Grávida… ? 

Um Único questionamento dominou a mente de Obito por um longo momento até seu olhar buscar o de Kushina, já acomodava confortavelmente em uma cadeira ao seu lado. No momento que olhou o rosto da mulher, sentiu um aperto em seu peito e processou a informação dada a ele naquele momento. 

─ Como assim… ? ─ A voz quase fraquejou enquanto tentava organizar os pensamentos. ─ Como isso aconteceu? ─ Levou a mão até a testa após ver como o seu questionamento soava tão imbecil sendo dito daquela forma. ─  Eu sei o que aconteceu! Mas…  o que está acontecendo com a Kyuubi? ─ Olhou para a barriga da mulher, ainda sem qualquer volume aparente. 

─ Também não sabemos, está agitada já faz alguns dias. O selo está bem firme, não houve qualquer enfraquecimento. ─ Minato fazia uso de um tom mais suave numa tentativa de passar calmaria para o mais novo. 

Estaria tudo bem se, ao subir o olhar para o rosto da mulher, Obito não se deparasse com uma expressão que ele conhecia muito bem em todos esses anos que estava ao lado deles. 

Havia algo mais. E ela não parecia desejar contar naquele momento, mantendo apenas seus olhos fixos no do Uchiha. Uma sensação de nervosismo começou a tomar forma nele, o suficiente para fazer ansiar por mais um pouco de chá apenas para tentar disfarçar seus pequenos sinais do olhar atento de seu antigo sensei. 

─ Bem… Imagino que estejam felizes. ─  Ofereceu ao casal um sorriso gentil. ─ Desejo que venha com muita saúde. ─ Levantou-se e foi em direção até Kushina, agachando-se diante dela. ─ Espero que fique bem e que sejam meses tranquilos. ─ Aceitou o carinho suave da mulher em seus cabelos. 

─ Como pode ser tão fofo mesmo depois de tantos anos? ─ Kushina sorria com diversão ao notar como aquela criança tão atrapalhada e doce ainda era presente na essência do homem que Obito havia se tornado. 

─ Porque você o mima demais. ─ Minato sorriu enquanto dava um leve passo para trás ao deparar com o rápido olhar raivoso da esposa. 

─ Eu não serei o sensei desse pirralho, espero estar sendo bem claro. Naruto acaba com toda a minha energia. ─ Obito levantou e mesmo que sem jeito, abraçou o outro homem. ─ Estou feliz por vocês. 

─ Claro que não será o sensei deles, você será o Godaime. ─ As palavras ditas com firmeza fizeram o coração do Uchiha acelerar um pouco além do esperado. Ele um dia havia sonhado em se tornar Hokage, mas depois de tudo que havia acontecido este sonho não estava tão forte como em sua juventude. 

─ Deseja mesmo um Uchiha como Hokage? Posso sugerir um nome para o futuro. ─ Obito sorria enquanto mantinha o olhar em Kushina, que apenas sinalizou para que não comentasse mais nada naquele momento. Existia algo além da gravidez, mas seria um assunto para outra conversa já que os passos carregados de animação de Naruto os avisaram de sua chegada. 

─ Obito sensei! ─ O menino loiro correu com alegria em direção do Uchiha, abraçando-o com força. 

─ Bom dia para você também, Naruto! ─ Deu sua doce repreensão e o abraçou de volta. Se estar ao lado de Kushina fosse capaz de aquecer um pouco seu coração, estar com Naruto era o mesmo que pegar um pouco do calor de um dia ensolarado,  calor tão forte capaz de afastar aquele lado que ainda simpatizava com uma existência cinza e vazia.

Ver aquele pequeno bebê crescer sendo rodeado de tanto amor e carinho era algo que deixava Obito feliz por ter conseguido voltar para a vila. Não era capaz de imaginar como seria sua vida sem aquela criança o enchendo de atenção e, às vezes, o irritando com sua personalidade tão expansiva. Talvez ele via um pouco da criança que um dia foi e por isso havia o sentimento de necessidade de protegê-lo. Eram tanto parecidos mesmo com histórias diferentes, afinal Naruto cresceu cercado de amor e em tempos de paz, diferente dele que logo cedo experimentou as mazelas que a Guerra gerava. 

─ Vamos treinar hoje, sensei? ─ O sorriso de Naruto tornou-se ainda mais brilhante quando sentiu a mão de Obito em seus cabelos loiros, uma espécie de afago bagunçado. 

─ Seu pai decidirá hoje. ─ Olhou para o homem loiro diante dele. ─ Devemos ir até ao prédio do Hokage para alguma missão? 

─ Hoje o time 7 está de folga. ─ Lançou um olhar que Obito conhecia bem. Havia algo mais a ser discutido e não seria na frente do menino. ─ Vá à minha sala às nove horas, Obito. ─ Sorriu para seu antigo aluno e voltou para a esposa, ainda sentada na cadeira, abaixando-se até ficar com a altura próxima a dela. ─ Meu bem, tome cuidado e evite esforços desnecessários. Logo mandarei alguém aqui caso precise de ajuda. 

─ Estou bem, pode ir. Ficarei com Naruto pela manhã. ─ Kushina sorriu de volta para o marido, o rosto levemente corado ao perceber os olhares atentos de Obito e Naruto para os dois. Logo sua paciência se esvaiu quando notou a careta que o filho fez após o pai selar os lábios nos dela rapidamente. ─ O que foi, Naruto? 

─ Eca. ─ Naruto manteve a expressão enojada enquanto Obito continha o riso. 

─ Preciso ir. ─ Minato despediu-se com um aceno antes de sair de casa. 

─ Mãe, vou até a casa de Shikamaru, tudo bem? ─ Naruto correu até a ruiva, abraçando-a como sempre fazia antes de sair de casa. 

─ Pode, mas não faça muita bagunça. ─ Abraçou o filho de volta e manteve o olhar nele até vê-lo afastar de onde estavam. 

O silêncio imperou no ambiente até o barulho da porta ser ouvido e durou mais alguns instantes até que tivessem certeza de que estavam sozinhos. Obito olhava com atenção para Kushina, notando cada detalhe de sua expressão cansada e tremores em suas mãos que nunca haviam estado ali. 

─ O que está acontecendo além da gestação, Kushina? 

─ Nada escapa do olhar atento de um Uchiha, não é mesmo? ─ A ruiva ofereceu um sorriso fraco antes de um longo suspiro. 

─ Nada relacionado às pessoas que amo passa despercebido por mim. ─ Apesar da enorme carga sentimental que suas palavras traziam, o tom grave de Obito deixava explícito a tentativa de controle que estava aplicando em suas emoções naquele momento. Seu sensei, Kushina e Naruto era tudo que ele possuía naquele momento como família, mesmo não fazendo parte dela como as convenções insistiam em lembrá-lo. 

─ Bem…  tenho estado um pouco doente nos últimos meses, por isso demorei para perceber que estava grávida. Interrompi os remédios por conta do bebê e… 

A mulher parou de falar ao notar a expressão carregada de temor que surgiu no rosto do mais novo. 

─ Como assim doente? 

Kushina encarou o mais novo por um momento, apreensiva com a expressão vazia e quase sombria que ele mantinha. Ela já havia o visto assim, levando-a outra vez naquele momento em que o acolheu após retornar para Konoha, ainda tentando esconder o emocional completamente devastado. 

─ Não é nada para fazê-lo ficar preocupado…─ Forçou um sorriso, mas ela sabia que não seria o suficiente. 

─ Você me fez prometer que não haveria segredos entre nós quando nos reencontramos após aquilo tudo…  Me diga, Kushina. Sua quantidade de chakra gigantesca, por que está abatida? 

─ Ainda estou bem por conta do meu chakra, Obito. ─ Desviou o olhar, tentando manter um pouco de calma por conta do bebê em seu ventre. ─ Relaxe um pouco, não quero me estressar te vendo com esta cara. Faz mal para o bebê. 

─ Espero que consiga vencer esse desafio, já que estar estressada é algo normal em seu dia a dia. ─ Um sorriso fraco surgiu no rosto do Uchiha, alargando-se quando sentiu o tapa desferido pela mulher em seu braço. ─ Para! ─ Desta vez o sorriso virou uma risada enquanto via a expressão de raiva vindo de Kushina ao desferir outro golpe e passar por ele, sem sequer tocá-lo. 

─ Você pode ter crescido mas ainda posso te corrigir, entendeu? ─ A voz levemente alterada falhou quando sentiu as mãos do mais jovem segurar as suas com firmeza. 

─ Por favor, não hesite em dizer como está se sentindo. ─ O olhar carregado de súplica a vez desarmar e uma fina ruga de preocupação enfeita sua testa. 

─ Espero que você fique bem. Tome café comigo e vá até a reunião com Minato. E nada dessa cara amarrada, heim. Quero sorrisos e planos sobre suas futuras namoradas. ─ Provocou enquanto servia mais um pouco de chá para Obito. 

─ Kushina, por favor. Não me torture desta forma. ─ Sorriu com aflição tentando entender o olhar enigmático que a mulher ofereceu a ele. 

❀❀

Talvez estivesse alguns minutos atrasado. 
Mesmo usando o Kamui. 

Ao bater na porta do Hokage, sendo autorizado a entrar, ignorou o olhar carregado de tédio de Kakashi ao vê-lo passar pela porta após longos dez minutos de atraso. 

─ Certas manias nunca mudam, não é mesmo? ─ Kakashi murmurou. Mantinha a postura relaxada, com seu habitual uniforme da Anbu e a máscara sendo segurada por ele próximo ao corpo. 

─ Estou aqui, não tem porque reclamar…  

─ Bom dia, Uchiha. 

A voz feminina e firme, porém, quase melodiosa aos ouvidos de Obito, fez suas palavras ácidas direcionadas a Kakashi perderem força e sua atenção voltar-se para a mulher no canto da sala, que o encarava com um sorriso quase radiante. Também vestida com o uniforme da anbu, seus cabelos estavam presos em uma única trança jogada nas costas e a máscara na lateral esquerda da cabeça, expondo seu rosto bonito. Com suaves vestígios de maquiagem, parecia ainda mais belo do que a primeira vez que havia a visto, talvez por estar oferecendo a ele um sorriso capaz de fazê-lo ficar preso naquela observação por um tempo além do devido.

─ Bom dia, Akage. ─ Sorriu de volta, logo desviando o olhar ao perceber a expressão curiosa de Minato com a pequena interação entre os dois. ─ Desculpe-me o atraso, Yondaime. 

─ Imagino que Kushina tenha o prendido em seus questionamentos. ─ Sorriu enquanto olhava discretamente para Akage. Minato conhecia a jovem desde que ela havia chegado em Konoha e estava mesmo curioso com a forma que sua postura havia mudado quando seu antigo aluno entrou na sala. Mas seria algo que deixaria para outro momento, afinal não havia os chamado ali para apenas terem uma conversa informal. ─ Como todos estão presentes agora, posso começar esta breve reunião. Sei que estão saindo da Anbu, Kakashi e Akage. Porém, estarei encaminhando-os para uma última tarefa antes da conclusão total do ingresso de vocês como professores na academia. Kushina, a Jinchuuriki da Kyuubi e minha esposa, está grávida. Vocês três serão responsáveis pela segurança e cuidados dela aqui na Vila e também fora. Devido aos perigos que envolvem esta situação, na fase avançada da gestação minha esposa será mantida em um local seguro. 

Obito buscou o olhar de surpresa em Kakashi após Minato falar sobre a gravidez de Kushina, surpreendendo-se com a expressão de quem já sabia. Talvez movido pelo sentimentalismo, uma leve chateação o dominou ao ver que o platinado já estava a par de tudo antes dele. 

─ Quanto tempo ainda nos resta antes de partir? ─ Kakashi manifestou-se após o breve silêncio. 

─ Cinco  meses, aproximadamente. ─ Minato parecia estar confuso com o tempo certo que deveria informar. 

─ O que devo esperar desta missão? ─ A pergunta confusa vinda de Akage atraiu a atenção de Obito, principalmente após ver o desconforto em Minato antes de respondê-la. 

─ Bem… Como uma Uzumaki que possui tokubetsuna chakura , o chakra especial de seu clã e de Kushina, deve estar ciente do papel que talvez seja necessário desempenhar nesta missão. Sei que possui um vasto conhecimento em selamentos, afinal por um tempo fui responsável por seu aprendizado, será de extrema importância nesta missão. ─ A franqueza do loiro aliada ao seu tom tranquilo era algo que Obito conhecia muito bem. 

Estavam em um tema delicado. Evitou olhar para a mulher, mas a agitação de seu chakra mesmo com uma tentativa efetiva de escondê-lo deixava evidente o quanto suas emoções estavam agitadas. O tokubetsuna chakura era uma característica rara do Clã Uzumaki, um chakra poderoso o suficiente para controlar a Kyuubi caso fosse necessário um selamento. Não era necessário ser muito inteligente para entender qual a função de Akage na missão, uma certeza que trouxe o amargo sabor das lembranças do passado em sua boca. 

─ Compreendo. Qual o primeiro passo a partir de agora? ─ A mulher, mesmo estando em uma completa bagunça em seu interior, forçou-se a manter a postura e coerência, prosseguindo com a busca de detalhes da missão. 

─ Primeiro, você e Kakashi podem manter seus uniformes da Anbu caso desejem, mas estão liberados para serem apenas Jounins, sem tanto esse lado sombrio, entenderam? ─ Minato sorriu fraco antes de voltar para Obito. ─ Como anda o preparo dos meninos para o exame Chunin daqui uns meses? 

─ Estão evoluindo cada vez mais com os treinamentos. Haruno possui uma forma assustadora, Sasuke despertou recentemente o Sharingan durante uma missão e tem demonstrado uma evolução interessante a cada descoberta que envolve seu doujutsu. Naruto, não tenho o que reclamar. Dedicado, mesmo com suas limitações que giram em torno de sua atenção seja o maior obstáculo. Estão prontos para o exame desde ano. 

─ Excelente. Obito, você manterá os treinos com os meninos, mas evitará missões que durem muitos dias fora da vila. ─ Minato respirou fundo e tomou uma dose de ânimo. ─ Kakashi, preciso alinhar algumas coisas com você sobre sua saída da Anbu. Akage e Obito, estão liberados. 

Os dois fizeram uma breve referência e caminharam rumo a porta, o ponto de encontro sendo poucos passos antes de chegarem até ela. Obito abriu e com um gesto com a mão, deu passagem para a mulher. Após fechar a porta e finalmente alcançarem o corredor que os direcionava para a saída, um instante de silêncio se fez presente. 

─ Você está bem? ─ Obito a questionou ainda preso na forma em como ela estava agitada dentro da sala. 

─ Ficou tão evidente assim? ─ Sorriu fraco, ainda sem coragem de olhar para ele. 

─ Não. Apenas tenho uma boa percepção em movimentação de chakra. ─ Respondeu meio sem jeito enquanto caminhava sem pressa para fora do prédio. 

─ Um Uchiha de muitos talentos. ─ Akage finalmente sorriu outra vez e por alguma razão, Obito gostou da sensação de vê-la assim. 

─ Nada demais. 

─ Não precisa ser modesto comigo, Obito. 

─ Está certo, realmente sou incrível. ─ Desta vez ele ofereceu a ela um sorriso largo e animado. 

─ Vou adorar ser sua parceira nesta missão e descobrir os seus talentos, Uchiha. ─ Akage quase cantarolou enquanto parecia se divertir com o tom ambíguo do que havia dito e a reação quase cômica de ver o homem ao lado travar com a doce provocação. 

Finalmente saiu atualização.
Gostaria de saber se estão gostando dessa nova versão.