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Joseph,
Hoje, enquanto caminhava por um campo de girassóis, minha mente vagou para os dias de nossa infância, quando éramos inseparáveis. A alegria e a luz dessas flores me lembraram de você, irradiando calor mesmo nos dias mais sombrios.
Queria saber como a senhora Hasper está. Sua presença ainda traz à mente memórias calorosas e reconfortantes. Ela sempre foi como uma avó para nós, não é mesmo?
Sobre Petter, algo parece fora do lugar. Tenho sentido que há algo que não me contaram, ou talvez algo que ele não consiga expressar. Mas prefiro não me aprofundar nisso agora, a mente pode ser uma armadilha de pensamentos incertos.
Hoje marca o início de um novo capítulo, o primeiro dia de aula em um mar de muitos outros. Estou repleta de uma mistura de nervosismo e expectativa. Quem sabe o que o destino nos reserva? Espero ansiosamente por novos rostos, novas histórias, novas conexões. Talvez até mesmo a oportunidade de mudar um pouco os ares, como dizem.
Peço desculpas por minha ausência nas cartas recentes. Alguns desafios têm cruzado meu caminho, mas saiba que você está sempre em meus pensamentos, mesmo nos momentos mais atribulados.
Até logo, Joseph.
Mallory Brooklin -
26/07/2002
O tempo passa depressa, sussurrava a consciência de Joseph, enquanto ele contemplava a carta de Mallory, que trazia as notícias que ele já temia. Ela começara a namorar um garoto chamado Petter. Era como se uma pequena parte de seu mundo tivesse mudado subitamente, tirando-o da inércia confortável de sua rotina.
Tudo estava saindo de sua zona de conforto, e Joseph se sentia como um espectador impotente diante dessa mudança. O que ele poderia fazer? Sentar-se e esperar que tudo se resolvesse a seu favor no futuro? Parecia uma opção, mas também uma resignação dolorosa.
Um longo suspiro de descontentamento escapou de seus lábios enquanto ele se levantava e caminhava em direção à estante, onde guardaria a carta amarela. Era como se ele estivesse guardando também um pedaço de suas lembranças, preservando aquele momento de dor e incerteza.
A voz suave de sua mãe rompeu o silêncio, trazendo-o de volta à realidade. Ela estava parada à porta, segurando uma bandeja com algumas torradas, geleia e um suco de laranja. Seus cabelos continham alguns fios brancos, desgrenhados pela rotina matinal. Vestia uma saia xadrez e uma blusa de manga comprida, complementada por uma pantufa de panda.
Ao vê-lo, seu olhar maternal transbordava preocupação e carinho. Era como se ela pudesse sentir a tempestade emocional que assolava seu filho, mesmo sem palavras.
— Joseph, trouxe um lanche para você — disse sua mãe, aproximando-se com uma bandeja. Joseph virou-se e sentou na cama, aguardando o afeto reconfortante de sua mãe. Ela colocou a bandeja na mesa de estudos do outro lado do quarto antes de continuar: — Você não desceu para comer hoje. O que houve? — Sua voz carregava uma mistura de preocupação e compreensão, enquanto ela se aproximava de Joseph com seu olhar materno.
As mãos suaves de sua mãe encontraram seu cabelo, fazendo um cafuné que trouxe um conforto bem-vindo. Percebendo que Joseph estava em silêncio, ela respeitou seu espaço, soltando um suspiro resignado antes de se sentar ao lado dele. Juntos, mãe e filho encaravam a parede azul descascada no canto, como se buscassem conforto na familiaridade do ambiente.
A mãe de Joseph era mãe solteira, uma figura forte que enfrentou desafios desde cedo. O pai de Joseph falecera quando ele tinha apenas três anos, deixando para trás uma lacuna que nunca poderia ser preenchida. Seu legado era mais sentido nos momentos de silêncio, quando as lembranças eram mais palpáveis do que nunca.
— Sabe, filho... Você e Mallory são amigos de infância, e estou ciente de que ela foi seu primeiro amor — continuou a mãe, sua voz carregada de uma serenidade que contrastava com a gravidade das palavras — mas acho que seria melhor esquecer isso. Eu sou sua mãe e sua conselheira. Já passou da fase de eu decidir o melhor para você, agora só posso te aconselhar.
As palavras da mãe ecoaram como um toque de realidade para Joseph. Ele sentiu uma mistura de desconforto e resignação ao encarar a verdade que estava diante dele. Era hora de aceitar que certas partes de sua vida estavam mudando, mesmo que isso fosse doloroso.
— Obrigado, mãe — respondeu Joseph, sua voz embargada pelo peso das circunstâncias. Ele percebeu que era hora de seguir em frente, por mais difícil que fosse. Ao ver o olhar preocupado nos olhos de sua mãe, ele sentiu uma pontada de preocupação discreta, sabendo que ela estava tentando protegê-lo do que considerava inevitável.
Vendo o silêncio que ocupava o local, a mãe de Joseph se retirou, encostando a porta devagar. Tudo muda, não é mesmo? Pensou Joseph, enquanto a quietude da sala parecia ecoar suas reflexões. As coisas podem continuar parecidas, mas elas mudam, mesmo que seja um pouco. É inevitável. O ambiente ao seu redor parecia estar impregnado de uma atmosfera de transformação, como se o tempo estivesse marcando silenciosamente o início de uma nova fase em sua vida.
Mallory havia ido embora, deixando um vazio que Joseph agora sentia mais intensamente. O espaço ao seu lado na sala de aula parecia mais vazio, e o corredor da escola, antes tão animado com as brincadeiras e risadas de seus amigos, agora parecia mais silencioso e solitário.
Frost e Jack eram amigos de Joseph, mas não era a mesma coisa que Mallory e Augusto. Mallory era seu primeiro amor, e Augusto seu melhor amigo. Certamente, faziam falta. Ele caminhou até a mesa de estudos e pegou seu lanche, que estava solitário sobre a bandeja. Não tinha Augusto com suas risadas escandalosas por perto para compartilhar aquele momento. Tá! Isso é estranho, pensou, percebendo o quão acostumado estava com a presença animada de seu amigo.
Após a conversa com sua mãe, Joseph sentiu a necessidade de buscar algum consolo em um lugar que sempre lhe trouxera conforto: a sorveteria do senhor Osvaldo.
Ao entrar, foi recebido pelo caloroso cumprimento do senhor Osvaldo, o proprietário do estabelecimento que evocava uma série de lembranças em Joseph.
— Olá, Joseph — disse o senhor Osvaldo com um sorriso acolhedor, enquanto Joseph escolhia uma mesa no canto aconchegante da sorveteria.
— Olá... — murmurou Joseph em resposta, sentando-se e fazendo seu pedido sem muita demora: um sorvete de chocolate, sua escolha reconfortante em meio às turbulências emocionais.
Por alguns segundos, Joseph pôde testemunhar a efervescência da juventude enquanto três crianças corriam pela sorveteria, suas vozes cheias de empolgação pedindo sorvete de chocolate com uma profusão de granulado e generosas doses de calda de caramelo. Observando-as, ele se viu imerso em suas próprias lembranças, transportado para tempos mais simples e despreocupados.
As imagens de uma menina loira e rechonchuda, acompanhada por um garoto baixinho e um pouco desajeitado, correndo pelo local, trouxeram um sorriso nostálgico aos lábios de Joseph. Ele podia quase sentir a alegria contagiante da infância, o calor do sol banhando um campo de girassóis enquanto saboreavam seus sorvetes, as risadas ecoando pelo ar.
A melancolia da nostalgia preenchia seu coração, envolvendo-o em uma aura de suave melancolia e ternura. As lembranças simples, mas preciosas, da sua infância pareciam tão vívidas, tão reais naquele momento.
Os devaneios de Joseph foram abruptamente interrompidos pelo som reconfortante da taça de sorvete sendo gentilmente colocada sobre a mesa. Era um lembrete sutil de que, embora o passado pudesse ser uma fonte de conforto, a vida continuava, movendo-se inexoravelmente para frente.
Saboreando a primeira colherada do sorvete, Joseph percebeu que aquele local ainda era capaz de despertar uma sensação de nostalgia em seu coração. Talvez fosse hora de seguir o conselho de sua mãe e deixar para trás tudo o que já passou. Certamente, isso poderia trazer algum alívio, embora a tarefa não fosse simples. Afinal, a vida não é fácil. Mesmo que você lute e se esforce incansavelmente, a jornada continua repleta de obstáculos e desafios. É como se derramar litros de suor fosse apenas uma pequena parte do processo, uma realidade que Joseph encarava com resignação, sabendo que, no fim das contas, a vida não oferece garantias de facilidade.
Passaram-se algumas horas desde que Joseph deixou a sorveteria do senhor Osvaldo, imerso em seus pensamentos sobre o passado e as palavras sábias de sua mãe. Enquanto o sol lentamente se punha lá fora, ele percorreu as ruas conhecidas de sua cidade, perdido em seus devaneios. O crepúsculo lançava uma luz suave sobre os prédios e árvores, criando uma atmosfera tranquila e serena.
Finalmente, ao chegar em casa, Joseph subiu as escadas com um peso sutil em seu coração, refletindo sobre as escolhas que tinha diante de si. Sua mente oscilava entre os momentos nostálgicos na sorveteria e as perspectivas incertas do futuro. No entanto, ele sabia que era hora de seguir em frente, mesmo que isso significasse deixar para trás as lembranças queridas.
Ao adentrar seu quarto, o ambiente silencioso e familiar o envolveu, convidando-o a se entregar a mais um momento de reflexão. Deitado em sua cama, com o olhar perdido no teto branco, Joseph mergulhou novamente em suas lembranças, enquanto o tempo fluía inexoravelmente ao seu redor.
Joseph levantou-se da cama com um suspiro cansado, sentindo o peso das preocupações que habitavam sua mente. Lentamente, ele se dirigiu à janela e contemplou a vista noturna da cidade lá fora, as luzes piscando como estrelas distantes no horizonte.
Enquanto se preparava para dormir, os pensamentos continuavam a girar em sua cabeça, como um turbilhão de emoções conflitantes. Ele se perguntava se estava tomando as decisões certas, se poderia ter feito algo diferente para evitar a solidão que o envolvia agora.
Deitando-se na cama, Joseph tentou afastar os pensamentos intrusivos, concentrando-se em encontrar algum conforto na escuridão reconfortante do quarto. Mas, apesar de seus esforços, sua mente continuava a vagar por caminhos tortuosos, explorando os recantos mais sombrios de suas preocupações.
Finalmente, a exaustão o envolveu como um manto, e Joseph cedeu ao sono, esperando que, mesmo que por apenas algumas horas, pudesse escapar das angústias que o assombravam e encontrar um pouco de paz na escuridão da noite.
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