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Dores compartilhadas


O SOL DA TARDE ENTRAVA PELAS JANELAS DO HOSPITAL, LANÇANDO UMA LUZ SUAVE SOBRE O AMBIENTE. Guilherme me envolvia em um abraço firme, contrastando com o frio clínico do hospital. O aroma do perfume dele parecia me acalmar, mesmo em meio à confusão.

— Vamos descobrir quem fez isso com a Paty. Vai ficar tudo bem, meu amor. — Ele falou, com a voz rouca.

O tom carinhoso de Guilherme me trouxe uma lembrança fugaz dos momentos felizes que compartilhamos. No entanto, essa lembrança se dissipou rapidamente, dando lugar a uma onda de tristeza profunda. Eu senti um nó na garganta e as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, traindo o desespero que tentava esconder.

— Obrigada — eu disse, a voz quebrando enquanto tentava controlar o choro.

O tempo parecia se arrastar com o barulho dos aparelhos e as pessoas correndo pelo corredor. Margarida e Bianca tentavam nos animar, mas a tristeza era visível.

Então, um policial alto e magro entrou na sala, interrompendo o silêncio pesado. Levantei os olhos para ele. O uniforme azul-marinho estava impecável, mas seu rosto exibia sinais de cansaço e preocupação.

— Marina Martins? — A voz dele era firme, mas com um toque de compaixão.

O som do meu nome me fez sentir um frio na barriga. Eu olhei para ele, com a esperança de novas informações misturada a um medo crescente.

— Sou eu. — Minha voz saiu mais firme do que eu me sentia, mas minhas mãos tremiam levemente ao lado de Guilherme.

Ele se aproximou com um olhar sério e se apresentou.

— Sou o policial Costa. Tenho algumas atualizações sobre Patricia Martins. — O tom era controlado, mas a empatia em seus olhos era clara.

Gui me abraçou ainda mais forte, um gesto silencioso de apoio. A conversa que se seguiria seria a primeira peça de um quebra-cabeça que eu ansiava completar, por mais doloroso que fosse.

— Quais são as notícias? — perguntei, a voz rouca.

O policial pousou a mão em meu ombro, um toque leve, mas que carregava o peso de uma notícia devastadora.

— Encontramos o corpo de Bruno Martins esfaqueado no apartamento que ele dividia com Patrícia. As câmeras de segurança mostram que Patrícia tentou se defender antes de sofrer uma queda fatal. — Ele explicou com uma voz quase baixa.

A revelação foi um soco no estômago. Meu corpo se contraiu, um frio gelado percorreu minha espinha e fiquei paralisada. Bruno, sempre tão gentil, envolvido em algo tão brutal? Eu não conseguia processar a gravidade da situação.

A imagem da minha irmã, ferida e desesperada, tentando escapar pela janela, surgiu na minha mente como um pesadelo vívido. As lágrimas começaram a escorregar lentamente pelo meu rosto. Uma onda de raiva e impotência me envolveu, e minha respiração ficou ofegante. Minhas mãos tremiam, e precisei me apoiar na cadeira para não desabar.

Guilherme me ajudou a me sentar, seus olhos cheios de uma tristeza que ecoava na minha alma.

— Então, Bruno a atacou? — questionou, a voz incrédula.

O policial assentiu, com uma expressão grave em seu rosto.

— Sim, e se confirmarmos a legítima defesa, não haverá problemas legais para Patrícia. — Disse ele, com um tom que procurava oferecer algum conforto.

Envolvida nos braços dele, senti um calor tênue em meio ao frio daquela sala. Margarida e Bianca se aproximaram, seus olhares cheios de compaixão. As horas se arrastaram, cada segundo uma eternidade. Milhares de perguntas ecoavam em minha mente: o que levou Bruno a agir de forma tão violenta? O que se passou naquela noite? E Patrícia, como ela iria lidar com essa tragédia?

Finalmente, uma enfermeira se aproximou com um sorriso tranquilizador.

— A cirurgia foi um sucesso. Patrícia está fora de perigo — ela informou.

Respirei aliviada, a tensão havia finalmente ido embora e o abraço reconfortante de Guilherme trouxe algum alívio. No entanto, eu sabia que a conversa com minha irmã era inevitável.

Decidi ir sozinha falar com ela. Quando entrei no quarto, a luz tênue da janela projetava sombras sutis sobre o rosto pálido dela. Seus olhos, cheios de umidade, se fixavam no teto, como se buscassem respostas.

— Desculpa, Marina — ela sussurrou, a voz rouca e fraca. — Eu nunca quis que as coisas chegassem a esse ponto.

As lágrimas nos seus olhos eram um espelho das minhas. Vi nela a mesma dor que senti quando namorava Leon, a mesma sensação de impotência.

— Eu sei como é, Paty — respondi, minha voz suave. — Passei por algo parecido... com o Leon. — A palavra escapou de mim como um sussurro.

Ela arregalou os olhos, como se tivesse sido atingida por um raio. O silêncio que se instalou entre nós era denso, carregado de emoções que imploravam para serem libertas.

— Você... você também? — ela murmurou, a voz quase inaudível.

Respirei fundo, buscando as palavras certas. A verdade era como uma ferida antiga que eu mantinha escondida, e ao expô-la, senti um misto de alívio e medo.

— Sim, irmã. Agora estamos juntas para superar isso. — respondi, minha voz firme. Uma lágrima escapou do canto do meu olho e rolou pelo meu rosto. Seus olhos brilhavam com uma mistura de alívio, gratidão e culpa, como se estivesse sendo perdoada por algo que nem havia feito.

Ao olhar para ela, vi em seus olhos um reflexo da minha própria alma ferida. Entrelacei nossos dedos, sentindo o calor da sua pele me acalmando. Lembrei-me de nossas tardes de infância, construindo castelos de areia na praia. Aquele vínculo, que havíamos perdido, estava sendo lentamente restaurado.

— Eu nunca imaginei que você tivesse passado por algo assim — ela murmurou, a voz embargada.

Compartilhar nossa dor criou um vínculo mais profundo do que eu imaginava. Levantei-me e ajeitei os cobertores, acariciando suavemente seus cabelos. Senti um calor no coração ao perceber que estávamos nos aproximando.

— Quase ninguém sabe, minha irmã, mas agora você precisa descansar; afinal, acabou de passar por uma cirurgia de risco — mencionei, vendo ela sorrir em minha direção. Aquele sorriso, que transmitia alívio e confiança, foi como um bálsamo para minha alma. Lentamente, seus olhos se fecharam e ela se entregou a um sono profundo e reparador.

Ao sair, uma sensação de esperança me envolveu, como se estivéssemos começando a curar as feridas abertas. No entanto, a tranquilidade foi interrompida pela voz de Guilherme, que me observava com uma expressão preocupada.

— Quem é Leon? — perguntou ele, sua voz baixa e rouca no corredor vazio.

A pergunta me pegou de surpresa, e um frio na espinha percorreu meu corpo. Não me lembrava de ter mencionado esse nome, mas a insistência dele e a preocupação em seus olhos me deixaram desconfiada.

— Leon... — comecei, tentando encontrar as palavras certas. — É alguém do meu passado, um capítulo que eu preferia manter fechado.

Guilherme olhou para mim, a tensão visível em seu semblante. Sentia que a conversa sobre Leon não seria simples, mas também tinha consciência de que era hora de enfrentar o passado, por mais doloroso que fosse.

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