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Oi Joseph,
Adivinha? O Peter me chamou pra sair! Ele me levou de volta à loja de pudins onde nos conhecemos. Foi tão nostálgico e emocionante. Comi oito pudins, você acredita? Oito pudins! Ele me chamou de "louca do pudim", igual ao que o Augusto costumava me chamar. Não pude deixar de rir. Estou tão feliz, Joseph. É como se cada mordida me levasse de volta aos dias mais simples e doces da nossa infância.
Papai e mamãe também ficaram felizes por mim. Papai resistiu um pouco em me deixar ir, mas logo cedeu, percebendo o quanto isso significava para mim. Foi um gesto tão protetor e amoroso, típico dele.
E você, como está? Espero que esteja bem. Me contaram que nada de namorar por agora, o que acho justo. Mas e você, conheceu alguém especial? Espero que sim, você merece toda a felicidade do mundo.
As coisas por aqui estão indo bem, apesar de eu ter tido algumas viroses. Nada muito sério, mas vou começar a fazer exames só para garantir. Tudo aponta que é apenas virose, então estou tranquila.
Sinto sua falta. Espero que possamos nos encontrar em breve e compartilhar mais dessas pequenas, mas preciosas, aventuras da vida.
Abraços calorosos,
Mallory Brooklin —
21-04-2002
Uma dor apertou o seu peito, uma sensação de opressão que parecia sufocá-lo lentamente. Por qual motivo ele sentiu aquele medo de perder? Mallory não era dele, e provavelmente nunca seria, mas ainda assim, por que doía tanto? Seus pensamentos dançavam em uma confusão turva, como se estivesse preso em um labirinto de emoções indescritíveis.
Talvez fosse coisa da adolescência, como tantas vezes sua mãe mencionara, aquelas paixões fugazes, intensas e passageiras, acompanhadas de ciúmes e incertezas. Mas era mais do que isso, algo mais profundo, mais visceral. Era como se um pedaço dele estivesse sendo arrancado, lentamente, a cada pensamento intrusivo sobre Mallory.
Ele sabia que não era só isso, mas o que poderia fazer? Ele estava longe de Mallory, distante não apenas em quilômetros, mas em um abismo emocional que parecia intransponível. Não tinha como lutar por ela, não podia invadir sua vida com suas próprias angústias e desejos. E ele não poderia obrigá-la a gostar dele, não seria justo, não seria digno. Isso seria sujo, como um ato de desespero que mancharia o que quer que tivessem construído até então.
O ar ao seu redor parecia pesar, cada respiração era um esforço, um lembrete doloroso de sua própria impotência diante dos caprichos do destino. Ele fechou os olhos por um momento, tentando encontrar algum tipo de consolo na escuridão atrás das pálpebras. Mas tudo o que encontrou foi um vazio doloroso, uma ausência de esperança.
Soltando um suspiro que carregava o peso de sua frustração, Joseph guardou a carta com gestos bruscos, suas mãos tremiam levemente, revelando a turbulência de seus pensamentos. O papel amassado parecia refletir seu estado de espírito, marcado por uma mistura de ansiedade e desânimo. Com a mochila pesando em seus ombros, ele deixou o conforto de sua casa e se deparou com a figura de Augusto à porta, como sempre presente, como uma sombra insistente em seu cotidiano.
Encarando-o com um misto de deboche e resignação, Joseph conteve a vontade de lançar um comentário sarcástico sobre a constante companhia de Augusto. O garoto de olhos caramelos e alegres, permaneceu ali, com seu sorriso característico estampado no rosto, como se fosse uma marca indelével de sua personalidade.
Deram alguns passos para fora da varanda, cujas tábuas rangiam sob o peso de seus pés. Havia sido reformada há alguns meses, mas o brilho da novidade já havia se dissipado, deixando para trás apenas um verniz desbotado pelo tempo. Uma voz rouca e cansada irrompeu o silêncio, arrancando Joseph de seus devaneios. Seus olhos percorreram o jardim, com uma expressão de desinteresse, até parar na cerca de madeira, onde se destacava a figura familiar da senhora Hasper.
A voz da pequena senhora irrompeu no ar tranquilo do final da tarde, vibrante e cheia de vida, como um sino tocando em um campo silencioso.
—JASPER! JASPER! — o chamado ressoou, despertando Joseph de seus pensamentos emaranhados. Seu nome não era Jasper, mas a familiaridade daquele apelido o envolveu como uma manta confortável em uma noite fria de inverno. Ele não sentiu vontade de corrigir a pequena senhora com seus fios de cabelo branco, que lembravam a figura aconchegante de uma Mamãe Noel em um conto de fadas.
Com um sorriso gentil que mal alcançou seus olhos, Joseph se aproximou da cerca onde a senhora Hasper estava. Augusto o seguia de perto, sua presença silenciosa ecoando a calma que envolvia aquele momento.
— Hallo Frau Hasper! — Joseph saudou a senhora com uma mistura de reverência e familiaridade, recordando os dias ensolarados de sua infância passados sob seus cuidados. Ele podia sentir o aroma doce dos doces que ela costumava oferecer, como pequenos tesouros de açúcar em um mundo de incertezas.
Os olhos da senhora Hasper se iluminaram ao ouvir a saudação em seu idioma natal, como se uma chama tênue tivesse sido reacendida dentro dela. Ela era como uma guardiã dos segredos do passado, uma testemunha silenciosa de todas as mudanças que ocorreram ao longo dos anos.
— Olá menino Jasper, sua mãe está? Ela havia pedido uma coisa e já chegou — sua voz era suave e melodiosa, carregada com a ternura de uma avó preocupada com o bem-estar de sua família.
— Sim — respondeu Joseph, um lampejo de curiosidade atravessando seus pensamentos enquanto se perguntava o que sua mãe havia comprado. Mas antes que pudesse formular a pergunta em palavras, o som distante do ônibus se aproximando invadiu sua consciência, dissipando qualquer pensamento que não estivesse relacionado à sua iminente partida.
Despedindo-se rapidamente da pequena senhora, Joseph deu as costas à cerca de madeira, sua mente já focada no objetivo de alcançar o ônibus a tempo. O pequeno portão de ferro branco descascado rangeu suavemente sob seu peso, como se protestasse contra a sua pressa. Augusto seguia atrás, uma presença constante e reconfortante em meio à agitação do momento.
Enquanto se aproximavam do meio-fio onde o ônibus iria parar, o sol lançava seus últimos raios dourados sobre a rua tranquila, pintando tudo com tons de ouro e âmbar. O ônibus amarelo, com suas janelas empoeiradas e a buzina estridente, surgiu diante deles como um gigante adormecido despertando de seu sono.
Enquanto o ônibus se afastava lentamente da calçada, Joseph e Augusto permaneciam em silêncio, perdidos em seus próprios pensamentos. A paisagem urbana que passava pela janela parecia desbotada e sem vida, refletindo o vazio que se instalara dentro deles. Cada prédio, cada rua, cada árvore que se aproximava e se afastava parecia apenas uma paisagem sem significado, sem despertar qualquer emoção ou interesse.
Assim que desceram do ônibus, Joseph e Augusto adentraram o imponente colégio, onde o burburinho dos estudantes preenchia o ar. O zumbido constante das vozes ecoava pelos corredores, criando uma atmosfera agitada e caótica que deixava Joseph incomodado. Lugares movimentados e cheios de gente nunca foram seu forte, e aquele colégio parecia apenas amplificar sua aversão à multidão.
Diante dos armários, uma fileira desgastada e desbotada de cores mórbidas, eles pararam. Com um gesto prático, Joseph abriu o seu, depositando a mochila ali dentro e retirando apenas o necessário. Seus movimentos eram precisos, eficientes, refletindo a determinação de alguém acostumado com a rotina escolar.
Augusto o observava atentamente enquanto Joseph finalmente pegava seu MP3, um pequeno refúgio de música em meio ao caos do colégio. Para Joseph, a música era mais do que uma simples trilha sonora; era uma necessidade, uma forma de escapar temporariamente do mundo ao seu redor.
Os olhares se cruzaram por um breve momento, uma troca silenciosa de entendimento entre amigos de longa data. Augusto sabia o quão importante era a música para Joseph, assim como Joseph compreendia a necessidade de Augusto de se expressar através de suas poses e gestos extravagantes.
— Que matéria você tem agora? — Augusto indagou, fechando seu armário e se apoiando nele com uma pose estranha. Joseph não pôde deixar de se perguntar se ele estava tentando ser sexy. "Ele é horrível nisso," pensou, soltando um riso abafado enquanto ignorava a tentativa do amigo.
— Tenho aula com a senhora Carpel. Não tenho ido muito bem em suas aulas, preciso me esforçar mais — respondeu Joseph, sem muito entusiasmo. Enquanto caminhavam pelo corredor largo, cheio de pelo menos uma dezena de pessoas, Joseph percebeu Augusto seguindo-o atrás. Ele não poderia se gabar de ser um bom estudante, mas sempre fazia o seu melhor. Raramente tirava notas baixas, e quando o fazia, estava quase sempre relacionado à geografia ou matemática. Seu senso para exatas não era dos melhores, e essa era a desculpa que ele costumava usar consigo mesmo quando sua nota era abaixo do esperado.
Joseph e Augusto seguiram pelo corredor movimentado em direção às salas de aula, cada um imerso em seus próprios pensamentos. O barulho das conversas dos outros estudantes parecia se misturar em uma cacofonia indistinta, enquanto eles avançavam pelo labirinto de corredores.
Sem a mochila pesada em seus ombros, Joseph parecia mais leve, quase desinteressado, com apenas alguns livros em mãos. Ele arrastava os pés pelo chão, demonstrando um certo cansaço antecipado pela rotina escolar que sequer havia começado.
Augusto, ao seu lado, mantinha o mesmo sorriso descontraído e extrovertido, observando os colegas passarem por eles com um ar de indiferença, mesmo quando os cumprimentava. Seu jeito relaxado contrastava com a postura indiferente e apática de Joseph, que se esforçava para manter o foco em sua jornada até a sala de aula,que parecia mais um desafio de vida ou morte graças ao mutirão de alunos decidindo se iriam preservar seu futuro e ir pra aula, ou matar aula em algum lugar sinistro, porém divertido.
Enquanto se aproximavam da porta da sala de aula da Senhora Carpel, Joseph sentiu um leve nó se formar em seu estômago. Ele sabia que precisava melhorar seu desempenho naquela disciplina, mas a perspectiva de mais uma aula difícil não era exatamente animadora, e a Senhora Carpel, ele tinha que admitir, lhe dava um pouco de pavor.
Augusto lançou-lhe um olhar encorajador, como se soubesse o que estava passando pela mente de Joseph. Com um aceno de cabeça, ele sinalizou seu apoio silencioso, lembrando-lhe que não estava sozinho naquele barco.
Quando entraram na sala, poucas pessoas se deram ao trabalho de virar o rosto para observar quem havia chegado. A sala de aula, antiga e sem qualquer traço de sofisticação, parecia refletir o tédio de seus ocupantes. As paredes, descascadas e de um azul mórbido, emanavam uma sensação de abandono. A pintura descascada revelava camadas de cores passadas, como se a história da escola estivesse escrita em suas cicatrizes. A porta, de um azul escuro meio cinzento, completava o cenário desolador. Aquele ambiente sombrio, de alguma forma, era reconfortante para Joseph, talvez porque refletisse seu próprio estado de espírito.
O vidro estreito na porta da sala estava quebrado, consequência de uma briga entre garotos que fugiu do controle. Estilhaços ainda permaneciam em sua moldura, um lembrete permanente do caos que podia surgir a qualquer momento. Augusto se dirigiu à garota ruiva sentada em cima da mesa, ao lado do garoto com black power que Joseph secretamente admirava. Eles viraram o rosto em direção a Joseph e Augusto em perfeita sincronia, como bonecos animados por um mesmo fio invisível, o que fez um calafrio percorrer a espinha de Augusto e deixou Joseph igualmente desconfortável.
Jack, o garoto com enormes óculos fundos de garrafa e cabelos castanhos em um black power impressionante, era uma figura marcante. Seus óculos refletiam a luz fluorescente de um jeito peculiar, quase hipnotizante. Ao seu lado, Frost, a garota ruiva, usava calças compridas com algumas mechas roxas no cabelo, que contrastavam vivamente com sua pele pálida. Ela não era feia nem marrenta, como muitas garotas estereotipadas nos filmes. Na opinião de Joseph, ela tinha uma aparência autêntica e intrigante, uma rebeldia contida que se manifestava em pequenos detalhes.
Joseph colocou seu livro na mesa, virando a cadeira de costas para ambos de modo a ficar virado para eles. Ele soltou um sorriso discreto enquanto observava Augusto, que estava em pé à procura de uma cadeira. A sala estava impregnada de uma sensação de rotina imutável, como se cada movimento já estivesse previsto no grande livro do destino escolar.
— Recebeu carta da Lory? — perguntou Frost, sua voz atravessando a sala com uma curiosidade genuína. Eles conheciam Lory, mesmo não sendo próximos ao ponto de melhores amigos, e ambos também sabiam sobre a paixão de Joseph, coisa que esse ser de cabelos cacheados não conseguia esconder. Às vezes, Frost se questionava de onde surgiu um amigo tão apaixonado. Algumas vezes sentia um pouco de agonia, não entendia o sentimento amor e não pretendia entender.
Joseph suspirou, sentindo o peso da pergunta. Ele levantou os olhos para encontrar o olhar inquisitivo de Frost, que aguardava pacientemente sua resposta. — Ela saiu com um cara chamado Petter — respondeu desanimado, sua voz carregada de uma mistura de frustração e irritação. Ele sabia que não tinha motivos para estar irritado, mas mesmo assim não conseguia evitar esse sentimento que corroía seu interior.
Frost e Jack o olharam com pena, fazendo-o se sentir profundamente incomodado. Ninguém gostava de ser encarado com pena. Era como se eles estivessem vendo através de sua fachada, expondo sua vulnerabilidade ao mundo. Como sua mãe costumava dizer: "Se for pra ter pena, é melhor oferecer a galinha inteira." Joseph sentiu vontade de mandá-los parar de olhar assim, pois era angustiante. Até ele estava começando a sentir pena de si próprio.
— ACHEI!! — A voz de Augusto rompeu o silêncio constrangedor, ocupando a sala por alguns minutos. O garoto, que há pouco tempo estava sendo ignorado, se aproximou com uma cadeira na mão, seu rosto iluminado por uma expressão de triunfo. Ele soltou um bufo em seguida, ao ouvir o som de giz riscando o quadro, anunciando que era hora de voltar para seus lugares.
Joseph observou Augusto por um momento, uma sensação de alívio misturada com resignação passando por ele. Mesmo que o ambiente da sala fosse desolador e os olhares de seus amigos penetrantes, havia um certo conforto na rotina diária. O som familiar do giz e o murmúrio constante dos colegas de classe criavam uma espécie de normalidade, algo em que se agarrar em meio às suas emoções turbulentas.
Joseph observava distraidamente pela janela, seus pensamentos vagando enquanto o tempo parecia se arrastar. Era exatamente 15:20. Ele e Augusto haviam almoçado em casa e agora estavam na escola, onde ficariam até as 20:25. A rotina era exaustiva e repetitiva. Era chato? Sem dúvida. Mas Joseph não tinha muita opção. A ideia de matar aula nunca passava pela sua cabeça, pois sabia que decepcionar sua mãe era algo que ele simplesmente não suportaria.
Para Joseph, sua mãe era muito mais do que apenas uma figura materna. Ela era sua base, seu alicerce, a rocha sólida sobre a qual sua vida estava construída. Não suportaria decepcioná-la ou machucá-la nem com uma flor. Cada decisão que tomava, cada passo que dava, era cuidadosamente medido para garantir que ela se orgulhasse dele. A lembrança constante de todo o sacrifício e amor que ela dedicou a ele desde a morte de seu pai era um farol guiando suas ações.
Sua mãe o criara sozinha, enfrentando dificuldades inimagináveis com uma força e resiliência que Joseph só podia admirar. Ele se lembrava das noites em que ela trabalhava até tarde, das vezes em que ela sacrificava suas próprias necessidades para garantir que ele tivesse o que precisava. O respeito que sentia por ela era profundo e inabalável. Era uma reverência que ia além do mero amor filial; era uma admiração por sua coragem, seu espírito indomável, e sua capacidade de amar incondicionalmente.
Enquanto esses pensamentos se desenrolavam em sua mente, Joseph sentiu uma onda de gratidão misturada com um leve toque de tristeza. Sabia que, apesar de todas as dificuldades, tinha a sorte de ter uma mãe tão dedicada e amorosa. E era essa gratidão que o mantinha firme, que o fazia seguir em frente mesmo quando a rotina escolar parecia insuportavelmente tediosa. Para ele, cada dia na escola, cada prova enfrentada, era uma pequena retribuição ao imenso amor e sacrifício de sua mãe.
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E quando menos percebeu, Joseph já estava na terceira aula do dia. Ele caminhou pelos corredores largos e cheios de vida da escola, sentindo o piso frio sob seus pés enquanto o eco dos passos ressoava pelo espaço. Chegando à sua próxima sala, notou que ela não era tão diferente da anterior: simples, funcional, mas sem grande charme. A diferença era que agora apenas Jack o acompanhava nesta aula, que para Joseph era verdadeiramente maravilhosa, sem um pingo de ironia. As aulas do senhor Carson eram suas preferidas, repletas de discussões filosóficas e reflexões que tocavam profundamente seu cotidiano.
O senhor Carson era um homem de meia-idade, na casa dos cinquenta e sete anos, com um físico robusto e uma barba que sempre parecia estar por fazer. Apesar de sua idade, havia uma vitalidade jovial em seu comportamento. Sempre tinha algo profundo e intrigante a dizer, uma característica que Joseph admirava. No entanto, Carson tinha a irritante mania de ajustar constantemente seus óculos quadrados, um gesto que Joseph achava ao mesmo tempo exasperante e carinhosamente familiar.
Ao entrar na sala, Joseph escolheu um assento perto da janela. O vidro estava ligeiramente embaçado pelo clima lá fora, proporcionando uma vista difusa do pátio. Os olhos do senhor Carson seguiram Joseph, e ele ajustou seus óculos em um gesto que parecia uma provocação, mas Joseph sabia que era apenas uma brincadeira. Carson conhecia bem a agonia de Joseph em relação àquele hábito, e aproveitava qualquer oportunidade para provocá-lo de forma amigável.
O senhor Carson se aproximou da mesa, apoiando-se nela com a confiança de alguém que conhecia profundamente cada canto daquela sala. Seu olhar percorria a turma com um misto de autoridade e afeto. Ele estava ali havia uns nove anos, e conhecia Joseph desde que este ingressou no ensino médio. Havia uma familiaridade reconfortante na presença de Carson, algo que fazia Joseph se sentir compreendido e motivado.
— O tempo é uma ilusão caprichosa: hoje pode parecer tarde demais, amanhã, cedo demais. Mas no fundo, é o medo que nos aprisiona — o medo de palavras moldadas pelos outros, de sentimentos que parecem surgir do nada. Somos humanos, criaturas inevitavelmente ligadas por emoções profundas e incontornáveis. Gostaria de convidá-los hoje a mergulhar na essência do sentimento humano, essa força estranha e poderosa que nos define. — Seu olhar repousou novamente em Joseph, com uma intensidade que parecia atravessar a alma. — Durante esta semana, vamos explorar juntos essa complexidade — disse, enquanto se virava e começava a traçar palavras no quadro com uma caligrafia serena e segura.
Joseph começou a rabiscar no papel, deixando que seu coração guiasse a caneta. As palavras que surgiam eram simples de ler, mas complexas de sentir. Ele não podia deixar de achar que o professor Carson era meio maluquinho. Os trabalhos que ele passava eram aleatórios e quase sem sentido algum.
Mas essa aleatoriedade era fascinante. O senhor Carson tinha o dom de limpar as mentes dos alunos, abrindo espaço para a imaginação fluir livremente. Joseph tinha certeza de que, no dia em que esse querido professor se aposentasse, muitos alunos ficariam desolados, e ele seria um deles.
Durante as aulas, Joseph frequentemente se pegava perdido em pensamentos, imaginando o que se passava na mente excêntrica do senhor Carson. "O que se passa na cabeça desse velho senhor?" era uma pergunta que ressoava em sua mente com frequência.
De repente, como se tivesse lido seus pensamentos, o senhor Carson olhou diretamente para ele.
— É isso que está pensando, não é, Joseph? — perguntou, um sorriso brincando nos lábios enquanto ajeitava seus óculos quadrados. A turma explodiu em risadas.
Joseph sentiu o rosto corar enquanto tentava se justificar.
— Ah, desculpe, professor. Só estava refletindo sobre o... tema da aula — disse, tentando parecer convincente.
O senhor Carson soltou uma risada calorosa, o tipo de risada que fazia os alunos se sentirem à vontade.
— Refletindo, hein? — ele replicou com um brilho nos olhos. — Pois continue refletindo, Joseph. Quem sabe você não encontra a resposta para o maior mistério da vida: por que os óculos sempre escorregam do nariz?
A turma riu novamente, e Joseph sorriu, apreciando o humor do professor.
Enquanto o senhor Carson voltava a escrever no quadro, Joseph não pôde deixar de pensar em como aquele homem, com todas as suas excentricidades, tinha a capacidade de tornar qualquer aula interessante. A sala, que antes parecia um lugar de pura monotonia, se transformava em um espaço vibrante e cheio de vida sob a orientação do senhor Carson.
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