A verdade por trás das lágrimas
MINHA TENSÃO AUMENTOU QUANDO MARGARIDA ENTROU NA SALA DE DESCANSO E OLHOU PARA A PORTA ONDE MARINA HAVIA SAIDO.
— Guilherme, o que aconteceu? — perguntou Margarida, preocupada.
Respirei fundo enquanto apertava meus dedos nas palmas das mãos.
— Marina... — murmurei, franzindo a testa — O reencontro a atingiu mais do que eu poderia ter previsto.
Margarida mordeu o lábio, os olhos cheios de lágrimas.
— Oh, Marina. Vou procurar por ela para ver se consigo ajudá-la.
Minha angústia aumentou com o silêncio depois que ela partiu. Muitas emoções foram despertadas pelo beijo de Marina. Tentando afastar essas lembranças, passei as mãos pelos olhos.
Foi então que o Dr. Ricardo apareceu na porta, visivelmente preocupado. Desde a faculdade, ele sempre teve essa expressão séria, mas eu sabia como ele era bondoso.
— Precisamos de você na sala de cirurgia.
[...]
Depois de longas horas de cirurgia, informei os familiares sobre o que aconteceu. Meu coração estava pesado e, no corredor, as luzes fluorescentes e o zumbido do ventilador pareciam intensificar meu estado de espírito.
Enquanto caminhava pelo corredor, ouvi duas enfermeiras conversando e mesmo que tentassem sussurrar, era possível ouvir sobre o que elas falavam.
— Já conheceu a nova médica? — perguntou uma delas.
— Ainda não. — respondeu a outra, com curiosidade.
A enfermeira se aproximou, baixando um pouco a voz para que ninguém mais ouvisse, mas ainda consegui pegar o que ela dizia.
— Dizem que ela veio dos Estados Unidos... e que tem um passado complicado.
— Como assim?
— Parece que ela vivia no Brasil e teve um divórcio difícil.
— Nossa, que complicado. Eu não sabia.
— Dizem que ela traiu o marido antes de sair do país.
— Verdade? E ela olha que ela parece tão inocente. — A enfermeira riu, como se estivesse fazendo uma piada.
Meu coração acelerou ao ouvir isso. Sem pensar duas vezes, fui em direção à Marina, decidido a entender melhor a situação. Andei por alguns momentos que pareceram horas até que a avistei conversando com Margarida e Bianca na entrada, onde alguns médicos estavam reunidos.
— Marina! — chamei. — Preciso entender uma coisa. É verdade que você terminou nosso casamento porque me traiu? — perguntei, procurando respostas.
Marina ficou chocada, seu rosto pálido de medo.
— Guilherme, por favor, precisamos conversar em outro lugar — ela pediu, desesperada.
— Se tem algo para explicar, que seja agora — insisti, com raiva e confusão crescendo.
Marina respirou fundo, tentando se controlar.
— Eu me mudei, mas não foi por traição. A situação é mais complicada. Precisamos de privacidade para conversar.
Acompanhei Marina até uma sala de descanso vazia e fechei a porta.
— Agora, fale — disse, firme.
— Guilherme, nunca te traí — começou ela, emocionada.
— Então, por que terminamos? — perguntei, ansioso para entender.
— Eu... estava grávida — a voz de Marina saiu como um sussurro doloroso.
— Grávida? — minha voz estava cheia de surpresa e dor. — Você se mudou para os Estados Unidos grávida?
Marina confirmou com um aceno, lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Por que fez isso? — perguntei, confuso e magoado, passando as mãos pelos cabelos, tentando me controlar. — Você sabia que eu queria ser pai e fez isso comigo.
— A grande culpada por tudo isso foi Diana Martins... — Marina murmurou, visivelmente angustiada. — Ela me ameaçou, dizendo que, se eu não terminasse com você e me afastasse, mataria a nós três.
A revelação me atingiu com força. Fiquei em silêncio, tentando entender. A raiva só aumentava.
— Não consigo acreditar que ela fez isso com você... com a gente. — Minha voz estava rouca, mostrando a intensidade dos meus sentimentos.
Marina balançou a cabeça, os lábios tremendo.
— Sim. Eu não tive escolha. Diana fez ameaças terríveis, não só para mim, mas para você e para o bebê.
— Por quê? — perguntei.
Ela desviou o olhar.
— Ela queria me manipular. Você namorou minha irmã quando eram mais novos, então minha mãe estava planejando um casamento por herança... entre você e a Patrícia.
Senti uma mistura de compaixão e raiva. Não conseguia parar de pensar na injustiça que Marina havia enfrentado e na perda que ambos sofremos.
Marina suspirou profundamente.
— Por que você não me contou antes? — perguntei, com dor e confusão. — Se você tivesse me contado, talvez eu pudesse ter feito algo para ajudar.
Lágrimas escorriam pelo rosto de Marina.
— Eu estava com medo, Guilherme. Medo do que Diana poderia fazer. Acreditei que essa era a única maneira de proteger todos nós. Só agora, após quinze anos fora do Brasil, decidi voltar, mas nunca imaginei que você estivesse aqui.
Respirei fundo, tentando manter a calma.
— Onde está nossa filha? — minha voz tremia.
Marina hesitou, com os olhos cheios de lágrimas.
— Guilherme, antes de responder... sua namorada não vai achar estranho você conversar comigo?
Franzi a testa, confuso.
— Que namorada? Eu não tenho namorada, Marina. De onde tirou isso?
Marina suspirou, passando a mão pelo cabelo.
— Paola. Ela se aproximou de mim depois que cuidamos da Vitória. Disse que eu deveria me afastar de você.
Meus olhos se arregalaram de surpresa e raiva.
— Paola tentou me beijar, mas eu a afastei. Ela não é minha namorada. Está agindo de maneira possessiva, mas não temos um relacionamento. — expliquei. — Você partiu antes de ver aquela cena do beijo.
A tensão entre nós aumentava, com revelações dolorosas.
— Mas há algo que gostaria de esclarecer com você — disse ela.
— Claro, pode falar.
— Há alguns dias, quando todos estavam gripados e Laís pediu minha ajuda, eu vi você com uma menina loira na entrada do hospital.
Dei uma risada e balancei a cabeça.
— Marina, a menina loira que você viu comigo... — comecei, com a voz mais calma — é a Lorena, minha afilhada. Ela está morando comigo desde que os pais dela faleceram em um acidente.
Marina piscou, surpresa.
— Lorena? — repetiu, tentando lembrar. — Filha de quem?
— Amélia e Peter Schneider — respondi, observando sua reação. — Lembra deles? Nos aproximamos quando começamos a namorar.
Marina levou a mão à boca, lembrando.
— Então é filha deles... — murmurou Marina, processando a informação.
Assenti meus olhos mostrando tristeza e carinho.
— Sim. Depois da morte deles, passei a cuidar dela. Tem sido um desafio, mas estamos nos adaptando.
— Sinto muito pela perda deles, Guilherme. Deveria ter perguntado antes de tirar conclusões — admitiu Marina.
Segurei suas mãos e disse:
— Sinto muito, Marina — respondi, com um suspiro. — Pelo que você passou por causa de Diana, mas primeiro, quero conhecer nossa filha e fazer parte da vida dela.
Marina chorou intensamente. A abracei, tentando confortá-la. Quando ela se afastou, suas lágrimas e expressão de tristeza mostravam o peso da situação.
— Guilherme, nossa filha... — Marina começou, com a voz trêmula. — Era uma menina. Foi sequestrada logo após o nascimento. Nunca consegui vê-la ou segurá-la.
A revelação foi devastadora. Eu lutava para processar a notícia, e a dor nos olhos de Marina aumentava minha angústia.
— Sequestrada? — repeti, quase em um sussurro. — Como isso aconteceu?
Marina enxugou as lágrimas, tentando continuar.
— No hospital, antes do parto, desmaiei por causa de uma sonolência repentina. Quando acordei, soube que nossa filha havia desaparecido, e as autoridades nunca encontraram pistas.
Fiquei em silêncio, absorvendo o impacto da revelação. A raiva contra Diana e a dor pela perda da nossa filha só aumentavam.
— E você nunca... nunca teve alguma pista? — perguntei, lutando para manter a calma.
Marina balançou a cabeça, derrotada.
— Nunca soube o que aconteceu com ela. Tentei de tudo para encontrar pistas, mas parecia em vão. A esperança foi diminuindo com o tempo, e enfrentei isso sozinha.
— Vamos encontrar nossa filha — disse, sentindo uma nova sensação de união e propósito.
Marina me olhou, parecendo aliviada e cansada ao mesmo tempo. Mesmo triste, havia um brilho de esperança nos olhos dela. Tudo ao nosso redor sumiu. Não sabia o que nos aguardava, mas estava pronto para enfrentar tudo com ela.
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