Capítulo 51
—– Estava delicioso — Falei depois de ter devorado dois pedaços de bolo de maçã.
Peter riu do meu exagero, em seguida apontou uma possível sujeira no meu rosto, mas como eu não consegui limpar, ele estendeu a mão e limpou o resto de bolo que havia ficado no canto da minha boca.
—– Ah, obrigado — Agradeci um pouco envergonhada
—– Por nada — Me fitou
Coloquei o cabelo atrás da orelha um pouco enrusbecida com o seu olhar.
—– Bom, eu tenho que ir porque daqui a pouco vou ter que trabalhar no restaurante e não posso me atrasar — Me levantei da mesa
—– Quer que eu levo você?
—– Não precisa — Sorri, e ele sorriu de volta.
—– Então eu posso te acompanhar até a porta?
Ele parecia feliz só de está na minha companhia, e isso também me alegrava de alguma forma.
Antes de sair pela porta, eu me virei pra ele.
—– Fico extremamente feliz que tenha conseguido o cargo, meus parabéns.
E isso foi suficiente para arrancar o seu melhor sorriso, como se a minha opinião fosse a única que importasse para ele naquele momento.
—– Obrigado, Ana.
Sorri e em seguida dei um beijo caloroso em seu rosto.
Prometemos um para o outro que dessa vez iríamos devagar.
.......
No trabalho, eu tentava separar o pessoal do profissional, já que a atenção era o que mais se prezava ali. Afinal de contas meu trabalho era servir mesas, decorar o cardápio e demostrar simpatia o tempo todo.
E não dar pra fazer isso com a mente carregada de problemas.
Enquanto eu servia a mesa dois, me informaram que a próxima seria a mesa oito, e que era um cliente especial.
Ou seja o dobro de simpatia e atenção.
E o cliente especial era ninguém menos que o Robert, o mesmo cara que me ajudou nos dias mais difíceis da minha vida.
Mas ao invés de ficar feliz em revê-lo, nesse mundo tão pequeno, senti vergonha pelo que fiz a ele, e vergonha por ele ter me conhecido em um estado tão decadente.
Então simplesmente fiquei paralisada ali. Eu realmente não esperava encontrá-lo tão cedo, e pior, no meu trabalho, sendo eu a única que poderei servi-lo.
—– Ana, anda, o cliente está esperando — Mike chamou minha atenção.
—– Calma, já estou indo.
—– Então vai logo — Ele apressou
Respirei fundo e pensei no que eu ia dizer, depois segui com passos firmes até a mesa.
Mas assim que ele me olhou, eu automaticamente abaixei a cabeça, o que foi erro, já que eu tinha acabado de assinar minha carta de demissão.
Droga!
Mesmo ferrada, eu procurei fazer o meu trabalho, me aproximei da mesa onde ele estava sozinho me aguardando, e perguntei com a voz um pouco trêmula.
—– O senhor já fez o pedido ?
Visto que ele já estava com o cardápio em mãos.
—– Sim, eu vou querer...
Assim que me inclinei um pouco para ouvir claramente o seu pedido para enfim anota-lo, ele olhou diretamente nos meus olhos, mas por impulso eu virei o rosto fugindo do seu olhar.
—– Ana?
Droga!
Ele me reconheceu.
Fingi surpresa.
—– Que surpresa encontrá-la por aqui, sente-se —Ele fez um gesto com a mão pra mim sentar.
—– Não, e-eu não posso, estou trabalhando senhor.
—– Sente-se, é uma ordem — Ele insistiu
Ele me lançou um olhar intimidador que fez com que eu obedecesse imediatamente a sua ordem.
Senti meu coração acelerar ao me sentar, pensando em como vou pagar a faculdade já que depois que eu me levantar daqui, não terei mais um emprego.
Olhei em volta e vi que todos os olhares estavam voltados pra nós.
Enquanto Robert bebia um gole do vinho que outro garçom havia trago pra ele.
Totalmente despreocupado e com olhos fixos em mim, o que era perturbador .
—– Olha senhor, me desculpe, mas eu tenho que voltar para o trabalho se não eu vou ser demitida — Falei aflita me levantando por impulso da cadeira.
—– Não, sente-se, ainda não terminamos — Ele agarrou o meu braço.
Senti o nó na garganta, e as lágrimas marejarem os meus olhos.
—– Me desculpe, eu não deveria ter ido embora aquele dia e te deixado — Lamentei amargamente ao ver que ele me encarava, sereno.
—– Ana, tudo bem, fico feliz que sua perna tenha melhorado — Ele sorriu me deixando ainda mais nervosa.
Depois desviou o olhar.
—– Felipe.
Ele chamou um garçom que estava ali perto, e este rapidamente se aproximou
—– Me chamou, senhor?
—– Traga uma garrafa de vinho e duas taças, por favor — Ele ordenou olhando pra mim ao invés do garçom.
Fiquei surpresa por ele chamar o garçom pelo nome.
—– Sim, senhor — Felipe assentiu, depois olhou pra mim com desdenho.
Depois que ele saiu, eu olhei pra Robert com um olhar de misericórdia.
Se sua intenção é se vingar de mim, me fazendo perder o emprego, então ele estava conseguindo.
—– Não, eu não posso aceitar — Recusei.
—– Ana, relaxa.
Ele parecia calmo apesar de tudo, além de intrigado com minha companhia, apesar de tudo o que eu fiz.
"Vou perder o meu emprego"
Pensei alto.
—– Você não vai perder o seu emprego, coisa nenhuma, muito pelo contrário, as coisas vão melhorar pra você, eu te garanto — Ele me consolou
—– Não vão não — Falei, quase chorando — Não era nem pra eu estar sentada aqui, e sim atendendo as mesas.
Ele me ignorou.
Assim que a garrafa de vinho chegou, ele abriu a mesma e despejou na minha taça e na dele.
—– Eu sabia que você iria conseguir, sempre te achei muito inteligente e guerreira, e te encontrar aqui, merece uma comemoração, um brinde.
Ele levantou a taça, e me induziu a fazer o mesmo, mas eu estava muito nervosa que ao levantar a taça ela caiu e se estilhaçou toda, fazendo o vinho se espalhar pelo o chão.
—– Ah, meu Deus! — Levei as mãos na cabeça
Esse dia não tinha como ficar pior.
—– Não se preocupe, eu vou limpar tudo.
Me levantei às pressas da mesa, mas por azar acabei esbarrando e derrubando o garçom que passava com o pedido da mesa seis.
Ele até iria me xingar, mas olhou para o Robert e repensou as palavras.
Me abaixei para ajudá-lo a recolher tudo, mas senti a mão firme de Robert me erguendo de volta.
—– Não,Ana, esse não é o seu trabalho, deixe que os outros execute suas respectivas funções.
Ele olhou para o garçom que estava no chão, que se levantou rapidamente e em seguida saiu levando apenas a bandeja, com uma expressão nada amigável.
Depois Robert fez um sinal para chamarem a faxineira.
Então foi aí que eu entendi tudo.
Então peguei um pano que o garçom havia esquecido e começei a passar no resto de vinho que havia sobre a mesa, mas ele mais uma vez me interrompeu.
—– Não, Ana, você é a minha convidada — Ele olhou pra mim, e tomou o pano da minha mão, em seguida ele mesmo passou o pano na mesa e me chamou novamente para me sentar.
Fiquei estagnada.
Que loucura foi essa.
—– Ana, relaxa, já disse que não vai perder o seu emprego, eu vi quanto ele é importante pra você..
—– Eu sei, eu só estou com uma dúvida, você é o dono daqui? — Perguntei boquiaberta
—– Sim, que chefe eu seria se não provasse a comida do meu próprio restaurante, não é mesmo? — Ele disse com um meio sorriso.
Sorri nervosa.
—– Eu pensei que você era fisioterapeuta.
—– E sou, mas só nas horas livres.
—– Poxa, então o senhor é o meu chefe.
—– Não me chame de senhor, me sinto muito mais velho, você sabe muito bem qual é o meu nome.
—– Robert.
—– Isso, é muito bom ouvir você pronunciar — Ele fala com uma voz tentadora, dando outro gole no vinho se insinuando — Não se preocupe vão te trazer outra taça, afinal não posso tomar esse vinho sozinho..
Sorri enrusbecida.
Depois de um tempo conversando, eu fui conhecendo outro lado do Robert que eu não conhecia ou talvez não me lembrava, já que eu estava confusa antes.
Ele além de gentil, é bem humorado, simpático e inteiramente atraente.
E o que antes era um clima tenso se transformou em momento intenso de boas risadas.
E depois do jantar maluco que tivemos, ele ainda me deu carona pra casa e me deu um beijo no rosto, demonstrando que apesar do que vivemos, ele iria respeitar o meu tempo e limite, e eu achei essa uma atitude incrível da parte dele.
Depois de eu ter praticamente invadido sua vida, e depositado em seu coração um falsa esperança, e ainda por cima ter ido embora com o dinheiro dele, ele ainda foi gentil e me deixou ficar no emprego com direito a aumento e tudo.
Esse cara simplesmente merece tudo de bom que há no mundo.
Pena que eu ainda estou presa a sentimentos passados, e não consigo retribuir da forma como eu gostaria.
Não dar pra viver, magoando as pessoas que se gosta.
E eu preciso decidir com quem eu realmente quero ficar e construir uma relação.
Mas eu me diverti muito com o Robert, ele conseguiu trazer um pouco de alegria para o meu coração aflito.
Mas depois de um suspiro, quando eu me preparava para entrar em casa ouvi um " Kate" e automaticamente toda a alegria que eu estava sentindo foi pro saco.
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