16. O BANIDO
Quando o carro de Harrington começou a frear perto do lago dos amantes, onde o endereço de Ricconha dava. Layla fora a primeira quem saltou do carro, seguida de Robin, Max, Dustin e por fim Steve.
O sol já havia se posto, indicando então o tempo ameno de Hawkins uma proporção maior do que antes. Dustin foi quem levou o dedo na campainha, desesperadamente.
— Pronto, resolvido, ele não está aqui. — balbuciou Steve.
— Eddie, — bateu com mais força na porta — é o Dustin. A gente só quer conversar, beleza? Sem polícia, a gente só quer ajudar.
Robin e Layla começaram a tentar olhar através da janela, com as lanternas em mãos.
— Aí, gente. — chamou Max.
Os quatros correram até o alcance da garota, vendo que ela olhava o galpão. Decidiram que era a melhor opção, seguindo em passos seguros e apreensivos até o local. Cada um deles tinha uma lanterna em mãos, por isso quando entraram começaram a olhar em volta, vendo vários entulhos, coisas bagunçadas —, indicando que não ia alguém ali já fazer uma faxina a um bom tempo.
Steve sendo observado pelos olhos de Layla, pegou um dos remos que estava pendurado na parede. E começou a bater de uma vez no que estava dentro do barco, pois pelo formato parecia um corpo.
— O que você...
Dustin deixou a frase morrer, ao ver a maneira que o amigo agia.
— O que você está fazendo? — indagou novamente.
— Ele pode tá aqui.
— Então levanta a lona. — apontou o mais novo.
— Você é o corajoso, levanta você. — devolveu Harrington.
Do outro lado do galpão as garotas observava os detalhes com cuidado.
— Tinha alguém aqui. — apontou a mais nova, para os papéis de comida que tinha sobre a mesa.
— Talvez ele ouviu a gente chegando e saiu. — comentou Layla.
— Relaxa! — ironizou Dustin — O Steve pega ele com o remo.
Barnes voltou os olhos para o que o mais velho estava fazendo, e ainda continuava a bater na lona.
— Você é muito engraçadinho, Henderson. Mas, levando em consideração que todo mundo aqui já morreu quase umas 100 vezes, eu, sinceramente, não vejo a menor graça...
A voz de Harrington fora interrompida por um barulho estridente. Max se jogou contra Robin e a irmã com o susto, gritando como Dustin. O corpo de Steve fora jogado para trás em um solavanco, batendo com as costas na parede. Tudo em questão de sete segundos.
— Ô, ô, ô, ô!
— Espera! — gritou Dustin — Calma, Eddie, para!
Layla aflita, o coração disparado e as mãos suando. Tinham encontrado Eddie, e agora ele estava com uma faca no pescoço de Steve.
— Eddie, Eddie. — repetiu Dustin, conseguindo ganhar a atenção do amigo — Sou eu. O Dustin. Esse é o Steve. Ele não vai te machucar, né, Steve?
— Isso! É. — a voz de Harrington saiu fraca.
— Steve, vamos soltar esse remo.
A voz de Layla soou baixa, querendo passar tranquilidade. Dois segundos depois o mais velho fez exatamente o que ela pediu, soltando o remo que caiu de uma vez no chão. Porém, Eddie apertou a faca com um pouco mais de força no pescoço dele.
— Tranquilo, tranquilo. — tentou acalmar Dustin.
— Tranquilo, tranquilo. — repetiu Steve.
— O que vocês querem aqui?
E pela primeira vez a voz de Eddie Munson se fez presente. Fraca, cansada e abatida.
— A gente tá te procurando. — respondeu Dustin.
— A gente veio ajudar.
— Eddie, esses são meus amigos. — afirmou Henderson — Conhece a Robin! Da banda. E a Layla que te ajudou com química. Essa é a minha amiga Max. Aquela que nunca quer jogar D&D. A gente tá do seu lado. — a voz dele ficava cada vez mais estridente — Eu juro pela minha mãe. Né, galera
— É, sim, a gente jura.
— É, pela mãe do Dustin. — Robin jurou.
— É, pela mãe do Dustin. — Layla e Steve falaram em uníssono.
E então, Eddie apertou os dedos com mais força ao redor da faca e no instante seguinte soltou. Steve jogou o corpo para o lado, buscando ar. Layla foi quem chegou perto dele primeiro, apoiando a mão em seu ombro, procurando um sinal de machucado no pescoço. Foi algo tão involuntário, que mais ninguém presente percebeu, apenas Harrington que ficou paralisado no mesmo lugar, enquanto os dedos frios e finos da mais nova tocavam seu pescoço.
Quando Layla notou que não tinha machucado nenhum, suspirou aliviada. Voltando a atenção para Eddie.
— Eddie, a gente só quer conversar. — balbuciou Dustin, se abaixando na altura do amigo.
Steve levou novamente a própria mão ao redor do pescoço, respirando pesadamente.
— A gente quer saber o que houve. — Robin se agachou ao lado de Dustin.
Layla e Max permaneceram em pé, enquanto Steve estava sentado com as mãos apoiadas no joelho. As duas permaneceram quietas enquanto Dustin explicava para Eddie tudo o que acontecera, e a cada vez que Henderson explicava o que estavam enfrentando as pupilas do mais velho pareciam se dilatar.
— Quem é Vecna?
A voz de Steve soou baixa, os braços cruzados, a boca seca e o nervosismo tomando conta de seu corpo. Achava que o que tinha acontecido no ano passado era o suficiente sobre monstros e tudo aquilo que aconteceu, achava que estavam livres do mundo invertido. E que não aconteceria nada de ruim com mais ninguém, não depois de Billy. Porém, aquilo ali comprovava que estava errado todo esse tempo.
— Uma criatura morte viva de extremo poder. — respondeu Dustin.
Layla se mexeu desconfortável no lugar onde estava, buscando os olhos de Harrington instintivamente, apenas para o encontrar encarando Dustin.
— Um feiticeiro. — completou o mais novo.
— Um bruxo das trevas. — dessa vez foi Eddie quem dissera.
{...}
Não tinha nada que não fosse ruim que não podia piorar. Fora esse os pensamentos de Layla enquanto se dirigia a própria casa junto a sua irmã.
— Você está bem? — Barnes quebrou o silêncio, olhando por cima dos ombros.
Antes que Max respondesse, elas chegaram ao complexo de trailers vendo as dezenas de carros de polícias espalhadas por ali.
— Já não era para terem ido embora? — indagou a mais nova, observando os oficiais enquanto continuava a caminhar para casa.
Layla elevou os lábios, pensativa.
— Max, acho que aconteceu outra coisa.
A ruiva olhou novamente por cima dos ombros, deixando por fim a preocupação tomar conta de sua feição. Também achava o mesmo.
— Layla e se...
— Vamos entrar e tomar um banho. — atropelou a frase da irmã, destravando a porta da frente — Logo a gente pensa nisso, ok?
As duas entraram para dentro de casa, sentindo o clima pesar de uma maneira horrível. Enquanto Max esquentava a lasanha da noite anterior, Layla fora tomar banho. Tinha separado uma calça jeans escura, moletom branco e seu all stars amarelo novo, que tinha parcelado em um milhão de vezes.
Enquanto a água quente batia em seu corpo, Layla sentiu os músculos relaxar. Porém, seu consciente não conseguia se aquietar. Desde que descobriram que tem alguma coisa estranha acontecendo, as lembranças de Billy ficaram mais fortes. Era como conseguir ouvir o grito dele, clamando por seu nome enquanto morria.
Saiu do chuveiro com o cabelo enrolado em um coque para não molhar. Não conseguiu evitar se olhar no espelho, sua imagem estava péssima, olheiras fundas abaixo dos olhos, o rosto estava mais magro do que antes. Realmente, Layla não estava nada bem no último ano. Quando se sentou para comer, tomou o comprimido para a dor de cabeça que se iniciava —, ao mesmo tempo em que conseguia ouvir o chuveiro ligando novamente, indicando que Max já estava lá embaixo.
Ela não sabe como aconteceu e se realmente aconteceu algo. Quando Layla tornou a abrir os olhos, estava em um local diferente. Os tons escuros eram o que predominava o ambiente, dava para sentir o frio acertando seu corpo e arrepiando seus pelos. Ela não queria avançar, mas não tinha outra opção. A maneira que o coração começou a bater forte indicava que o inconsciente de seu cérebro sabia o que estava por vir.
Layla?
Ela se virou para trás, não enxergando nada além de árvores.
Layla.
A voz soou mais firme. Foi quando ela conseguiu distinguir quem seria o dono dela.
Layla.
Essa foi a última palavra que saiu da boca de Billy antes de morrer. A última palavra que ecoava pelos pensamentos de Barnes todos os dias antes de dormir.
Quando o arrepio subiu toda sua espinha, ela soube que ele estava atrás de si. Não quis se virar, seus pés petrificaram no lugar.
Layla.
O hálito gelado bateu em sua nuca. Então, Layla começou a chorar, balançando a cabeça em negação.
Olha para mim, Barnes.
Então, ela pressionou os olhos com força, sentindo as lágrimas escorrendo por sua face. Quando tornou a abrir viu que estava em pé no trailer e que não havia saído dali em momento nenhum, o desespero ficou pior. As lágrimas descendo desesperadamente pelo rosto, Layla abriu a porta da frente em agonia. Aquele lugar estava amaldiçoado, Billy estava perfeitamente real ali. Não podia ficar nem mais um segundo...
— Ei...
Layla saiu tão depressa pela porta da frente que não prestou atenção no que estava a sua frente, quando ergueu a cabeça (mesmo com a visão embaçada), conseguiu ver direito. O sentimento que alastrou por seu peito foi segurança. Então, o choro começou a sair com mais força e ela correu em sua direção.
— Layla, o que...
Não terminou sua frase, pois a mais nova bateu com o corpo contra o seu, enrolando os braços ao redor de seu tronco. Chorando sem parar, molhando totalmente sua jaqueta.
Ela tinha se esquecido de que era daquela maneira que Steve cheirava. A loção pós barba, o creme de pentear, o amaciante doce da roupa. Mesmo após ter passado o dia inteiro correndo atrás de Eddie, ele ainda estava cheiroso.
— O que aconteceu? — ele perguntou, levando as mãos ao redor de seu corpo também. Retribuindo o abraço.
Layla fungou o nariz, tentando controlar um pouco o choro. Quebrando por fim o abraço, porém, permanecendo extremamente perto dele. Levou alguns segundos para levantar o rosto.
— Por favor, não saia daqui. — enxugou os olhos com a manga do moletom — Tem alguma coisa e...
Steve Harrington balançou a cabeça em concordância, sem esperar ela terminar a frase. Apoiou a mão direita sobre o topo de sua cabeça, afagando seus cabelos.
— Eu não vou sair.
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