Capítulo 32 - Começo
"Um coração carregado de amor está sempre preparado para lutar até ao fim".
🐍▫️Antoinette▫️🐍
– A que horas é o seu voo, querida? – perguntou Nana, quebrando o silêncio que envolvia a sala de estar.
– Daqui a algumas horas – respondeu Cheryl ao meu lado.
Pêssegos desenhava círculos invisíveis nas costas da minha mão, que estava acomodada entre as dela em seu colo. Penélope estava sentada na poltrona larga de pelúcia à nossa frente, enquanto nos encarava. Fiquei imaginando o que Penélope via quando olhava para mim. Será que enxergava o amor que tinha por sua filha? Será que enxergava o conflito pelo qual tinha passado para ficar com ela? Será que enxergava que abriria mão da minha própria vida para mantê-la em segurança? Ou enxergava apenas minha lista de crimes? Será que me via como um exemplo perfeito do tipo inadequado para Cheryl? Será que me considerava igual àqueles animais que tinham tirado a vida do seu amado marido?
É, era exatamente assim que ela me via.
– Sei que você tem muito a dizer – murmurei – Sei que tem opiniões duras a meu respeito – ergui as sobrancelhas – Quero que me diga quais para que eu talvez possa mudá-las.
– Isso não vai acontecer – sibilou Penélope.
– Você não sabe.
– Não ouse me dizer o que sei e o que não sei. Sei muito bem quem e o que você é.
Apertei a mão trêmula de Cheryl.
– Será que pode me explicar? – inclinei-me para a frente – Todo o mundo merece a chance de se defender.
– Você já tem bastante experiência com isso – apontou ela, enojada.
– Penélope.
Todos os rostos se voltaram para Nana, que olhava boquiaberta para a filha. Penélope olhou para a mãe antes de abaixar os olhos respeitosamente.
– Sim – confirmei – Já cumpri pena.
– Mais de uma vez – retrucou Penélope. Ela sacudiu a cabeça, perplexa – Você acredita mesmo que vou querer minha filha com uma mulher que considera um tempo na prisão umas férias estendidas de verão?
– Não vejo dessa forma! Não me orgulho do meu passado.
– Talvez – retrucou – Mas o passado de fato aconteceu.
– Como o passado do meu pai? – interferiu Pêssegos.
Penélope olhou para a filha por um instante, seus olhos se enchendo de lágrimas.
– Não ouse compará-la ao seu pai – censurou – Seu pai... Seu pai... – ela mordeu o lábio e enrolou os braços no próprio corpo – Ele pode ter feito coisas das quais não se orgulhava – continuou antes de voltar a olhar para mim – Mas fez algo para se redimir depois. Tornou-se alguém que as pessoas admiravam, respeitavam, amavam...
– Topaz já fez coisas que admiro e respeito – enfureceu-se Cheryl – Você não faz ideia do que ela superou, contra o que ela lutou a vida inteira. Você não faz ideia da noite em que meu pai morreu, de como Top....
– Cheryl. – interrompi.
Não queria que Penélope soubesse de minha participação na noite em que o senador tinha morrido. Não agora. Não se tratava de ganhar pontos.
Um soluço abafado veio do outro lado da sala. Desviei o olhar de Pêssegos e vi o rosto devastado de Penélope e Harrison acariciando seu cabelo.
– Você acha que não faço ideia da noite em que seu pai morreu? – repetiu sem fôlego – Como você pode... Cheryl, aquela noite... – ela meneou a cabeça, sem palavras – A noite em que seu pai faleceu foi a pior da minha vida – falou. Lágrimas escorriam por seu rosto – Não faço ideia? – repetiu, soltando um ronco agressivo de risada – Nunca tinha sentido tanto medo quanto no momento em que recebi aquela ligação.
Cheryl abaixou a cabeça e fechou os olhos.
– Mãe, me desculpe. Não quis dizer...
– E não foi só porque perdi meu marido – continuou Penélope, sufocada – Por mais que eu o adorasse, o amasse. Não. – ela fitou Cheryl com os olhos cheios de água e as lembranças devastadoras enrugando seu rosto – O momento em que fiquei mais assustada, Cheryl, foi quando pensei que tinha perdido você.
Pêssegos apertou minha mão, mordendo o interior da boca.
– Eu sabia que seu pai não permitiria que alguém machucasse você, Cheryl. – insistiu Penélope – Ele teria destruído qualquer um que tentasse. Mas quando o médico no hospital olhou para mim com aqueles olhos empáticos tive certeza de que você... – ela apertou a xícara de chá – Tive certeza de que aqueles monstros haviam tirado você de mim também.
– Eles não tiraram – murmurou Cheryl, secando o olho esquerdo – Estou aqui.
– Sim, você está – retrucou a mãe de Pêssegos – Com ela.
– É diferente. Topaz não é uma assassina! – censurou Cheryl.
– Não, é uma traficante. Fico tão aliviada – replicou Penélope, o desdém pingando de cada palavra – Você acha que seu pai ficaria feliz por você ter aceitado um emprego no presídio, trabalhando com o tipo de homens e mulheres a quem ele entregou a própria vida para salvar você? Acha que ele estaria sentado aqui dando sua bênção a vocês duas? Se acha, está errada.
Antes que pudesse pará-la, Cheryl se levantou abruptamente do sofá, os olhos em chamas, as lágrimas e as palavras gentis esquecidas.
– Ele me deu sua bênção, mãe! Ele me deu sua bênção no dia em que visitamos o túmulo dele.
Apesar da mão de Harrison e de sua tentativa de tentar segurá-la, Penélope se levantou.
– Não seja ridícula, Cheryl. Seu pai não toleraria isto. Eu não vou tolerar! Você é muito melhor que isso.
– Você não manda na minha vida, mãe. Tenho 25 anos!
– Você é minha filha e quero você em segurança!
– EU ESTOU EM SEGURANÇA!
– Como pode dizer isso? – ela apontou um dedo acusador na minha direção – Ela é uma criminosa, presa por porte de cocaína, roubo de carros, posse de armas. Não é seguro estar com ela, não é quem eu quero ao seu lado!
– Chega! – a sala chacoalhou com a voz grave e estrondosa de Harrison. Olhei boquiaberta, surpresa por ele ter gritado tão alto quanto gritou, apesar de eu estar prestes a fazer exatamente a mesma coisa. Harrison saiu de trás da poltrona de Penélope, parecendo furioso – Chega, vocês duas.
A mãe de Pêssegos suspirou.
– Harrison, eu não acho...
– Não, Penélope. – interrompeu ele – Já chega – ele esfregou as pontas dos dedos na testa – Estou tão cansado de ver vocês duas discutindo e brigando. Me parte o coração – Harrison olhou para Cheryl. – Nunca vi vocês assim. Nenhuma de vocês, e não posso mais ficar calado.
– Eu concordo – murmurou Nana de sua poltrona no canto da sala – Filha, eu amo você, mas precisa parar.
– Parar? – repetiu Penélope. – Sua neta está "apaixonada" por uma mulher cujo o guarda-roupa está repleto apenas de macacões de presidiária.
– Pode até ser – respondeu Nana com raiva – Mas o que você parece não perceber é que, quanto mais grita e bate o pé, mais você as aproxima. E, se não tomar cuidado, vai perder sua filha de vez.
Penélope piscou. Cheryl se virou para mim com uma careta de desculpas. Peguei a mão dela e dei um beijo nas articulações dos seus dedos.
– Cheryl, venha comigo e com Harrison – instruiu Nana em um tom que não permitia argumentação – Penélope e Topaz, fiquem aqui – a expressão do seu rosto suavizou quando encontrou o meu olhar – Tenho certeza de que vai ser mais fácil para as duas conversar sem uma plateia.
Penélope ficou branca.
– Não vou ficar aqui com ela.
– Por quê? – retrucou a avó de Pêssegos – Está com medo de que ela tente lhe vender um pacotinho de pó? – os olhos de Penélope se arregalaram, enquanto eu dei um sorriso torto – Fiquem aqui – ordenou – Conversem.
Ela tirou Cheryl e Harrison da sala, e encarou Penélope uma última vez. Não podia negar que estava surpresa por Pêssegos ter permanecido quieta, sem discutir. Fixei os olhos na mãe de Cheryl, que andava de um lado para o outro na sala como um animal enjaulado. Ela sentou-se novamente em sua poltrona e evitou a todo o custo fitar-me, olhando para todos os lugares, menos para mim, e permaneceu irritantemente calada. Quinze minutos se passaram da mesma maneira até que não consegui mais suportar.
– Cheryl é bem parecida com você, sabe? – Penélope ergueu uma sobrancelha nada impressionada – Ela é – continuei – Cuidadosa, determinada, intensa. Teimosa pra caramba.
– Se essa é a sua forma de ganhar uns pontos comigo – retrucou com firmeza – Acredite em mim: não está funcionando.
– Ah, sei disso – concordei – Assim como Cheryl, você não recua quando se trata daquilo em que acredita.
– Cheryl não sabe em que acredita.
– Besteira. Cheryl é a pessoa mais decidida que conheço. Você não lhe dá o crédito que ela merece. Não existe ambiguidade quando se trata daquilo em que ela acredita.
– Linguajar impressionante – ironizou.
– Obrigada. Tive uma boa professora.
Penélope se recostou e cruzou as pernas.
– Sim, você teve. E, até onde sei, teve uma educação de ponta, que jogou pela janela sem pestanejar para ficar por aí traficando drogas e roubando carros.
– Não foi exatamente assim – respondi.
– A questão é que você esteve mais vezes na prisão do que as pessoas deste país tiram férias, inclusive sua última detenção por posse de cocaína.
Os cantos da minha boca se curvaram para baixo, impressionados.
– Você fez sua lição de casa.
– Amo minha filha. É claro que fiz minha lição de casa – ela me fitou – Também sei que você é a acionista majoritária de uma das maiores empresas dos Estados Unidos, que vale milhões, e mesmo assim continua vivendo essa vida criminosa insignificante.
Limpei a garganta, nervosa demais para dar esclarecimentos.
– Bom, ao menos Cheryl não vai passar fome, certo?
– Você está tentando ser engraçada?
Fechei os olhos.
– Olha, você entenderia se eu dissesse que minha última vez na prisão, por causa da cocaína, foi minha libra de carne?
Penélope franziu a testa.
– O quê?
– Uma libra de carne – repeti, erguendo os olhos para encontrar os dela – Você sabe o que isso significa?
– Uma dívida que precisa ser paga? – ela fez uma pausa – Você traficou cocaína para quitar uma dívida?
– Não – respondi – Fui pega com cocaína para quitar uma dívida.
Ela esfregou a testa, irritada.
– Estou confusa – suspirei e apoiei os cotovelos nos joelhos, detalhando a história de Zack e Liza, do momento em que Zack me tirou do caminho de uma bala até ao dia em que Liza foi embora. Penélope gesticulou a mão com indiferença – E você está me contando isso porque...
– Porque às vezes as coisas não são o que parecem ser.
– E às vezes elas são exatamente o que parecem ser. Um ato de estupidez não muda porcaria nenhuma.
– Certamente – concordei – Sei que sou uma idiota, sou a primeira a admitir.
– Você faz ideia de quanto me preocupo? – perguntou – Faz ideia de quantas horas de sono perdi desde que ela começou a trabalhar naquela... prisão?
– Posso imaginar.
– Não, não pode! – censurou – Não faz ideia. Ser mãe não é fácil, em especial quando sua filha insiste em tornar tudo ainda mais difícil.
– Cheryl não começou a trabalhar em Arthur Kill para dificultar a sua vida – retruquei – Ela começou a trabalhar lá para superar seus medos, para superar o que a apavorava e a mantinha acordada à noite.
– E o que você sabe sobre isso? – questionou Mirian.
– O suficiente – apertei os lábios em uma tentativa de me conter – Olha, sei sobre o pai dela. Sei o que aconteceu. Ela dar aulas para criminosos...
– Animais.
– ... é sua libra de carne.
– Para quem?
– O pai dela.
A expressão de Penélope suavizou e ela baixou a voz.
– Como assim?
– Na noite em que ele faleceu, ela lhe prometeu que faria algo para recompensar. Prometeu que se tornaria professora e ajudaria as pessoas, do jeito que ele fez como político – dei uma olhada para a porta por onde minha Pêssegos tinha passado – Ela só queria cumprir a promessa. Quitar a dívida.
Penélope se recostou na poltrona e ficou olhando pela janela. A neve tinha começado a cair novamente.
– Eu não sabia disso.
– Como eu falei – murmurei – As coisas nem sempre são o que parecem – respirei fundo – Eu amo a sua filha, senhora. Estou fazendo isso porque quero fazer tudo da forma certa. Estou fazendo isso porque ela quer ficar comigo e eu quero ficar com ela.
Penélope endireitou as costas.
– Vocês mal se conhecem! Acha que porque ela lhe contou alguns segredos, você a conhece?
– Eu a conheço melhor do que você pensa.
– Ah, por favor! Você a conhece a quê, quatro, cinco meses?
– Que tal dezesseis anos?
Os olhos de Penélope brilharam, severos, mas confusos. Fitei-a de volta, esperando que a ficha caísse. Sim, era pedir muito, mas, puxa, o que tinha a perder? Não queria que meu papel como salvadora de Cheryl fosse um fator decisivo para que Penélope me aceitasse ao lado de sua filha. Mas a maldita mulher me tinha levado àquele ponto com sua incapacidade de ver-me sem uma lista de contravenções e delitos colada na testa.
Deus, tinha até contado que tinha sido presa no lugar de Zack. Não teria mencionado aquilo se não estivesse me sentindo encurralada, sem saída. Desesperada para que Penélope enxergasse além de meus erros, não tinha mais nada para pôr na mesa.
– Como é que você a conhece há dezesseis anos? – perguntou lentamente – É impossível. De jeito nenhum.
Apesar das palavras de convicção, os olhos dela diziam que as peças estavam se encaixando.
– Nos conhecemos... no Bronx – falei em voz baixa – Ela tinha 9 anos. Eu tinha 11.
O horror se espalhou pelo rosto da mulher à minha frente, mas mudou rapidamente para emoções que eram tão indiscerníveis quanto fugazes. Ela estava em guerra consigo mesma agora, lutando contra o que acreditava: eu era uma criminosa bruta e perigosa ou a verdade, eu tinha salvado a vida de sua filha.
– Os noticiários – gaguejou – Saiu em todos os noticiários. Todo o mundo sabe o que aconteceu.
Prossegui, ignorando a acusação de que era uma mentirosa.
– Ouvi um grito. Eu estava do outro lado da rua e vi tudo: os caras com os tacos, Cheryl, seu marido. Deus, aconteceu tão rápido. Ele... Seu marido estava no chão. Eles bateram nele com o taco, o chutaram. Ele tentou revidar, mas havia muitos deles para um homem só – Penélope emitiu um ruído estrangulado e colocou a mão na boca – Cheryl estava no chão a meio metro dali – continuei, perdida nas lembranças – Um daqueles desgraçados tinha batido nela.
– Pare.
– Ela estava usando um vestido azul. Estava sujo da calçada, rasgado na manga. Seu marido gritou para ela correr. Ele implorou diversas vezes, mas ela não ouvia. E eu sabia que se aqueles filhos da puta a pegassem, eles a matariam – Penélope finalmente ergueu os olhos para mim, lágrimas escorrendo por seu rosto. Coloquei a mão no estômago – Alguma coisa aqui dentro, bem no fundo, me disse para ajudá-la. Eu não podia deixar que eles a machucassem. Aquilo era errado.
– Você... Você... – soluçou, incapaz de formular uma frase completa.
– Eu corri até ela – disse – Agarrei seu braço e a tirei de lá. Mas tive que arrastá-la a maior parte do caminho, ela era pequena, mas lutou, sabe? Ela era forte – Penélope enrolou os braços no próprio corpo, ouvindo-me descrever como tinha retirado Cheryl do chão frio e molhado – Houve um tiro e ela gritou, e tudo o que eu pude fazer foi abraçá-la e garantir que ela não voltasse correndo para lá. Concluí que estava fazendo o que o pai dela queria. Estava fazendo algo bom – passei as mãos pelo cabelo – Salvar a vida de Cheryl foi a única coisa boa que fiz na minha vida inteira.
– Para onde você a levou? – perguntou.
– Para a porta de um edifício a algumas quadras dali. Quando ela parou de lutar comigo, chorou até pegar no sono.
– Aí você a deixou?
– Não – respondi – Eu a abracei. Fiz carinho em seu cabelo, conversei com ela até que a ajuda chegou.
– Mas... você sumiu.
Dei um sorriso torto.
– Eu já era conhecida da polícia por causa das merdas que eu e Zack tínhamos feito e eu sabia que, se eles me pegassem, teria que dar explicações. Então...
– Você fugiu.
– É.
– Aonde você foi?
– Voltei para a casa do meu amigo. Zack me acalmou, me ajudou com o choque do que tinha acontecido.
Penélope desviou os olhos para a porta.
– Ela sabe?
– É claro. Tive que contar a ela.
– Como ela reagiu?
Sorri.
– Do jeito dela. Mas estou aqui, certo?
– Sim, está.
Expirei e passei a mão cansada pelo rosto.
– Olha. Sei que nunca seremos melhores amigas. Sei que nunca vai me ver como boa o bastante para sua filha, porque eu mesma sei disso. E não contei isso a você para ganhar uns pontos. Contei porque queria que você entendesse que eu jamais a machucaria. Ela é tudo para mim. Quero dar a ela tudo o que ela quiser ou de que precisar. E quero que você e Cheryl voltem a ser como eram antes de eu me envolver. Odeio ter causado isso.
O rosto da mulher se iluminou com esperança pela mesma coisa.
– Não foi só você. Todos nós temos certa culpa.
– Preciso que saiba que não estou aqui para mais nada a não ser amar e cuidar da sua filha.
Um sorriso tímido brincou nos seus lábios.
– Sabe – falou sabiamente – Você parece o pai de Cheryl! quando fala desse jeito. Ele teve que convencer meu pai de que era bom o suficiente para mim.
– E convenceu?
– Acho que sim.
– Eu convenci você?
Ela se levantou e atravessou a sala até à janela. O silêncio e a expectativa fizeram o meu coração acelerar.
– Minha filha sofre do mal de ser parecida demais comigo – começou – Tem razão quanto a isso e consigo ver quanto ela ama você – as bochechas de Penélope ficaram rosadas de vergonha – Eu não queria enxergar, mas é claro como água. Mesmo assim, tendo dito isso, não posso ignorar o fato de que Cheryl está se arriscando muito ao ficar ao seu lado – abri a boca para protestar, mas Penélope ergueu a mão, fazendo-me engolir as palavras – Preciso que você saiba que Cheryl é a coisa mais importante da minha vida. Sempre foi. Se alguma coisa acontecesse com ela, não sei como eu sobreviveria – sabia exatamente o que ela queria dizer. Se Pêssegos deixasse de existir, também deixaria – Mas você a salvou, certo?
Engoli em seco.
– Sim, senhora.
– Você a salvou quando o pai dela não podia. E, se você não estivesse lá, então eu teria perdido os dois.
– É.
– Então, em que pé isso nos deixa?
Dei de ombros.
– Não sei. Mas é um começo, não é?
A sua expressão não dizia nada. Dei uma olhada na direção da porta mais uma vez e comecei a me levantar. Enfiei as mãos nos bolsos e apontei com a cabeça na direção de Cheryl.
– Eu... Eu vou ver se ela está bem.
Penélope não respondeu, mas manteve os olhos em mim enquanto eu atravessava a sala.
– Antoinette.
Parei e cerrei os olhos por um breve instante, então me virei para ela, uma pedra parecia estar em meu estômago e um deserto em minha garganta.
– Sim?
– Obrigada – sussurrou – Do fundo do meu coração, obrigada, Antoinette, por ter salvado a vida de Cheryl.
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