Reflexões
ACORDEI DE REPENTE À TARDE, APÓS UMA LONGA VIAGEM. A LUZ DOURADA DO SOL INUNDAVA MEU QUARTO. Eu estava deitada no chão frio da minha casa em São Paulo, segurando o vestido de Vitória. Era uma peça de renda branca com bordados florais e um laço de cetim na cintura. Vitória havia sido sequestrada antes que eu pudesse usá-lo, transformando-o em um lembrete tangível de uma alegria nunca realizada.
O sol poente lançava sombras pela sala. Suspirei e me levantei, olhando as ruas movimentadas pela janela. Murmurei: — Mais um dia, mas sei que logo estarei com minha filha junto de mim.
Guardei a peça no guarda-roupa e meus olhos se fixaram no vestido preto, presente de Leon. Toquei o tecido e as memórias inundaram minha mente. Decidi tomar um banho para recomeçar.
Depois do banho, sentei na cama, sentindo a brisa da janela secar minha pele. Decidi vestir o vestido preto que Leon me deu. Queria mostrar que eu era forte e finalmente estava livre dele. Enquanto me vestia, lembrei de um restaurante que frequentava quando era criança. O lugar tinha paredes de tijolos e mesas rústicas, sempre me trazia conforto.
Lembrando do lugar, senti uma paz tremenda. Decidi ir novamente para aquele lugar para reviver a alegria que sentia lá. Determinada, coloquei meu casaco e fui ao restaurante, ansiosa pelo encontro.
Ao entrar no restaurante, senti uma onda de nostalgia. Era como se eu estivesse voltando à minha infância. O cheiro, a decoração, tudo me lembrava daquele tempo. Foi então que vi Olivia, minha antiga professora. Seus cabelos estavam grisalhos, mas seu sorriso era o mesmo de sempre.
— Marina! — Sua voz estava cheia de emoção. — Como senti sua falta! — Suas palavras eram simples, mas sinceras.
Ao ouvir sua voz, sorri. Estava feliz por revê-la. Me aproximei de Olivia e a abracei, sentindo o calor familiar de seu corpo.
Olivia, uma pessoa importante para mim, afinal foi minha professora durante anos, mas não somente por isso, ela é mãe de Bianca, que foi uma das minhas melhores amigas, que era como uma irmã para mim aqui no Brasil, que junto de Margarida, éramos inseparáveis na escola. Apesar do tempo e da distância, nossa amizade, cheia de risadas, conversas profundas e brigas, continua sendo importante para mim.
— Olivia, eu também senti muito a sua falta. — Falei com sinceridade.
— Por que não me avisou que você estava voltando? — Ela perguntou com um sorriso brincalhão.
— Acabei de chegar. — Respondi. Ela riu, balançando a cabeça.
— Vou te perdoar, mas só porque estava morrendo de saudades. — Ela falou brincando. Depois de um momento, seu olhar se tornou pensativo. — Você não veio com o Leon?
A menção de Leon me deixou triste e me fez sentir um aperto no coração.
— Terminamos. — Minha voz tremia, a palavra ainda estranha mesmo depois de tantas vezes repetida.
Olivia pareceu surpresa.
— Terminaram? Vocês pareciam tão felizes. O que teria acontecido?
— É difícil explicar. — Desviei o olhar, não querendo entrar em detalhes. Ainda era muito recente, muito cru.
Ela me olhou com um olhar triste.
— Sinto muito, Marina, mas, tenho certeza de que você encontrará alguém que a faça feliz. Talvez essa pessoa esteja mais perto do que você imagina.
Quando Olivia disse aquilo, eu sabia que ela estava falando sobre Guilherme. Dei um sorriso meio sem graça e mudei de assunto:
— Obrigada, Olivia. E como tem sido sua vida?
Olivia sorriu, e a tristeza em seu rosto foi substituída por uma expressão mais animada.
— Tenho me dedicado à arte e meus alunos continuam me inspirando. Ah, e fiz uma viagem incrível à Itália esta semana.
Havia uma pergunta que eu precisava fazer. Eu estava me incomodando há algum tempo. Respirei fundo para tentar acalmar o nó na garganta.
— Olivia — comecei, hesitante — você tem notícias do Guilherme? Ele ainda fala de mim?
Ela balançou a cabeça, os olhos escurecendo.
— Ele se fechou depois que você foi para os Estados Unidos. Perdemos contato. — Ela suspirou. — Vocês eram tão bons juntos.
— Não deu certo. Éramos jovens e inocentes, e meus pais nunca aceitaram nosso relacionamento. — Senti uma pontada de tristeza ao dizer isso.
Ela assentiu, com um olhar distante.
— Eu me lembro. Sua mãe nunca me disse por quê.
— A vida é cheia de surpresas, não é? — Sorri, mesmo com a dor. — Mas estou aqui, pronta para seguir em frente e aproveitar essa nova fase em São Paulo.
— Ah, quase esqueci! Depois que você deixou o Brasil, Margarida e Bianca começaram a estudar enfermagem.
— Bianca, enfermeira? — Levantei uma sobrancelha, surpresa.
— Sim, ela decidiu ser enfermeira. E, não é que, ela está se saindo muito bem. Margarida também se tornou uma enfermeira de sucesso, e agora elas estão trabalhando no Ultra São Paulo.
— No mesmo hospital aonde vou trabalhar? Estou ansiosa para trabalhar com elas. — Comentei surpresa.
— Parece que o destino resolveu unir vocês três. Vocês terão a oportunidade de reforçar os laços de amizade.
— Estou ansiosa para ver a reação das duas quando me virem. — Comentei, sorrindo.
A noite foi uma mistura de nostalgia e empolgação. Olivia mostrou interesse em tudo sobre mim, desde meu trabalho até meus sonhos, porém, uma pergunta ficou no ar: o que eu faria?
Saí do restaurante e senti o ar fresco da noite. As luzes da cidade brilhavam ao longe, como um mosaico de estrelas. Só conseguia ouvir o barulho das folhas, um lembrete de que a vida continua.
No caminho para casa, comecei a refletir sobre a noite. Cada passo me fazia reviver as risadas, as histórias e a conexão que sentimos. Saboreei cada momento, lembrando da risada de Olivia, das perguntas profundas e do olhar sincero. Tudo isso contribuiu para uma noite maravilhosa que nunca esquecerei.
Cheguei em casa e a realidade do dia começou a voltar. A adrenalina do encontro diminuiu e senti uma sensação de cansaço. Tomei um banho quente para relaxar, coloquei meu pijama e me preparei para dormir. Antes de me deitar, olhei pela janela para a cidade que ainda estava acordada. Foi uma noite muito bem aproveitada.
Exausta, mas satisfeita, finalmente me deitei. O conforto dos lençóis e o silêncio da noite me envolveram, e adormeci com os pensamentos do encontro ainda frescos na minha mente.
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