♛CAPÍTULO 3♛
Cinco dias desde que eu saí da minha casa, e eu já quase posso me acostumar com a nova rotina. Christopher vai para o gabinete às 8 horas da manhã, e eu só me levanto quando eu já sei que ele saiu. Então chamo Janete, que é uma mulher simpática, sou servida com um belo café na cama e fico no meu quarto fazendo grandes nada até o horário de almoço. Christopher chega todos os dias no mesmo horário, e costumamos almoçar juntos, só que não conversamos muito, ele me chama para ver um filme quando não tem nenhum trabalho pendente, e quando tem, ele fica no escritório, que fica no segundo andar.
O fato é que mesmo estando aqui, não sinto como se fosse a minha casa, por isso fico no quarto, que é o único lugar onde eu me sinto mais a vontade, menos quando Christopher insiste em vir aqui.
Ele vem tentando se aproximar, mas eu fico repelindo todas as suas tentativas. Christopher tenta usar sua beleza ao seu favor. É quase impossível não se atrair por ele, Christopher é alto, tem um corpo muito bonito, todo definido, e ainda insiste em ficar desfilando sem camisa pelo palácio. Já eu tento não olhar muito para ele, e evito qualquer tipo de contato físico, mesmo ele tentando sempre. Acho que Christopher deve pensar que eu irei cair nos braços dele apenas por ele ser rei, mas coitado, não sabe o quão enganado está.
Venho pensando todos os dias em uma maneira de conseguir fugir desse casamento, mas ainda não encontrei nenhuma brecha, apenas tento fazer com que ele desista de querer se casar comigo futuramente. Mas é confuso, porque parece que ele está tentando ser legal comigo, compra coisas que eu gosto de comer, me deixa escolher filmes, e ontem veio me perguntar se eu queria que ele comprasse alguma coisa, e eu dei a ele uma lista de livros que eu gostaria de ler, vamos ver se ele irá trazer.
Sentei na cama, com meus pés pendurados para fora. O quarto que eu tenho ficado é quase que o tamanho da minha antiga casa, e o closet é como se fosse o meu antigo quarto junto com o quarto dos meus pais, e o banheiro é quase que do tamanho do quarto, um pouco menor, mas deveria ser coisas de 2 metros quadrados a menos. No geral eu gostei da decoração, cores claras, uma mistura entre bege, branco e prata, tudo sofisticado demais, enquanto meu antigo quarto era todo colorido e cheio de móveis que não combinavam.
Levanto da cama e ajeito os lençóis. A cama tem um tamanho absurdamente grande, e eu ocupo bem menos da metade da cama. Pego o controle remoto e abro as cortinas automáticas, esse foi um detalhe que me deixou boba. Queria fechar as cortinas na noite em que eu cheguei, mas eu não conseguia, o lado de fora do palácio fica todo aceso durante a noite, e as luzes me incomodaram quando eu tentei dormir, e eu já estava nervosa, e obviamente não conseguiria dormir, a claridade que vinha das janelas apenas piorou mais ainda a situação. Na manhã seguinte, enquanto eu arrumava as minhas coisas, eu achei um controle, e não tem nenhuma televisão, ou ar condicionado, mexi no controle e milagrosamente as cortinas se fecharam. Fiquei boba quando descobri esse detalhe, e passei a brincar com as cortinas, apenas para descobrir todas as funções dela.
Peguei meu celular para ver se havia alguma mensagem, minha mãe e meu pai todos os dias me mandavam mensagens perguntando se eu estava bem, e sempre respondia que sim, sem entrar em muitos detalhes, pois ainda estou muito decepcionada com os dois por terem escondido isso de mim durante tanto tempo. Ainda tento entender o porquê disso, não está sendo fácil pensar sobre isso durante o tempo todo, todos os dias. Fico confusa, e quando penso demais sinto uma vontade absurda de chorar, porque isso que está acontecendo é muito difícil. Como irei me casar com Christopher? Ele é um homem vivido, bem mais velho que eu, sabe-se lá o que ele já fez, ou se tem algum tipo de IST, porque eu não duvido de nada, esse homem tinha a vida mais libertina que toda Aregan já viu.
Fiquei um tempo olhando pela janela, e de longe eu pude ver meu pai segurando um tablet, ele conversa com outras pessoas, provavelmente designando alguma ordem, já que ele foi promovido como chefe da equipe de jardinagem há alguns anos. Parecia que o seu Jordani sabia que eu estava ali o olhando, então acenou para mim, eu acenei de volta e dei as costas, indo até o banheiro para escovar os meus dentes e lavar o rosto.
—Bom dia, senhorita Manteufell, imaginei que já estivesse acordada. — Ouço a voz de Janete. — Trouxe seu café da manhã.
— Olá, Nete, bom dia. — Me sentei na cama enquanto ela empurrava o carrinho para perto de mim. — Christopher já saiu?
— Sim, ele saiu um pouco mais cedo hoje, querida. — Respondeu, sempre com um sorriso simpático.
Fiquei bem incomodada quando conheci Janete, pois eu pensei que Christopher queria uma babá para ficar me vigiando, porém, eu aprendi a gostar dela no decorrer dos dias, afinal, ela e os funcionários são as únicas pessoas que estão por perto o dia todo.
Janete me deixou sozinha depois de perguntar se eu precisava de alguma coisa. Comecei a me servir com algumas torradas e café preto. Abriram a minha porta e eu fiquei espantada quando vi que a antiga rainha entrando no quarto.
— Isobel, bom dia, querida! — Ela se aproximou de mim e deu dois beijinhos em minhas bochechas. — Como está?
— Vou bem, e a senhora? — Pergunto.
— Sem me chamar de senhora, agora você é minha nora, então quero que sejamos amigas.
Eu rio meio sem graça, pois ela já me considera sua nora, e eu não tenho nenhum sentimento pelo seu filho — a não ser a raiva —, mas não irei estragar as coisas agora, apenas concordo.
— Chris me ligou, ele avisou que não vai conseguir vir almoçar hoje com você, porque surgiu um almoço com algum engenheiro lá, e ele não pode adiar.
— Ah, tudo bem. — Digo.
— Então você vai passar o dia comigo, estarei te esperando lá na sala.
Ela saiu do quarto e eu comecei a correr até o closet para arrumar alguma roupa que eu pudesse usar para um almoço com a antiga rainha de Aregan. Por Deus, eu nunca havia pensado que um dia eu passaria por isso, e olha para mim agora.
Pego um vestido amarelo de tom pastel, ele é coladinho no corpo e tem um babado na parte do busto. Separei uma sandália rasteirinha dourada e fui tomar um banho. Lavei meu cabelo correndo, e passei pelo menos um gloss e um rímel. Edith é o tipo de mulher que brilha, que passa e você sente como ela é bonita e elegante, e quer se sentir tão bonita assim. Eu não queria me sentir inferior, não mesmo. Dizem que é deselegante sair com o cabelo molhado, mas acho mais deselegante atrasar.
Peguei meu celular e fui até a sala, Edith conversava com a Janete sobre alguma receita que ela estava aprendendo. Dei um oi para Lawrence que estava em seu lugar de sempre perto da porta e a antiga rainha se levantou vindo até a mim, cruzando nossos braços.
— Foi ótimo encontrar você, vou voltar para nós trocarmos mais receitas, agora vou passar um tempo com a minha norinha.
Saímos de braços dados do apartamento de Christopher. O dia estava lindo, e eu senti falta das manhãs em que eu ficava cuidando das flores do quintal da minha casa. E senti falta da minha mãe, do café fresco, do cheiro que só o pão dela tem. Soltei um longo suspiro, são tantas lembranças, tanta saudade, mas a mágoa que eu sinto não é pouca, ainda dói saber que tudo isso foi feito pelas minhas costas. Acho que pelo menos eles deveriam ter me contado antes, talvez seria mais fácil para aceitar.
Christopher sabia de tudo o tempo todo, ele foi privilegiado com todas as informações sobre mim, sobre o casamento, e eu o odeio por isso. Venho tentado arrumar um jeito de escapar, procuro uma brecha, mas são poucos dias, então fica difícil.
Edith e eu chegamos até o apartamento dela, o ambiente era totalmente diferente do de Christopher. Os móveis são antigos e escuros, mas bem conservados, e há vários quadros espalhados pelos cômodos. Inclusive um quadro da família. Eu observo a pintura por bastante tempo, Christopher estava em pé ao lado de seu pai, que estava sentado ao lado de sua mãe.
— Querida, queria te mostrar algo. — Edith me chama e pede para eu seguí-la.
Subimos as escadas e o ambiente do segundo andar era bem parecido com o debaixo. Ela entrou em uma porta e eu fui atrás. Fiquei impressionada com o que estava vendo. Parecia uma joalheria com tantas coisas. Diversas joias dispostas em prateleiras de vidros, como se fosse uma exposição cara de leilão.
— Impressionante, né? Tive a mesma reação quando conheci esse lugar. — Se aproximou de mim. — Esse foi o primeiro conjunto que eu usei. — Apontou um conjunto de rubis.
— São lindos.
— Sim, com certeza, mas eu quero te mostrar outra coisa. — Pegou em minha mão e fomos até uma porta. Ela digitou uma senha que estava na porta, e ouvi o barulho dela sendo destravada. As luzes da sala se acenderam automaticamente, e eu fiquei boba com o que eu havia visto.
Há diversas tiaras em vitrines, e no centro há duas coroas em especial, dentro de uma redoma. Reconheci como sendo as coroas do rei e da rainha. Ambas eram banhadas em ouro, era diferente, pois esse brilhava de uma maneira sem igual. A masculina tinha um tecido azul por dentro, o redor era cravejado em diamantes, mas a principal pedra preciosa era a safira. A feminina era um pouco menor, a cor era vermelha e a pedra preciosa principal era o rubi.
— Isso aqui é tudo nosso. — Apontou para a estante com tiaras de diversos modelos e cores. — Você pode vir aqui sempre que quiser usar alguma coisa.
— Obrigada. — É tudo que eu digo.
Olho algumas peças, e sou surpreendida com Edith colocando uma tiara em mim. Ela me encaminhou até a frente de um espelho, e eu senti um leve comichão na barriga. A antiga rainha sorria para o meu reflexo, e eu estava estática vendo a tiara em minha cabeça. Ela é branca, com diversas flores entrelaçadas.
— Você parece uma princesa, tenho certeza que meu filho deve estar encantado com a sua beleza.
Erguer as sobrancelhas foi algo bem instintivo meu, não que eu queria estar debochando da rainha, mas até que foi engraçado ouvir isso. Como se Christopher fosse se atrair por mim, logo eu que nem me arrumo para ficar perto dele. Eu já vi algumas das meninas que Christopher costumava sair. Todas muito altas, muito magras, ou eram famosas, inclusive uma modelo da Victoria Secrets, que ele já foi visto mais de uma vez, na época toda a impressa ficou enlouquecida falando que ela poderia ser a futura rainha de Aregan, mas olha eu aqui, na sala da coroa, usando uma tiara que deve custar meu coração no mercado negro, ao lado da mãe do rei, que fica me chamando de norinha.
Eu tirei uma foto com a tiara, porque não sou boba. Eu até que me achei bonitinha com ela. Edith pediu meu número, e perguntou se eu poderia enviar a foto para ela, pois disse que havia ficado linda.
Fomos até o andar térreo, e Edith me levou até o solário. Era um lugar incrível, com poltronas e sofás de palha, com almofadas de cor roxa. A mesa estava disposta, com alguns petiscos, mas eu não estava sentindo nem um pouco de fome. Me sentei no sofá, e ela em uma poltrona ao meu lado. Uma funcionária bem simpática nos trouxe uma bandeja com dois copos cheios de uma bebida da cor rosa, isso eu senti vontade de tomar.
Peguei um copo, e senti o gosto de morango, mas era bem forte, eu dei uma golada com força e acabei tossindo sem charme nenhum. Edith riu de mim, e ela parecia tão jovial.
— Querida, vá com calma com essa marguerita.
Eu não sabia que era bebida alcoólica. Eu nunca bebi nada assim, nem vinho, ou champanhe, mas eu já não iria fazer desfeita agora. Edith ficou me fazendo perguntas diversas sobre a minha vida, e eu respondia normalmente. No final eu acabei gostando dela, e o almoço foi muito gostoso, comemos salmão defumado com macarrão, nunca havia comido algo assim, e eu amei.
De barriga cheia, eu voltei a me sentar no sofá. Meus planos era odiar Edith, mas parece que isso será impossível. Ainda não tive tempo para conversar com o antigo rei Phillip, hoje ele foi jogar Golf e almoçar com alguns amigos.
— Quando Christopher começou a crescer eu tentei engravidar, meu sonho era ter uma menina, mas eu sofri três abortos até desistir de vez.
— Eu sinto muito, e por que não adotou? — Perguntei.
— Olha, eu pensei, mas eu já estava chateada, sabe? Queria muito ter uma menina, e depois eu soube que você iria vir para cá, e eu quero muito que sejamos amiga, porque agora eu vou te considerar como uma filha.
Cheguei a engolir a seco com o assunto. Ela espera por mim há anos, e eu não sei lidar com isso, ou se eu irei suprir suas expectativas quanto a mim. Edith ficou um pouco quieta, parecia pensar nas coisas que já tinha passado.
— Eu vou pedir a sua autorização antes de postar as fotos que tiramos no seu aniversário.
— Edith, eu vou ser sincera, nunca fui de me expor na internet, tanto que não tenho nenhuma rede social.
— Eu entendo, é que eu acho deselegante só chegar e falar que o Christopher está noivo, sabe como esse povo é. Você pode decidir a legenda.
— Acho que você seria mais elegante que eu.
Edith sorriu para mim e começou a mexer em seu celular. Ela disse que ela quem controlava todas as mídias sociais pessoais da família real, já que ela e Phillip usam juntos. Fui aconselhada a criar um Instagram também, porque eu poderia ser a porta voz de Christopher, poderia mostrar apenas o que eu queria, e que é uma maneira de controlar a língua dos jornalistas sensacionalistas. Pensando por esse lado...
— As pessoas irão ficar curiosas sobre você, os fofoqueiros irão inventar um monte de coisas, e você vai poder tirar a limpo, ou mostrar só aquilo que você quer.
— Eu achava que não podia. — Falei. — Os britânicos não podem, né?
— Eles são arcaicos, seguem regras de anos e anos, aqui nós estamos no século 21, se você quiser ser uma blogueira de YouTube, uma famosa em Instagram, tem total liberdade para ser.
— Tudo bem, eu vou criar agora a minha conta no Instagram.
Aproveitei o Wifi que já estava conectado no meu celular e baixei o aplicativo do Instagram, criar a conta foi fácil. Eu tinha umas fotos minhas, e coloquei no perfil uma onde eu estava na janela do museu, olhando Aregan. Foi um dia incrível, eu estava ao lado das minhas amigas, fazendo um passeio, e isso me faz lembrar como eu estou sendo negligente com as três, porque eu simplesmente sumi das mensagens no grupo. Não sei como poderei dar essa notícia a elas, e vejo que irão ficar sabendo da pior maneira possível.
Edith foi a minha primeira seguidora no Instagram, eu a segui de volta, e não demorou muito para as fotos aparecerem no meu Feed, e eu estava marcada nela. Eu já tinha visto as imagens, mas parece que o choque nunca passaria, agora o mundo todo vai saber sobre mim, sobre o que está acontecendo. Então li a legenda, "Essa semana nossa família comemorou o aniversário da doce Isobel Manteufell, namorada do Rei Christopher. Nós estamos muito contentes com a felicidade do casal."
Não demorou muito para o meu celular apitar em diversas notificações, uma massa de usuários estavam me seguindo, e vi que recebi algumas mensagens também. É muita coisa para a minha cabeça refletir, então decidi colocar meu celular em modo avião, até conseguir pensar melhor.
— As pessoas estão dizendo que você é linda, Isobel! — A rainha dizia animada, enquanto ainda mexia no celular, provavelmente vendo os comentários em sua publicação.
— Eu devo concordar. — Christopher apareceu na porta do solário, e um arrepio percorreu a minha espinha. Eu o odeio.
— Querido! — Edith se levantou quando seu filho se aproximou para beijá-la no rosto, e eu senti meu humor mudando na hora. Tudo estava muito agradável até ele chegar.
Christopher estava usando um terno de cor grafite, a gravata fina da mesma cor e uma camisa branca. Ele sentou-se ao meu lado, e o seu perfume é uma coisa que me agrada imensamente, pois nunca é forte demais, o cheiro almiscarado combina com ele, com seu ar masculino. Eu o odeio, porque ele é bonito. Odeio mesmo.
Ele sempre senta de maneira relaxa, colocou os braços em volta dos meus ombros, e meus olhos revirando foi inevitável, porém passou batido pela Edith, mas a risadinha debochada de Christopher me fez ter certeza que ele percebeu.
— Irei ao banheiro. — Edith se levantou rapidamente e saiu do solário, me deixando sozinha com o predador.
Não queria falar nada, e por isso eu ativei o sinal do meu celular, e ele não parou de vibrar e tocar nem por um segundo. Estava nervosa, e desconfortável com a presença dele ao meu lado, tanto que ficava cruzando e descruzando as minhas pernas constantemente. Christopher parecia distraído com o seu celular também. Abri o aplicativo de mensagens, e lá estava uma loucura, o grupo da família, pessoas me chamando, ligando, o grupo das meninas era outra coisa que eu mal consegui abrir. Mandei uma mensagem apenas dizendo um "oi" para as meninas, e elas começaram a fazer ligação em grupo, e eu recusando todas elas.
— Isobel Camellia Manteufell, você nem é louca de recusar mais uma ligação nossa! — Jessy mandou um áudio gritando, e mesmo tentando abafar o volume, Christopher me encarou.
— Sua mãe postou a nossa foto. — Expliquei. — Agora as minhas amigas estão enlouquecen... — Não consegui nem terminar a frase e o meu celular voltou a tocar.
— Atende, Isobel, vai ficar em negação para sempre?
Fiz uma cara feia para ele e aceitei a chamada de vídeo. As três estavam vidradas no celular e gritaram quando me viu pela chamada de vídeo.
— Que porra está acontecendo, Isobel? — Loren gritou. Ela é assim, sempre a mais explosiva de nós quatros, é o tipo de pessoa que vai comprar a sua briga, mas que também vai estar ao seu lado no pior momento.
— Eu não sei... — Falei.
— Não sabe? — Foi a vez de Ingrid falar mais alto.
— Você sumiu por dias, nem respondia mais as mensagens no grupo, não ligava, as mensagens não chegavam em você, e do nada, do nada...
— Você aparece como namorada do rei! — Loren cortou a fala da Jessy.
Christopher riu do meu lado e ele colocou a cabeça na minha frente. Pude ver o exato momento em que Loren cuspiu toda a água que tinha acabado de colocar na boca.
— Olá, meninas! — Ele disse de forma dissimulada, assim como tudo nele.
— Christopher! — O repreendi.
— Então é verdade? — As três perguntaram juntas.
Senti o braço de Christopher me trazendo para mais perto dele, ficamos colados, então assim nós dois parecemos juntos na tela do meu celular. Eu estava tão atônita quanto as meninas, mas a diferença é que eu estou sentindo isso há dias. Notei meu corpo começando a ficar fraco, como se eu fosse desmaiar.
— É verdade, Isobel e eu estamos juntos. — Christopher tomou o celular da minha mão, quando notou que eu não estava me sentindo bem. — Não é mesmo, Isobel?
Eu apenas olhei para ele, o silêncio das meninas me deixou chocada, pois dificilmente ficavam em silêncio, era sempre um estouro de falas, gritos e risadas, mas o rei estava em uma chamada de vídeo com elas, dizendo que é o namorado da amiga delas. Se fosse o contrário eu estava do mesmo jeito, ou pior.
— Meninas, eu sei que nós temos muito o que conversar agora, eu prometo que vou conversar o melhor com vocês, o mais depressa possível.
— Tem que ser hoje. — Jessy intimou.
— Ok, meninas, eu vou desligar agora, vou ver o que eu faço e falo com vocês.
Tomei o celular da mão de Christopher e desliguei sem esperar elas falarem. Estou com muita raiva dele, e se fosse possível eu bateria nele agora, é possível, mas não sou tão louca ainda.
— Você está maluco?
— Por que eu estaria?
— Falando com as minhas amigas, dizendo que somos namorados!
— E não somos?
— É óbvio que não, seu idiota! — Ele riu de mim. — A última coisa que eu quero é ser sua namorada!
— Todo mundo queria estar no seu lugar, todas as mulheres de Aregan.
— Que ótimo para você, para a minha sorte, a minha mãe sempre dizia que eu não sou todo mundo.
Sentia fumaça saindo dos meus ouvidos. Meu coração batia tão acelerado, que eu posso jurar que iria cair dura no chão a qualquer momento. Odeio Christopher, e odeio o jeito dele!
Não aguentava mais ficar sentada ali, levantei e saí batendo o pé para fora do solário. O tempo estava fresco, e eu não sabia para onde seguir, pois conhecia o caminho por dentro do palácio e não por fora. Era enorme, e eu posso facilmente me perder aqui. Caminhei para perto de um banco, próximo a um grande lago. Essa parte é linda, bem arborizada, com flores e arbustos lindos. Meu pai deve cuidar daqui também. Eu conheci apenas dois jardins, o da entrada, e o lateral, que é o que eu costumo ver pela janela do quarto onde estou ficando.
Sentei no banco que estava de frente para o lago, alguns patinhos estavam por lá tranquilamente, e eu fiquei os olhando. Sabia que Christopher estava me seguindo, mas andava devagar. Ouço seus passos atrás de mim, até que ele se sentou ao meu lado.
— Isobel, tem algo que nós dois devemos fazer juntos, e você sabe disso, que eu sei. — Ele dizia, mas agora está mais sério. Eu nunca o vi tão sério assim.
Não quis responder, fiquei calada, e apenas olhando os patinhos se divertirem no lago. Senti vontade de chorar, e estava pouco me importando com Christopher ao meu lado. Deixei minha vulnerabilidade falar mais alto e comecei a chorar igual uma doida. É tanta coisa acontecendo, tantas informações para processar, e esse homem que não larga do meu pé, é impossível!
— Tenho consciência de que você me odeia, e tudo bem, mas vamos manter essa informação apenas para nós dois, ok? A gente tem que fazer as outras pessoas pensarem que somos o casal perfeito e que estamos apaixonados um pelo outro. Faça isso pelos seus pais, Isobel.
Eu soluçava tanto que mal conseguia respirar. Talvez isso possa ter sido uma ameaça? Ou ele está sendo cauteloso comigo dando um aviso? Eu não sei! Isso me enlouquece. Já estava tão nervosa antes, e agora mais ainda. O que vai acontecer com os meus pais se eu não me casar? Essa dúvida me mata, mas eu não tenho coragem de perguntar ainda.
— Tudo bem. — Falo entre algumas lágrimas.
— Você pode chamar as suas amigas para vir aqui, isso sempre quando quiser.
— Não quero que elas venham hoje. — Respondo.
— E por que não?
— Não me sinto a vontade ainda, e eu quero muito vê-las.
— Tem um restaurante executivo que eu fui hoje mais cedo, lá eles têm aquelas salas com mesas particulares. Podemos ir lá.
— Podemos? Eu quero uma conversa particular com elas.
— Eu fico em outra mesa, porém, irei, quero conhecê-las.
— Era só o que me faltava.
Levantei e fui sozinha achar o caminho até o apartamento de Christopher, com o troço andando atrás de mim o tempo todo, e eu sabia que o traste estava rindo. Andei bastante até me deparar com a entrada conhecida e com o segurança que eu havia visto mais cedo, esse não é o Lawrence, e sim Arthur. Os dois parecem ser bem amigos de Christopher, pois estão sempre conversando pelos cantos.
Fui direto para o quarto, queria deitar e falei com as meninas sobre o tal restaurante, mas elas precisavam saber o endereço para irem até lá, e isso me fez ir atrás de Christopher. Ele vai direto para o banho quando chega, então deduzi que estava em seu quarto, eu entrei sem abrir a porta, e dei de cara com ele tirando a calça. Fechei os olhos na hora. Ele não poderia estar fazendo isso no banheiro?
— Que surpresa. — Diz de maneira cínica.
— Você pode ir se vestir? — Pergunto, ainda de olhos fechados.
— Posso, depois que eu tomar um banho.
Ouço ele caminhando pelo quarto. É a primeira vez que eu entro aqui, é bem semelhante ao meu, só um pouco maior. Sinto Christopher se aproximando de mim, ele parece entrar no closet, e eu decido dar uma espiada de leve.
— Pode ficar à vontade, eu não tenho vergonha. — Diz, ainda de costas para mim, mexe em uma gaveta da cômoda, e é tudo organizado. Roupas sociais separadas das casuais e esportivas, os sapatos organizados por cores e tipos. Obviamente não é ele que arruma isso. — Alias, Isobel, você vai ter que se acostumar a me ver assim, porque em breve nós iremos nos casar, certo? E eu adoro dormir pelado.
Meu queixo foi ao chão. Como ele tem coragem de me dizer isso? Senti todo meu rosto ficando quente, talvez eu esteja roxa nesse momento. Eu o odeio, e ele está falando de casar e dormir pelado.
— Que palhaçada! — Pensei alto.
Christopher riu, e então se virou para ficar de frente para mim. Eu tomei um susto, um gritinho ridículo escapou da minha boca, e eu tampei meu rosto todo com a minha mão. Não pode ser possível, senhor. Eu estou me tremendo todinha. Como um cara tão idiota como Christopher pode ser tão gostoso? Eu já estava me acostumando a vê-lo sem camisa, mas a primeira vez eu quase entrei em estado de choque. É bem evidente que Christopher passa algumas horas na academia, porque ele tem o corpo todo definido, daquele tipo que você consegue contar os gominhos do abdômen. Você sente vontade de lavar a roupa naquele tanquinho, e tem preferência em fazer isso com a língua se possível. E os pelos de Christopher são loiros. Quem tem pelos loiros na barriga e peito?
Eu estava me sentindo zonza, então sentei no recamier. Eu nunca tive nenhum contato físico com um cara, mas isso não me torna cega. Eu fico enlouquecida quando vejo fotos do Chris Evans, agora ver um homem no mesmo nível que ele pessoalmente, de cueca box vermelha, bem na minha frente é muito para o meu pequeno coração.
Engoli a seco, eu tenho que parar de pensar, ainda mais aqui na frente de Christopher, eu o odeio e estou pensando em como ele é gostoso. Vê-lo de cueca só me deu menos vontade de casar com ele, porque... Eu não posso pensar nisso.
— As meninas precisam saber onde é o restaurante.
Christopher entrou no banheiro, e eu não pude acreditar que ele começou a tomar banho com a porta aberta. Ele está brincando com a minha cara, eu tenho certeza disso. Respirei fundo e fiquei na minha.
— Vamos ao restaurante Le Claire.
— É um restaurante muito caro, Christopher.
— Suas amigas e nem você devem se preocupar com isso.
Sai do quarto sem responder. Eu nem estava conseguindo respirar com a atmosfera lá dentro. Corri até a minha suíte e entrei debaixo do chuveiro gelado. Alguma coisa esquisita estava acontecendo com o meu corpo, e eu precisava acalmá-lo. Tomei um banho bem demorado, ainda tenho tempo para me arrumar, também não sei que horar eu vou sair daqui. Sequei meu cabelo com o secador, e usei a chapinha de cabelo para fazer alguns cachos nas pontas. É um restaurante chique e eu não quero ir toda esculachada, e minhas amigas são vaidosas, elas provavelmente vão chegar lá como a Lady Gaga usando um vestido de carne. Fiquei procurando uma roupa, estava quase entrando em um colapso, porque não consigo achar nada descente para usar em um restaurante chique. Apelei e liguei para Janete vir me ajudar, deu nem dois minutos e a mulher estava no meu closet revirando tudo.
Minhas roupas já estavam jogadas no chão. Tudo que eu tenho são vestidos curtos, ou casuais demais.
— Ai, meu Deus, Nete! Eu não tenho nada para vestir. — Estava com a mão na testa, olhando toda a bagunça espalhada pelo chão.
— Calma, vamos dar um jeito. — Ela mexeu entre as roupas espalhadas no chão e tirou do bolo um vestido de linho, estilo chemise. A cor é azul marinho, e o tecido é bem leve, com uma amarração para marcar a cintura.
— Nete, você entende alguma coisa de maquiagem?
Janete tinha dito que não entendia muita coisa de maquiagem, mas ela soube se virar muito bem com as coisas que eu trouxe no estojo de maquiagens que a minha mãe mandou para mim. No fim eu estava com um blush com o tom de pêssego, um pouco de rímel e um batom vermelho, que Janete disse que daria um tchan a mais.
Fiquei sozinha no quarto e fui até a minha caixinha de joias e escolhi o conjunto que ganhei de Christopher no meu aniversário. Coloquei alguns documentos e o batom em uma bolsinha preta e calcei um scarpin preto, de salto bem alto. Andei toda torta pelo quarto para treinar, até conseguir andar mantendo a minha postura reta. Isso de usar salto alto é horrível, mas eu não quero parecer uma anã em público ao lado de Christopher.
Confirmei mais uma vez com as meninas sobre o restaurante e elas disseram que já estavam se arrumando, e me ameaçaram de diversas formas possíveis. Até parece que eu cometi um crime em não contar o que está acontecendo, se bem que se fosse o contrário eu estaria assim também.
Sai do quarto, Lawrence e Arthur já estavam em seus lugares próximo a escada. Eles sempre vêm para cá quando anoitece, e ficam mais seguranças nas entradas. Só que eles ficam um dia sim e um dia não, amanhã serão outros seguranças, mas eu não me simpatizei muito com eles, porque notei que os dois ficam me olhando demais quando eu estou circulando pelo palácio. E parece que Christopher também não é muito amigo deles dois.
— Meninos, boa noite. — Passei por eles, os dois sempre respondem um "boa noite, senhorita".
Ambos são caras atraentes, Lawrence foi o que mais me chamou atenção, sua cor de pele parece canela, e os olhos quase cor de mel. Ele é careca e tem uma boca bem carnuda. E é bem simpático, o que é ótimo. Ele parece ter seus 26 anos, no máximo. Já Arthur é normal, mas bonito. Pele bronzeada, como a maioria dos nascidos em Aregan, olhos castanhos e nariz fino, mas o charme mesmo é o furinho em seu queixo, da um toque especial.
Tirei uma selfie e mandei para as meninas, disse que estava apenas esperando o Christopher se arrumar, o que não demorou muito. Meu olhar demorou para passear pelo corpo dele, Christopher não brinca em serviço. Estava usando uma calça jeans escura, um suéter azul marinho e o sapato social casava totalmente com o look. O cabelo de Christopher estava totalmente penteado para trás, e o loiro ficava brilhando com os reflexos das luzes. Quem o vê assim na rua, jamais imaginaria que ele ficava andando todo descabelado pela casa apenas de bermuda, porque eu já notei diversas vezes que ele dispensa o uso de cuecas quando estamos sozinhos. O que é algo que me deixa absolutamente desconfortável, mas o que eu posso falar? Eu que estou de intrusa aqui.
— Mas que bela essa menina. — Christopher vem com aquele sorrisinho de sacana que ele tem. Eu o odeio, já disso isso antes?
Não respondi nada, apenas revirei os olhos e me levantei. Arthur e Lawrence estavam atrás de nós dois, enquanto andávamos para fora do apartamento de Christopher. Ficamos parados enfrente a calçada, e mais dois seguranças que eu nunca vi antes apareceram. Obviamente ele deve sair escoltado de casa, mas esse monte de brutamontes me assusta. Ainda mais esses novos, pois não possuem cara de bons amigos.
Uma Range Rover Evoque preta para na nossa frente, e Christopher caminha e abre a porta do passageiro assim que o manobrista saiu, e sinalizou com a mão para que eu entrasse. O olhei desconfiada, pois achava que iríamos entrar no banco traseiro, mas ele sempre me surpreende, e ocupou rapidamente o lugar do motorista. Então ele que irá dirigir essa noite.
Saímos do palácio com dois carros idênticos ao nosso, um na frente e o outro atrás. Esse automóvel até parece uma nave espacial, é muito confortável, e o cheiro de couro novo, como se tivesse acabado de sair da loja.
— Avisou as suas amigas que já saímos? — Christopher perguntou. Eu estava com o celular na mão e mandei uma mensagem no grupo, todas já estavam prontas.
— Sim, avisei. — Respondo.
— Ótimo, chegaremos rápido.
O caminho pela cidade foi tranquilo, fomos pela parte da orla da praia principal, muitas pessoas caminhavam distraídas, talvez não imaginassem que o rei do país estava a poucos metros dirigindo um carro. Senti vontade de abrir a janela, e de deixar o vento percorrer pelo espaço mínimo entre nós dois, queria sentir o cheiro da maresia e poder ouvir o som do lado de fora, mas creio que fazer isso no momento seria impossível. Obviamente iriam reconhecer Christopher a quilômetros de distância, e um motim seria arrumado facilmente.
— Sei que combinamos de sermos o casal perfeito para as pessoas, mas eu não posso mentir para as minhas amigas. — Começo a falar. — Irei ter um AVC isquêmico aos 18 anos se eu não conversar com ninguém sobre isso.
Christopher parou o carro no sinal vermelho e me olhou, notei seu olhar me avaliando por completo, e logo depois ele soltou um suspiro e me encarou. Eu engoli em seco, porque foi um olhar intenso demais, que eu mal consegui sustentar, mas não queria quebrar o contato. Um gelo se instalou na minha barriga, e isso me incomodou extremamente, por que ele tem que ser tão bonito?
— Tudo bem, você pode conversar com elas sobre isso, desde que elas sejam de confiança.
— É claro que são. — Rebato.
Me senti enfadada e voltei a minha atenção para a janela, ouço uma risadinha de Christopher e isso me irrita mais ainda. Tudo nele me irrita, seu andar arrogante e o jeito confiante de ser, como se todas as pessoas possíveis fossem se encantar por ele, mas não comigo.
Não tardou muito para chegarmos em frente ao restaurante, a fachada é incrível, e bem sofisticada, com um letreiro brilhoso escrito Le Claire. Vi que Lawrence saiu do carro da frente e foi falar com o segurança que estava de pé na porta. Observei a movimentação dos dois, e o nosso segurança fez um sinal de positivo para o Christopher, que novamente voltou a dirigir. Demos a volta no quarteirão e paramos em um estacionamento que tinha poucos carros e poucas vagas. Desci do carro antes de Christopher e ele veio para perto de mim.
— Posso pegar na sua mãozinha, querida? — Pergunta em um tom debochado, e antes da minha resposta ele pega na minha mão.
Ok. Respira fundo. Estou de mãos dadas ao lado de Christopher enquanto caminhamos. Sua mão é tão grande, que cobre completamente a minha. Eu tenho que praticamente correr para acompanhá-lo, então decido fincar meus pés no chão, e ele me olha irritado.
— Você está correndo, suas pernas dão três das minhas, então não tem como eu acompanhar você usando esses saltos altíssimos sem levar um belo de um tombo no chão.
— Esqueci que você é uma nanica. — Ele tenta brincar comigo e eu reviro os olhos.
— Antes uma nanica que um velho caduco. — O sorriso divertido dele se desfaz na hora. Ótimo, iremos entrar no restaurante com esse clima.
Não espero uma resposta sua, e volto a caminhar, ainda segurando a mão dele. A porta é aberta para nós dois, e é Lawrence. Ele sorri para mim e nos dá passagem. Eu nunca tinha entrado em uma cozinha profissional antes, e o cheiro que rondava no ar fazia meu estômago roncar. As pessoas que trabalham aqui pararam imediatamente quando notaram a nossa presença, todos vieram para perto de nós, mantendo uma distância imposta por Lawrence.
— Vossa Majestade, que prazer tê-lo novamente aqui conosco. — Um cara alto e barrigudo reverenciou Christopher. — Vossa Alteza. — Então abaixou-se na minha frente pegou a minha mão, beijando os nós dos meus dedos em seguida. Foi algo incômodo, pois nem da realeza eu sou.
— O prazer é todo nosso, chefe Germano. — Christopher falou de uma maneira simpática, com um sorriso. Me puxou para mais perto de si, mantendo a mão agora em minha cintura. — Essa é minha namorada, senhorita Manteufell.
— É um prazer conhecê-lo. — Tento ser educada e forço um sorriso, mas tenho certeza que devo ter expressado o meu desconforto.
— O prazer é todo meu, aposto que a futura rainha de Aregan estará jantando em meu restaurante.
Eu solto uma risada nervosa, talvez alta demais e deselegante demais. Christopher me aperta mais ainda contra seu corpo, e eu sinto uma leve tontura.
— Bom, creio que o senhor reservou aquela sala que eu pedi.
— Com toda certeza, meu rei. Duas mesas, assim como me foi pedido.
— Muito obrigado, nós iremos ao nosso jantar. Estarei esperando mais três meninas para nos acompanhar, meu guarda-costas já conversou com o segurança de seu restaurante sobre a chegada delas, e serão encaminhadas para a sala de jantar que eu reservei.
O chefe de cozinha assente com a cabeça e abre o caminho para que possamos passar. Andamos pela cozinha, e eu olho tudo com curiosidade, diversas panelas fumegantes, exalando um cheiro que será inesquecível.
Christopher continua com a mão nas minhas costas, me guiando pelo caminho que ele provavelmente já conhece. O salão era lindo, as pessoas estavam distraídas o suficiente para não notar a nossa presença ali. Subimos uma escada rapidamente, e havia um corredor com algumas portas no segundo andar, logo avistei Arthur em frente de uma delas. Entramos rapidamente, e eu fiquei impressionada com o ambiente. É uma sala com pouca iluminação, há uma adega na parede para decorar, duas mesas dispostas no centro e uma janela com visão panorâmica da praia. Eu fui rapidamente para perto dela, gosto de observar o movimento da rua, só assim eu deixo de pensar sobre o que está em minha volta, mas é meio complicado com o armário de Christopher ao meu lado.
— Gostou?
— Não é ruim. — Obviamente eu não daria o meu braço a torcer.
— Eu poderia trazê-la aqui para um jantar romântico.
Olho-o com o cenho franzido. Ele só pode estar de palhaçada com a minha cara, não é mesmo?
— Não me olha como se eu tivesse chifres, Isobel. — Parece me repreender.
— Chifres eu que vou ter se me casar com você.
Christopher fica sem uma resposta, e pelo reflexo da janela eu vejo Lawrence levando a mão na boca para tentar conter sua risada. Cruzei meus braços e fiquei ainda olhando a paisagem, tentando abstrair de tudo que vem acontecendo na minha vida. Sinto uma fraqueza me assolando, e eu vou até uma das mesas me sentar. Pego meu celular e vejo a mensagem das meninas dizendo que já estavam a caminho, e que tinha um pouco de trânsito, ótimo, irão demorar.
O clima entre Christopher e eu azedou, e eu notei isso, pois invés de se sentar ao meu lado para perturbar o que restava do meu juízo, ele se sentou na mesa a minha frente e ficou mexendo no celular. Assim eu consigo ter paz pelo menos.
Não demorou muito e a porta foi aberta. Loren, Jessy e Ingrid entraram meio assustadas, e eu levantei e fui correndo para perto das minhas melhores amigas, sendo imediatamente abraçada por elas. Senti naquele aperto um conforto que eu não tenho há dias, e a vontade de chorar retornou pela milésima vez naquele dia.
— Izzie, finalmente. — Loren me apertou com força, e agora cada uma delas me abraçaram.
— Estou tão feliz em ver vocês, sério mesmo.
— Nós também estamos.
Seguramos as mãos uma das outras, e nos entreolhamos, elas sabem que eu não estou nada bem, e seus olhares preocupados dizem isso.
— Nós vamos conversar, está bem? — Jessy apertou a minha mão com carinho.
Dei uma limpada na minha garganta e caminhei para perto de Christopher, que estava na companhia de seus seguranças. Ele levantou-se, e se aproximou de nós quatro. Minhas amigas estavam quase que congeladas na frente dele, eu entendo, tenho essa reação quase todos os dias.
— É um prazer conhecer vocês. — Ele diz de forma polida. As três se abaixam para reverenciá-lo. — Não precisam fazer isso, de verdade mesmo.
— Tudo bem. — Dizem juntas.
Respiro fundo enquanto ele aperta a mão das meninas, então apresento os seguranças a elas, e logo todos nos sentamos. Christopher ao menos respeitou o meu pedido de separar as mesas, ele se sentou com Arthur e Lawrence, ficando de frente para mim, nem mesmo a visão da cabeça de Jessy impediu que trocássemos olhares.
— Então. — Loren me olha, e vejo que ela já quer que eu comece a explicar tudo.
Começo a contar sobre os eventos dos últimos dias em tom baixo, apenas para que elas ouçam, e me senti confortável por estar dividindo o espaço com elas, tanto que aos poucos eu esqueci da presença dos homens.
— Calma, vamos ver se eu entendi. — Ingrid parou toda a conversa. — Os seus pais venderam você para o rei?
— Meu Deus, isso é terrível. — Eu sussurro para mim mesma.
— Não é nessa perspectiva, é claro que Isobel vai ter uma vida melhor agora, uma oportunidade que nenhuma garota do nosso bairro teria. — Jessy explica. — Fácil não é, amiga, mas é melhor que qualquer outra coisa. Você odiava todos os caras do nosso convívio, Christopher é bonito, parece que está disposto a te fazer feliz, e é alto.
— Por Deus, ele desmonta a Isobel se subir em cima dela. — Levantei a cabeça, olhei assustada para Loren, e depois para Christopher, que estava entretido com o garçom servindo vinho a ele.
— Ah, não, meu Deus. — Comecei a pensar sozinha e a me desesperar. Eu teria que fazer sexo com Christopher se nos nós casássemos. Entrei em estado de choque, porque essa realidade não veio na minha cabeça até o momento. — Eu sou virgem, meu pai, eu não posso.
O garçom chegou para trazer o suco de melão que havíamos pedido, e encheu nossas taças, então logo se afastou dizendo que a entrada seria trazida brevemente.
— Eu o vi de cueca. — Sussurrei para que as três me ouvissem, ambas arregalaram os olhos. — Eu não posso, realmente não.
— Amiga, você sabe que se casarem ele vai querer fazer poc poc com você, né?
— Jesus, Ingrid, não fale assim! — Jessy a repreendeu.
— É sério, eu vou surtar.
Antes de responderem, o garçom aparece colocando nossos pratos de entrada sobre a mesa. Pedimos vieiras, porque nunca comemos antes. Provamos em silêncio, e os homens na mesa a frente estavam comendo também. O olhar de Christopher posou sobre o meu, e eu senti meu estômago revirando, porque era como se ele estivesse me despindo na frente de todos ali.
— Ele quer realmente fazer poc poc, com você, não tirou os olhos de ti nem por um segundo. — Ingrid sussurrou no meu ouvido.
Bebi um pouco de suco para me acalmar. As vieras estavam uma delícia, mas não conseguia descer absolutamente nada na minha garganta.
— Precisamos conversar sobre isso. — Pontuou Loren. — Temos que te preparar para o momento.
— Mas eu não quero. — Digo.
— É óbvio que em um momento você vai querer, as coisas estão recentes, em breve estaremos recebendo mensagens no grupo dizendo sobre como o Christopher é maravilhoso. — Jessy diz.
— Você tem se depilado, Izzie?
A pergunta de Loren faz meu cérebro todo entrar em parafuso. Do nada a realidade bate na minha porta, lembrando que talvez eu não consiga fugir disso, e que talvez eu vá ter que me casar e que se eu me casar, uma hora ou outra eu terei que fazer sexo com o meu marido, porque pessoas casadas fazem sexo. E agora me vem a imagem de Christopher na minha frente usando apenas uma cueca. Meu pai do céu.
— Eu não posso transar com ele, porque ele é bem dotado. — Digo talvez alto demais, e vejo Christopher cuspindo todo o vinho que estava bebendo.
Que merda eu fui fazer da minha vida?
Me levanto, e vou correndo até o banheiro, pois um enjoo enorme me toma por completo. Todos ouviram o que eu falei, os seguranças ouviram e não seguraram a risada. As meninas me seguiram, e conseguem entrar comigo no banheiro antes que eu feche a porta. Me ajoelho de frente para a privada, mas nada saía. Eu não conseguia vomitar.
— Se acalme, está bem? — Loren alisou o meu cabelo.
— Como eu posso me acalmar desse jeito, gente? Eu quero saber.
— Você precisa de um tempo.
— Nem todo tempo do mundo vai mudar essa sensação de ter sido traída pelas pessoas que eu mais amo em minha vida.
Começo a chorar na privacidade só toalete. Queria ir embora, mas não queria ficar perto de Christopher, não depois de dizer em alto e bom tom que ele é bem dotado.
— Eu quero ir embora, mas não quero estragar a noite de vocês.
— Nós entendemos, podemos nos ver depois. — Ingrid alisa meu rosto e sorri docemente para mim. — Você quer que a gente chame o Christopher? — Ela pergunta e eu apenas assinto com a cabeça. Eu tenho que ter coragem de conversar com ele.
As meninas saíram do banheiro, e eu fui até a pia jogar uma água no meu rosto, tentar me acalmar um pouco. Logo Christopher entrou no banheiro, o espaço ficou ainda menor.
— Desculpa, ok? — Eu digo.
— Tudo bem, não me importo com o que você falou.
— Mas é claro que não. — Sorrio de deboche, obviamente o ego dele inflou com o meu ataque de histeria. — Eu só quero ir embora.
— E as suas amigas? — Pergunta.
— Posso encontrá-las depois, não estou me sentindo muito bem agora.
— Tudo bem, se você quiser assim. — Diz, então saí do banheiro, me deixando sozinha logo em seguida. Fico mais alguns segundos lá, refletindo sobre a minha vida e tudo que irá acontecer, caso eu siga em frente com esse assunto.
Quando eu saio, a mesa já estava desfeita, e os seguranças já não estavam mais lá. Christopher conversava alguma coisa com as minhas amigas, mas o assunto foi cortado assim que notaram a minha presença.
— Me desculpem, de verdade. — Abracei as três de uma vez.
— Elas poderão ir nos visitar sempre que quiser, nossa casa está aberta para vocês sempre. — A fala de Christopher me surpreende.
Saímos do restaurante pelos fundos, e Christopher chamou um de seus carros para deixar as minhas amigas em casa. Nos despedimos demoradamente, eu derrubei mais algumas lágrimas e logo entrei no carro, sozinha com Christopher mais uma vez.
O clima estava tão pesado, que ele decidiu ligar o rádio para ver o que estava passando, mas desistiu quando não encontrou nada que o agradasse. Eu me senti em clima de enterro, queria o colo da minha mãe, do meu pai, a minha avó me enchendo o saco. Qualquer coisa, menos estar aqui ao lado dele agora. Dou umas fungadas altas, coisa que eu não consegui controlar.
O caminho até de volta ao palácio foi mais rápido. Saltei do carro assim que ele parou em frente ao apartamento e esperei que abrisse a porta para eu entrar. Me livrei rapidamente dos saltos e me joguei no sofá. Me sinto como um ser unicelular nesse momento.
— Era para ser uma noite agradável com as suas amigas. — Ouço a voz de Christopher e ele se joga do meu lado. Fico horrorizada quando ele abre o cinto.
— Não me lembre disso agora. — Eu falo.
— Tudo bem, não irei lembrá-la, mas Isobel, você mal comeu, acho que seria legal comer alguma coisa antes de deitar.
— Eu não quero.
Ele se levantou, e segurou na minha mão para tentar me puxar. Eu estava mole, e sem forças, mas me levantei. Fomos até a cozinha e o observei abrir a geladeira. Não tinha nada pronto. Ele mexeu na dispensa e voltou de lá com uma lata de leite condensado e chocolate.
— Um brigadeiro, que tal? — Me pergunta animado, e eu só concordo com a cabeça, sem conseguir me contagiar com a sua animação.
Observo Christopher pegar uma panela e abrindo a lata de leite condensado, logo o despejando no recipiente metálico em seguida. Ele parece em dúvida do que fazer agora e me olha receoso.
— Eu não sei fazer isso, nunca fiz na verdade.
Eu reviro os olhos e vou para perto da bancada atrás dele. Pego a manteiga na geladeira, quebro os chocolates e os despejo na panela. É óbvio que ele não sabe fazer isso, ele nunca deve ter pego em uma panela na sua vida antes. Procuro uma colher nas gavetas e levo ao fogo quando acho uma.
Minha mãe sempre fazia brigadeiro para mim quando eu estava triste, e isso só me trouxe mais ainda a falta dela. Ouvi a movimentação de Christopher em separar duas colheres e ele ficou ao meu lado, olhando a panela em que eu mexia. Parecia interessado no processo. Odeio me sentir pequena quando estou por perto dele.
Quem diria que eu estaria na cozinha do palácio fazendo brigadeiro com o rei, é tanta ironia que eu até ri sozinha.
— O que foi?
— Nada, só é engraçado o fato de eu estar na cozinha do palácio fazendo brigadeiro com você do meu lado.
— Nem todo mundo tem essa sorte.
— Você é insuportável, Christopher.
Ele apenas sorri para mim, e eu finalmente desligo o fogo quando o brigadeiro da o ponto. Nos sentamos nos bancos em frente a bancada, e começamos a comer em silêncio. Pelo menos o brigadeiro estava bom.
— Ficou gostoso. — Ele elogia, enquanto lambe a colher, totalmente alheio ao meu olhar para ele.
— Pelo menos eu sei fazer brigadeiro, você não.
— Pelo menos eu sou bem dotado. — Ele brinca, e eu fecho a cara na hora. — Desculpa, falei sem querer.
— Você é ridículo. — Eu digo.
— E eu sei disso. — Ele da de ombros e continua a comer.
Eu estava com fome, e querendo comer aquele brigadeiro também, por mais que a presença dele me irritasse, eu ficaria ali até não ter nada mais na panela. Comemos até ter uma briguinha silenciosa para raspar a panela, e eu venci essa dessa vez.
— Por que você falou aquilo? — Pergunta, agora ele estava sério de verdade.
— Aquilo o quê?
— Sobre não poder transar comigo.
Meu rosto todo ficou vermelho igual um pimentão. Demorei alguns segundos até entender que ele realmente estava levando aquela conversa a sério. Eu jamais falaria a verdade para ele. Não mesmo.
— Não quero conversar sobre isso agora. — Eu digo, e já me levanto para sair daquela cozinha.
— Uma hora teremos que conversar, Isobel, iremos nos casar.
— A hora não é agora, Christopher. Boa noite.
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