Capítulo 12
—– E você?
—– Eu aceitei, é óbvio, porque ele merecia um pedido de desculpas, foi muito insignificante o que eu fiz, eu acreditei mesmo que ele queria conversar comigo numa boa, e resolver as coisas e tal, mas não foi bem isso que aconteceu.
—– Que?
Ela se levantou por impulso da cama e começou andar pelo quarto, atordoada.
—– Liza, o que aconteceu? — Insisti ao ver que ela ficou calada de repente.
Ela parou por um segundo e olhou pra mim, e logo começou chorar desesperada.
Levantei da cama e fui até ela.
—– Ei, o que ele fez? — Perguntei preocupada, procurando seu olhar.
—– David nunca vai me perdoar por isso — Ela disse aos plantos.
—– Por que? estou começando ficar nervosa.
—– Ao invés de um restaurante, ele me levou para um motel, Ana.
—– O que? — Arregalei os olhos, assustada.
—– Falou que tinha outro jeito de resolver isso — Ela soluçou — Eu recusei, mas ele falou que ia contar para escola inteira que eu dei em cima dele se eu não fizesse.
Tampei a boca horrorizada, e ela me abraçou enquanto eu ainda tentava processar tudo.
Nem imagino a humilhação que ela sentiu.
—– Calma, isso não vai ficar assim, amanhã vamos na delegacia e...
—– O quê? não — Ela se afastou e me encarou apavorada — Se fizermos isso, a escola toda vai saber.
—– Se não fizermos, outras meninas serão prejudicadas por esse cretino desse professor, e de pensar que eu o admirava.
Senti o estômago embrulhar só de imaginar as atrocidades que ele obrigou a liza fazer.
—– Foi por isso que eu não fui para a escola, eu estava com vergonha, não foi só uma vez que eu fiquei com ele, foram várias, e tudo na base de ameaça, porque ele me ameaçou durante todo esse tempo.
—– Eu sinto muito por isso, mas ele vai pagar, a gente vai denuncia-lo, ele não vai sair impune nem aqui nem na China.
—– Obrigado Ana, você é uma ótima amiga.
Depois de horas tentando convencê-la, ela acabou concordando em denunciar. Eu voltei pra casa nesse dia e prefiri não comentar nada com a minha mãe por enquanto. Fiquei pensando a noite inteira sobre o ocorrido, a imagem sorridente do professor não saia da minha mente, eu sentia nojo e raiva dele, pelo o que ele tinha feito com a liza.
Nenhuma mulher merece passar por isso.
Talvez toda aquela aproximação, querendo ajudar, era só para me atrair, quantas garotas não estão caladas por conta das ameaças dele.
No dia seguinte, liza e eu tomamos coragem e fizemos a denúncia, optamos pelo anonimato, porque liza queria preservar sua imagem. Não demorou muito para que o professor fosse afastado dos trabalhos da escola, e esse acontecimento chocou todo mundo.
Ninguém estava esperando por isso.
Depois disso eu convenci liza a contar pro David, mesmo sabendo que isso custaria o namoro deles, não era justo ele não saber.
E é claro que ele ficou arrasado com isso.
—– Ele não quer nem olhar na minha cara — Liza comentou durante o intervalo.
—– Ele só precisa de um tempo pra pensar melhor, sinto muito, mas você vai ter que ser paciente.
—– E o que eu faço durante esse tempo, já estou com saudades dele.
—– Não sei amiga, o jeito é esperar.
Ela suspirou fundo e cruzou os braços, enquanto o observava de longe.
—– Olha só pra ele paquerando aquelas garotas, faz poucas horas que terminamos.
—– Bom, cada um supera como pode, se ele vai voltar ou não pra você, só o tempo irá dizer.
Ela dá outro suspiro, e fica calada remoendo o desprezo do então ex namorado.
Nem eu me imagino passando por essa situação.
—– E você como está se sentindo? — Perguntei afim de quebrar o climão.
—– Aliviada, pelo menos não vou ter que esbarrar com aquele tarado no corredor, e tudo isso graças a você —Ela agarrou minha mão e olhou nos meus olhos — Obrigada.
—– Por nada.
Eu até entendo o receio da liza, eu também não teria coragem de denunciar, e uma prova disso é o gordinho assediador que não sai do meu pé.
Sempre que ele me encontra sozinha ele faz de tudo pra me intimidar, e confesso que estou de saco cheio disso.
—– Terra, chamando Ana — Disse Liza balançando a mão no meu rosto.
—– An?
—– Vamos pra casa comigo, depois da aula?
—– Não posso, tenho lição de casa pra fazer, esqueceu que eu faltei.
—– Mas eu preciso de você — Ela faz um bico.
—– E eu preciso passar na matéria, bonita.
—– Você é tãaaaaao nerd — Ela riu mas eu vi a tristeza em seus olhos, ela tinha até emagrecido alguns quilos.
Coitada da minha amiga.
Depois da aula ela me deixou em casa, me despedi dela com um beijo no rosto.
—– Fica bem.
—– Pode deixar — Ela sorri fraco.
Assim que entrei em casa, reparei que tinha um cara diferente conversando com a minha mãe.
Bati a porta, assustando eles, que estavam sorrindo e ficaram sem graça diante da minha presença repentina.
—– O que... está acontecendo aqui?
—– Olá, você deve ser a Ana — Ele deduziu estendendo a mão.
Ele parecia legal, aparentemente, seu sorriso era um tanto contagiante.
Mas sei lá, depois do professor, eu passei a confiar bem menos em caras simpáticos demais.
—– Quem é você? — Questionei, antes mesmo de pegar na mão dele
Minha mãe se apressou e se colocou entre eu e o cara.
—– Filha, esse é o Vinícius, ele quem assumiu os negócios do seu pai.
Sei não, pela intimidade que os dois estavam, duvido que estivessem falando sobre negócios.
—– Sinto muito pelo o que aconteceu, mas estou à inteira disposição de vocês, para o que precisarem, pode contar comigo — Ele completou sério, olhando fixamente pra mim e pra a minha mãe ao mesmo tempo.
Eu estava tão obcecada com a história da liza, que pensei ter visto o professor nele.
—– Obrigado, mas não estamos precisando de nada, sabemos nos virar — Falei rispidamente.
—– Filha?
Minha mãe me repreendeu.
—–Tudo bem, Amélia, deixa ela.
—– Olha, Vini, muito obrigado, fico feliz que queira nos ajudar.
Vini?
—– Ah, que isso, o seu marido era o meu melhor amigo, e o que eu puder fazer para manter o legado dele eu farei.
Inclusive pegar a mulher dele, que ironia.
Ele pegou a mão da minha mãe e levou até seus lábios, em seguida beijou sutilmente, sem tirar os olhos dela, e eu notei que ela ficou um pouco envergonhada.
—– Ok, cara — Interrompi, puxando a mão da minha mãe de volta, já que os dois pareciam dois malucos ali parados trocando olhares — Agradecemos a sua ajuda, mas você tem que ir.
Minha mãe acompanhou ele até a porta, e quando ele saiu ela me olhou decepcionada.
—– Vini, é? — Debochei.
—– Você foi muito grossa com ele.
—– E você foi simpática até demais.
—– Ele é amigo do seu pai, eu só tentei ser gentil, e estávamos falando de negócios.
—– Ah, eu vi como você olhou para ele, não foi nada profissional mãe — Provoquei
—– O que está dizendo menina, vem me ajudar cortar as verduras que você ganha bem mais — Ela disfarçou passando por mim e indo em direção a cozinha
Depois que terminei de almoçar, decidi tomar um banho de sol. Me sentei na calçada em frente de casa, e fechei os olhos sentindo o sol queimar levemente minha pele.
Mas dessa vez alguém surge diante de mim e bloqueia os raios solares.
Abri os olhos de repente, e primeiro vio
uma sombra preta e depois o semblante perfeito de Fred me encarando.
Nossa, como é bom vê-lo novamente, e tão radiante.
—– Que tal um passeio, Keith? — Ele sugeriu, me surpreendendo.
—– Como sabe o meu segundo nome?
—– Um passarinho me contou — Ele sorriu de lado.
—– Os passarinhos daqui são tão fofoqueiros quanto as pessoas — Brinquei.
Tentei esconder a satisfação que senti ao vê lo depois de sumir por vários dias, mas isso deve está escrito na minha testa, pra ele me olhar de uma forma estranha.
Estendi sutilmente umas das mãos para ele, que sorriu descaradamente e agarrou o meu braço, me ajudando a levantar.
Bati na roupa para tirar um pouco da terra em seguida olhei para ele, e percebi que ele estava reparando no meu jeito desajeitado de ser.
Abaixei a cabeça um tanto sem jeito.
—– Você anda meio sumido — Falei afim de migrar sua atenção para outro lugar que não fosse meu corpo.
—– Vejo que alguém sentiu minha falta — Ele sorriu.
Comecei ri de nervoso, e senti meu rosto corar.
Convencido.
—– Me acompanhe, senhorita — Ele deu de ombros.
—– Primeiro me diga para onde estamos indo, aí vou pensar se te acompanho ou não.
—– Você vai ver — Ele falou e continuou andando, me deixando pra trás.
Aí se eu não fosse tão curiosa.
Eu olhei para trás para certificar se a minha mãe não estava na porta me vigiando.
Então eu corri para acompanhar os passos de Fred, e vi a sombra de um sorriso se formar em seus lábios.
O sorriso de quem sempre consegue o que quer.
Olhei para as suas mãos e vi que ele carregava uma sacola preta e isso me deu um certo medo, o que será que tinha dentro.
Ferramentas para se assassinar alguém, afinal a gente nunca sabe as verdadeiras intenções das pessoas.
E considerando que estávamos indo rumo a floresta.
—– Sem chances não vou entrar no mato, paro no meio caminho, ao ver ele passar por uma cerca de arame.
—– Anda logo Keith.
Olhei para trás com receio de alguém ver a gente e depois respirei fundo e passei pela cerca.
Meu erro é confiar demais nas pessoas, e ver bondade onde não tem.
Caminhamos por uma hora até chegarmos em um lugar vago, onde havia um pequeno rio e poucas árvores.
Parei um pouco pra respirar.
Eu estava um pouco sedentária, e morrendo de sede.
Fred se virou pra mim, e sua expressão mudou completamente.
Estranhei de início.
Ele então deixou a sacola cair no chão e avançou sobre o zíper da calça.
Meu coração gelou.
—– Brincadeira — Ele sorriu, e eu soltei o ar que eu havia prendido por um tempo, mas continuei paralisada.
Ele começou a rir sem parar.
—– Você tinha que ter visto a sua cara, pareceu que você tinha visto um fantasma.
Aquilo não era nada engraçado, senti as lágrimas invadirem os meus olhos com força, e ele depois de ver isso parou de rir e se aproximou.
—– O que foi? até parece que você nunca viu um pau antes — Ele zombou.
Fiquei calada.
—– Ou será que não mesmo, quer dizer que...
—– Quer dizer que isso não é da sua conta — Dei de ombros, pensando em ir embora mas ele segurou firme o meu braço.
—– Desculpa, foi vacilo meu, fica.
Senti o apelo em seus olhos tocar diretamente a minha alma.
Tão atraente e tão babaca ao mesmo tempo.
Respirei fundo e decidi ficar, me distraindo com o ninho de pássaros em cima de uma árvore, enquanto seus olhos estavam sobre mim.
"Droga! garoto, o que você quer de mim?"
Ele foi até o rio e se sentou em uma pedra perto do mesmo, em seguida tirou uma garrafa de dentro da sacola, e tomou um gole da bebida que havia dentro.
Alem de fumar, ainda bebe.
Todo errado.
—– Vai ficar parada aí?
Fui até onde ele estava e me sentei em outra pedra próxima a ele, ele me entregou uma garrafa d'água, e eu não pensei duas vezes e peguei a mesma e despejei na garganta seca. Em seguida molhei o rosto e o cabelo para refrescar o calor.
Ele deixou escapar um sorriso bobo com o meu exagero. Olhei para ele e sorri também. Mas depois desviei o olhar um pouco envergonhada pra frente, vislumbrando o horizonte, e ele balançou a cabeça negativamente, e seguiu os meus olhos, fazendo o mesmo.
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