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Capítulo 30 - Estou aqui

"Eu tenho morrido todos os dias esperando por você. Querida não tenha medo, eu tenho te amado por mil anos. Eu vou te amar por mais mil".

🍒▫️Cheryl▫️🍒

Acordei ao som de batidas que pareciam vir da porta de entrada da casa de Nana Rose. Antoinette se mexeu com um suspiro alto, seu braço enrolado protetoramente na minha cintura. Ela segurava-me a noite toda. Não havíamos feito nada a não ser ficar abraçadinhas e de conchinha, mesmo que sua ereção dissesse que ela queria muito mais. Havia algo diferente. Ela estava diferente. Alguma coisa tinha aparecido em seus olhos. Alguma coisa irrevogável e grande demais para lidar naquele...

Com o rosto meio coberto pelo travesseiro, olhei para o relógio e vi que eram pouco mais de dez da manhã. Como aquilo tinha acontecido? Deus, eu nem sequer me lembrava de ter pegado no sono.

- Quem é que está fazendo esse barulho, porra? - grunhiu Topaz, com o rosto na minha nuca, pressionando sua ereção matinal deliciosa contra minha bunda - Eles precisam calar a boca e me deixar voltar a dormir, caralho - bocejou - Eu estava tendo uns sonhos ótimos.

Bufei e virei-me para ela, sorrindo ao ver seus olhos adoravelmente sonolentos e passando a mão pela pelve de seu pau.

- Posso sentir o quanto eram bons.

Toni suspirou e ergueu os quadris da cama, buscando por minha mão.

- Não finja que não está adorando - franzi a testa quando as batidas cessaram de maneira abrupta e o som de gritos, com palavras inaudíveis, ecoaram até ao nosso quarto. Um vinco de preocupação surgiu entre as sobrancelhas de Topaz e ela se ergueu sobre os braços - Que diabos está acontecendo?

Sacudi a cabeça, odiando o medo intenso que subia por minhas costas.

- Não faço ideia.

Antoinette ficou a postos, protetora e alerta.

- Vou dar uma olhada.

- Não - disse, segurando seu braço enquanto ela afastava os lençóis - Eu vou.

- Pêssegos - murmurou com um brilho irritado nos olhos.

- Está tudo bem, eu vou...

- CHERYL MARJORIE.

A bolha em torno de nós explodiu de forma apocalíptica quando a voz esmurrou a porta do quarto. A minha pele se arrepiou em um horror frio, enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas, causadas pelo medo e pela fúria absoluta.

- Mamãe.

- O quê? - tossiu Antoinette, levantando-se de imediato, os olhos arregalados - Sua... sua mãe?

Assenti com a cabeça, como um robô, apertando as cobertas em minhas mãos.

- Cheryl, venha aqui! Sei que está aí com ela!

Fechei os olhos, incapaz de olhar para Topaz.

- Penélope, acalme-se.

A voz de Nana passou por debaixo da madeira.

- Não, não vou me acalmar. Como você pode receber uma desconhecida na sua casa? Como pode permitir que isso aconteça debaixo do seu teto?

- Porque é o meu teto, Penélope, e sou sua mãe. Não devo obediência a você.

Houve um instante de silêncio, o tom ácido nas palavras de minha avó chiavam no ar.

- Melhor eu ir - murmurou Toni, dando a volta na cama.

O meu coração afundou.

- NÃO! - gritei, saltando da cama na sua direção, prendendo o pé no lençol - Não, você não precisa ir a lugar algum. Por favor. Não vá.

Ela evitou os meus olhos.

- Não posso ficar aqui.

- Pode, sim - supliquei, agarrando os seus braços - Você tem tanto direito de estar aqui quanto eu.

- Cheryl...

- Se você for, eu vou com você.

Antes que Topaz pudesse responder, a porta do quarto se abriu, batendo com força na parede por conta do ímpeto com que foi forçada. Virei-me e vi minha mãe olhando para nós duas: Eu usando a camiseta de Antoinette e ela, apenas com suas tatuagens, um sutiã e uma cueca boxer preta.

- Saia daqui Mãe - grunhi.

- Não vou a lugar algum.

Os olhos de Penélope analisaram o meu estado seminu.

- Penélope - repreendeu vovó - Já chega.

- Vista alguma coisa e venha para baixo - insistiu minha mãe por entre lábios apertados, ignorando Nana. Seus olhos lançaram dardos na direção de Toni. Coloquei-me protetoramente na frente dela - Sozinha.

- Não vou fazer coisa alguma...

- Agora, mocinha - interrompeu ela.

Penélope se virou como um furacão e saiu marchando para fora do quarto, batendo os pés na escadaria.

- O que ela quer, vovó? - perguntei, desesperada para sentir os braços de Topaz em volta do meu corpo mas ela não se mexeu. A imobilidade e o seu silêncio eram assustadores.

- Não sei - respondeu abuela, balançando a cabeça com desânimo - Me desculpem. Ela ligou perguntando se eu tinha falado com você. Contei que vocês estavam juntas aqui. Eu não fazia ideia de que ela planejava vir... Me desculpem.

- Não se desculpe - disse - É ela que está errada, não você.

Dando uma olhada por cima do ombro, senti o estômago revirar quando vi o rosto de Antoinette: zangada, amuralhada e fechada para todos ao seu redor. Até mesmo para mim.

- Vou dar um momento a vocês.

Nana saiu do quarto, fechando a porta. Funguei e movi-me na direção da mala, ignorando as ondas de calma perigosa que emanavam de Topaz.

- Nós vamos embora. Não quero ficar aqui com ela. Vovó pode nos emprestar o carro de novo e vou pegar minha mala, você pode pegar a sua...

- Não - interrompeu Antoinette. Parei no meio do quarto, imobilizada pelo choque - Vá lá embaixo e ouça o que ela tem a dizer.

A voz dela era intensa e direta, mas seus olhos perambulavam pelo quarto, procurando por uma saída.

- Mas podemos ir embora juntas - insisti.

Antoinette se abaixou para pegar o suéter.

- Não, você precisa conversar com ela, Cheryl.

A mágoa apertou o meu coração. Cruzei os braços, segurando-me.

- Por quê? Por que quer que eu converse com ela?

- Por que está na hora de vocês conversarem.

Observei-a se sentar e colocar as meias.

- Você... não pode ir embora - sussurrei - Preciso de você aqui.

- Cher.

- Por favor, Toni. Não dê ouvidos a ela. Tudo o que ela diz... não é verdade. Não é. Por favor - minha respiração começou a acelerar e o pensamento de ela sair porta afora se tornou mais vívido em minha mente - Por favor. Vou falar com ela se você prometer ficar.

Permanecemos em silêncio por uma era, olhando uma para a outra, nenhuma das duas querendo falar. A atmosfera ao nosso redor estava carregada e desconfortavelmente diferente de como costumava ser.

- Pêssegos, eu não posso...

- Você pode.

- Não sou boa o suficiente para vo...

- Não ouse dizer isso, porra! - a tristeza deu lugar à raiva - Você é boa o suficiente! Céus, você precisa saber disso!

Antoinette não respondeu e continuou olhando para o chão. Meu coração se fragmentou de dor. Deus, nós tínhamos voltado à estaca zero.

Dei um passo hesitante na sua direção.

- Prometa que vai ficar Prometa que não vai embora - cerrei os olhos e mordi o lábio inferior. Queria ouvir as palavras. Naquele momento, isso era a coisa mais importante. Nada mais - Topaz.

- Ok - respondeu com uma voz sem vida - Prometo.

- Prometo que não vou embora. Diga.

- Prometo que não vou embora.

Ela estava devastada, destruída, e eu odiava estar impotente e não conseguir ajudá-la a se recompor.

- Certo - sussurrei - Certo - em silêncio, dei a volta no quarto, coloquei uma calça jeans e tênis. Amarrei a camiseta de Antoinette do lado direito e prendi o cabelo em um rabo de cavalo frouxo - Já volto - fiquei parada na porta com o envelope pardo amassado na mão - E aí nós vamos embora.

- Cheryl, eu... - esperei que ela continuasse, mas, em vez disso, estalou as articulações da mão direita e sacudiu a cabeça - Não importa.

Com um peso enorme no estômago e o coração despedaçado, abri a porta do quarto.

- Já volto.

Entrei com determinação e dignidade na sala de estar, incapaz de compreender quaisquer palavras da discussão obviamente acalorada que estava acontecendo entre Harrison e minha mãe perto da janela. A neve tinha caído durante a noite, cobrindo os jardins com uma manta invernal. Vovó não estava presente, o que me agradava. Ela não merecia ver nem ouvir o que estava prestes a acontecer. O fato de Penélope entrar na casa de Nana daquele jeito, e no Dia de Ação de Graças, fez os meus dentes rangerem. Fala sério, quem era a mãe ali?

Parei com as costas eretas e os braços cruzados, quando Penélope me viu.

- Achei que vocês estivessem na casa dos pais de Harrison. O que você está fazendo aqui?

- Não fale comigo desse jeito, Cheryl.

- E não me diga o que fazer - retruquei - Como ousa entrar no meu quarto, na casa de vovó, daquele jeito?

- Está tudo bem com Nana. É com você que estou preocupada, furiosa, na verdade.

- Por quê?

- Por quê? Porque minha filha não fala comigo, não atende minhas ligações. Minha filha, que não apenas trabalha em uma maldita prisão, como está andando por aí com... com aquela...

- Cuidado - avisei quando ela apontou na direção da porta.

Penélope ficou branca e uma faísca de mágoa acendeu seus olhos.

- Estou aqui para pôr um basta nisso.

Bufei.

- Você tem noção de quão ridícula está sendo?

- Ridículo é você colocar toda a sua carreira, sua reputação e quem sabe até mesmo a sua vida em risco por causa de uma delinquente, um desperdício de...

Voei na direção de minha mãe, parando a poucos centímetros dela.

- Não fale dela desse jeito!

A minha proximidade e a ferocidade que emanava de cada poro fez Penélope recuar.

- Se acalmem - disse Harrison ao lado dela. Ele ergueu a mão na direção do meu ombro, mas a abaixou - Vocês duas, por favor, se acalmem.

Penélope engoliu em seco.

- Você pode não acreditar, mas estou fazendo isso porque amo você, Cheryl. O presídio não é bom para você. Ela não é boa para você.

- Você nem sequer a conhece - censurei - Nunca deu a ela uma chance.

Minha mãe estava incrédula.

- E como é que eu poderia fazer isso se você estava fazendo tudo pelas minhas costas? Tive que saber pela sua avó!

- E é realmente um mistério o porquê de eu não ter contado a você!

- Porque sabia que era errado! - retrucou - Pelo amor de Deus, você poderia se complicar tanto.

- Acha que não sei disso?

O rosto de Penélope se contraiu, confuso.

- Então por que está...?

- Você não fez nada além de me colocar para baixo desde que comecei a trabalhar em Arthur Kill. Nada do que realizei desde que aceitei aquele emprego foi bom o suficiente para você, até mesmo a mulher que amo é uma decepção aos seus olhos.

Ela bufou.

- Oh, por favor, você não a ama.

- Com todo o meu coração - declarei em tom de súplica - Você não sabe o que tenho passado nesses últimos meses, mãe. Como é difícil encarar meus maiores medos em Arthur Kill, confrontar o que me manteve acordada nos últimos dezesseis anos - ela fez uma careta - Mas Topaz esteve lá, comigo, me ajudando e cuidado de mim quando ninguém mais o fez - virei o rosto na direção do teto, furiosa por minha mãe nem sequer ousar chorar - Quando saí daqui naquela noite, foi Topaz quem cuidou de mim, e nunca, em momento algum, ela disse ou fez nada comigo que justificasse essa mesquinharia da sua parte.

- Ela é uma criminosa.

- Como meu pai?

Penélope deu um passo cambaleante para trás. O rosto dela era de choque completo, mas os olhos brilhantes diziam que era um xeque-mate.

Empurrei o envelope amassado no peito da minha mãe.

- Fico imaginando... Será que o ódio do vovô fez você se afastar do homem que amava ou será que a jogou direto nos braços dele? - ela ficou olhando para o envelope em suas mãos - Você devia ter me contado, mãe. Não era papel da avó me contar sobre o passado do meu pai - falei, com raiva - Em vez de me julgar, de julgar Topaz, você deveria ter sido honesta comigo primeiro - desejei que as lágrimas retrocedessem - Como pôde mentir? Como pôde fazer eu me sentir tão sozinha?

- Eu nunca quis isso - respondeu - Eu só... Só quero você protegida, Cheryl. Você é tudo o que eu... Eu não contei porque queria o melhor para você.

- Topaz é o melhor para mim. Talvez ela tenha tomado decisões ruins, mas é uma boa mulher e eu a amo.

Penélope fechou os olhos.

- Não importa. Não posso perder minha filha também. Não vou perder. Você está se arriscando demais!

- Topaz não é perigosa! - explodi - Meu Deus, mãe. Ela me protege desde que eu tinha 9 anos!

A expressão dela se tornou perplexa.

- Como assim?

- Você não acreditaria em mim mesmo que eu contasse. Você não confia em nada do que digo.

- Isso não é verdade - argumentou - Eu só...

- O que, mãe? - bufei, exasperada - Se preocupa? Fica assustada? Adivinhe só. Eu também.

Ela se aproximou.

- Me ouça, Cheryl. Venha para casa comigo. Vamos conversar. Não posso continuar brigando com você desse jeito. Quero que a gente volte a ser como era antes disso tudo - ela juntou as mãos - Você não vê? Isso tudo é por causa daquele maldito emprego, por causa dela.

Mordi a língua, contendo o sarcasmo que ameaçava sair.

- Preciso ficar com Topaz.

Virei-me e segui em direção à porta.

- Cheryl, espere! - parei, respirei, e me virei lentamente - Converse comigo - implorou, a dor permeando seus traços - Quero... melhorar essa situação - a frustração e a mágoa eram visíveis na forma arqueada de seus ombros - Odeio o fato de estarmos assim. Eu quero... Quero minha filha de volta. Por favor. Eu amo você.

Lutei contra a vontade de correr para minha mãe e buscar conforto em seus braços. Céus, eu estava cansada. Nunca havíamos brigado daquele jeito antes, nunca tínhamos estado tão distantes uma da outra. Mesmo depois da morte do meu pai, quando Penélope se enclausurou, nós duas ainda compartilhávamos momentos de afeto e esperança. Parte do meu coração queria que houvesse uma solução para todos os problemas que nos separavam agora, mas sabia que isso não iria acontecer. Coisas de mais tinham sido ditas. Não havia ponte longa o suficiente para atravessar o abismo que nos separava.

- Até que você reconheça que Topaz faz parte da minha vida, não posso aceitar isso, mãe.

Sem esperar que Penélope respondesse, corri escada acima, precisando voltar para Antoinette, para que ela dissesse que tudo ficaria bem. Precisava dela por perto, precisava sentir o seu cheiro, sentir sua pele na minha. Precisava dos seus lábios nos meus e da sua voz em meus ouvidos.

O corredor para chegar até minha garota pareceu de repente ter um quilômetro de distância. Esfreguei a dor terrível que tinha se instalado em meu peito e abri a porta do quarto, parando no vão, e prendi a respiração. Vazio.

Chamei o nome dela.

- Cheryl, por favor - continuou a minha mãe do corredor, depois de seguir-me escada acima.

Mas não respondi. Rapidamente, entrei na suíte. Vazia. Com o coração esmurrando minhas costelas, voltei correndo para o quarto, gritando o nome de Topaz. A mala não estava lá.

Passei por minha mãe, empurrando-a enquanto ela ainda murmurava palavras como "pazes" e "amor", e voei escada abaixo, correndo para a porta dos fundos. Cigarro. Ela podia estar fumando um cigarro. Ela prometeu.

- Topaz?

A porta dos fundos se escancarou, exibindo apenas uma camada grossa de neve nos amplos jardins. Vazios.

- Cheryl?

Virei-me, quase tropeçando em mim mesma, quando vi o rosto gentil e preocupado da minha avó.

- Vó, onde ela está?

Nana balançou a cabeça, surpresa.

- Não sei, querida. Achei que estivesse no seu quarto.

- Não, ela não está lá - ofeguei - Ela me prometeu, abuela.

Peguei o celular no bolso e corri pela cozinha em direção à porta da frente.

- Por favor, atenda - murmurei antes que caísse na caixa postal.

Meu pânico atingiu proporções épicas quando abri a porta da frente e só encontrei mais quietude. O ar explodia de minha boca em grandes plumas cinzentas no ar frígido, enquanto meu olhar buscava desesperadamente o corpo alto de Topaz na vastidão branca. Com os olhos derramando lágrimas assustadas e raivosas, consegui ver um rastro de pegadas grandes que atravessavam a entrada de carros, indo para longe da casa. Para longe de mim.

(...)

A tela do meu celular iluminou todo o quarto quando apertei o botão de rediscagem mais uma vez. Caixa postal. Pisquei as pálpebras pesadas sobre olhos pesados e molhados. Não tinha notícias de Antoinette há doze horas. Nenhuma mensagem, nem ligação. Apenas silêncio. Minha cabeça latejava, meu coração estava dilacerado e meu corpo, exausto de preocupação. Cada parte do meu corpo doía. O vazio era paradoxalmente esmagador.

Mesmo assim, após muitas lágrimas derramadas e centenas de passos caminhados, não culpava Topaz por nada daquilo. Como poderia? Não poderia culpá-la por encontrar uma saída, uma escapatória. Foram necessárias seis horas, diversas ligações histéricas e um sem-número de mensagens de texto para que reconhecesse isso. Mas havia reconhecido.

Topaz podia mostrar na maiora do tempo emoções de indiferença, mas sabia que ela não se sentia nada assim. Ela era irremediavelmente sensível e frágil. Se havia algum culpado, esse alguém era eu, que a coloquei em uma situação na qual ela se sentia claramente desconfortável. Devia ter ouvido meus instintos e lido a ansiedade nos seus olhos. Queria lhe mostrar que ela era boa o suficiente, provar a mim mesma que podia ajudá-la, que era forte o bastante para apoiá-la. Eu fui tão egoísta.

Sim, ela tinha prometido. Sim, havia confiado que ela estava falando de coração, mas a verdade é que não estava. Antoinette só prometeu porque eu a obriguei a isso. Ela sabia que eu precisava daquilo e tinha me dado. Não teria falado com minha mãe se ela não tivesse me obrigado e, em muitos sentidos, estava feliz por termos conversado. Não que houvesse obtido muito resultado. Roma não se fez em um dia, afinal de contas.

Nossas conversas após a partida de Topaz foram desconfortavelmente forçadas e curtas, mas pelo menos aconteceram. Eu tinha visto, claro como água, no rosto de minha mãe: ela sabia que sua presença tinha forçado Antoinette a ir embora.

Virei-me de barriga para cima, apertando o celular com força contra o peito. Olhando pela janela, vi que a neve ainda caía. Não podia evitar certa angústia ao imaginar onde Antoinette se encontrava, se estava em segurança. Tinha ligado para o aeroporto, mas o voo marcado não tinha sido alterado. Não fazia ideia se ela tinha pegado outro voo para casa, mas algo dentro de mim dizia que não. Decidi, depois de arrumar a mala, que iria embora da casa de Nana e pegaria meu voo agendado para a tarde seguinte.

Abuela, é claro, havia implorado que ficasse, dizendo que o Dia de Ação de Graças deveria ser passado com a família. Mas, na verdade, estar na mesma casa que minha mãe, depois de todos os acontecimentos, simplesmente não fazia sentido para mim. Mandei uma mensagem para Topaz dizendo onde estaria, caso ela voltasse para procurar-me e saí de casa.

Família ou não, precisava de espaço, quietude, tempo para pensar. Assim como Antoinette tinha precisado. Deus, o que ela deve ter sentido, ouvindo Penélope dizer aquelas coisas? As palavras de minha mãe aniquilaram cada pedacinho de certeza e autoconfiança que eu e vovó tínhamos ajudado a construir em torno de Antoinette no dia e na noite anteriores.

Fechei os olhos. Céus, só queria dizer que a amava. Não importava se ela nunca mais quisesse ter nada comigo, precisava que ela ouvisse isso. Permiti derramar mais algumas lágrimas por um tempo. Eram lágrimas por Topaz e pela dor que ela com certeza estava sentindo. Lágrimas de raiva da minha mãe por ter feito aquilo com a mulher que amava, lágrimas por Nana Rose e a situação horrível na qual ela havia involuntariamente se envolvido e lágrimas por meu pai. Como sentia a falta dele!

Lamentava tanto que ele não estivesse lá. Lamentava tanto por tudo. Estava tão triste e tão cansada. Antes que pudesse pensar mais em toda a confusão em que me encontrava, um sono abençoado e silencioso me dominou.

(...)

Houve um barulho. Aninhado na beirada da minha consciência, em um local entre a sombra e a luz, entre a realidade e os sonhos, havia definitivamente um barulho. Em meio a uma névoa sonolenta, joguei o braço para fora da cama, em busca do relógio, em uma tentativa de desligar o...

Toc toc toc.

Piscando para afastar o sono que grudava meus olhos, levantei-me, desorientada, ficando ciente de minha localização. A suíte favorita da minha avó. O Hotel Drake, Chicago. Com o celular agora sem bateria ainda apertado em minha mão e as roupas quentes e úmidas do suor do sono, movi-me até a beirada da cama. Acendi o abajur, submergindo o quarto em uma luz elegante. Prestei atenção, franzindo a testa de frustração, querendo que meu cérebro se sacudisse e acordasse para que conseguisse se concentrar adequadamente. Não havia nada. Silêncio.

É claro que só havia silêncio. Por que tivera esperanças de haver qualquer outra coisa? Talvez tivesse sido um so...

Toc toc toc.

Levantei da cama e atravessei o quarto até a ampla sala de estar da suíte, acendendo as luzes enquanto passava. Quem poderia ser? Não me lembrava de ter pedido serviço de quarto. Xingando-me por não ter reparado em que horas eram, arrastei os pés até a porta, esfregando o rosto ao mesmo tempo que ajeitava o cabelo desgrenhado.

Toc toc toc.

- Só um segundo - disse ainda sonolenta - Estou indo - ignorei o olho mágico e resmunguei sobre as várias fechaduras na porta. Ainda estava falando com os meus próprios pés quando finalmente abri o troço - Desculpe - falei, suprimindo um bocejo - Eu estava dormindo. Qual o prob...

As palavras morreram em minha garganta quando meus olhos viram a figura alta e inesperada em pé à minha frente. Ela sequer estava em pé, na verdade, estava apoiada na porta, com água pingando do queixo e das laterais de seu rosto cansado. Seu rosto lindo, perfeito.

- Topaz.- gritei, zonza, desequilibrada, e ainda acreditando que estava sonhando - Onde é que... O que...

Os meus olhos desceram por seu corpo, incrédulos. Suas roupas estavam encharcadas, grudadas em seu corpo forte, e as articulações de seus dedos estavam brancas por conta do frio. Seus lábios estavam tingidos de azul-escuro e, enquanto a fitava com os olhos agora arregalados, percebi que ela estava tremendo.

- Meu Deus, você está congelando - exclamei, caindo em mim - Entre e...

- Não - censurou, sacudindo a cabeça e lambendo a água que caía em seus lábios - Não posso.

O meu coração disparou.

- Por quê? - ela manteve os olhos no chão. Tremia dos pés à cabeça e um ruído doído saiu de algum lugar fundo dentro dela - Topaz, você vai ficar doente - ponderei - Por favor.

- Não! - disse em voz alta, alta demais para um hotel adormecido - Eu preciso... - ela abaixou a cabeça - Tenho algo a dizer primeiro.

Os meus joelhos começaram a ceder. Era aquilo que mais temia. Ela estava me deixando de vez. Meu coração pulou e meus órgãos internos se contraíram, preparando-se para o impacto devastador das suas palavras.

Ela limpou a garganta e expirou.

- Por favor, me deixe dizer algo antes - entendi o seu silêncio como uma aceitação, apesar de seus olhos permanecerem grudados no carpete azul suntuoso sob seus pés. Fechando os olhos e rezando para conseguir fazer aquilo, comecei a pensar em todas as coisas que queria dizer a ela - Eu sinto muito, Topaz. - comecei - Sinto muito por tudo. Eu não devia ter trazido você aqui. Foi egoísta da minha parte. Minha mãe foi... Tudo o que ela disse é besteira, eu juro. Ela é a única que pensa aquilo. Eu a odeio pelo que ela disse. Odeio por ela fazer você duvidar de tudo o que eu já lhe disse. E não culpo você. Não a culpo por ter ido embora porque eu teria feito o mesmo, e sinto muito por não ter conseguido protegê-la. Céus, eu sinto muito mesmo.

Apoiei a testa na porta, morrendo de medo de que aquela fosse a última coisa que diria para a mulher à minha frente, mas falei tudo o que precisava.

- Sinto muito também - respondeu, fazendo-me erguer a cabeça. Antoinette ainda olhava para os próprios pés.

- Você não tem por que...

- Me deixe terminar, droga - repreendeu, fechando bem os olhos - Preciso dizer isso sem você me interromper nem discutir comigo, está bem?

- Sim - concordei de imediato.

- Tenho muitas coisas para me desculpar - disse entre os dentes, pressionando o punho cerrado contra a parede - Eu estou... Isto é... Você é... Você é tudo para mim e sinto muito por ter sido tão idiota ao ponto de acreditar que poderia ser boa o suficiente para você - apertei os lábios e coloquei a mão na boca para impedir que as palavras de protesto saíssem - Sinto muito por ser fraca. Eu não consigo... Eu... Você me abala, Cheryl. As coisas que me diz. A maneira como... me ama. Elas provocam coisas em mim, suas palavras... me fazem sentir como ninguém nunca me fez sentir. Sinto muito por ter feito tudo errado, eu fui uma desgraçada. Sou uma desgraçada. Nunca vou poder apagar meus erros. Odeio isso, mas jamais conseguirei apagá-los. Sou quem sou por causa desses erros.

Ela apoiou ainda mais o peso do corpo na porta. Fiquei imóvel, desesperada para tocá-la, reconfortá-la.

- Sinto muito por ter ido embora - sussurrou - Não devia ter ido, sei que prometi, mas foi... difícil pra caralho - ela pressionou a testa contra a parede - Eu estava morrendo de medo que... ah, eu sabia que devia ter simplesmente ficado no quarto para não ouvir nada, mas eu queria saber o que ela... Peguei minha mala e fui embora - admitiu - Saí de fininho como uma covarde desgraçada que sou. Não sabia o que mais podia fazer.

- Topaz.

- Me senti enojada quando a ouvi dizer aquelas palavras - continuou - Enojada porque sabia que ela estava certa. Sei que você não concorda, mas ela é sua mãe, Cheryl, e se preocupa com você. Ela não quer a filha com alguém como eu, e entendo isso, realmente entendo. Porra, isso me mata, mas... entendo - ela ergueu um ombro - Concluí que seria melhor para todo mundo se eu fosse embora. Eu nem devia estar aqui.

- Então... Por que está aqui?

O canto da boca de Topaz se contraiu.

- Sair daquela casa, Cheryl, foi a coisa mais difícil que já fiz na vida - ela colocou a mão no peito, sobre o coração - Quando saí senti essa dor, como uma, não sei... Era... Me deixava sem ar. E quanto mais me afastava de você, mais dolorido ficava. Eu... pensei que estava morrendo.

Sabia exatamente do que Antoinette estava falando. Não havia nada além de dor em mim desde o momento em que percebi que ela tinha ido embora.

- Eu andei e andei - continuou ela - Estava tão brava comigo mesma. Sabia que tinha que continuar andando, e tentei. Você tem que acreditar em mim. Tentei com todas as forças. Mas, meu coração... Deus, estava... se despedaçando.

Ela se endireitou tanto quanto seu corpo exausto permitia e olhou para mim pela primeira vez. Nossos olhos se encontraram. Os dela estavam cansados, derrotados.

- Odeio ter causado tantos problemas para você - disse ela tristemente - Você teve que se defender de pessoas que deveriam estar felizes por você. Tenho meus problemas, sou uma pessoa nervosa e tenho uma personalidade terrível. Ainda tem umas merdas sobre mim que preciso contar e não faço ideia por onde começar, porque morro de medo de você fugir de mim. E sei que ter esperanças de que você não fuja faz de mim uma babaca egoísta, porque tenho consciência de que essa é a melhor coisa que você poderia fazer.

- Eu...

- Espere - interrompeu, sem ar, dando um passo cambaleante na minha direção. Ela estava tão perto que tive que erguer a cabeça para vê-la - Por favor, Pêssegos. Eu quero... - ela expirou, frustrada - Quero fazer a coisa certa. Sei que deveria ter ido embora. Deveria ter pegado um avião e ido para casa em vez de ficar parada do lado de fora deste hotel, na neve, por quatro horas. Sei que você merece coisa melhor. Sei de tudo isso, Cheryl. Mas a verdade é... A verdade é...

Fechei os olhos, inclinando-me na direção dela. Tremi quando a sua mão gelada tocou em minha nuca e subiu para meu rosto.

- A verdade é - sussurrou, os lábios perto do meu ouvido dela - Que morro de medo de ir embora. Não consigo. Fico desamparada sem você - apertei o seu braço, repousei a cabeça em seu peito e soltei um ruído baixinho e dolorido de alívio. Seu nariz subiu até a minha têmpora - Sou sua. Você precisa saber disso. Céus. Me diga que você sabe.

- Eu sei - choraminguei - Eu sei.

O corpo de Antoinette caiu sobre o meu, empurrando-me para trás, cambaleando para dentro do quarto do hotel. Consegui fechar a porta com a ponta do pé enquanto ela enterrava o rosto em meu pescoço e começava a tremer descontroladamente, resmungando palavras truncadas em minha pele. Os seus braços se enrolaram na minha cintura, apertando com mais força do que nunca.

- Cher - suplicou - Eu... Não me faça ir embora. Por favor.

- Jamais - prometi com fervor. O seu corpo tremia violentamente - Vamos aquecer você. Por favor, me deixe ajudá-la. Você está tão gelada.

Ela deu um passo relutante para trás para que eu pudesse abrir o zíper de sua jaqueta e retirá-la. Antoinette ficou parada em silêncio, olhando para baixo, a água pingando de seu queixo e seus cabelos, enquanto eu começava a tirar sua roupa. Sem dizer nada, retirei sua blusa e seu sutiã, deixando seu peito despido, causando arrepios involuntários em cada centímetro da minha pele.

Peguei na mão trêmula de Topaz e a guiei vagarosamente até ao banheiro. Deixando-a na porta, liguei todos os cinco grandes chuveiros, até a água ficar quente. Retirei os coturnos e as meias dela, abri sua calça e ajudei-a a tirar a cueca antes de tirar as minhas próprias roupas.

Por mais que estivéssemos nuas juntas, não havia nenhuma conotação sexual, nenhum clima, nenhuma mão desesperada ou beijos maníacos. Peguei-a pela mão e a guiei até ao chuveiro, saindo da frente para que a água atingisse primeiro o corpo dela. Permanecemos ali debaixo do vapor, e eu fui aumentando a temperatura gradativamente, evitando que o seu corpo sofresse com o choque do calor.

Com um suspiro, puxei Antoinette para meus braços.

- Me deixe esquentar você.

Ela enrolou os braços em volta do meu corpo, apoiando o rosto em meu ombro e sacudiu a cabeça.

- Não consegui ir embora. Sei que devia ter ido, mas não pude.

- Eu sei. Está tudo bem.

- Estou com tanto medo - sua voz se desestabilizou e ela puxou-me para mais perto do seu corpo.

- Não tenha medo - insisti, passando a mão nas suas costas - Estou aqui.

Antoinette tentou chegar ainda mais perto.

- Não posso perder você... Eu... Céus. Dói só de pensar nisso - sua voz ficava cada vez mais rouca - Me ajude - implorou - Me ajude. Não consigo...

- Topaz - disse - Acalme-se. Por favor.

Nunca a tinha visto daquele jeito antes. Todas as suas barreiras, sua armadura, a arrogância, a indiferença, a raiva e o ódio, que Antoinette sempre demonstrava, estavam se desintegrando à minha frente.

Aninhei-a, a puxando mais para perto, envolvendo com os braços os ombros tatuados e enrolando as pernas em torno de sua cintura, enquanto ela pressionava o rosto no meu peito. Seus ombros tremiam e se agitavam com ofegos e soluços. Ouvi-a gemer ao mesmo tempo que seu corpo estremeceu.

Oh, Deus. Ela estava chorando.

Subi as mãos pelas suas costas e pelo seu pescoço, tentando acalmá-la.

- Você está bem, minha querida?

- Preciso... Preciso...

Dei um beijo no seu pescoço.

- Me diga do que você precisa.

- Deus, está... Está aqui - ela pegou a minha mão e a levou até seu coração palpitante - Nunca senti nada assim antes - lambeu os lábios - Dói.

- Seu coração dói?

O seu rosto desabou.

- É seu. O meu coração é todo seu - ela piscou com os cílios encharcados - Agora eu sei - Antoinette fez uma pausa - Cher, eu... - ela ergueu a cabeça e, com o nariz ao lado do meu, os braços enrolados em meu corpo e o vapor da água formando um casulo em torno de nós, Topaz abriu a boca, olhou nos meus olhos, e ofegou - Eu... Eu... amo você.

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