CAPÍTULO 6
Não vi mais Artur durante toda a semana, mas acabamos trocando mensagens todos os dias. Eu contava a ele sobre mim, sobre as histórias que lia, sobre minhas aventuras com Lilian. Ele me falava sobre ele, sobre seu dia-a-dia no castelo e por fim, ele me dizia um pouco sobre como seriam as coisas quando eu assumisse meu posto.
Depois de uns três dias percebi que a visão que tinha de Artur era totalmente errada. Acabei contando a ele que me respondeu dizendo que isso acontecia mais do que eu imaginava. Que a imprensa tentava colocar as coisas de maneira que ficassem "mais interessantes".
Sábado amanheceu ensolarado e me causou uma tremenda preguiça para levantar da cama, mesmo assim, me arrastando, me levantei e segui em direção ao banheiro.
Tomado banho e mais desperta, me arrumei, tomei meu café e quando o relógio apontou onze horas, um motorista apareceu para me buscar.
Agora, dentro do carro, meu coração salta acelerado em meu peito; minhas mãos estão suadas e minha perna ganhou um leve tique nervoso. Ela simplesmente não para.
O caminho todo durou em torno de uma hora. Eu nunca achei muito boa essa proximidade com o castelo, mas hoje foi de grande ajuda.
Não sei se ficaria sã se durasse mais tempo.
Logo vi os enormes portões gradeados que sinalizavam a entrada do suntuoso lugar que habita a família real. O motorista parou um instante, acredito para que o carro fosse autorizado, depois seguiu por um caminho de cascalho até a lateral do lugar.
Estranhei para onde íamos.
- Muitos olhares curiosos. - O motorista dizia parecendo ler meus pensamentos.
Seguimos até o carro entrar em uma garagem e descer um nível. Um espaço subterrâneo onde haviam alguns veículos estacionados.
O motorista parou em uma das vagas e, após sair, seguiu até a porta traseira e a abriu, indicando que eu podia descer. Segui seu comando silencioso e fui acompanhada por ele, até uma escada de poucos degraus.
- A senhorita pode subir, alguém a encontrará do outro lado. - Ao terminar o homem fez uma leve mesura, por educação e se retirou.
Aquilo me fez acreditar que eles ainda não sabem que sou, menos ainda o que fui fazer ali.
Deixando os pensamentos de lado, me foquei na pequena escada e segui até a porta que me levou a um enorme hall muito bem iluminado.
O lugar era alto e circular, o piso de algum tipo de mármore e as paredes brancas que destacavam as pinturas dispostas em locais estratégicos, assim como os vasos com diferentes plantas e flores coloridas.
Se aquela é a entrada, com certeza o castelo é maravilhoso.
Um baixo pigarro me tirou dos devaneios, me fazendo baixar meu olhar até uma senhora que me analisava, próxima.
- Senhorita Serena?
Assenti com a cabeça, sem jeito por ter sido pega no flagra.
- Por aqui, por favor.
A senhora, bem arrumada que deveria ter mais de cinquenta anos, se virou e seguiu andando mecanicamente pelo corredor. A segui.
Passamos em frente a algumas portas, enormes e, na maioria, fechadas. Subimos por um corredor de escadas e continuamos pelo primeiro andar, até virar uma esquina para o lado esquerdo.
A senhora de repente parou, me fazendo copiar seus movimentos. A porta a nossa frente era tão alta quanto as outras, de madeira bem escura e com uma maçaneta dourada que me fez imaginar se poderia ser algo como ouro.
Ela deu leves batidas e se colocou para dentro, anunciando que eu havia chego. Ouvi passos e logo a porta se abriu ainda mais mostrando a rainha com um enorme sorriso no rosto.
- Serena, já pensávamos que não viria mais. - A rainha se aproximava e me dava um abraço como se fôssemos antigas conhecidas.
- Prazer em conhecê-la, majestade. - Falei sem jeito, tentando retribuir o gesto afetivo.
A rainha é uma mulher que ainda não chegou aos cinquenta, mas acredito que beira a isso. Seu cabelo estava preso em um coque enquanto ela usava um vestido de mangas que delineava seu corpo até a cintura, abrindo depois em uma saia levemente rodada. O tom creme do tecido combinava com o porte da mulher e, ainda mais, com a sandália rosa escura que estava em seus pés.
Ela me soltou e se virou para a senhora ainda parada ali.
- Por favor, peçam que apressem o almoço, sabe como meu marido fica quando não consegue comer no horário. - Ela dava uma risadinha e a dispensava. - Venha Serena, entre.
A porta foi mais aberta e passei para dentro do cômodo, olhando a volta.
Eu diria que era um cômodo de lazer.
Livros, pintura, instrumentos, bordados, uma TV e até mesmo um computador. Tudo estava disposto em seu próprio espaço.
Me virei em direção a rainha e me curvei.
- É um grande prazer conhece-la majestade.
- Por favor você já disse isso e, se erga. - Fiz o que ela pediu a vendo abrir novamente o sorriso. - Me chame de Leila, sim? - Ela fechava a porta e me puxava para algumas poltronas próximas a TV. - Já somos família Serena, sei que se curvar é tradição, mas deixe para os eventos oficiais, combinado? E saiba que fico muito contente por ser você, a pessoa que o Destino cruzou com o caminho de meu filho.
Sem graça e tendo a certeza que estava com as bochechas vermelhas, me sentei em uma das poltronas, tentando não encarar Leila.
- Obrigada. - Baixei meu olhar e fitei minhas mãos sobre minhas coxas. - Meus pais mandaram cumprimentos.
- Oh sim! Precisamos marcar com eles também, gosto muito de seus pais. Eu sempre soube que Daisy não ganharia aquela estrela, ela não combina com a coroa, nem com Artur. - A rainha suspira. - Mas nunca imaginei que os Collins seriam escolhidos para entrar para a família. - Ela ri.
- Artur, onde está?
- Sim, me desculpe, acabei esquecendo. Elee o pai se juntarão a nós quando descermos para o almoço. Aqui é meu espaço particular. - Leila meneou o dedo como se sinalizasse o espaço ao redor. - Eles só entram se eu autorizar e, bem, eu queria vê-la antes de Artur tomar todo seu tempo.
- Como assim? - Ergui meu olhar deixando transparecer a curiosidade e a confusão.
- Artur não te disse? - Ela estala a língua. - Esse menino é avoado, já saiba. - Leila ria novamente e se ajeitava. - A tarde vocês terão a primeira aula adicional de habilidades, aquele curso que todos precisam fazer depois do encontro. Achei melhor começarem logo, mesmo que ainda não tenha sido apresentada à sociedade. - Ela suspirou sabendo que eu precisaria de uma explicação melhor. - Serena, toda parceria de um Supremo, é do grupo dos Indefinidos no Colégio, você sabe disso. Agora, você já selou a parceria, teve o encontro de almas e tenho certeza que ganhou a mesma ampulheta que nós temos. - Assenti. - Você também sabe que todos os novos parceiros participam de um curso expresso para praticar habilidades que se unem uma a outra, certo? - Assenti novamente. - Então, o caso é que parceiros de Supremos não treinaram habilidades durante o Colégio, e, bem, você participa de todos os grupos, então precisa aprender a lidar com todas as habilidades. Os indefinidos que recebem um grupo após a formatura, geralmente fazem somente algumas aulas a mais e depois partem para os treinos com a parceria. Supremos precisam de mais tempo e, como você ainda tem uma agenda um pouco apertada, deve demorar uns seis meses para conseguir agir tranquila com todos os grupos e para unir suas habilidades com a de Artur.
- Entendi, eu acho. - Eu me sentia girar com as informações, mas lembrei de Lilian dizendo que teria um mês a mais de aulas para treinar o que ainda não havia treinado.
- Desculpe não perguntar antes, - A rainha voltou a falar. - mas isso é algo que não podemos adiar. Em algum momento você terá de assumir seu posto e vai precisar estar pronta para qualquer revés que venha a enfrentar. Eu entendo seu medo, eu mesma fiquei nervosa antes de ser apresentada.
Olhei para a rainha, surpresa.
- Ficou?
- Claro Serena, não fomos criadas para isso, eu sou uma Castellani, mas minha irmã era a que todos colocavam fé e foi ela quem treinou para ser rainha. Eu era totalmente avessa a ideia, mas cá estou eu. - Ela sorria e puxava uma de minhas mãos a colocando entre as suas. - Serena, como eu disse, eu entendo seu medo, assumir uma responsabilidade dessas não é fácil para ninguém, nem os Supremos de nascença lidam muito bem. Mas quero que pense, que reflita, o país precisa de você. Acha que o Destino a escolheria para algo que não consegue lidar? Ele sabe. - Ela suspira e aperta de leve minha mão.
Suspirei.
A ideia da coroa ainda me assustava, mas sabia que aquele curso era necessário, principalmente agora que me tornei Supremo.
Não falei mais nada e a rainha se ateve a algum filme que passava na grande tela a nossa frente. Poucos minutos depois o barulho de alguém batendo na porta, quebrou o silêncio entre nós.
- Entre! - A rainha ordenou.
A mesma senhora de antes havia retornado e agora, avisava que a mesa estava posta e os rapazes nos aguardavam para que o almoço fosse servido.
Leila assentiu e desligou o televisor. Nos levantamos e a segui para fora do cômodo.
Retornamos ao térreo e a rainha seguiu por um novo corredor que nos levou até uma sala de jantar menor do que eu esperava. Lendo meus pensamentos, ela me disse, em sussurro, que era uma sala de jantar privada, que eles usavam no dia-a-dia, deixando a enorme sala de jantar oficial, para os eventos.
Adentramos ao lugar e Artur logo se aproximou com um sorriso, pousando um beijo em minha bochecha.
- Que bom revê-la Serena.
- Como está? - Sorri em retribuição o olhando.
- Muito bem. Deixa eu lhe apresentar... - Artur segurou minha mão e me puxou até um senhor que sorria gentilmente. - Serena este é meu pai, Louis.
- Um enorme prazer, majestade. - Soltei a mão de Artur e me curvei, como manda a etiqueta.
Louis sorriu e se levantou vindo até mim; segurando uma de minhas mãos entre as suas.
O rei não tinha muita diferença de idade de Leila, isso nós estudávamos na escola. Ele tinha o mesmo sorriso de Artur, assim como a cor do cabelo, mas seus olhos era de um preto tão profundo, que se olhássemos demais, nos perderíamos naquela escuridão.
- Realmente a cara de sua mãe. - Ele falava, levando uma de minhas mãos aos seus lábios e pousando um beijo ali. - Um prazer conhecê-la Serena. Como estão seus pais?
- Muito bem. - Sorri, novamente sem jeito. - Mandaram cumprimentos.
- Espero vê-los em breve.
- Eles também aguardam por isso.
O rei soltou minha mão e retornou ao seu lugar enquanto Artur puxava uma cadeira para mim.
Me ajeitei no espaço e logo os funcionários adentraram para servir o prato de entrada.
Assumo que enfiar a cabeça sob a toalha da mesa, parecia estranhamente convidativo, mas contive minha vergonha, saboreando devagar os pratos que eram colocados a minha frente.
- Pena Mateus não poder estar presente. - A rainha dizia em tom tristonho. - Esse internato me faz morrer de saudades.
- Querida, por favor, não seja tão coruja. - O rei ria baixinho enquanto Leila lhe lançava uma careta. - Serena, Artur lhe explicou sobre as aulas?
Senti Artur ficar tenso ao meu lado.
- Não chegamos a discutir o assunto, mas majestade, a rainha, me comunicou.
- Serena, querida, me chame somente de Leila, deixe as formalidades para quando forem necessárias, já lhe disse. - Ela sorria, me fazendo retribuir.
- Digo o mesmo. - O rei se posicionou e retornou o olhar a mim. - O instrutor virá às três, acredito que hoje ele pedirá para conhecê-los melhor.
- Pai, acha mesmo que é uma boa ideia? E se ficam sabendo sobre Serena?
- Ele é de confiança Artur, fique tranquilo.
Eu e Artur assentimos, mas eu sabia que a dúvida ainda tomava conta dentro dele.
O restante da refeição seguiu sem maiores problemas. Leila e Louis fizeram o que puderam para me deixar o mais à vontade possível.
Às três da tarde segui com Artur para um salão no subsolo, que, segundo ele, fora feito exclusivamente para treinamentos.
Um local enorme com metade do espaço equipado como se fosse uma academia. Tanto aparelhos para criar força e resistência, quanto espaços para lutas básicas e um pequeno ringue. A outra metade estava vazia, mas percebi que o material usado no chão, paredes e teto, eram diferentes.
- Ali é onde podemos treinar as habilidades sem criar problemas. - Artur explicou quando percebeu meu olhar.
- Que tipo de revestimento é aquele?
- Um material único e posso dizer, talvez, mágico. Ele age de acordo com as necessidades das habilidades de quem está utilizando o lugar.
- Entendo. - Segui até um aparelho que possuía um banquinho e me sentei ali.
Um rapaz alto entrou quase correndo no salão. Percebi logo que estava sem fôlego e nos cumprimentou com a mesma formalidade de todos, antes de Artur puxa-lo para um abraço com direito a tapinhas nas costas.
- Quanto tempo cara, meus pais chamaram você?
O rapaz assentiu.
- Seus pais me adoram, você sabe. - Eles riram e Artur acabou assentindo.
- Como está Talita? E as meninas?
- Todas bem, as pequenas estão crescendo muito rápido e deixando a mãe delas louquinha e lógico, o pai vai por tabela.
Os dois riram e acredito que se lembraram que eu também me encontrava no local.
- Marcel, essa é Serena. - Artur apontou em minha direção, sem graça. - Minha parceira.
Marcel se virou para mim e se curvou novamente, sorrindo.
- Um prazer conhecer a nova princesa. Já me foi dito sobre as condições das aulas, mas já adianto que espero que assuma logo seu lugar. Acredito que o país precisa saber que os Castellani não continuaram a tradição.
- Não gosta dos Castellani? - Falei um pouco sem pensar enquanto me erguia de onde estava.
- De certa maneira. - Marcel fazia uma breve careta. - Minha mãe estuda muito o Destino e sempre acreditou que ele faz as melhores escolhas. Ela mesma me disse que os Castellani se rebaixaram a anos e pensam que podem se manter na linhagem, mesmo assim. Ela ficará animada quando souber que esteve certa. Sem contar que, alguns Castellani já deixaram de acreditar nas marcas.
Sorrio, um verdadeiro e genuíno sorriso. As palavras de Marcel aquietaram uma pequenina parcela de todo o medo que assolava meu coração.
Não pude deixar de notar o sorriso esperançoso de Artur.
- Podemos começar? - Marcel olhava de mim para meu parceiro.
Olá gente linda do meu coração, como é que vocês estão??
Espero que estejam gostando dessa caminhada de Serena e Artur para aquilo preparado pelo Destino.
Serena agora vai ter que suar um pouquinho a camisa hehe, quem sabe ela aprende a não ter medo da coroa.
Logo logo mais capítulos para continuar.
Beijinhos Estrelados
✨✨
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