15 - Uma rosa branca para Angel
Mona viu a garota se aproximar de Choi com uma rosa branca. Admirou a coragem da menina, pois a Alpha inteira sabia que aquela garota seria perseguida pelas demais admiradoras do rapaz por semanas. Bem, ir ao Baile com ele, pelo visto, valia o sacrifício.
Ela viu Choi sorrir lindamente para a dona da flor e depois dizer algo no ouvido dela, que pareceu deixá-la muito feliz, pois a garota arregalou os olhos e praticamente saltitou pelo corredor, entre os colegas que saiam das aulas. Provavelmente Choi havia aceitado o óbvio convite de acompanhá-la ao Baile. Ele era assim, aceitaria a primeira proposta que surgisse. Aquilo tinha acontecido no ano anterior também, quando ela havia recusado o convite dele. Mona parou de fingir que mexia no seu celular e começou a se afastar. Se as idiotas que o achavam uma perdição soubessem desse detalhe não ficariam tão hesitantes em convidá-lo.
Quando virou a cabeça para o lado, viu que Choi caminhava na sua direção. Respirando fundo, já se preparou para manter o máximo de paciência possível, pois não podia se dar ao luxo de ter um chilique com ele, no meio de todas aquelas pessoas que passavam por eles. E não tinha dúvidas de que ele iria zombar dela pelo episódio daquela manhã, como seu irmão havia feito.
Ao perceber que ele estava mais perto, fez questão de erguer orgulhosamente o queixo em desafio, mas ele apenas passou do seu lado, em direção à menina que havia acabado de lhe entregar a rosa branca. Mona reparou que ele tinha uma rosa vermelha nas mãos. Choi estendeu a flor para a garota que riu alto quando ele apontou para os vasos dispostos na frente dos restaurantes do Centro de Lazer. Certamente ele tinha roubado a flor de algum deles.
Sentindo algo estranho, Mona parou. Não era a primeira vez que via o rapaz com alguma garota e, para ser honesta, não era a primeira vez que aquilo a incomodava de alguma forma. Mas era a primeira vez que Choi não havia se aproximado dela. Mesmo depois das mais acaloradas discussões entre eles, ele mantinha seu jeito descontraído, a chamando de "minha bela Monalisa". Pelo visto a forma como o tinha rechaçado o afetou mais do que o normal. E ela sabia o motivo. Não foram suas palavras, seu olhar cheio de raiva ou o descrédito de que algo entre eles poderia acontecer. Tinha sido a flor. Ter destruído a Coreopsis o fez tratá-la daquela maneira.
Erguendo o olhar ela se viu encarando os olhos castanhos de Choi. Mas não seu costumeiro sorriso. O sorriso caloroso que a havia encantado da primeira vez em que eles se viram há três anos...
Mona observou o belo garoto oriental que se sentou do seu lado na sala.
― Eu me chamo Choi. Qual é o seu nome?
― Monalisa... Mona Scillie Dewis.
― Ah, Monalisa, como "Mona Lisa" de Da Vinci?
―Eu prefiro Mona.
Choi sorriu com tanta ternura que ela não pôde deixar de sorrir também.
― Mas você é tão linda como a famosa pintura.
Constrangida ela corou e ele sorriu ainda mais lindamente.
Deixando as lembranças de lado, Mona evitou os olhos do rapaz e foi em direção ao restaurante onde Leonard provavelmente já estava a esperando. Não podia se deixar levar por aquilo, pelos sentimentos que ele provocava nela. Seu pai jamais aprovaria alguém como Choi e ela nunca se permitiria ser menos do que a filha perfeita para ele.
***
Angel estava passando pelos corredores do Centro de Lazer, aonde a maioria dos alunos ia para almoçar, pois ali estavam os melhores lugares para comer, quando viu do outro lado de um pequeno jardim interno, a odiosa Monalisa com seu detestável primo, almoçando. Os dois estavam conversando, bem alegrinhos, chamando a atenção dos demais alunos. Deus do céu, aqueles dois realmente pareciam feitos um para o outro!
― Olha, eu sei que vocês são primos e tudo, mas cara, queria dar um soco naquele almofadinha.
Angel olhou para o lado e viu o rapaz oriental de óculos chamado Choi. Embora não fosse normal para ela interagir com um estranho, acabou respondendo:
― Vai ter que entrar na fila. E parentes têm prioridade sobre o rosto, lamento, mas terá que se contentar com outra parte qualquer.
― Sem problemas, eu sempre dou preferência para os golpes na altura do estômago. Acho másculo.
A garota inclinou a cabeça para o lado, observando o rapaz de cima a baixo.
― Másculo? Parece-me mais uma escolha lógica. Percebeu que ele tem mais de um e oitenta de altura, certo? E você...?
Choi fez uma expressão de completo ultraje, também a analisando.
― E você? Como pretende acertá-lo na cara? Vai pedir pra que o querido Leo se abaixe? - Seu sotaque coreano foi acentuado pela zombaria em sua voz .
Angel imaginou se não era justamente aquele sotaque, igual ao de Hye Kyo, que a desarmava tão facilmente.
― Geralmente basta acertar os grandões no meio das pernas para que a altura seja imediatamente ajustada ao meu tamanho - respondeu didaticamente, fazendo um gesto com a mão como se medisse o ajuste necessário.
O rapaz sorriu e ela notou que seus olhos castanhos lembravam chocolate. Chocalate derretido. Isso a fez perceber que estava com fome. Ainda encarando o rosto do garoto, viu uma mancha vermelha se espalhar pela face sorridente. O que era aquilo? Ele estava ficando vermelho?
Angel não tinha notado que, além de observá-lo abertamente por vários minutos, para fazê-lo tinha erguido o rosto de forma que o boné não mais a ocultava. Por isso Choi estava mais uma vez impressionado com a aparência da garota. E inusitadamente constrangido por ser alvo dos misteriosos olhos violeta.
― Vejo que ainda está agindo como uma aluna normal.
Angel ouviu a voz atrás de si e virou-se, já antecipando as reações do próprio corpo diante dos penetrantes olhos do recém chegado. Quando encarou Alexis, contudo, ele estava com uma expressão divertida dirigida ao rapaz de óculos.
― Estava ficando meio entediada, sem falar que posso ter ideias mais interessantes ao participar da rotina do Campus. – Quando Alexis a olhou meio cético, ela acrescentou – Como vou poder fazer uma guerra de comida, por exemplo, se não frequentar os locais onde a galera almoça?
― Guerra de comida? Posso participar? Eu já tenho até o alvo perfeito! – Choi, parecendo recuperar-se do seu estado de estupor, olhou para onde estavam Mona e Leonard.
Angel riu, levantando o polegar em aprovação.
― Quem é o alvo? – Alexis estava visivelmente curioso.
― Leo! – Angel e Choi responderam em uníssono.
Eles se entreolharam e gargalharam alto, chamando a atenção de quem passava.
― Quem é "Leo"? – Alexis olhou diretamente para Angel, ignorando abertamente a presença do outro colega, numa atitude que Angel achou até meio infantil.
― Meu querido primo Leonard Lancaster – ela respondeu fazendo uma careta de desgosto.
Alexis arqueou as duas sobrancelhas, enquanto também observava o casal formado por Monalisa e o primo de Angel. Em seguida voltou sua atenção para Choi.
― Imagino que esteja com uma vontade incontrolável de se juntar aos dois na refeição, por que não faz isso? - O tom educado não escondeu suas segundas intenções.
― Na verdade eu ia perguntar se vocês... - Choi interrompeu-se de repente, dando um tapa na própria testa. - Esqueçam, lembrei que estou de dieta para poder ficar maravilhoso no meu smoking. Podem ir almoçar, crianças! - Sem esperar por qualquer comentário, o rapaz se afastou com um aceno.
― Então, quer ver se o clima está agradável para algum tipo de batalha? - Alexis virou-se para ela.
Angel que já tinha notado o quanto chamavam a atenção dos colegas que passavam, hesitou. Em seguida deu de ombros, estava farta da ideia de se excluir para evitar as pessoas. Seu novo lema de vida era "Hakuna Matata". Nada de ficar se preocupando com coisas à toa.
― Essa é a sua forma sutil de me convidar para comer?
Alexis não respondeu, apenas começou a caminhar na direção do restaurante que Mona estava. Angel logo o alcançou, pois ele se movia com elegância e lentidão, parecendo indiferente as reações de espanto de todos quando os dois entraram juntos, indo diretamente para o fundo do espaçoso lugar. Lá havia apenas uma mesa pequena disposta de forma estratégica ao lado de uma enorme janela, o que a deixava isolada das demais.
― É aqui que costuma fazer suas refeições? - Angel questionou, pois achou bastante óbvia a privacidade premeditada que havia ali.
― Gosto daqui – Alexis respondeu sua pergunta. - É tranquilo e a comida é excelente.
Antes que Alexis pudesse exibir seu cavalheirismo, Angel puxou a própria cadeira e se sentou, admirando a decoração elegante a volta deles, também ignorando os olhares cravados nos dois.
Alexis nem havia terminado de se acomodar, um garçom praticamente se materializou ao lado deles. Enquanto o Príncipe fazia seu pedido, Angel tirou o boné. Os cabelos dourados que estavam presos sob ele, se soltaram em ondas por suas costas. Distraída, enquanto o colocava preso na mochila, não notou o silêncio súbito. Quando ergueu o rosto e encarou o garçom viu o efeito natural que causava fazer mais uma vítima.
Reparou que o rapaz tinha ficado com as orelhas vermelhas e que os olhos arregalados a observavam extasiados. Tentando manter certa naturalidade, fez seu pedido. Duas vezes. Como ele não esboçou qualquer reação, ela tocou na mão dele, a que segurava o aparelho eletrônico de anotação. Ele quase deu um pulo deixando cair o equipamento, mas serviu para acordá-lo do "transe". Pedindo mil desculpas o garçom se afastou após terminar seu serviço.
Assim que ele se afastou, Angel suspirou aborrecida, brincando com um copo de água sobre a mesa.
― Pensei que fosse habituada ao o efeito que você causa nas pessoas. Mesmo as garotas parecem se encantar com a sua aparência. Vi isso acontecer em todas as vezes que exibiu seu rosto em público. – Alexis tomou um gole da sua própria água. – Você é realmente linda – ele falou de forma casual. – Mas acho muito peculiar essas reações tão extremas. Eu mesmo já me vi obrigado a desviar a atenção do seu rosto em alguns momentos.
― Achei que isso tinha amenizado com o tempo – Angel comentou, quase para si mesma, tão absorta que não se deteve no claro elogio que ele fez a ela.
Toda a pressão que sofria por ter uma beleza tão marcante era o motivo de usar as roupas que vestia, principalmente o boné ou o capuz. Mas não esperava que a reação das pessoas continuasse a mesma de quando era criança. Olhando para o espelho que havia em uma parede próxima, notou que muitos dos alunos os observavam.
Lembrou-se de sua infância, de quando tinha apenas nove anos e já sabia de sua doença e do ódio de sua família. Antes de tentar tirar a própria vida pela primeira vez. Na escola havia uma menina, um pouco mais velha do que ela, tinha uns onze anos e ainda assim, pareceu querer ser sua amiga. Angel ficou tão feliz. Passou a acompanhar por todos os lugares da escola. Então um dia, estava no banheiro das meninas, quando ouviu que falavam dela.
A garota que julgava ser sua amiga ria para as outras dizendo que a "bonequinha" era excelente para conseguir a simpatia dos professores. Mas às vezes era um saco. Ela era muito chata. Parecia uma boneca mesmo, totalmente dependente. Não era a toa que a família não a visitava e que ela passava os feriados e as férias na escola. "Garota insuportável" disse cheia de tédio.
Depois disso, Angel tentou evitar a menina, mas ela irritou-se com isso. Quando Angel tomou coragem e disse que não queria estar com ela, a garota lhe deu uma bofetada. Em um primeiro momento ela ficou em choque, parada, tentando entender o que havia acontecido. Subitamente uma fúria a tomou e mesmo sendo bem menor, Angel pulou sobre ela, socando e gritando. Sua superioridade só durou o tempo que a ex-amiga demorou para se recuperar do susto. Quando isso aconteceu, ela jogou Angel no chão e a chutou, fez questão de acertar justamente a sua cara.
Angel foi deixada na grama do pátio da escola, machucada e sangrando. Foi o início de sua saga de raiva incontrolável. Ela batia e apanhava muito dos colegas. Até que aprendeu a bater mais forte. Forte o suficiente para se vingar da garota que tinha batido nela, sua ex-amiga. E quando acabou, a outra ficou como ela havia ficado há um ano. Ferida e sangrando.
Angel pensou que sentiria prazer com sua vingança, mas tudo que sentiu foi um vazio, um imenso vazio. Pela primeira vez foi confrontada pela total falta de propósito da sua vida. Sentiu pela primeira vez que não valia a pena estar ali. Tinha apenas dez anos e já se sentia cansada de existir. Foi quando, às escondidas, entrou na cozinha da escola e tentou se matar com uma faca.
Ela viu o garçom voltar, ele os serviu sem um olhar sequer na direção dela e saiu rapidamente, fazendo uma rápida mesura.
― Entendo que possa ser bem incomodo, mas acho que precisa aprender a lidar com isso de outra forma. – Alexis quebrou o silêncio entre ele, fazendo com que a garota o encarasse. – Uma maneira menos dolorosa para você mesma.
―O que quer dizer? - Angel já se preparou para o embate, suas defesas se ergueram quase que automaticamente.
― Parece que está há muito tempo fugindo e se escondendo.
Não havia censura na voz de Alexis, sua postura e timbre sugeriam uma certa compreensão. Como se ele próprio tivesse uma experiência muito próxima sobre assunto. Ainda assim, Angel respondeu em tom de defesa:
― Não, eu evito as pessoas, não me escondo delas.
― E qual a diferença?
― Ora, tenha paciência! E você? É tão bam-bam-bam, mas onde estão seus amigos? Cadê a "turma do Alexis"?
― Não existem pessoas próximas a esse ponto. Admito que incentivo esse distanciamento. - Ele deu de ombros. - Contudo, não permito que o fato de não confiar nas pessoas, me faça andar como um fantasma por aí.
― Isso porque você é um Príncipe. Você não entenderia. – Angel começou a comer seu macarrão. Como ele poderia entender o que ela tinha passado? Sua infância, suas perdas, sua doença. Conhecia um pouco da história dele, a coisa toda do rei e da amante era realmente chocante, mas ele ainda tinha um pai. Droga, ele ainda tinha um futuro!
― Eu entendo sim. Não pense que me conhece apenas porque leu sobre mim na Internet. – Ele pareceu um pouco irritado. – Quando você estiver disposta, poderemos trocar nossas tristes histórias e comparar quem teve um passado mais miserável. Não pense que vai ganhar tão fácil.
― Que ideia encantadora. Comparar passagens trágicas das nossas vidas. Não me admira que não tenha amigos. - Mais uma defesa dela. Zombaria.
― Digo o mesmo sobre você. - A arrogância real retornou com força.
― Disse o Sr. Popular. - Angel revirou os olhos, sem poder se conter.
― Bem, eu sou mesmo popular.
Alexis exibiu um meio sorriso tão cheio de si que Angel sentiu vontade de começar uma guerra de comida nele.
― Você tem é um bando de puxa-sacos.
― Está com inveja do meu carisma?
― Seu carisma se chama "Realeza" e "Dinheiro" - Angel respondeu cheia de sarcasmo.
―Também sou bem bonito. E inteligente. Não vou citar o resto porque não gosto de me gabar. - O Príncipe se recostou na cadeira e com elegância impecável, dobrou o guardanapo quase brilhante de tão branco para ajeitá-lo sobre o colo.
Tentando não se distrair com os movimentos das mãos morenas (poderia jurar que Alexis estava sendo propositadamente sensual, porque não era possível uma coisa tão sem graça quanto se preparar para comer parecer um convite a luxúria), Angel disparou acidamente:
― Meu Deus! Por isso come aqui sozinho, afinal, onde iria acomodar esse ego todo?
Com aquela troca de farpas absurda, Angel quase esqueceu da refeição, mas o cheiro se tornou irresistível assim que seu estômago começou a se manifestar. Voltando todo seu interesse para o macarrão em seu prato, passou a devorá-lo com entusiasmo.
Os dois passaram a comer em um silêncio confortável, com eventuais trocas de olhares. Angel preferiu não analisar a clara diferença entre eles naquele momento. Alexis era refinado e sofisticado ao ponto de deixá-la se sentindo uma porca na lama. Que sujeito maldito!
― Tem molho na sua testa. – Alexis quebrou o silêncio, depois de vários minutos.
As palavras dele fizeram com que ela levantasse os olhos na sua direção. Era um olhar definitivamente assassino. O sorriso que Alexis lançou, contudo, fez o coração de Angel disparar. No entanto, quebrando o contato visual, ele se levantou e se afastou da mesa. Achando que ele tinha simplesmente ido ao banheiro ou se mandado, para não passar mais vergonha na companhia dela, Angel pegou um guardanapo e limpou a testa. Olhou para o tecido que outrora fora impecavelmente branco e constatou, mortificada, que ele não tinha simplesmente zoado com ela. Lá estava o molho vermelho para comprovar seus modos suínos.
Estava tão distraída, amaldiçoando a própria falta de finesse, que demorou em notar o burburinho crescente no restaurante. Olhou ao redor e reparou que ninguém mais olhava pra ela, o que era ótimo. Mas ficou curiosa sobre o que todos observavam tão impressionados. Seguindo os olhares também ficou sem fala.
Alexis caminhava com seu ar decidido em direção a mesa. Ela sabia o significado das rosas brancas. Que receber uma dessas flores era o mesmo que receber um convite para o Baile. Mas não esperava ver Alexis estender uma daquelas flores para ela, ainda mais tão publicamente.
― Gostaria que fosse ao Baile comigo. Não precisa responder agora. – Ele fez uma leve careta. – Acho que é até melhor que não responda agora.
Ela aceitou a rosa e inalou o seu perfume adocicado. Erguendo o olhar para Alexis, que permaneceu em pé ao seu lado, decididamente mais empertigado do que o normal, suspirou dramática:
― Eu pedi uma sobremesa deliciosa, não podia esperar terminá-la? - Sorrindo, divertida, fez um gesto com a mão para a cadeira onde ele estava anteriormente. - Sente-se, Alteza. Eu não vou sair daqui enquanto não comer aquele sorvete com morangos.
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