♛CAPÍTULO 17♛
Eu não estava nada feliz em ir almoçar na casa dos meus pais, porém o rei estava estranhamente animado com a ideia de passar um tempo com os sogros, como ele mesmo disse. Christopher batucava no volante no ritmo da música, enquanto dirigia até o meu bairro. Um embrulho surgiu no meu estômago quando entramos na minha rua, e estava lotada, como é de se esperar em um dia de sol quente.
— Isso não vai dar certo. — Eu aviso, observando os moradores parando tudo que estavam fazendo para olhar as três SUV's que estavam entrando na rua. E eu falei para irmos só nós dois, mas Christopher insistiu que iria precisar de segurança.
— Aqui está cheio, hein. — Observa, enquanto procura o número da minha casa.
— É aquela com portão azul. — Aponto. — Eu avisei que estaria assim.
Resmungo sozinha sendo ignorada por ele. Christopher estaciona em frente ao meu portão, e eu precisei respirar bem fundo antes de descer do carro. Todos da rua me olhavam como se eu estivesse pintada de verde, houve um silêncio ensurdecedor, e eu me apressei a abrir o portão. Christopher me seguiu, e parecia não se importar muito com todos os olhares em cima de nós dois.
Eu tratei de trancar o portão, mesmo sabendo que os seguranças estarão do lado de fora, é melhor nos prevenir de um acidente, apesar do muro dos meus pais terem apenas 1,30 de altura. Qualquer um poderia pular facilmente.
Não tive cerimonias em abrir a porta. Era como se eu não voltasse aqui há anos, o cheiro do desinfetante de canela permanece o mesmo, e os móveis estavam nos lugares de sempre. Senti um aperto no meu peito, e algumas lágrimas invadiram meus olhos. As mãos de Christopher apertaram os meus ombros, e eu me forcei a andar.
— Não é como no palácio, é simples. — Olho por cima do meu ombro, e Christopher sorri para mim. Eu quase me derreto.
Ainda vem na minha cabeça a frase que ele falou muito naturalmente ontem. "Eu estou apaixonado por você". Fiquei sem saber o que falar, foi como se meu coração todo parasse. Não soube bem o que responder, mas uma queimação tomou meu coração, eu sei o que sinto por ele, e é algo que só vem aumentando mais ainda.
Minha avó apareceu na sala e eu corri para abraça-la. Ficamos um tempo abraçadas, e eu segurei novamente a minha vontade de chorar. Confio totalmente nela, apesar da minha avó ser uma das pessoas que sabiam que eu iria ter que me casar com Christopher, mas não foi ela quem fez parte de nenhum contrato.
— Senti tanta falta de você, minha querida. — Minha avó falou, enquanto me olhava, alisando meus braços.
— Eu também. — Sorrio para ela.
Minha avó nota a presença do rei, e o abraça também, como se já o conhecesse há anos. Precisei respirar para conseguir controlar a vontade de chorar. Meus pais aparecem na sala, e ambos me abraçam apertado. Minha mãe que está atrás de mim, beija as minhas costas, e meu pai me aperta mais ainda em seus braços. É estranho se sentir tão acolhida nesse abraço, é basicamente o lugar que eu pertenço, mas ao mesmo tempo, o sentimento de traição ainda me dói no peito, e eu não sei se um dia eu vou conseguir esquecer, ou perdoar tudo que me foi escondido.
— Senti tanto a sua falta. — Meu pai falou, enquanto segurava meu rosto e beijava a minha testa inúmeras vezes.
— Estamos felizes que você veio. — Minha mãe pegou na minha mão e a beijou.
O clima ficou estranho, eles abraçaram Christopher, e agradeceram a ele por ter conseguido me trazer. É óbvio, ele me acordou cedo, me tirou da cama como um saco de batata e me fez tomar café da manhã, mesmo eu estando sem vontade alguma de comer. Mas foi uma manhã boa, ele me fez rir, e falou que iria me trazer até mesmo de pijamas, e eu não duvidei disso.
— Eu trouxe um vinho para o almoço. — Christopher entrega a garrafa de vinho branco para o meu pai, que foi prontamente a colocar na cozinha.
Minha mãe olhou sem graça para Christopher, visivelmente sem saber o que fazer, porque não são todos os dias que você tem a figura de um rei na sua casa. Isso só aconteceu uma vez antes.
— Por que não vamos para o quintal? Sua mãe arrumou uma mesa encantadora lá fora. — Dona Adelaide sempre sabendo se sair bem das situações.
Christopher pegou na minha mão, e o ato não passou despercebido pelas duas. Eu o conduzi até o quintal dos fundos, e agradeci mentalmente pelos muros serem altos aqui atrás, nenhum vizinho vai ficar xeretando pelo menos.
A piscina de plástico estava cheia, a mesma que eu me divertia quando criança, os arbustos de flores que contornavam o muro estavam bem cuidados, e a grama foi recém aparada. Minha mãe realmente caprichou na arrumação, a mesa de madeira estava debaixo da cobertura, sobre ela estavam os melhores pratos, copos e talheres. Obviamente ela os escolheu por conta de Christopher, mas pelo que eu o conheço, certamente não se importaria com isso, e nem prestaria atenção. Há uma humildade nele, que muitas pessoas não conhecem.
— Aqui é enorme, um ótimo quintal. — Ele fala, diretamente com a minha mãe.
— Jordani sempre foi muito cuidadoso com essa parte de nossa casa. — Minha mãe sorri, parecia sem graça diante do elogio.
— Essa piscina ela é perfeita para você não se afogar, né, Isobel? — Christopher diz, enquanto bagunça a minha cabeça, zoando a minha altura.
— Muito engraçado você.
Nos sentamos, e ele colocou o braço em volta do meu ombro. Minha mãe trouxe refrigerante e me serviu, perguntando a Christopher se ele aceitaria cerveja, coisa que prontamente aceitou. Eu ri, porque, meu Deus, nem em um milhão de anos tal ideia se passaria na minha cabeça.
— Isso é a coisa mais hilário que o mundo já viu. — Penso alto. — Sério, você aqui, no quintal da minha casa, bebendo cerveja barata.
— O que tem? Eu sou de outro mundo, por um acaso?
— Pelo menos não é do mesmo mundo que eu. — O respondo, e Christopher não diz nada, apenas me beija, só que meu pai chega na hora. Fico com o resto vermelho, porque me veio na cabeça o dia em que meu pai flagrou Christopher e eu no quartinho da casa da minha vó.
— Eu vou acender a churrasqueira. — Avisa, como quem dissesse que a sua presença aqui seria recorrente.
— Acho que vou ver se precisam da minha ajuda.
Christopher sorri para mim, e eu me levanto, indo para dentro de casa novamente. Minha mãe e minha avó estavam na cozinha terminando de fazer as saladas. Perguntei se precisavam de ajuda. Dona Adelaide me entregou uma cebola, e eu fiquei em pé no balcão, para corta-la em rodelas.
Os olhares sobre mim pesavam, e eu olhei para as duas sem muita paciência.
— Ok, o que vocês querem saber? — Pergunto, porque eu sei que inúmeras perguntas rodeiam as cabecinhas delas.
— Esse anel. — Minha mãe aponta a faca na direção do meu dedo. — Pensei que seu anel de noivado seria algo mais espalhafatoso.
— Não é um anel de noivado. — Respondo, as duas ficam espantadas com a minha resposta. — Ele me pediu em namoro da maneira que deveria ser.
— Namoro? Ainda? Já são...
— Três meses em que eu recebi a notícia de que teria que me casar com o rei, um cara que eu não conhecia e mais velho. Eu sei muito bem disso, e é exatamente por isso que as coisas estão indo devagar. — Largo a faca. — É sério, eu odeio essa situação.
Dou as costas para as duas, sem saber o que pensar ainda. Faço o caminho até o meu quarto, porque eu queria ficar sozinha para pensar por um mísero momento. Me sinto pressionada, porque carrego nas costas uma obrigação que eu não busquei.
Olhei o meu cantinho, me sentindo com saudades das minhas coisas, do jeitinho que eu arrumei. Sentei na cama, e respirei fundo, lembrando da última vez que eu estive aqui, a minha mente estava um turbilhão, e percebo que mesmo depois de alguns meses, esse turbilhão ainda está aqui.
Sai de casa com uma meta, odiar Christopher. Mas é difícil, porque eu gosto dele agora, por mais que eu tentasse me afastar, tudo que eu quero agora é tê-lo por perto. Ainda não quero me casar, e a história do namoro também me deixa confusa, por mais que eu goste de Christopher, ainda estou confusa.
Alguém bateu na porta e eu falei para entrar. Então a figura de 1.90 de altura me achou, e sorriu quando viu que eu estava sentada na cama.
— Aqui é a torre da princesa? — Pergunta, enquanto ainda sorri, observando o meu quarto.
— Foi aqui que eu vivi trancafiada durante 18 anos da minha vida. — As lágrimas vieram quando eu falei isso, por que no fundo é uma verdade. Nunca tive a liberdade de fazer muitas coisas, nem de ficar muito tempo fora de casa, ok, eu não era muito apegada a essas coisas, nem quis ter vontade de sair, mas a sensação é que algo em minha vida foi roubado.
— É difícil estar aqui? — Ele pergunta, ainda de pé em frente a porta.
— Um pouco...
Christopher tranca a porta, e se aproxima de mim, sentando ao meu lado, e passando o braço em volta dos meus ombros. Eu me deixo ser abraçada, e apoio a cabeça nele.
— Eu te entendo. Sinto muito por isso.
Eu fico de pé e vou até às fotos que estavam presas em um quadro de cortiça. Há muitas coisas aqui que eu deixei para trás, e que eu posso levá-las agora. Christopher nota o que eu quis fazer e começa a me ajudar a tiras as fotos que estavam mais acima, onde eu alcançaria somente nas pontas dos pés.
No armário ainda tinha um casaco. Algumas camisas e eu as separei também. Me distrai por um breve momento, e grandes mãos apertaram a minha cintura.
— Christopher... — Minha voz sempre fica fraca quando ele se aproxima muito.
— Baixinha, não consigo tirar as minhas mãos de você. — Sussurra no meu ouvido, e eu solto um suspiro baixinho com o ar quente tocando a minha pele.
— Não é a hora... — Respondo, e me afasto dele. — Nem lugar.
Christopher pega uma foto minha, e comenta que eu sempre fui linda. Eu ainda não estou muito acostumada com os diversos elogios dele, que sempre vem quando eu menos espero. E a foto em questão era uma de quando eu tinha 15 anos, e estava mais magra do que deveria, isso por causa dos terríveis conselhos de Raquel, e a pior pressão psicológica para manter o corpo do padrão que eu não tinha, e que provavelmente nunca vou ter.
— Eu estava feia. — Digo, sem pensar. — Mais magra do que eu deveria, e provavelmente doente.
— Não sabia que você estava doente nessa época. — Ele diz, ainda analisando a fotografia em suas mãos.
— Bom, eu estava em uma obsessão para ficar magra igual a vaca da minha prima.
— Raquel?
— Não era para você nem lembrar o nome dela. — Reclamo, sentindo aquele calorzinho que vem toda vez que eu penso em Christopher com outra mulher.
— Eu lembro o nome das pessoas, e não tem nada demais nisso. — Ele parece me repreender de uma maneira sútil. — Eu acho você gostosa.
— Ai meu Deus, Christopher. — Sinto as minhas bochechas corarem.
— Eu me pesei hoje de manhã, e eu engordei três quilos na viagem.
— Sério? Deixa-me ver.
Em uma gracinha, e talvez um momento de coragem, eu me aproximei de Christopher e levantei a camisa dele, deixando a barriga dele a mostra. Mordo o meu lábio, porque os gominhos da barriga dele é muito atrativo, e literalmente um bônus a mais do nosso namoro. Aliso a pele dele, e Christopher coloca a mão por cima da minha.
Ficamos um tempo nos olhando com intensidade excessiva, como se tudo em nossa volta pegasse fogo. Eu sentia a palma da minha mão formigando em contato com a pele dele. Christopher se abaixou e me beijou. Eu não esperava isso, mas estava tão viciada nos beijos dele, que eu não conseguia negar. Sua língua invadiu a minha boca, aprofundando mais ainda o beijo. Suas mãos deslizaram pelas minhas costas, e fui puxada para ficar mais colada nele.
Christopher me ergueu, e eu soltei um grito com a surpresa. Mas ignorei o fato de todos em casa deveriam ter ouvido quando o meu corpo foi repousado sobre a cama. Por um tempo ele parou para me olhar, e acabou sorrindo para mim.
— Meu Deus, se você soubesse o que acontece comigo toda vez que eu te olho... — Diz, como se alguma coisa o torturasse.
— Me fala, então... — Peço, sentindo a minha voz mais mole, como sempre fica quando entramos nesse clima repleto de desejo e vontades.
— Não posso. — Diz, com aquele sorriso malicioso no canto dos lábios dele. — Dizer o que eu penso vai me dar vontade de fazer, e eu tenho certeza que você não me deixar te chupar na casa dos seus pais.
— Christopher! — O repreendo, e ele acaba rindo.
O rei me beijou brevemente e ficou de pé. Ajeitando a sua calça, que estava com um volume considerado. Ainda não sei como que ele consegue ficar tão excitado rapidamente. Não que eu não ficasse, mas...
Precisamos de mais alguns minutos no quarto, porque Christopher precisava de acalmar e eu aproveitava para arrumar algumas coisas que eu separei em umas bolsas velhas que eu achei perdida no meu armário. Quando descemos, todos estavam na cozinha, e pararam tudo que estavam fazendo para olhar nós dois.
— Estava separando algumas coisas que eu vou levar. — Digo, tentando justificar o tempo que passamos no meu quarto. Se bem que não fizemos nada, de qualquer forma.
— Você pode ajudar o seu pai a levar essas carnes lá para fora? — Minha mãe pergunta. Eram três bacias, e meu pai já estava carregando duas.
— Christopher ajuda. — Respondo, e ele mesmo se encarrega de pegar tudo que estava nas mãos da minha mãe.
— Seja educada, minha querida, Christopher é visita.
— Mas não é feito de papel. — Rebato a minha mãe. — Ele pode muito bem ajudar o sogrão dele, não é mesmo, mozão?
Christopher ri, mas eu sabia que era porque ele sabia muito bem quando eu estava sendo debochada com ele. Trocamos olhares cúmplices e o rei seguiu meu pai. Me virei para a minha vó, e com a tensão já estava pairando no ar, eu peguei uma maçã casualmente na fruteira sobre a mesa.
Minha mãe me pediu ajuda para desenformar um pudim, e minha avó aproveitou para me mostrar o mousse de morango que ela fez especialmente para o novo neto dela. Ficamos conversando sobre as fofocas do bairro, e as duas estavam afiadíssimas sobre o caso da vizinha do final da rua, que descobriu que a sobrinha estava dormindo com o marido dela, e acabou dando em briga física entre os três. Que pena que eu não estava aqui para ver toda essa confusão.
— Como é ser namorada do Christopher? — Minha vó pergunta, e logo complementa seu questionamento. — Como ele é como namorado?
— Nunca namorei antes, então acho que está legal. A gente passa um tempo juntos, e ele me mima muito. — Sou sincera em minha resposta.
— Vocês viajaram, né?
— Sim, foi maravilhoso. — Sorrio ao lembrar de cada detalhe da viagem. — Conseguimos aproveitar pela primeira vez sem muitas intercorrências, e conheci mais de Christopher.
— Tem alguém apaixonada aqui. — Minha mãe sorri orgulhosa.
Eu não comento sobre o que ela falou. Mas um sorriso idiota escapou dos meus lábios, porque Christopher falou com todas as letras que estava apaixonado por mim, e eu nunca esperei que ele pudesse dizer isso para mim. Nem pensei que ele iria se apaixonar por mim.
Dona Adelaide saiu da cozinha, dizendo que iria terminar de organizar a mesa onde a comida iria ser servida, e levou consigo alguns utensílios. Minha mãe estava finalizando o molho, e me olhou, parecia um pouco tensa. Olhou em volta, e se aproximou de mim.
— Eu sei que nós duas nunca conversamos sobre isso, mas eu acho que devo trocar uma palavrinha com você. — Ela pegou na minha mão, e me puxou para sala, fazendo-me sentar no mesmo sofá onde eu recebi a notícia de que iria ter que me casar com o rei. — Bom, eu quero dizer que apesar de tudo eu sou sua amiga. — Ela parecia nervosa. — É... Os homens eles têm uma necessidade, de certas coisas...
— Oi? — Perguntei, meio em choque.
— E Christopher já é bem vivido, como nós sabemos. E eu nunca vi você se interessar por nenhum menino, ou falou sobre já ter tido algum contato com alguém.
— Mãe, você quer falar sobre sexo? — A questiono, ainda chocada com a situação. Nós duas olhamos apreensivas para a porta, e voltamos a nos encarar.
— É necessário... Era para termos essa conversa antes, mas eu sempre fiquei com vergonha de falar sobre isso com você.
— Quem está com vergonha agora sou eu! Inclusive, morrendo de vergonha!
Nós duas estávamos vermelhas. Minha mãe sempre conversou comigo, mas nunca abertamente sobre sexo. Tudo que eu sei, descobri pelas experiências das minhas amigas — porque elas contam tudo —, ou pelos livros.
— Sim, eu sei. Mas para a gente manter um bom relacionamento, principalmente um casamento, temos que ser bem presentes na cama de nossos maridos.
— Mãe, pelo amor do nosso bom Deus, cala a boca!
— Você precisa saber, ainda mais você, que irá ter que trazer um herdeiro do trono.
Meus olhos quase saltaram da minha cara. Herdeiro do trono. Meu Deus! Eu me levantei, senti que o ar estava faltando. Filhos! Meu Deus! Christopher tem 30 anos e tem que ter filhos legítimos para ocupar o seu lugar futuramente, ou isso acaba com toda a linhagem do trono, porque Phillip e Edith não tiveram um segundo filho.
— Falam sobre isso no contrato? — Pergunto, tentando controlar o sentimento terrível que estava crescendo dentro de mim.
Nunca pensei em ter filhos, e na realidade, eu odeio crianças, e bebês. Não consigo me identificar com nenhum, e sempre falei que ser mãe é a principal coisa que eu bani da minha lista do que eu quero ser no futuro.
— Não foi algo conversado na época.
— Ótimo! Porque se eu me casar com Christopher. — Friso bem o "se", porque me casar e me tornar rainha, continua sendo a última coisa que eu quero na minha vida. — Nós dois iremos conversar e decidir sobre isso.
E eu volto para o quintal, sem dizer mais uma palavra a minha mãe. Sentia meu coração bater fortemente em meu peito, e o rei notou o meu estado. Perguntou se eu estava bem, apenas respondi que iria conversar sobre isso depois com ele.
Não consegui almoçar em paz, porque me casar com Christopher vai muito além do que ser só esposa dele, vai ser sobre ser rainha de um país, sobre milhares de pessoas com os olhos em mim, e esperando que eu seja o mais perfeita em tudo, sendo que eu sei que não sou perfeita, e estou muito longe de ser. E não estou nem um pouco preparada para ser o que as pessoas querem que eu seja.
Pensar sobre tudo isso me causa uma ansiedade excessiva. Me deixa mal, e com vontade de me isolar de tudo e de todos. Eu queria que a terra me engolisse, apenas para eu fugir de tudo isso.
Meus pais ficaram bem surpresos ao descobrirem que eu estava bebendo. Muitas coisas mudaram nesses últimos meses, e eu realmente não me sinto mais a Isobel que saiu de casa.
Não consegui me enturmar muito no almoço, e nem participei direito da conversa. Quando começou a anoitecer, eu já estava pedindo para ir embora. Me despedi da minha avó com meus olhos cheios de lágrimas, e meus pais me abraçaram bem forte antes de sairmos. Por sorte a rua não estava tão cheia como quando chegamos, e respirei fundo quando já estava no conforto do carro a caminho do palácio.
— Eu queria morrer na primeira vez em que fiz esse trajeto. — Me lembro da noite em que estava indo conhecer Christopher.
O rei riu, e pegou a minha mão, que estava repousada na minha coxa.
— Espero que não tenha mais motivos para querer morrer. — Diz, se divertindo com a situação, porém, esse assunto me lembrou uma coisa.
— Posso fazer uma pergunta? — Ele apenas afirma com a cabeça, e não tira o olhar da estrada enquanto fazia uma curva. Eu só consigo pensar em como ele parece sexy dirigindo, mas essa não é a questão da vez. — Você pensa em ter filhos?
Christopher me olha brevemente, bem surpreso com a minha pergunta.
— Nunca pensei sobre isso. Você é nova, Isobel, não precisa se preocupar com isso.
— Sim, eu sou nova, e você tem 30 anos, e precisa ser pai para ter um herdeiro do trono.
Por que pensar sobre isso pesa tanto? Estava tranquila, porque nunca pensei nessa possibilidade antes. Christopher suspirou, e parou em um sinal vermelho, o que fez com que olhasse para mim. Afinal, ter filhos não é brincadeira, é uma responsabilidade que eu teria que carregar pelo resto da minha vida.
— Está bem, tenho 30 anos, mas eu não tenho pressa alguma para ser pai. E bem, o trono pode esperar mais uns 10 anos.
— Quer ser pai aos 40? — Pergunto. — Realmente vai precisar do Viagra que eu comprei. — Não pude perder a oportunidade de fazer uma piadinha quanto a isso. Christopher me olhou divertido.
— Nem todo mundo tem disfunção erétil, ok? Eu vou chegar aos 80 fodendo igual um animal.
— Christopher, pelo amor de Deus! — O repreendo, sentindo as minhas bochechas queimarem com a boca suja dele.
Quando chegamos, eu fui até a cozinha para pegar um copo de água. O rei se sentou na banqueta e ficou me olhando. Perguntei se também gostaria de um pouco de água e enchei o meu copo para ele quando terminei de beber.
— Eu queria falar uma coisa com você. — Comentou, parecia sério, bem diferente de quando ele é na maioria das vezes. Apenas afirmo com a cabeça, e me sento ao lado dele. — Uma vez eu te perguntei se você usava algum contraceptivo, e obviamente ouvi uma gracinha.
— Você estava invadindo a minha privacidade. Eu te odiava naquele dia. — Me defendo. — E estava menstruada também, isso me deixa irritada.
— Sei. Mas a questão, é que eu acho que você poderia procurar sobre isso, sabe? Agora eu sei que você não toma nenhum anticoncepcional.
— Ahn... Bom... Isso é verdade. — Respondo. Nunca pensei sobre tomar algum tipo de anticoncepcional, até porque eu sei que pode fazer mal à saúde também.
— Então, você tem um excelente plano de saúde, e pode procurar um ginecologista para saber mais sobre isso. — Christopher diz, de forma prática.
— Eu posso fazer isso. — Penso alto. Engulo a vergonha que estava presa na minha garganta, e faço uma pergunta. — Mas a gente não pode simplesmente nos prevenir com preservativos?
Por que é muito estranho falar sobre isso? Nós nem transamos de fato.
— Sim, podemos nos virar com a camisinha. Mas nós somos namorados, nossos momentos serão mais frequentes...
— Você tem algum filho perdido por aí? — Pergunto, Christopher faz uma careta engraçada e acaba rindo.
— Não, é claro que não. Eu nunca transei sem camisinha. — Diz.
— E quer fazer isso comigo?
Christopher não responde, apenas cruza os braços e me olha. Talvez eu realmente esteja complicando as coisas, mas é que é estranho conversar sobre isso. Minha mãe já havia me levado a um ginecologista algumas vezes, mas como ele era bem velho, acabou se aposentando, e eu não voltei em nenhum outro no último ano.
— Tudo bem... Eu posso procurar um ginecologista. — Falo, me dando por vencida.
— Não quero que você faça nada contra a sua vontade, eu nunca me importei em usar camisinha, não vai ser agora que isso irá acontecer. Mas você é nova, seria bom nos prevenir melhor, sabe?
— Por esse lado você tem razão. Não quero ser mãe nem tão cedo.
Ele ergue meu queixo com seu dedo, e nos beijamos um pouco. Nós dois fomos até os nossos quartos para tomar um banho, e decidimos ficar vendo um filme na sala de cinema. Há muitas coisas que envolvem me relacionar com Christopher, e parece que tudo vai se revelando com o tempo, e eu tenho que me preparar para não ser pega de surpresa todas as vezes.
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