado isso. Olhei apenas o papel que dizia os filmes do dia seguinte. Iria dar A entidade. Os três. Nada que já não tivesse visto.ĺ

Ao virar-me um rapaz foi contra mim e eu caí ao chão. Pareceu imbecil cair com tanta facilidade, mas eu sofria desse mal. Uma vez, num dia chuvoso, soprou um vento tão forte, que com a ajuda do meu guarda-chuva voei cerca de dois metros de distância até conseguir pousar no chão. E foi difícil.

O rapaz pediu desculpa e eu reconhi a sua voz, ainda com o nariz respirando poeira de terra fria. Levantei-me com destreza e pousei os olhos num rapaz normal, em que o disfarce consistia apenas em uma camisa e um gorro branco de cozinheiro, onde se via a sombra de um rato. Foi o riso mais genuíno que soltei na minha vida. Ele estava vestido de Linguini, o rapaz desastrado que leva Remy, o rato escondido no chapéu, do filme de animação Ratatouille.

- O teu fato não é assustador - comentei automaticamente.

- Se tu conhecesses o meu rato, terias uma opinião diferente.

Dei uma gargalhada alta demais e ele riu também, mostrando-me o quanto era bonito.

- A tua fantasia é a melhor que vi esta noite - marcou um pequena pausa - Na verdade é a melhor que vi na vida. Extremamente realista.

- Obrigada - respondi. Sempre recebia bons elogios à minha fantasia. As pessoas só não sabiam que ela era tão boa porque não era fantasia.

- Eu sou o Ramon e tu? - perguntou.

- Imara.

Ele esbugalhou os olhos. Nunca havia escutado o meu nome. Era normal, tratava-se de um nome raro.

Sem rumo, a gente foi andando e falando como se não nos tivéssemos acabado de conhecer. Ele era muito interessante e eu muito interessada no que ele tinha para dizer. O único senão, era que de vez em quando, como que para completar a sua fantasia de Linguini, eu ouvia um chiado que parecia ouriundo de um rato zangado. Apesar de ele parecer ignorar e devo admitir que ele cumpria esse papel com maestria, eu notei vez ou outra que ele também ouvia o chiar e ficava perturbado, não admirado que nem eu. Bem antes de entrar-mos na tenda do circo dos horrores, o chiado soou bem mais forte e Ramon não conseguiu disfarçar que não ouvira e deu um grito, não de fúria, mas sim de medo, pânico. Eu conhecia a sensação.

Paramos os dois de andar. Ao nosso lado a família Adams entrou na tenda do circo sem parecer ouvir nada.

- O que se está a passar, Ramon? - perguntei, não podendo mais ignorar.

- Eu... mm. Não posso contar.

Eu soube que era verdade apenas olhando em seus olhos e vendo suas micro-expressões.

Eu peguei uma de suas mãos macias e ofereci meu acalento.

- Tu podes.

Ele sentiu o meu poder de encantamento percorrer desde a ponta de seus dedos até o seu corpo inteiro. Pegou meu punho e fomos para trás de tenda de circo, onde ninguém nos pudesse ver ou ouvir.

Quando pensei que ele fosse falar, ele tirou o seu telemóvel do bolso e escreveu de maneira muito rápida. Não falei. Entretanto ele virou o ecrã de seu telemóvel para mim, incentivando-me a pegar no objeto. Eu peguei e li:

"Se eu falar ele ouve-me." Olhei-o e voltei à leitura "Vesti-me assim porque foi a única maneira que encontrei de o disfarçar. Não sei o que ele é, mas ele apoderou-se de mim e não consigo me livrar. Ele alimenta-se da minha energia."

Eu olhei a cartola de cozinheiro e pisquei o olhos com o meu pensamento. Seria?

- Estás a falar do rato? - perguntei baixinho.

Ouvi um chiado.

Ramon abanou a cabeça para cima e para baixo. Tirou o telemóvel das minhas mãos e voltou a escrever. Ao terminar li "Um dia eu estava na floresta à procura de lenha, chateado pela minha tarefa, atirando pedras contra as árvores e partindo coisas, quando ele apareceu, puxou-me os cabelos, chiou bem forte e nunca mais me largou desde esse dia. Eu ignoro mesmo quando me puxa os cabelos, mas ele não pára".

Soube no momento do que se tratava. Lembrei-me de um texto escrito por um tal de José de Anchieta, que li há anos atrás. Aquilo que se atacara a Ramon e o atazanava era um curupira, não um rato, mas como explicar a um humano que um demónio indígeno se atacou a ele?

Fiz sinal com um dedo a Ramon e me afastei um pouco. Peguei no búzio em meu bolso e liguei para o meu pai que atendeu na hora.

- Pai, encontrei um rapaz que tem um curupira atazanando-lhe o juízo. Não o deixa em paz. O que posso fazer?

Talvez alguns parentes me dissessem para apenas pegar num bocado de madeira e dar uma paulada valente na cachola do curupira, mas não me parecia que atacá-lo com madeira fosse uma solução, por isso pedira a solução ao meu pai, ele sempre foi o ser mais sábio que alguma vez conheci.

Ao desligar o búzio, aproximei-me de Ramon que fazia uma careta de dor e o beijei na boca. Com a mão direita tirei o gorro de sua cabeça e pousei a mão naquele ser peludo, um pouco maior que um hamster. Como Ramon foi pego de surpresa, o curupira também foi. Não sabia se funcionaria, pois nunca tinha encantado um demónio, mas se havia hora de arriscar, aquele era o momento. O bicho peludo deixou-se adormecer e caiu nos cabelos macios de Ramon.

Ao mesmo tempo, eu e Ramon pensamos no mesmo. Em vez de levar-mos o demónio para a floresta, levaríamos para ali mesmo, para o circo dos horrores, talvez fosse o local certo para ele. Nem me apercebi que não contei a Ramon o que era aquilo, o que lhe aconteceu. De certa forma, ele parecia saber e eu não estava pronta para lhe abrir as portas de um mundo onde os seres místicos como eu, são reais.

Entramos na tenda do circo dos horrores, Ramon com o curupira nas mãos e nos aproximamos o máximo possível da cena do espetáculo. O objetivo era um dos integrantes do circo nos ver, pegar no demoniozinho e ficar com ele.

O espetáculo começou em cinco minutos, o curupira ainda dormia. O homem-cachorro apareceu e uivou o que acordou o curupira que cresceu uns quarenta centímetros e saltou em cena assustando o homem-cachorro que se tratava apenas de um homem com uma doença rara chamada de hipertricose. Pelo menos era o que parecia para os humanos. Vendo aquilo, o albino de olhos vermelhos que entraria a seguir a ele entrou em cena e apanhou o demónio, mas em sua aparência de um albino sem puderes nenhuns, não podia fazer nada. O curupira assobiou em vez de chiar para toda a plateia que o aplaudia e então estagnou. Ele não esperava por aquilo. Estava a ser aclamado pela primeira vez em sua vida. Ramon olhou para mim e eu para ele. Desta vez foi ele quem me beijou, de maneira genuinamente apaixonada e talvez o demoniozinho tenha visto, pois deitou a língua de fora fazendo um gesto de vómito com os dedos. O albino, senhor Lucas me acenou "Oi, Imara" disse apenas com os lábios.

- Fiodor, não o deixes escapar - pediu a seguir o senhor Lucas ao homem-cachorro.

- A gente armou-a bonita - disse-me Ramon.

- Na verdade eu acho que daqui a uns minutos o demoniozinho vai-se sentir em casa de tão aplaudido.

Com as minhas palavras ele piscou os olhos, assim como eu fazia quando algo me intrigava.

- É um curupira, n'é?

- Sim - eu disse.

- Sabes, ele podia estar aqui na minha cabeça a puxar-me os cabelos e a chiar que nem um louco, mas não conseguiu silenciar em momento algum o apelo de meu coração que a cada minuto se sentia mais atraído por ti. Não sei o que tens que me atrai tanto, não é essa maquilhagem extremamente bem feita que atua como disfarce ou as roupas simples de uma pessoa normal que te ficam a matar, é algo no teu sorriso que não sei explicar e esse brilho nos teus olhos que nunca vi em mais ninguém.

Nesse momento, como por ironia, os olhos que tinha comprado numas das barracas da feira caiem ao chão. Durante aquele pequeno momento eu esqueci que estava a acontecer muitas coisas na cena do circo, tendo como protagonista o curupira. Era uma criatura muita estranha, com os pés virados para trás e uma aparência quase humana neste momento. Uma criatura mística, ao contrário do que davam a entender estas criaturas do circo: Fiodor e senhor Lucas, a mulher barbuda e até mesmo as siamesas Maisy e Nisset e porém tão esquisito quanto. O dono do circo é um ser imortal, eu sei disso porque ele jogava tabuleiro com o meu avô quando o meu avô era jovem e o dono do circo estava igual a hoje em dia. Portanto, eu sempre soube que eram criaturas disfarçados de humanos com doenças raras. Era que nem uma imitação dos circos de horrores antigos, mas não eram bem assim.

O curupira pegou nos olhos e lançou ao senhor Trindade, o dono do circo, o amigo do meu avô, que pegou nos olhos e olhou para mim. "Imara" falou ele em tom altivo.

Olhando a minha cara, levou as mãos à boca, ele nunca me tinha visto na minha verdadeira aparência e isso o chocou. Aliás, assustou-o. De certo esqueceu-se que era halloween e correu até mim a uma velocidade avassaladora, que nem o Flash e me tirou do lado de Ramon. Saiu da tenda e me levou até à ribeira que passava atrás do parque de diversões.

- Imara? Porque estás assim?

- Porque é halloween, senhor Trindade. No Halloween eu posso andar com a minha pele verdadeira que ninguém desconfia. As pessoas pensam que é maquilhagem. Não acredito que o senhor fez isto. O Ramon vai desconfiar... O Ramon... aff, senhor Trindade. Você também tem seus dentes à mostra. Me leve de volta.

Apenas pedi para que me levasse porque ele conseguia correr a mais de 180km à hora e seria bem mais rápido do que eu ir sozinha, mas quando o senhor Trindade me pegou ao colo, eu vi o Ramon a correr até nós e o homem pousou-me e deixou-me sozinha. Quando o Ramon me alcançou, meteu as suas mãos na água da ribeira e sem eu estar à espera, colocou-as em meu rosto e deslizou-as até o meu pescoço e até abaixo ao tórax. A minha pele verdadeira via-se em toda essa parte que não tinha roupa. Esfregou as mãos sem fazer muita força e viu que a cor verde azulada brilhante não saiu minimamente. Pensei que fosse recuar, mas beijou-me outra vez.

- Não é um disfarçe. Não é maquilhagem.

Qual foi a minha admiração na sua ausência de medo perante sua própria afirmação.

- Não é - reafirmei.

Ele beijou-me na boca mais uma vez.

- És a pessoa mais linda que vi em toda a minha vida.

O meu coração encheu-se de alegria. Eu nunca ouvira tal coisa. Eu sempre me achara uma aberração para os humanos, mas não era para aquele humano que se fantasiara de Liguini por causa de um curupira. Aquele foi o momento mais feliz de toda a minha vida, seguido do momento em que me disse as palavras doces que dissera na tenda de circo.

- Obrigada. Não tens medo?

- Eu? Medo? No mínimo, terias tu medo de mim, um humano desprezível que deu pontapés em árvores e armou a algazarra na floresta a ponto de ter um curupira no meu pé. Bem, na minha cabeça.

- Toda a gente tem o seu momento de parvoíce. Eu por exemplo fui ler a sina como todos os anos, sem nunca ter acreditado em destino pré-concebido.

- O que a Danúsia te disse?

Toda a gente devia saber o nome da cigana do parque.

- Que brevemente iria conhecer alguém e me apaixonaria.

- Interpretação fixe* e bastante precisa do que ela leu na tua sina - disse sorrindo.

- Eu sei. Eu sei ler nas entrelinhas.

- A Danúsia é a minha tia, Imara.

Fiquei admirada. Pensei que a caixa de supresas desta história fosse eu, mas afinal...

- Faz sentido - disse eu, pensado na origem cigana do nome Ramon - Eu sou uma nixia. Uma melusina para os humanos.

- Aposto que és a nixia mais bonita que alguma vez existiu, para além de uma nixia que adora isto - apontou para o parque de diversões do Halloween.

- Não sei, mas tenho a certeza de uma coisa.

- Do quê?

- Que sou a tua nixia. Que és o meu destino.

~~~Fim~~~

2996 palavras

Fixe* - legal

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