11 - Dias piores virão...
Mona sorriu para o garoto loiro e alto que pareceu ficar encantado com ela. E a garota ampliou ainda mais seu sorriso ao perceber isso.
― Mona este é o nosso aluno novo, Leonard Lancaster.
Foi com algum esforço que Mona manteve o sorriso radiante diante das palavras da professora Meggie Knox. Havia ido a sala da professora para falar sobre a entrega de um trabalho, mas seus planos sofreram uma ligeira mudança de direção ao ouvir aquele sobrenome.
― É parente da Angel Lancaster? - perguntou com uma curiosidade apenas moderada.
Ela observou atentamente o quanto o rapaz ficou incomodado com a pergunta. Interessante, era muito parecido com a expressão que ela própria exibia quando a ligavam a Ren. Aquele imbecil.
― Somos primos. Mas não temos nenhum tipo de contato. - O sotaque inglês, embora polido, não escondeu a secura de suas palavras. Os olhos azuis até perderam um pouco o brilho de entusiasmo e passaram a observá-la de forma estranhamente acuada.
― Ah, entendo. – E como ela entendia! Buscando imprimir ainda mais doçura a sua voz, questionou – Já conheceu a Alpha?
― Ainda não foi possível. - Ele baixou um pouco suas defesas, mas não totalmente.
Mona, em um gesto calculado, inclinou a cabeça para o lado, lançando a Leonard um olhar tímido e recatado, enquanto delicadamente puxava algumas mechas de seus cabelos negros para trás da orelha, exibindo no movimento seu pescoço elegante e reforçando sua natureza absolutamente feminina.
― Estou indo almoçar agora, se estiver interessado, poderia acompanhá-lo até lá, então já conheceria um dos lugares mais frequentados do Campus.
Quando o encarou sob os cílios baixos, viu que tinha atingido o alvo. Leonard não estava apenas com o olhar brilhante. O sorriso do sujeito poderia acender uma pequena cidade.
― Claro, seria um prazer!
Sem perder tempo, após se despedir da professora, Mona o conduziu para fora da sala.
― Leonard, certo? Tem algum lugar especifico que gostaria de conhecer? - perguntou ao acompanhá-lo pelo corredor que já estava vazio em função do horário de almoço.
Ele a fitou com seus olhos muito azuis e embevecidos.
― Primeiro, se não for muita impertinência, gostaria de saber o nome da minha adorável guia.
Mona soltou uma risada cristalina e tocou as faces com as mãos, encabulada.
― Meu Deus, que vergonha! Fiquei tão ansiosa em ajudar que nem me dei conta dessa falha. – Parando de andar, estendeu a mão. – Meu nome é Mona Scilias Dewis e é um prazer conhecê-lo, Leonard.
― Imagine, eu é que estou me sentindo muito sortudo por conhecê-la, Mona. – Leonard a observou curioso enquanto apertava levemente a mão estendida – É a filha do candidato a Presidência, Harrison Dewis? – antes que ela pudesse dizer algo, o garoto riu. – Claro que é. Vi várias fotos suas, e devo dizer que mesmo tendo achado as imagens deslumbrantes, não fazem jus a original.
― Ora, é sempre tão galanteador? - Mona sentiu uma vontade tão grande de revirar os olhos que mesmo os vários anos de práticas em ser "perfeita" quase não foram o bastante para contê-la.
― Só com as moças realmente encantadoras. - Com um gesto cavalheiresco, Leonard indicou que voltassem a caminhar.
Apesar de sentir que tinha entrado em um bizarro cenário vitoriano, e que a pompa daquele inglês poderia sufocá-la até a morte, Mona sorriu educadamente em retribuição, seguindo na frente, afinal, era uma excelente oportunidade para saber mais sobre a irritante garota que vinha atrapalhando os seus planos com o Príncipe. Com sorte poderia descobrir algo útil daquele lindo e entediante rapaz.
***
― Quem é o Ken ali com a Mona? – Choi perguntou para um grupo de meninas que estavam almoçando em uma mesa próxima a que Mona e seu acompanhante desconhecido, e já detestado, ocupavam.
― Acho que é um aluno novo – respondeu uma das meninas.
― É sim, vi ele andando por aí com a Professora Knox mais cedo – disse outra.
― Acho que é inglês. Pelo menos é o que parece pelo sotaque – a terceira comentou, não querendo ser a única a não ter nada para ajudar Choi. Ele era sempre tão gracinha! - Creio que é do Departamento de Comunicação, assim como a Mona.
O rapaz beijou o topo da cabeça de cada uma como agradecimento e acenou em despedida.
Choi fez questão de seguir para a mesa de forma que Mona não percebesse sua aproximação. Assim que chegou perto, foi por trás da garota e ameaçou beijar sua bochecha, parando a centímetros de distância, o suficiente para sentir seu aroma.
― Linda Monalisa! Que perfume maravilhoso, é novo? Não lembro de ter sentido antes.
Agora vinha a parte favorita dele. Se estivessem sozinhos, Mona provavelmente lhe jogaria a faca, com sorte apenas o copo de suco, e o chamaria de diversas coisas não muito lisonjeiras. Mas ela estava acompanhada, então precisava manter a pose. E era aí que a diversão começava.
Mona sorriu lindamente para ele, embora Choi pudesse ver claramente nos olhos dourados, imagens dele sendo estrangulado por ela. Ou virando uma peneira com os golpes causados pela elegante faca de prata que ela usava.
― Choi, que prazer! Sim, é novo. Eu sempre fico muito admirada em como consegue perceber até os pequenos detalhes que a qualquer outro passariam despercebidos.- Seu vagabundo desocupado que não faz nada da vida!
― Minha linda, mesmo o menor dos detalhes, em você, é sempre algo notável e digno de minha atenção. - O ar de Don Juan escapava por cada poro do coreano, em doses absolutamente exageradas, claro.
― Fico deleitada com isso, mas não acho que mereça tanto. – Ela exibiu um sutil brilho de advertência no olhar. - Está sempre tão ocupado, com tantas pessoas para falar, não precisa se prender por minha causa e nem perder o seu valioso tempo em parar apenas para reparar nesses pormenores. - Vai! Some seu verme, e para de me obrigar a respirar o mesmo ar que você!
― Sempre tão modesta, nossa adorável Monalisa! – Choi finalmente olhou para o rapaz que havia permanecido em completo silêncio durante a troca de amabilidade entre os dois – Ouvi dizer que é um novo colega. Deixe-me me apresentar. Sou Baek Choi Hee, prazer.
Choi apertou a mão do rapaz que respondeu um tanto inseguro.
― Leo... Leonard Lancaster.
― É o seu nome mesmo? - Choi fez uma cara de surpresa.
― C-como? – o garoto perguntou confuso.
― É porque não pareceu muito certo ao dizer, então poderia ser uma mentira. - Vendo os olhos arregalados do sujeito, Choi gargalhou. – Calma, estava só brincando, Leo. Posso te chamar de Leo? – O inglês recuperou a pose e pareceu prestes a retrucar quando Choi continuou. – Leo Lancaster? É parente da nossa querida colega, Angel Lancaster?
O tal Leonard ficou com uma expressão sombria ao responder.
― Primo, mas não somos próximos. - O tom das palavras não deixaram dúvidas quanto a sua indisposição com o assunto.
Que Choi apenas ignorou.
― Mesmo? Que pena, deve ser muito divertido ter uma prima tão, hã, vivaz. Sem falar que é sempre bom ter a família por perto. Não acha?
Choi continuou sorrindo em expectativa, como se a resposta do outro fosse realmente muito importante.
Leonard franziu os lábios e olhou para a janela, antes de voltar a observar Choi, parecendo muito incomodado.
Mona, irritada, resolveu usar um velho truque para se livrar da situação indesejada, pois ela puxou o guardanapo e derrubou o copo de água, desviando habilmente daquele que continha suco. Ele tinha que parabenizá-la pela agilidade.
― Oh, que distraída!
Imediatamente Leonard se levantou para ajudá-la, mas Choi foi mais rápido e estava mais perto dela. Pegou um guardanapo e começou a pressioná-lo contra a barriga da garota, onde a água havia caído. Suas mãos, no entanto, logo começaram a subir descaradamente para regiões que não tinham uma gota de água. Ela lhe lançou um olhar absolutamente indignado, arrancando o pano de suas mãos atrevidas.
Com uma expressão de desculpas, Mona olhou para o inglês metido:
― Me perdoe, mas pelo visto terei que deixá-lo ou meu vestido ficará arruinado. – Com uma expressão de puro pesar ela completou. - Espero que possamos nos encontrar brevemente, Leonard. Podemos até combinar outra refeição.
― Não se preocupe, eu entendo. E certamente nos encontraremos em outro momento, ficarei ansioso por isso.
Choi revirou os olhos ao ver aquela papagaiada toda. Parecia até a cena de algum drama vitoriano. Para não perder o embalo, exclamou.
― Minha nossa, vejam só que horas são! Se não me apressar vou perder o episódio da série que estou acompanhando. Já ouviram falar da "A garota duas caras"? É simplesmente hilária! – Sem esperar por resposta de nenhum deles, sorriu para o Lancaster - Gostei pra caramba de te conhecer, Leo! Quando ver a sua prima Angel diga que mandei um beijo! – Para Mona ele deu uma piscada. – Bela Monalisa, pode deixar que serei capaz de encontrá-la só por esse cheiro tão doce que exala!
Sem ligar para o aviso que ela lhe lançou com olhar, o mesmo que informava que o frasco de perfume que ela usava iria direto para o lixo na primeira oportunidade, Choi mandou um coração para garota, enquanto se afastava, sempre sorrindo. Como era gratificante incomodar esses idiotas que ficavam cheios de intenções para cima da sua adorável Monalisa!
Mas ao atravessar a porta, uma dúvida o tomou. Até que ponto um parente, que pelo visto não morria de amores pela Angel, poderia ser um problema para aquele estranho relacionamento que existia entre ela e Alexis?
***
{Payre}
Syka observava o céu noturno de Payre. Aquele silêncio, aquela aparente paz, ela bem sabia que não passava de fruto de seus desejos. Sob a escuridão, em muitos lugares daquele vasto mundo, pessoas estavam morrendo.
Vidas, incontáveis vidas, sendo destruídas. Sangue derramado e sugado pela fome de poder.
Ela gostaria de poder desejar o retorno do filho unicamente para abraçá-lo, para acolhê-lo em seus braços como jamais pôde fazer. Viu-o por apenas alguns minutos, mas ainda era nítida a lembrança de cada detalhe dos seus traços. Cada pequeno pedacinho daquele ser que ela tanto amou. Ainda assim, sabia que maior do que o desejo de uma mãe de reencontrar o filho, era a esperança de Rainha pela chegada daquele que tinha o destino de salvar a todos.
Enquanto pensava sobre isso, a culpa a atormentava. Gostaria de pedir perdão por seus desejos tão egoístas, por impor ao seu próprio filho tamanha carga. Mas para quem deveria dirigir suas desculpas de pesar?
Ao filho que ainda assim assumiria esse sofrimento?
Aos Deuses, que eram os principais culpados por tudo que acontecia em Payre?
Sabia que não deveria julgar daquela forma. Tinha um papel a cumprir que não necessitava de uma Rainha hesitante, mas o que poderia fazer quando o destino a fez mãe de dois filhos e no fim tomou um deles para si?
E talvez nunca mais o trouxesse de volta.
Pois seus séculos de vida não a enganavam. Jamais seria como nos seus sonhos. Aquele bebê em seus braços não voltaria a existir.
Ela viveria para sempre com a dor de ter perdido um filho.
Para terem um Salvador.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro