Capítulo 21
Eu não gosto da minha mente neste momento
Empilhando problemas que são tão desnecessários
Eu estou segurando
Por que tudo é tão pesado?
Segurando em muito mais do que posso carregar
Eu continuo arrastando comigo o que está me derrubando
Se eu soltasse, eu me libertaria
Estou segurando
Por que tudo é tão pesado?
(Heavy - Linkin Park, Kiiara)
⚠️Capítulo com gatilhos de ansiedade e abandono⚠️
Depois do filme, o grupo decidiu finalmente cortar o bolo que Anastasia tinha feito. Ela se apressou para ficar na frente de todos, para que ela pudesse cortar do jeito dela, como de costume. Joyce fez um café, que apenas foi consumido por Genevieve, Nancy e Jonathan, o resto optou por refrigerante, suco ou água. Anastasia logo recebeu uma chuva de elogios por conta do perfeito bolo de chocolate, ela até mesmo viu que Billy não escondeu uma careta surpresa ao comer um pedaço.
Por falar em Billy, Anastasia estava perplexa que ele ainda estava ali, aguentando os mais novos e os amigos gritarem enquanto conversavam de forma animada. Em algum momento, ele foi até o lado de fora, e foi aí que a Byers aceitou o fato de ele provavelmente ir embora, mas se surpreendeu quando ele voltou, cheirando um pouco mais forte a nicotina junto com o perfume de costume. Ele apenas tinha ido fumar, e havia voltado para a casa dela. Nas não escondeu a careta surpresa.
— Nas, adivinha o que trouxemos. — Gareth falou, desviando a atenção da amiga, de Billy, para ele, que carregava um sorriso animado no rosto.
— Eu sabia que não tinham vindo com a van por nada. — Anastasia respondeu.
E estava certa, o único motivo para Eddie deixar de usar seu carro para pegar emprestada a van de seu tio, foi para levar alguns instrumentos até a casa da melhor amiga. Entre eles estavam um violão, a guitarra que ele tanto amava, e uma caixa de madeira, imitando um cajón, que Gareth utilizava para percussão. Os outros três integrantes da Corroded Coffin foram rapidamente pegar o que haviam trazido, e em poucos minutos já estavam posicionados no sofá, com os instrumentos em mãos. Gareth sentou no cajón, para que pudesse toca-lo.
O resto se ajeitou em volta, pelo chão e pelas cadeiras. Billy, dessa vez, permaneceu em pé, apoiado na parede do outro lado do sofá, mais afastado, porém com a visão privilegiada de Anastasia bem em sua frente. Eddie começou alguma melodia com a guitarra, e assim se iniciou um pequeno show particular da banda, com a cantora sempre impecável no vocal. Tocaram diversas músicas, entre Metallica, Van Halen, Mötley Crüe e vários outros.
Billy não conseguia desviar o olhar em nenhum momento. Resquícios da sensação que ela deixou nele naquele banheiro minutos antes ainda se faziam presentes brutalmente, e ele precisava se controlar absurdos para não segura-la e tê-la pra ele naquela exata sala. No sofá, no chão, na mesa, ele não se importava onde seria, apenas queria ela.
— Minha filha, amo te ver cantar, mas canta algumas que a mamãe gosta agora, por favor. — Joyce pediu, segurando uma xícara de chá que havia feito durante alguma música.
— Mãe... — Anastasia ia se contradizer, porque as músicas que sua mãe gostava não era bem o estilo que ela mostrava aos outros.
— Por favor. — Joyce pediu de novo.
Anastasia fez uma careta, mas respirou profundamente e começou a cantar as primeiras palavras de Careless Whisper, de George Michael. Eddie riu, jamais tendo a oportunidade de ver e ouvir sua amiga cantando uma música naquele estilo, e pelo visto, já sabia muito bem encaixar sua voz nela, como se tivesse cantado algo assim outras vezes. Anastasia lançou a ele um olhar mortal, mas logo voltou a cantar, observando a mãe levar o corpo de um lado a outro enquanto Jeff entrou com o violão e Gareth encaixou a percussão. Em algum momento, Dustin tentou imitar o saxofone que existia na música, e recebeu uma almofadada de Lucas para que calasse a boca.
— Uau, Nas... — Eddie começou, em tom de deboche.
— Se qualquer um aqui espalhar que eu sequer cantei algo assim, estão todos mortos. — Ela respondeu, encarando os olhos de cada um dos amigos presentes, até chegar em Billy.
Ele a olhava divertido, porém ainda entretido e repleto de intensidade, como sempre. Anastasia sentiu suas pernas enfraquecerem levemente, e se esforçou para olhar para outra coisa que não fossem aqueles olhos penetrantes e magnéticos que a deixavam ao extremo sempre. Joyce pediu mais uma, mas a filha negou com todas as forças. Ela sempre cantava para a mãe, mas queria evitar as piadinhas que seus amigos fariam dali para frente, então apenas disse no ouvido dela que cantaria depois.
— Byers, vamos ver se sabe essa. — Eddie tomou a palavra de novo, colocando a guitarra gentilmente ao seu lado e pedindo o violão na mão de Jeff.
Eddie começou a dedilhar as cordas e não precisou de mais de três notas para Anastasia reconhecer a música especifica. Ela sorriu largo olhando para o amigo, porque era uma de suas favoritas da banda Kansas, que ela sempre ouvia quando queria relaxar. Logo as primeiras palavras de Dust In The Wind se fizeram presentes em sua mente, e ela não demorou para cantá-las no tempo certo.
Na música original existia uma voz de fundo, e durante aquela música, Eddie foi o responsável por cantá-la. Anastasia encarou o amigo surpresa, porque nunca em sua vida o havia ouvido cantar alguma coisa sequer, e naquele momento, suas duas vozes juntas se misturavam perfeitamente para aquela música. Anastasia sorriu, enquanto Eddie lançou um olhar presunçoso a ela, logo voltando sua atenção no violão.
Billy se perdeu ali. Ele sabia que Eddie gostava da tal Genevieve e visse e versa, mas ver os dois tão em sincronia o deixou um pouco desconfortável. Ele não sabia explicar por quê, mas algo dentro dele se mexeu de forma incômoda. Porém, voltou a focar seus sentidos em Anastasia, e logo se viu afundado na imagem dela mais uma vez. O que aquela garota tinha que tanto mexia com ele e o deixava descontrolado? Ele não conseguia parar de olhá-la e desejou fortemente para que ela nunca mais parasse de cantar, porque aquela voz... Era a voz mais bonita e intensa que Billy já havia ouvido na vida. Na verdade, Anastasia inteira era simplesmente a melhor.
— É uma das minhas favoritas, Munson... Obrigada. — Anastasia agradeceu, e recebeu um sorriso animado do amigo. — Tá, a última. — Ela disse logo em seguida, pedindo o violão.
Joyce franziu as sobrancelhas, porque nunca havia visto sua filha tocar nada além do baixo, mas não disse nada, apenas esperou para ouvir o que ela faria a seguir. Era uma música nova, do ano que havia passado, mas havia mexido consideravelmente com a Byers, e ela conseguiu tirá-la para o violão, visto que a música original era no piano.
— How can I just let you walk away? Just let you leave without a trace? (Como eu posso simplesmente deixar você ir embora? Deixar você partir sem deixar rastros) — As primeiras palavras de Agains All Odds, de Phill Collins surgiram na voz de Anastasia.
Ela continuou, e por algum motivo, Billy prestou mais atenção na letra do que na voz de Anastasia dessa vez. Ele sentia seu mundo cair a cada palavra.
— How can you just walk away from me. When all I can do is watch you leave. 'Cause we've shared the laughter and the pain, and even shared the tears. You're the only one who really knew me at all. (Como você pode simplesmente se afastar de mim. Quando tudo o que posso fazer é assistir você partir? Porque nós compartilhamos o riso e a dor, e compartilhamos até mesmo as lágrimas. Você é a única que realmente me conheceu por inteiro).
Sua mãe surgiu em sua mente. Depois de tantos anos, apenas com uma porra de música ele sentia toda a dor o consumir por inteiro mais uma vez, apenas com a bendita memória da mulher que mais o fez feliz, mas ao mesmo tempo que mais o deixou triste. O jeito que ela foi embora e o deixou com o demônio que ele chamava de pai, sem nem ao menos olhar para trás, sem nem ao menos se preocupar com ele.
— So take a look at me now, oh there's just an empty space. And there's nothing left here to remind me, just the memory of your face. Oh take a look at me now, for there's just an empty space. And you coming back to me is against the odds, and that's what I've got to face. (Então, olhe pra mim agora, porque há apenas um espaço vazio, e não restou nada para me recordar, apenas a lembrança do seu rosto. Oh, só olhe pra mim agora, porque há apenas um espaço vazio. E você voltando para mim é contra todas as probabilidades, e é isso que tenho que encarar).
O refrão terminou de espanca-ló por completo. A dor consumiu seu peito e ele precisou deixar a casa. Ele saiu pela porta da frente, com as lágrimas queimando em seus olhos e em sua garganta, e junto disso veio a mais pura raiva. Raiva por chorar por alguém que nem sequer ligou para ele, e que mesmo depois de ir embora, nunca fez questão de buscar saber como ele havia ficado, como ele estava, como ele havia crescido. Seu coração se apertava ao extremo, mas ele não deixou que as lágrimas saíssem. Ele acendeu um cigarro ao invés disso, e deu a primeira tragada longa, quase precisando tossir por isso, apenas para sentir a nicotina preencher seus sentidos. Mas nem sequer fez cócegas, ele precisava de algo mais forte.
E como se seus pensamentos fossem lidos, não demorou muito para que ele ouvisse a porta sendo aberta de novo. Quando ele se virou, viu ninguém mais ninguém menos do que a garota que preenchia todos os seus pensamentos. Seu coração pareceu se acalmar quando viu Anastasia, e logo ele se perguntou, mais uma vez, como aquilo era possível. Era só uma garota, o que diabos ela fazia com ele para que até mesmo sua dor fosse aliviada simplesmente ao vê-la? Ele engoliu em seco e tragou o cigarro de novo. Billy caminhou até seu carro e encostou na lataria da porta, dessa vez se esforçando para não olhar a garota, que seguiu seus passos e se apoiou ao seu lado. Ele ofereceu o maço de cigarro a ela.
— Tô de boa. — Ela respondeu. Anastasia apenas cedia ao fumo quando estava extremamente nervosa ou abalada com algo. — Lembrou de alguém?
Com a pergunta, Anastasia sentiu o estômago se apertar com a possibilidade de uma resposta afirmativa. De quem ele teria se lembrado? De alguma garota? Alguém que ele já tivesse amado na vida? Mal ela sabia que Billy jamais amou ninguém nesse sentido, simplesmente pela decepção com a mãe ser tão grande, ele não conseguia confiar em ninguém para deixar entrar na fortaleza que ele havia criado em volta de si. Ele permaneceu em silêncio.
— Quer conversar sobre isso? — Ela insistiu.
Billy ainda ficou em silêncio, evitando ao máximo olhá-la. Ele tragou mais uma vez o cigarro e encarou o céu já cheio de estrelas. Ele percebeu, por um momento, que em Hawkins havia mais estrelas que na Califórnia, e ele gostou da visão, mas obviamente não diria a ninguém.
— Tudo bem. Vou te deixar sozinho, então. — Anastasia se deu por vencida, dando de ombros e voltando a caminhar até a porta da sua casa.
Billy então a encarou, e como temia, seu coração voltou a se apertar ao vê-la indo embora.
— Minha mãe. — Ele disse, chamando a atenção da garota e fazendo com que ela se virasse de volta para ele.
Ele soltou uma risada nasalada e sem ânimo algum enquanto balançava a cabeça para os lados. Anastasia então entendeu que talvez não fosse uma boa lembrança, dado a letra da música com a pessoa em questão que fora lembrada. Ela voltou a se encostar no carro ao lado dele.
— Pai e mãe de merda? Que fodido. — Ela comentou, encarando algum ponto em sua frente.
Billy riu dessa vez, verdadeiramente, mas ainda um pouco desanimado. Ela tinha razão, sua mãe até poderia ter sido a melhor em sua infância, mas ela não estava mais ali. Em troca, ele recebeu uma madrasta que tinha medo de tudo, uma meia irmã que o odiava e um pai que o infernizava todos os dias. Que péssimo exemplo familiar, ele pensou.
— Meu pai de merda foi o problema. — Ele disse, também encarando algum ponto em sua frente. — Ela não aguentou, sabe como é... Não é tão legal ter alguém que te espanca sem motivo.
Ele comentou com ironia, mas as palavras o machucaram com violência. E não apenas ele, mas Anastasia sentiu um gatilho se formar em sua mente. Lonnie Byers era um pesadelo que a perseguia dia e noite, e qualquer mísero detalhe podia trazer a tona diversas imagens e lembranças. Anastasia engoliu em seco, lembrando de uma vez em específico que seu pai a socou no rosto quando ela teve forças para negar pela primeira vez que ele encostasse nela. Ela tinha apenas seis anos na época.
— Aceito aquele cigarro agora. — Ela disse, enquanto abraçava seu próprio corpo.
Billy viu a mudança repentina de postura que ela assumiu. A mesma quando ela teve o primeiro encontro com Neil Hargrove, e mais uma vez, por algum motivo, ele sentiu vontade de protegê-la. Ele não fazia ideia do que o pai havia aprontado com ela, mas já tinha o mais puro ódio do velho. Na cabeça de Billy, provavelmente Anastasia já havia apanhado do pai, assim como ele... Mas mal ele sabia o que realmente acontecia antes.
Ele deu o que ela pediu, e acendeu o cigarro dela com seu isqueiro. Anastasia sentiu a nicotina preencher seus sentidos, mas não era aquilo que estava a acalmando naquele momento. Por algum motivo, estar ao lado de Billy deixava tudo um pouco mais leve, mesmo que eles não dissessem nada um para o outro. Suas companhias bastavam.
— Queria nunca ter conhecido meu pai de merda. — Billy comentou, e dessa vez manteve o olhar nela, que ainda parecia perdida em pensamentos perturbadores. Mesmo assim, ela conseguiu sorrir minimamente.
— Digo o mesmo.
Com o comentário, ela encontrou os olhos dele com os seus. Ambos se afundaram um no outro mais uma vez, como sempre faziam entre si. Os pesos de seus traumas sendo divididos apenas com um olhar. Billy deu um passo à frente, se colocando mais próximo dela. Ele não controlou quando subiu uma das mãos e deixou uma leve carícia com o dedo indicador no rosto de Anastasia, sentindo a pele aveludada e macia que ela tinha. A garota suspirou, da forma que mexia com Billy, assim como tudo o que ela fazia, mas dessa vez foi sem segundas intenções. Ela apenas queria aproveitar o toque leve e gentil do garoto.
Billy viu sua fortaleza se balançar naquele momento, o que o fez voltar para a realidade e tomar uma postura totalmente diferente da que estava até agora. Ele tensionou o corpo e se afastou bruscamente dela, voltando a assumir seu semblante malandro e relaxado que ele fingia ter. Anastasia piscou algumas vezes, notando claramente a mudança no garoto e estranhando tal fato. Ela quis perguntar algo, saber o que tinha acontecido, mas ele se afastou mais. Ela sentiu seu estômago revirar com isso, sem saber por que ele mudava tão fácil e rápido.
— Pode chamar Maxine? Acho melhor irmos embora, já fiquei demais por aqui. — Ele pediu, com a voz mais dura que o normal.
Anastasia franziu as sobrancelhas, mas não contradisse. Ela jogou o cigarro fora e acenou com a cabeça, entendendo onde ele queria chegar e assumindo ela mesma a postura confiante e assumida que ela tinha. Ela se afastou, e rebolou mais que o normal para andar, voltando a brincar com ele como sempre faziam, como se eles não tivessem presenciado um momento diferente segundos atrás. Ela jogaria como ele, e o trataria como ele fosse tratá-la, sem exceções e sem sacrifícios.
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Oi lindos/as/es! voltei com mais um capítulo, dessa vez um pouquinho mais triste, porém necessário para entendermos um pouco mais do Billy (coisa q eu acho q ficou mto raso na terceira temp e queria que tivessem explorado mais)
aconselho que escutem a música que mexeu com o nosso gostosinho em particular (Against All Odds), E a que a Nas disse ser favorita (Dust In The Wind) pq tbm e uma das minhas favoritas hihi
espero mto que estejam gostando, próximo capítulo temos um pouquiiiinho mais de tristeza e traumas, mas por parte da Nas, mas depois tem coisa boa prometo!
não esqueçam da estrelinha e de comentarem bastante!
Bjin procêis💙
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