13. OS OITO
Eles dizem que há uma divisória que lhe permite ver o momento em que sua vida se tornou outra. É como se fosse um antes e depois, como se você fosse pudesse acreditar em como as coisas acabaram daquela maneira. Quando aquele dia começou para Layla, ela não sabia que quando aquele dia terminasse, ela teria perdido tudo.
Os planos que um dia fez com a pessoa a qual era apaixonada a quatro anos. O equilíbrio perfeito entre sua família. O amor entre seus novos amigos.
Quando aquele dia terminasse, nada nunca mais seria o mesmo.
Porém, enquanto ela continuava sentada ali na poltrona do cinema —, alguma parte dela achou que poderiam sair daquela vivos e bem. Ela teve esperança, enquanto assistia de volta para o futuro. Layla Barnes ficou presa nos próprios pensamentos por minutos profundos... sem saber que as próximas horas seriam atordoantes como nunca antes, e de que a maldição que carregava em suas veias aconteceria da pior maneira possível.
Por isso era patético a maneira que todos aqueles que a ouviam falar sobre a maldição, diziam que era apenas coisa de sua cabeça. Como se ela gostasse de levar a culpa por tudo ou coisa parecida, não, poderia parecer algo do tipo mas estava bem longe de ser apenas uma culpa carregada. Aquilo era real, aquela terrível maldição circulava pelas veias de Barnes desde que nascera. Sua mãe, seu pai e nem Maxine sabe o motivo. E sinceramente, muito menos eu. É apenas como se isso sempre estivesse ali, a espreita, dando pequenos sinais de existência.
— Por acaso você tem pilha AA? — um Dustin afobado se sentou ao lado de Layla novamente.
A garota nem percebeu que havia se passado alguns minutos desde que sentara ali.
— Por que eu teria pilha, Dustin?
Ela estava com uma sensação estranha, ver o garoto eufórico daquela maneira a estava deixando de um jeito ruim.
— Eu sempre ando com pilha. — respondera como se fosse obvio.
— Então, por que tá me pedindo?
— Preciso de oito. — justificou Henderson.
— Oito? — a voz de Barnes saiu um pouco mais alta do que o imaginado — Por que caralhos precisa de oito pilhas, cara?
Fez-se alguns segundos de silêncio.
— Merda, vamos ter que passar pro plano B. — sussurrou o garoto mais para si mesmo do que para ela.
— Plano B?
A cabeça de Layla não estava funcionando muito bem, o que era uma merda já que ela era mais velha do que Dustin. Mas, sabia que ele não era uma criança normal e que já estava meio que acostumado com aquelas coisas. Mesmo assim, ainda se sentia em alerta. Era como se o tempo que passou pressa naquela base russa subterrânea tivesse afetado seu cérebro.
— Cadê o Steve e a Robin? — indagou Dustin.
A garota virou a cabeça na direção em que os outros dois deveriam estar, encontrando nada além das cadeiras vazias.
Merda, era só o que faltava. Pensou Layla, antes de levantar correndo.
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Harrison e Robin ainda se encontravam chapados, mas a sensação era um pouco diferente agora —, como se pelo menos um pouco do efeito tivesse passado. Mas, isso não significava que Steve estivesse cem por cento. Ele estava morrendo de sede como se tivesse andado o deserto todo do Saara sozinho.
— Assim, eu não prestei muita atenção nesse filme... — satirizou Robin — mas, eu tenho quase certeza de que aquela mãe queria traçar o filho.
— Não, — Steve tirou a boca do bebedouro — a bonitona era a mãe do Alex Keaton?
— Eu tenho quase certeza.
— Mas, eles tem a mesma idade. — balbuciou indignado.
— Não é isso, é que ele voltou no tempo. — explicou Robin.
— Então, por quê o nome é de volta pro futuro?
— Por que ele tem que ir "de volta" pro futuro, por que ele tá no passado. Então, o futuro, na verdade, é o presente, que é o tempo dele.
Steve abriu a boca em um O perplexo com tantas informações que seu cérebro processou nos últimos segundos, e quando estava prestes a dizer que aquela merda não fazia sentido nenhum — seu estômago se embrulhou, como se tivesse levado um soco ali. Ele sabia muito bem que sensação era aquela, então antes mesmo que Robin pudesse fazer alguma coisa a mais — Steve correu disparado em direção ao banheiro.
Mas, sabe ele dizer quanto tempo ficou inclinado sobre aquele vaso, só se deu conta de que havia passado mais tempo do que o desejado quando ouviu a porta do banheiro abrindo de uma vez.
— Porra, Steve, vai se foder mano. Você não é criança pra ficar fugindo assim não e eu não sou babá de ninguém.
Layla desatou a falar de uma vez ao ver o mais velho sentado de uma maneira desengonçada com uniforme todo sujo, no chão do banheiro.
— O teto parou de girar. — foi a primeira coisa que ele disse quando seus olhos encontram os furiosos da garota — Estava girando muito.
— É obvio que estava girando, você estava drogado. — suspirou Barnes, pegando o braço esquerdo dele na tentativa de o puxar para cima — Ou tá ainda, não sei.
Steve não moveu um músculo sequer para sair daquele ambiente, então o esforço da garota fora em vão, pois seu peso não se comparava nenhum pouco com o dele.
— Me pergunta alguma coisa. — pediu Harrington — Acho que vomitei tudo.
Layla não queria dar o braço a torcer, ainda mais sabendo que havia russos lá fora atrás de todos eles. Porém, ela fez o que ele pediu. E perguntou a primeira coisa que veio em sua cabeça.
— Já se apaixonou de verdade? — sua voz tremeu ao pronunciar tais palavras.
Os olhos achocolatados de Steve Harrington estava pousados sobre os seus, como se processasse o que acabara de ouvir, porém ele não esboçou nenhuma reação. E isso deixou a menina que estava a sua frente um pouco nervosa, pois dessa maneira não sabia o ler.
— Já. Nancy Wheeler. Primeiro semestre do ano.
Ele respondera com naturalidade, como se aquilo estivesse na ponta de sua língua. Layla se sentou no chão a sua frente, estava extremamente cansada mentalmente. Já sabia que o efeito da droga tinha passado, porém ela não pode evitar de soltar o restante das palavras que estavam presas em sua boca.
— Você ainda... você ainda ama a Nancy? — tartamudeou Layla.
Os olhos escuros do homem a sua frente perderam o foco por alguns segundos, ele desviou o olhar do dela. Como se tivesse receio de ser pego fazendo algo que não deveria, como se não quisesse que ela soubesse... como se apenas olhar nos olhos dela fosse entregar totalmente o jogo. Então, por fim ele respondera.
— Não.
Mesmo que aquela fosse uma resposta sincera, ainda algo não parecia bastar para ela.
— Por que não? — perguntou mais uma vez.
Steve ficou em silêncio, os olhos presos nos azulejos do chão e tentando afastar o pensamento ridículo que estava o cercado já a alguns dias. Não, Steve estava tentando se concentrar em não parecer um idiota completo e afasta-la da mesma maneira que fazia com todas. Ele não queria nada disso, sem contar que Layla era alguns anos mais nova do que ele. Não que isso importasse alguma coisa, mas naquele instante Steve parecia estar concentrado em arrumar todas as desculpas plausíveis para não fazer o que sua mente gritava para fazer.
— Eu acho que eu... acho que eu gosto de outra pessoa. — foi honesto, porém, ele sentia suas mãos suarem — É loucura. Desde que o Dustin voltou, ele fala "Você tem que achar a sua Suzie. Tem que achar a sua Suzie."
Layla soltou uma risada fraca e nasalada. Pensou que a nova pessoa que ele pudesse estar gostando era a sua companheira de trabalho, Robin.
— Quem é Suzie? — seus lábios riram fracamente.
Steve balançou a cabeça em negação, como se jogasse a ideia de Suzie para outro lugar.
— Uma garota da colônia de férias, eu acho que é a namorada dele. — respondeu, voltando a encarar Layla a sua frente — Pra ser bem sincero não tenho cem por cento de certeza de que ela existe. Mas, não é... essa não é bem a questão.
— Qual a... qual a questão?
Ela não sabia que sensação estranha era aquela na boca de seu estômago e nem por que parecia estar chateada com o fato de Steve gostar de outra pessoa. Afinal, ela era apaixonada pelo Billy a quatro anos. Então, por que aquela sensação de decepção se instalava pelos poros de seu corpo?
— A questão é que essa garota que eu gosto, é uma pessoa que eu nem sabia da existência até alguns dias atrás. — ele evitava o contato visual — É bobeira...
Que porra de sensação era aquela na porra do estômago dela.
— Steve, eu acho melhor, acho melhor a gente ir. — Layla se levantou do chão em prontidão.
Porém, os dedos frios dele seguraram em seu pulso direito a forçando se sentar mais uma vez, dessa vez mais perto dele do que ele planejava. Seu olho esquerdo ainda estava uma merda e Layla tinha medo de que alguma coisa pudesse acontecer com sua visão, porém esse medo se dissipou a seguir.
— Steve...
Seu coração estava acelerado, de uma maneira que nunca havia acontecido antes.
— Layla, você tá bem? Tá fazendo uma cara estranha. — perguntou calmo, ainda com os dedos em seu pulso.
Ela balançou a cabeça positivamente.
— A gente tem que ir.
Mas, ele não parecia prestar atenção no que ela estava dizendo.
— Layla, eu deveria... eu deveria...
Conforme seus lábios pronunciavam tal frase que nunca teria fim, sem que ela notasse ele fora a puxando para mais perto de si. Tão perto que Steve conseguia ouvir o coração dela batendo alto e se sentiu grato por não ser o único daquela maneira.
— Stev-
Então, a respiração dele estava tão perto que Layla começou a achar que estava passando mal. Harrington se aproximou, mas ela continuou intacta na mesma posição. Foi quando os lábios de Steve levemente encostaram sobre os dela. E fora diferente de quando Billy a beijara a força, quer dizer, aquilo ali também não podia ser taxado como um beijo, estava mais para um pequeno esbarrão. E o barulho ensurdecedor da porta abrindo fez com que Layla tomasse um puta de um susto que jogou seu corpo para trás, impedindo que Steve a beijasse.
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O plano em saírem juntos com o pessoal que estava assistindo o filme dera completamente errado, primeiramente que eles já conheciam perfeitamente o rosto dos quatro. Então, a única opção que restou fora se esconderem pelo shopping. O que alguma hora iria falhar, e o momento da falha era exatamente agora. Estavam cercados pelos russos, não tinha escapatória. O barulho do alarme do carro promocional do shopping disparou, assustando os quatros que estavam encolhidos contra o balcão. Um segundo depois o próximo barulho ouvido fora o dos corpos dos guardas acertando o chão.
Os quatro ergueram as cabeças lentamente de trás do balcão, vendo o carro promocional de cabeça para baixo. E então, eles ergueram os olhares para cima e encontraram diversos pares de olhos conhecidos.
— Você jogou o carro que nem "Hot Wheels".
Se animou Dustin a Onze, correndo em direção a ela e Mike que a estava apoiando.
— Max! — Layla balbuciou, quebrando o pequeno espaço que a separava da irmã — O que aconteceu, como você está?
Os olhos da mais nova se encontravam meramente vagos, mas ela estava aliviada por a mais velha estar ali.
— Layla, — suspirou, ao ser abraçada pela irmã — achei que tinha ido embora.
— Como iria embora sem me despedir de você?
As duas quebraram o abraço. Dava para ver nos olhos de Max que alguma coisa estava errada, e essa coisa era Billy Hargrove. Porém, ela não sabia como contar isso a irmã daquela maneira. Então, as palavras falharam e nada saiu de sua boca.
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Tinha informações demais para todos conseguirem processar de uma vez, Onze acabara quase desmaiando, pois havia um resto de alguma coisa em sua perna. O grupo todo se reuniu ao redor da garota para a ajudar, mas apenas ela mesma conseguiu fazer tal coisa.
— Tem algo errado com o Billy.
Max quebrou o silêncio, quando a irmã sentou-se ao seu lado. Layla pressionou os lábios um contra o outro, sem entender o que ela quis dizer.
— Sempre teve algo de errado com ele. — brincou Barnes.
A mais nova forçou um sorriso selado, porém cansado.
— Quero dizer, algo de verdade. — suspirou — Essa coisa que está atrás da Onze, acho que fez alguma coisa com ele. Acho não, tenho certeza. Ele... é como se estivesse sendo controlado. Então, se você o vir não tente...
— Pera aí, pera aí, pera aí. — Layla ergueu a mão direita em um gesto de pare — O que você... o que tem...
— Vamos dar um jeito. — tentou ser positiva — Já tivemos alguns problemas assim antes e...
— Por quê ele?
A mais nova não soube responder e para ser sincera, ninguém soube. Mas, se Layla soubesse que ao tê-lo mandado embora aquele dia após ele socar Steve —, que estivesse o condenando para sempre. Ela jamais se perdoaria.
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— O devorador de mentes construiu essa coisa em Hawkins pra atacar a On, pra matar ela e abrir caminho para nosso mundo.
Mike explicava para todos presentes, agora que os outros três adultos haviam chego no local.
— E quase conseguiu. Isso era um pedacinho dele. — apontou Max para o bicho morto no chão.
Layla estava ao seu lado, e do lado de Max estava Steve.
— Qual é o tamanho desse bicho? — indagou Jim.
— É grande. Ah, pelo menos, uns dez metros. — respondera Jonathan.
— Calma aí, só pra ficar claro. Essa aranhazona de carne morta que machucou a On, é tipo uma gigantesca arma? — perguntou Steve Harrington.
— Isso.
— Só que, em vez de ter pregos e metal, o devorador de mentes fez a arma dele com gente derretida? — Layla indagou também, pois estava confusa.
— Isso, exato.
Nancy Wheeler afirmou, fazendo Robin e Layla trocarem um olhar incrédulo.
O restante da conversa foi uma tentativa útil de formular um plano para conseguirem matar aquela tal coisa que queria matar a Onze e vir para nosso mundo.
— Você vem comigo? — Steve parou ao lado de Layla, com a chave do carro em mãos.
Seria ele quem iria levar Dustin até a torre para que conseguisse guiar aqueles que se infiltrariam na base russa para fechar o portal.
— Não. Eu vou ficar com a Max. — foi ríspida.
Os olhos achocolatados de Harrington sustentaram o olhar da mais nova por alguns segundos, como se não quisesse a deixar para trás. Mas, antes que ele pudesse dizer alguma outra coisa ela quebrou o contato visual e deu as costas para ir até a irmã.
Jonathan, Nancy e Layla eram os responsáveis por Mike, Onze, Lucas, Max e Will. O plano constituía em levá-los para um abrigo bem longe, onde todos estariam seguros.
Layla nunca admitiria isso, mas ter dado as costas para Steve havia lhe deixado meramente abalada. Não queria criar uma tensão completa, por isso não o deu oportunidade de dizer mais nada.
Os oito foram para fora do Shopping, em direção ao carro. As crianças e Layla se aglomeraram no banco traseiro, porém, quando Nancy e Jonathan sentaram no banco prontos para sair dali, ao dar a partida o carro não pegou.
— Sua mãe não acabou de comprar o carro? — perguntou Lucas.
— Sim, não deve ser nada.
Dava para ver o estresse tomando conta da voz de Wheeler.
— Você deixou o farol aceso? — perguntou Layla.
— Não.
— Tem gasolina? — perguntou Will.
— Tem! — gritou a mais velha.
— Para, para. — Jonathan levou a mão até o volante, impedindo a namorada de continuar a tentar ligar — Abre o capô.
Os dois saltaram do carro, Layla fora atrás.
— Como assim...
— O que foi? — as duas indagaram ao mesmo tempo.
— O cabo de ignição sumiu.
E então, o barulho ensurdecedor de um motor foi ouvido por todos os presentes. A espinha de Layla e de Max se arrepiaram por completo, pois elas reconheciam aquele barulho perfeitamente.
Era Billy Hargrove, queimando os pneus no estacionamento.
— Sai, sai, sai, sai. — gritou Barnes, abrindo a porta do carro e puxando Max pelo braço esquerdo — Pro Shopping.
Eles entraram correndo para dentro mais uma vez, dessa vez tentando avisar a qualquer um que estivesse ouvindo pelo rádio. Tentaram virar o carro promocional para tentar pegar o cabo de ignição dele, porém eram fracos demais para tal coisa.
Foi então, que ouviram um barulho no teto de vidro.
— Max, Max.
Layla chamou a irmã.
— Tiram ela daqui.
Foi a única coisa que conseguiu gritar antes do vidro quebrar e o devorador de mentes cair sobre eles os encurralando. Mike, Onze e Max foram os que conseguiram sair correndo pela Gap. Os outros cinco ficaram para trás, tendo que sair pela porta da frente com o cabo de ignição do outro carro em mãos.
As crianças se jogaram no banco traseiro mais uma vez, Jonathan na tentativa de ligar o carro e Billy Hargrove acelerando na direção deles.
Foi então que Layla saiu de dentro do carro.
— Ele vai me escutar, de todos aqui eu sou a única que... ele não vai me atropelar. Ele tá me vendo.
Suas palavras tremiam assim como suas mãos, Nancy sustentou o olhar com o da garota e correu até Jonathan para o ajudar a saírem dali mais rápido.
— Billy, sou eu! — gritou Barnes.
Porém, o barulho dos pneus queimando eram tão altos que apostou que ele não a ouvira.
— Sou eu, sou eu. — sua voz saia embargada, conforme o carro voava em sua direção.
Nunca achou que seria morta pela pessoa a qual era apaixonada a tanto tempo, mas morrer no lugar de quem ela amava parecia uma boa opção de partir e não deixar que mais ninguém se machucasse com a sua desgraça.
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