V
*O capítulo contém cenas de gordofobia, sinalizados com um (*)
Cecília continuava observando o seu novo vizinho com um olhar surpreso, as palavras lhe faltaram de tão admirada que ficou com o acaso que havia acabado de acontecer bem ali no corredor do prédio.
— Realmente é uma coincidência muito grande. — O rapaz que até então Cecília não sabia o nome, falou. — Você saiu tão rápido de perto de mim que nem tive a chance de perguntar seu nome.
— Cecília. — A garota respondeu com um sorriso no rosto e perguntou em seguida. — E o seu é?
— Miguel. — Ele estendeu a mão para ela que rapidamente a apertou.
— Desculpa se bloqueei sua porta com as minhas caixas.
— Imagina, eu sei como é esse processo de mudança. — Ele comentou abrindo o sorriso que havia deixado Cecília atônita. — Foi até fácil me esquivar das caixas plantadas na minha porta. — Cecília riu e ele a acompanhou. — Mas o que é que tem nelas? Pedras?
— São meus livros. — A garota respondeu enquanto cruzava os braços. — Eu sempre estou comprando um ou dois, mesmo que eu tenha uma pilha de livros novos pra ler.
— É das minhas. — Miguel comentou enquanto ajeitava a bolsa de trabalho no ombro. — Eu adoraria ficar aqui conversando com você, mas eu preciso ir trabalhar, mas eu vou adorar se você me mostrar esses livros, depois. Quero ver os autores que bloquearam minha porta.
— Vai ser um prazer. — Ela concordou com um sorriso no rosto. — A gente marca alguma coisa qualquer dia desses aí.
— Depois dessa confirmação, pode ter certeza que eu venho te perturbar aqui. — Miguel retrucou de forma divertida. — Você ganhou um vizinho bem chato, daqueles que pede xícara de açúcar em plena meia noite.
Quando Cecília iria responder o comentário dele, eles ouviram o interfone tocar e a garota foi atender, permitindo em seguida a entrada da sua amiga, e minutos depois ela chegou no local com algumas sacolas na mão.
— Olá! Saí da clínica e vim correndo pra cá, mas antes passei no supermercado. — Ela interrompeu a fala ao olhar para o homem parado no meio da sala e o cumprimentou. — Oi, tudo bem?
— Oi, estou bem, e você? — Miguel respondeu de forma simpática.
— Estou bem, sou a Luana, amiga da Cecília. — Ela direcionou a mão para ele.
— E eu sou o Miguel, vizinho da Cecília. — Ele respondeu enquanto soltava a mão dela. — Eu preciso mesmo ir. Tchau, moças.
— Tchau. — As duas falaram ao mesmo tempo e o rapaz olhou para trás antes de se retirar do local.
— Amiga, mentira que você vai ser vizinha desse homão? — Luana comentou assim que viu Miguel se afastar. — Que gato!
— Né, menina!? — Ciça confirmou enquanto fazia um coque no seu cabelo. — Mulher, eu esbarrei nele no shopping quando eu tava comprando minhas coisas pra casa nova.
— O quê? — A garota declarou com surpresa. — Amiga, isso é o destino te mostrando que ele é o homem da sua vida.
— Para, saliente. — Cecília começou a rir sendo acompanhada por Luana.
— É sério. — Luana confirmou enquanto colocava sua bolsa no chão perto da porta. — Você sendo vizinha do homem que esbarrou no shopping, se isso não for o acaso te mostrando que é pra vocês ficarem juntos eu não sei o que é. Olha, depois dessa, você já pode esquecer o Lucas e se jogar no colo desse homão.
— Ridícula. — Cecília riu alto com o comentário da sua amiga.
— Ah, eu trouxe uns presentes pra você. — Luana riu e continuou. — Porque eu não resisti, sabe?
— O que você trouxe? — Cecília perguntou enquanto via a amiga tirar algumas coisas da sacola.
— Sal pra sua vida sempre ter sabor, pão pra você nunca passar fome e um aromatizador pro seu banheiro porque você sabe.
— Citando Phoebe? — Cecília riu alto enquanto pegava o último objeto da mão da sua amiga. — Mas amiga, ela não fala aromatizador, ela fala vela com aroma.
— Mas eu não achei a vela, então eu trouxe o aromatizador. — Ciça riu e comentou em seguida.
— Agora eu cito o Ross. Obrigada, obrigada e obrigada também.
As duas gargalharam alto e minutos depois, elas viram o irmão de Luana entrar no local com um saco de papel cheio de salgados, um litro de suco de laranja e um saco com gelo.
— Credo, como tu demorou. — A garota reclamou enquanto colocava os objetos em cima da mesa. — Onde você foi comprar esse lanche, em Ribamar?
— Exagerada. — Lucas comentou enquanto colocava as compras em cima da mesa e ia até a pia. — O supermercado aqui perto tava lotado e não tem uma padaria aqui perto, misericórdia. — O garoto terminou de lavar as mãos e voltou à sala vendo as duas mulheres o observando. — O que foi? Cadê seus copos novos, Leãozinho? Tô brocado de fome.
— Tá na sacola perto do fogão. — Cecília respondeu enquanto o irmão de Luana voltava até a cozinha para procura-los.
— Você não comprou armário? — Lucas perguntou assim que retornou para a sala. — Onde tu vai colocar tuas coisas.
— Eu comprei, menino, mas é projetado. — Ciça contestou com um sorriso. — Vão entregar só na outra semana.
— Ah, sim. Vamos comer?
Os três sentaram no sofá enquanto Cecília abria o saco com salgados e Lucas enchia os copos com o suco colocando o gelo em seguida. Cada um pegou uma coxinha e começaram a comer em silêncio até que ouviram o garoto perguntar.
— Como tá no trabalho, Lulu? Muitos pacientes?
— Sim, demais, Graças a Deus. — Luana respondeu com um sorriso no rosto e comentou antes de morder a coxinha que estava na sua mão. — Tantos que tô pensando seriamente em contratar um estagiário.
— Que bom, amiga. — Ciça afirmou enquanto pegava mais um salgado no saco que estava em cima da mesinha de centro.
— Pois é, que bom que você tá crescendo na carreira, maninha, tô muito orgulhoso de você.
— Obrigada! Sou muito realizada na minha profissão, mesmo que a mãe ainda não tenha enxergado isso.
— Ah, mas ela vai um dia. — Cecília comentou e pegou na mão de sua amiga para dar um beijo. — Aquele coração de pedra vai amolecer alguma hora.
— Lulu, não liga pra ela, não. — Lucas falou para a sua irmã. — O que importa é que você faz o que gosta, e não tem nada mais gratificante do que isso.
— Eu sei, eu sou muito feliz na minha profissão, amo meus pacientes, minhas crianças lindas que me enchem de satisfação com seus progressos.
— Isso aí, amiga. — Ciça levantou e chamou os amigos enquanto colocava o copo na mesinha perto do sofá. — Agora, vambora que o trabalho não acabou. — Ela bateu palmas os apressando. — Vamos, vamos, já encheram o buxo, Lucas vai organizar os móveis no lugar, eu te ajudo. Lu, pra cozinha organizar as coisas.
— Ai, porque não fui pra casa, hein? — Luana suspirou desanimada enquanto levantava do sofá.
— Mas não foi, né!? Agora a ditadora aí vai escravizar a gente até não aguentar mais.
— Teu olho. — Cecília bateu no ombro do amigo e comentou. — Não reclamem não, amanhã vamos pro Reviver comemorar.
— Ah, eu preciso muito ir. — A irmã de Lucas retrucou. — Nunca mais fui no Velho Revis.
— Se tu não foi, imagina eu que cheguei em São Luís ontem.
— Verdade. — Luana sorriu e sua amiga reclamou.
— Vocês estão falando demais, vão trabalhar, vão.
Os dois foram fazer as tarefas dadas por Cecília e os três começaram a conversar mesmo cada um deles estando em um cômodo diferente. No começo da noite, eles já haviam organizado todos os móveis no seu devido lugar e os amigos deitaram no tapete da sala para descansar.
— Socorro, esse trabalho todo me cansou. — Ciça comentou enquanto deitava sua cabeça em uma almofada que havia pegado do sofá.
— Nem me fale, esses móveis que tu comprou são muito pesados, tô mortão.
— E é porque nem arrumamos tudo. — Luana lembrou os amigos e continuou a falar. — Ainda falta o armário, o guarda roupa e o escritório.
— Mas é porque ainda não chegaram, né!? Senão a Ciça já teria colocado a gente pra arrumar.
— Já mesmo! — Cecília falou com firmeza. — Aqui não tem moleza.
— Ditadora! — Lucas exclamou arrancando uma risada das duas mulheres e chamou a irmã. — Lulu, vamos?
— Vamos. Preciso de um banho, tô acabada. — A garota respondeu perguntando em seguida. — Você veio de carro?
— Não, eu vim de ônibus. Eu vou com você no seu carro.
— Tu não quer ir dirigindo, não? — Luana perguntou enquanto jogava as chaves para o irmão.
— Nem esperou eu responder. — Lucas retrucou e se virou para Cecília. — Leãozinho, já vamos. Qualquer coisa é só ligar.
— Tá bom, obrigada pela ajuda, vocês são maravilhosos.
— Imagina, amiga. — Luana comentou enquanto dava um beijo no rosto da sua amiga. — Bem vinda à sua casa nova, que você seja sempre feliz.
Cecília agradeceu mais uma vez e abraçou seus amigos antes deles irem embora, os irmãos se despediram novamente e seguiram em direção ao estacionamento para pegar o carro enquanto Ciça trancava a porta e pegava o celular para ligar para a sua mãe, a garota olhou com admiração para o seu apartamento que já estava com jeito de lar enquanto discava o número pensando em como teria momentos lindos no local.
♥
Já no carro, Lucas pegou a direção enquanto Luana ligava o som colocando uma música calma para ouvirem e deitou a cabeça no banco fechando os olhos por um minuto, seu irmão percebeu que ela estava longe e perguntou:
— Você está bem, Lulu?
— Tô sim, só estou cansada. — A garota abriu os olhos e continuou a falar. — O dia de hoje foi bem, bem cansativo.
— Imagino. — Lucas pegou a mão da sua irmã e deu um beijo. — Já já chegamos em casa pra você descansar.
*Luana sorriu para o irmão e fechou os olhos mais uma vez e ele voltou a se concentrar no trânsito, o trajeto até a casa deles seguiu em silêncio e ao chegarem, o garoto estacionou o carro na garagem e os dois foram abraçados até a casa maior, ao entrarem no local, viram Marta sentada no sofá.
— Eita, vocês demoraram. — Ela retrucou e perguntou em seguida. — Onde vocês estavam?
— Na casa da Cecília, estávamos ajudando ela com a arrumação da casa. — Luana respondeu. — Eu vou tomar um banho.
— Luana, minha filha. Essa calça não combinou com você, desfavoreceu o seu corpo.
— O que é isso, mãe? — Lucas rapidamente reclamou. — Lulu vai usar a roupa que ela quiser e que ela se sentir bem.
— Mas fala a verdade, não desfavoreceu? Deixou ela mais gorda.
— Deixa pra lá, Luc. — Luana tentou acalmar o irmão e mandou um beijo para ele. — Eu vou tomar banho e dormir.
A garota saiu do local segurando as lágrimas que insistiam em cair e ao terminar de subir o lance das escadas, elas caíram de vez antes mesmo que Luana entrasse no seu quarto, a garota trancou a porta e tirou toda a sua roupa indo até o espelho para se olhar e verificar se tinha algo de errado com ela.
A garota sempre foi muito bem resolvida com o seu corpo, mesmo que na infância ela tivesse casos de depressão e desânimo e não tendo coragem para brincar se tornando bem difícil de perder peso, mas quando descobriu o hipotireoidismo e que essa doença causava uma baixa na produção de hormônios na tireoide, e mesmo tomando os medicamentos de forma correta que o endocrinologista havia receitado, Luana percebeu que engordar era algo natural dela mesma e passou a ser mais confiante com o seu corpo e com a autoestima elevada, mas não foram anos fáceis, e a garota conseguiu superá-los com louvor, mesmo que sua mãe ainda não entendesse isso.*
Luana entrou debaixo do chuveiro e tentou esquecer o momento constrangedor que havia acontecido na sala, não havia nada de errado com o seu corpo, se sentia bonita e feliz assim e não iria deixar que ninguém dissesse o contrário. Enquanto passava o sabonete em si, a garota ouviu alguém bater na porta do seu quarto, e então rapidamente ela terminou o seu banho e se enxugou na toalha se enrolando nela enquanto ia até a porta para abri-la se deparando com seu irmão ali parado com uma xícara na mão.
— Oi! — Ele a cumprimentou com um sorriso no rosto. — Trouxe Nescau pra ti. Você tá bem?
— Obrigada, você é maravilhoso. — Ela pegou a xícara da mão dele e continuou a falar enquanto ele entrava e encostava a porta. — Estou sim, não ligo com o que a mãe fala, não me atinge mais.
— Mas você tem que ligar e cortar ela, senão ela vai ficar assim sempre.
— Eu sei, só não quero me estressar. — A garota comentou e tomou um gole do líquido quente.
— Você sabe que pode sempre contar comigo, tá!? — Lucas pegou em uma mão dela e deu um beijo. — Sempre!
— Obrigada! Eu amo você, você é a melhor pessoa desse mundo.
— Sou nada, sou um chatolino.
— Tem razão, você é mesmo. — Luana riu e entregou a xícara para o seu irmão. — Segura aqui, vou no banheiro me vestir, não sai daí.
A garota foi até o guarda-roupa e pegou um pijama limpo indo até o banheiro para vesti-lo e minutos depois voltou ao quarto onde viu o seu irmão deitado sobre a sua cama.
— Vai dormir comigo, hoje, é? Tu sabe que eu me mexo muito.
— E eu também, daqui pra meia noite estamos os dois no chão.
Eles riram alto e Luana terminou o seu Nescau indo deitar com o seu irmão, Lucas já havia colocado Um Maluco no Pedaço para assistirem e os dois ficaram abraçados enquanto riam com as cenas engraçadas que passavam na Tv.
Ooi amores ❤️
Miguel fazendo contato com a vizinha nova. O que será que vem por aí?
Será se vem casal novo por aí?
E a mãe da Luana magoando a filha? Será se vai ser assim sempre?
E o Lucas consolando a irmã, um fofo né!? 💛
Beijinhoooos ❤️✨
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