Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 8- Que tal....Lud?

"Se for pra me perder, que seja em você".

🌻Brunna Gonçalves🌻

Organizei os cadernos e as canetas em pequenas pilhas em cima da minha mesa, dando uma olhada nos alunos enquanto eles eram escoltados para fora da sala de volta às suas celas.

- Belo trabalho hoje - elogiei Riley quando ele se aproximou com um sorriso tímido - Quem diria que Shakespeare aumentaria seu entusiasmo.

Estava explodindo de orgulho pela dedicação de Riley à minha redação. Ele vinha se esforçando tanto e, apesar de sua dislexia deixá-lo frustrado, era óbvio que era muito inteligente.

- É - ele deu de ombros - Não curto esse negócio de poesia, mas meio que gosto desse tal de William.

Ri e me debruçei na mesa, cruzando os braços.

- O que posso fazer por você, Riley? - ele pareceu nervoso e estalou as juntas ruidosamente

- Você sabe que a reunião de análise da minha liberdade condicional é na semana que vem, né? - assenti com a cabeça.

- Moore! - gritou o guarda atrás de nós - Acabou o tempo!

- Com licença! - rosnei, levantando-me - O Sr. Moore quer discutir algo importante comigo em relação ao seu aprendizado e não precisa que você - apontei um dedo acusador na direção do guarda - Fique gritando com ele enquanto isso - o guarda pareceu sem palavras. Ótimo! Voltei minha atenção para meu aluno - Desculpe, Riley. Continue.

Ele juntou as mãos.

- Hum... É, então, a reunião de análise da minha liberdade condicional é na semana que vem e eu estava pensando... - ele esfregou um pulso no outro - Digo, sei que você está ajudando Oliveira - disse, colocando o peso do corpo em cima do outro pé.

- O que você quer de mim, Riley? - perguntei de forma gentil, botando a mão sobre a dele em uma tentativa de acalmá-lo - Pode me pedir qualquer coisa, se eu puder, vou ajudar.

Os seus ombros pareceram desabar de alívio.

- Harry disse que você ia falar isso, porque você é legal e tudo o mais.

- Obrigada - agradeci com um sorriso em meus lábios.

- Você faria um... um relatório de personalidade na frente da banca? Você sabe, para me ajudar a conseguir uns pontos extras, dizendo que sou um cara incrível?

Apertei seu braço gentilmente.

- Com o maior prazer.

- Sério?

- Sim, sério - respondi com um tom de voz brincalhão.

- Você é do caralho, Srta. G! - gritou ele, abraçando-me com tanta força que quase me sufocou.

Aquilo me deixou feliz, estava a ajudar, a fazer a diferença e acredito que todos merecem uma segunda oportunidade na vida.

(....)

Atravessei, apressada, o corredor em direção à sala de aula, atrasada, mas animada. Estava muito ansiosa para perder a cabeça com Ludmilla mais uma vez. Tinha ficado pasma com o conhecimento que ela demonstrou na primeira aula. Sabia que ela era inteligente. Havia lido em sua ficha. Mas, nossa! Ela era mais que isso. Oliveira era inteligente e educada de uma maneira extraordinariamente sedutora.

Sorri para o guarda à porta e entrei, vendo Ludmilla parada no canto da sala, as mãos entrelaçadas e um cigarro quase no fim preso entre seus lábios. Aquilo era sexy para caramba. Seu rosto era severo e ficou ainda mais quando ela olhou para mim. Arrancou o cigarro da boca, fazendo com que as cinzas caíssem no chão.

- Olha só - zombou ela - Você está muito atrasada, pensei que já nem vinha.

Coloquei a bolsa na mesa, me contendo para não retrucar.

- Me desculpe - falei - Fiquei conversando com Riley e daí....

- O QUÊ? - gritou Oliveira, o que fez o guarda colocar a mão no cassetete em sua cintura.

- O quê? - repeti com calma, confusa com seu surto.

- E o que foi que ele disse para você, hein? - berrou, dando um passo gigantesco em minha direção.

Cruzei os braços, permanecendo firme diante da fúria selvagem no seu rosto. Porque ela estava agindo assim?

- Só conversamos sobre a vinda da sua agente de condicional na semana que vem - respondi - Ele quer que eu converse com ela sobre nossas aulas. Ele acha que meu envolvimento direto vai ajudar no seu requerimento.

Observei a ira nos olhos dela diminuir e seu peito começar a desacelerar. Seus seios apertados pela roupa laranja subiam e desciam mais lentamente. Sacudi a cabeça para afastar os pensamentos inapropriados. Principalmente aquele em que eu passeava a língua pela tatuagem, que me provocava sem misericórdia, no pescoço dela. Fiquei pensando até onde sua tatuagem iria...

Já chega Brunna Gonçalves!!

Retomei o foco e olhei para para ela.

- Oliveira, peço desculpas. Estou aqui agora, então podemos começar a trabalhar.

Soltei os braços ao lado do corpo, mostrando que não estava na defensiva, e apontei para a cadeira ao lado da mesa. Ludmilla passou a mão pelo rosto e se moveu até à cadeira, onde se sentou e apagou o cigarro.

- Então, que tipo de diversão você trouxe para mim hoje, Srta. Gonçalves? Porque, preciso lhe dizer, mal consigo me segurar de ansiedade.

- Primeiro... - falei, ignorando o seu sarcasmo - Eu quero dar uma analisada no trabalho que você fez para mim ontem.

- Ótimo - respondeu secamente, tirando outro cigarro do bolso.

Enquanto puxava minha cadeira para mais perto dela, Ludmilla fez um sinal para que o guarda lhe desse um fósforo, e foi o que o guarda fez. Ela deu uma longa tragada antes de soltar a fumaça, mas parou de repente ao perceber o quão próxima eu estava. Oliveira ficou olhando para mim enquanto me sentava, cruzava as pernas e revirava alguns papéis.

- O que foi? - perguntei. Com o cigarro ainda pendurado na boca, ela olhou para baixo, para o pequenino espaço entre nós, e então para o vazio que havia deixado do outro lado da mesa - Ora, por favor - zombei - Do que você tem medo?

Ludmilla puxou o cigarro da boca.

- Não, não estou com medo. Só estou surpresa.

- Surpresa?

Ela coçou o braço com o polegar.

- De ver como você esconde bem o seu medo.

Os meus olhos se estreitaram.

- Não tenho medo de você.

- Ah, Srta. Gonçalves, não me provoque - ela sorriu de um jeito sexy.

A encarei por um momento antes de me recostar na cadeira e cruzar os braços.

- E por que eu deveria ter medo de você?

Oliveira se inclinou pra frente na cadeira, soltando a fumaça pelo nariz, de modo que atingia seu lábio superior... Deus aquela mulher era completamente sedutora.

- Você deveria ter medo, Pêssegos - murmurou - Já fiz coisas que fariam sua linda cabecinha pirar, e você estando assim tão perto - ela apontou com o queixo para o espaço entre nós e nossos olhares se encontraram - Bem, me faz querer ser má de novo - o ar pareceu faltar nos meus pulmões. Ludmilla sorriu, aparentemente satisfeita consigo mesma, e se recostou na cadeira. Babaca arrogante - Presumo que você tenha gostado do meu trabalho, hein? - ela começou a ler meus comentários feitos às respostas dela.

- É... Eu, hum... Sim, é... O quê?

- Eu disse que você gostou - o canto de sua boca se curvou em um sorrisinho presunçoso - Então, vamos fazer alguma atividade hoje ou o quê?

Ainda envergonhada por ser incapaz de elaborar uma frase completa, puxei os papéis para mais perto enquanto me inclinava, colocando meu braço a um centímetro do dela. Podia sentir a excitação se espalhar por meu corpo todo. Consegui manter o braço naquela posição por uns sessenta segundos antes de ter que tirá-lo dali.

Pelos 45 minutos seguintes, assisti Ludmilla completar atividade após atividade, obediente e observadora. Seus tópicos de discussão eram perspicazes e o som da sua voz, à medida que se entusiasmava com o poema, fez meu estômago se contorcer da maneira mais deliciosa. Sua sobrancelha se enrugava de forma adorável quando ela se concentrava e seus olhos ficavam mais escuros quando eu dizia algo que a desafiava. Discutir com ela sobre métrica, imagens e metáforas era inegavelmente sexy. Uma espécie de preliminares acadêmicas que deixaram-me ansiando por mais.

Antes que percebesse, os guardas vieram para levar Oliveira de volta para a cela. Arrumei as coisas devagar, incapaz de refutar a sensação ruim que preenchia meu estômago ao pensar que não iria vê-la por dois dias.

Quando cheguei à porta, ouvi Ludmilla se levantar.

- Srta. Gonçalves?

Virei-me em sua direção.

- Sim, Oliveira?

O lado esquerdo de sua boca ergueu-se em um sorriso lindo.

- Até segunda.

(...)

Com um cartão de aniversário e um presente lindamente embrulhado em minhas mãos, entrei no restaurante italiano preferido de Patrícia no SoHo e ri quando vi minha amiga. Um adesivo enorme e brilhante, onde estava escrito VINTE E CINCO, cobria a lateral do seu vestido azul que ia até ao joelho, acompanhado por uma faixa de um azul mais intenso.

- Brunna, você veio! - gritou ela, animada, enquanto se aproximava.

- Claro, eu não perderia por nada! - Patty ficou parada como se estivesse em choque, me olhando de um jeito que fez-me esfregar nervosamente as mãos pela blusa de seda e a calça jeans preta - O que foi? Por que você está me olhando assim?

- Tem algo diferente em você - ela ofegou, depois sorriu - Você está toda radiante e... Caramba! Qual o nome dela?

A minha boca se escancarou, depois, bufei de leve.

- Deus, você está louca. Saia da frente - Patty seguiu o meu indicador que apontava na direção do bar.

- Só estou fazendo uma observação Brunna.

- Bem, prefiro que você observe isto aqui - sorri, entregando o presente para ela - É meu e da minha mãe.

A clutch vermelha da Hermès era exatamente o que Patty tinha pedido, de maneira não muito sutil, nos dias anteriores ao seu aniversário. Ela abraçou a bolsa contra o peito de um jeito fofo. Quem me dera que todos fossem tão fáceis de agradar.

Dei uma olhada na área do bar enquanto esperávamos por nossas bebidas.

- Kássia ainda não chegou? - Patty meneou a cabeça enquanto entregava uma nota de vinte ao bartender.

- Ela teve que trabalhar até tarde. Deve chegar logo.

- Essa vida de diretora financeira, hein? - constatei, sorrindo.

- Ela tem trabalhado tanto - disse Patty - Mal temos conversado nesses últimos tempos. Quando não estou corrigindo avaliações e preparando aulas, estou planejando o casamento, que decidimos que será no próximo verão. Aliás, você vai ser a madrinha.

- Ah, nossa - brinquei.

- Seja boazinha - repreendeu - Mas e você? Como anda a vida atrás das grades?

- Nada parecida com o que eu tinha imaginado.

Descrevi meus alunos incríveis e as aulas particulares com Oliveira, contando também os momentos de tensão com Corey e Ariana.

- Você parece feliz, Brunna - afirmou ela com sinceridade enquanto nós pegávamos as bebidas no bar - E a felicidade cai bem em você.

As minhas bochechas coraram.

- É bom finalmente estar fazendo algo que parece certo.

- Seu pai estaria orgulhoso.

- Acredito que sim. Estou ajudando e me sinto muito bem - contornei a borda do copo com o indicador.

- Então por que essa carinha? Qual o problema? - perguntou e hesitei em responder.

- Queria que minha mãe percebesse como estou feliz. Mal conseguimos ficar no mesmo recinto por cinco minutos, brigamos tanto - e aquilo doía - Ela está convencida de que alguma coisa vai acontecer comigo, em vez de confiar em mim e ficar orgulhosa. É como se o que faço não fosse bom o suficiente e eu estivesse fazendo tudo isso para irritá-la.

Patty apertou meu ombro.

- Ela sempre vai se preocupar, amiga. É isso que as mães fazem. Ainda mais no seu caso.

- Eu sei, mas...

- Tente, talvez, demonstrar um pouco mais de compreensão.

Cerrei os dentes. Eu não queria ouvir aquilo. Adorava minha amiga, mas a empatia constante dela em relação ao comportamento de Mia estava começando a encher meu saco.

- Então - falei, mudando de assunto - Além de trabalhar demais, como está Kássia?

- Está bem. Convidou a prima, Wynonna, para vir aqui hoje. Ela é CEO da empresa de telecomunicações, WCS Marvila. Divorciou-se no inverno passado e Kássia está determinada a colocá-la "de volta no mercado". Ela é muito legal e bem bonita.

Levei um momento para reconhecer o seu tom voz.

- Ah, não, não, não! - exclamei sacudindo a cabeça - Não preciso de mulher nenhuma agora.

- Hum. Se você diz... - ela fez uma careta de escárnio - Reivindicar sua castidade aos 24 anos está, tipo, na moda agora?

Empurrei Patty de forma brincalhona.

- Cale a boca!

Ela riu e seus olhos se arregalaram por cima do meu ombro.

- Ela chegou!

Patty atravessou o restaurante praticamente aos pulos e deu um beijo e um abraço em Kássia. Kássia era apenas alguns centímetros mais baixa que Patty. Usava calça jeans escura e uma blusa branca que mostrava a barriga.

- Bom ver você, Brunna - disse Kássia quando se aproximou - O que posso comprar para você be...

- Desculpem o atraso. O trânsito estava uma porcaria e o taxista era um tapado!

Virei-me na direção da voz e vi uma mulher bonita de estatura média.

- Brunna, esta é Wynonna Marvila, prima da Kássia - disse Patrícia - Wynonna, esta é minha melhor amiga Brunna Gonçalves.

- Oi - cumprimentei esticando a mão - Prazer em conhecê-la.

- O prazer é todo meu.

Ela era bem bonita. Tinha cabelos levemente encaracolados, olhos verdes e um sorriso charmoso. Mas não era aquilo que queria. Eu queria olhos castanhos, cabelos pretos rebeldes, um sorriso perigoso e ao mesmo tempo sensual.

- Então, o que você faz? - perguntou Wynonna, percebendo que a encarava.

- Sou professora - respondi rapidamente - De literatura inglesa.

- Que nem a Patty comentou ela - Isso é ótimo. Em que escola você dá aula?

- Na verdade, dou aulas no presídio Arthur Kill.

As suas sobrancelhas se arquiaram.

- Uau! - exclamou ela, dando uma olhada confidencial para a prima, que tossiu, um tanto desconfortável. Franzi a testa - Arthur Kill, hein? - refletiu Wynonna, os olhos ainda em Kássia - Que mundo pequeno. Nós conhecemos uma mulher que passou um tempo lá. Deve exigir certa paciência.

Concordei com a cabeça, a troca de olhares carregada entre Kássia e Wynonna estava me deixando bastante curiosa.

- Vamos lá - disse Wynonna, indicando a mesa - Me conte mais sobre isso.

(....)

🍃Ludmilla Oliveira🍃

Mal podia esperar pela manhã de segunda-feira e certificava-me de extravasar toda a minha energia nervosa no saco de pancadas que Niall segurava à sua frente.

Permitiram que entrasse na biblioteca da penitenciária no domingo à tarde. Após ouvir de Riley qual era a peça que a turma estava estudando, eu imediatamente encontrei um exemplar de O mercador de Veneza e alguns estudos analíticos sobre o texto, que li de uma ponta à outra durante a noite. Já tinha lido a peça antes e conhecia todas as personagens e seus dramas, mas, quando terminei, sabia que estava pronta para qualquer coisa que minha Pêssegos pudesse jogar em cima de mim. Não entendia o porquê, mas queria impressionar ela, mostrar que sou mais que uma detenta.

Neste momento me encontrava sentada à mesa da sala quando Brunna entrou. Cacete, ela estava linda. O cabelo estava solto e uma onda suave se formava na porção que emoldurava seu rosto. Por mais que eu adorasse o cabelo dela, adorava ainda mais ver seu rosto, e fiquei irritada por ele estar parcialmente coberto. Cruzei os braços para resistir à vontade de colocar aquela mecha para trás de sua orelha.

- Boa tarde, Srta. Gonçalves. Como vai você hoje? - ela parou, parecendo confusa com minha recepção.

- Estou bem, e você?

- Ah, estou otima.

Melhor agora que você chegou...

- Então, hoje vamos começar com Shakespeare - disse ela, observando-me com cautela enquanto pegava todo o material na bolsa e o dispunha na mesa entre nós.

- Beleza - respondi, repousando os braços na beirada da mesa.

Pêssegos remexeu novamente em sua bolsa e pegou um maço de Marlboro, que jogou para mim.

- Cale a boca - disse ela, brincalhona.

Sorri e puxei um cigarro, colocando entre os lábios.

- Sim, senhora.

Quando o cigarro estava aceso, Pêssegos novamente colocou sua cadeira ao meu lado. Estava um pouco mais preparada dessa vez, mas isso não impediu a pulsação de desejo que se espalhou por meu corpo quando ela cruzou as pernas. Brunna tinha pernas bonitas, com curvas em todos os lugares certos. E não eram magricelas. Havia carne suficiente ali para apertar. Para chupar....

- "O mercador de Veneza" - disse Pêssegos, colocando a peça na minha frente - Me diga o que você sabe - pediu ela, apoiando o rosto na mão.

Mexi-me na cadeira.

- Ambientada na Itália, é classificada como comédia, mas muitos acham que é uma tragédia por causa do tratamento do protagonista, Shylock.

Peguei o livro e o folheei.

- Quem é Shylock?

- Shylock é um agiota que por acaso é judeu em uma sociedade shakespeariana predominantemente cristã. Pior para ele.

Pêssegos riu.

- Acho que é mesmo. Estou interessada, contudo, em por que você diz que é uma tragédia. O que é trágico em relação a Shylock?

- Ele é classificado como vilão por causa de sua religião.

- Ele é classificado como vilão por causa de suas cobranças de pagamento por um empréstimo - retrucou Pêssegos.

- Besteira - continuei, com o indicador pressionando o meio do livro - As cobranças que ele faz são justas.

- É mesmo? Exigir uma libra de carne para sanar uma dívida monetária é justo?

Suspirei. Ela não fazia ideia de como suas palavras eram relevantes para mim e para a vida que levava.

- Se você não pode pagar uma dívida, não deveria dar sua palavra - os meus olhos admiraram uma mecha de cabelo que caía sobre a bochecha dela. Fiquei imaginando como seria senti-la entre os dedos - Sua exigência de uma libra de carne pode parecer macabra - continuei - Mas a maneira como ele é injuriado por causa de sua religião é ainda mais. Ele é insultado por conta de sua fé, a cobrança que faz simplesmente reforça isso. A cobrança é esperada por causa do preconceito dos babacas de mente limitada em volta dele.

Ela ficou olhando para mim de uma maneira que fazia meu estômago embrulhar.

- Você entende bastante de dívidas?

- Entendo - respondi - Você entende?

- Sei como é dar sua palavra a alguém - disse Pêssegos após um momento. Os olhos dela repousaram no livro, aberto na fala mais infame de Shylock - Sei como é cumprir sua palavra porque você não tem outra escolha, pois ama tanto aquela pessoa que seria uma tragédia se não fosse até ao fim.

E foi então que aconteceu. Não consegui me conter. Era como se meu corpo estivesse agindo por conta própria, atraído por ela, desesperado por tocá-la. Ela parecia tão triste. A minha mão se moveu lentamente em direção ao seu cabelo e coloquei aquela mecha atrás de sua orelha. Mal conseguia respirar quando meus dedos tocaram aquela pele macia.

O guarda perto da porta pigarreou e Brunna instantaneamente se recostou na cadeira e passou a mão no local que eu tinha tocado. Esfreguei as pontas dos dedos na coxa para diminuir o calor que permaneceu ali.

- Eu... Merda - murmurei, pegando outro cigarro - Eu não devia. Desculpe - acendi o cigarro e traguei três vezes seguidas - Você só... Você parecia chateada, sabe, e... Droga. Eu não... Tudo o que eu queria era fazê-la se sentir melhor...sorrir, talvez.

- Oliveira - disse ela, colocando a mão em meu ombro carinhosamente. Os meus olhos foram de encontro aos seus, castanho no castanho, sem dúvida a melhor combinação - Está tudo bem - ela deu um sorrisinho - Eu gostei. Obrigada.

- Tá - respondi - Tá. Tanto faz. Beleza.

Ela soltou meu ombro depois de dar um aperto tranquilizador e puxou o livro para mais perto.

- Vamos continuar?

Grunhi e esfreguei as mãos no rosto.

- Manda ver nessas coisas aí do Shakespeare, Pêssegos.

- Pêssegos? - perguntou, abaixando o rosto - Você fica me chamando disso. De onde veio?

Comecei a sentir certo pânico.

- É, hum... - brinquei com o maço de cigarros - Não sei. Por quê? Você se ofende?

- Não, só estou curiosa.

Traguei o cigarro lentamente.

- Posso chamar você de Srta. Gonçalves, se preferir.

Ela ficou em silêncio por uns segundos.

- Não - respondeu por fim - A maioria das pessoas me chama de Brunna, mas acho que você pode me chamar de Pêssegos. Com uma condição.

- Qual condição? - perguntei com um sorriso pervertido.

Ela cruzou os braços, pressionando os seios para cima de um jeito que era fantástico em todos os sentidos.

- Se eu puder chamar você de Ludmilla - fiquei olhando para ela.

Cacete. O meu nome nunca tinha soado tão suave, tão... bacana.

- Eu... Isso é... Não tenho certeza. Quero dizer, só o Harry me chama pelo nome - gaguejei, jogando o cigarro no cinzeiro - Não sou... Ai...

Coloquei as duas mãos na cabeça. Como podia explicar o ódio por meu nome? Aquela era uma história longa e deprimente.

- Tudo bem, eu entendo - disse ela, tocando meu ombro direito - Na verdade, em vez disso, talvez deva dar a você um apelido. Que tal... Lud?

A gargalhada que explodiu de dentro de mim foi uma sensação nova e fantástica. Pêssegos riu junto comigo. Deus, ela ficava linda quando ria. O rosto se iluminava e os olhos se espremiam, quase sumindo. Estava embasbacada.

- Bem, chega disso - ela sorriu - Vamos trabalhar.

Os tópicos de discussão que ela levantou induziram a debates acalorados, que ambas curtíamos mais do que deveríamos. Nós discutíamos e questionávamos uma à outra, mas o clima foi divertido, leve e, não podia negar, sexy pra caramba.

- Merda - xingou Pêssegos, me pegando de surpresa - Está tarde.

Dei uma olhada no relógio. Nós tinham passado 25 minutos do horário.

- O tempo voa quando estamos nos divertindo, né? - brinquei. A piscada que dei para ela fez suas bochechas corarem - Você, hum, tem um encontro ou algo assim? - perguntei enquanto ela se apressava, jogando todas as suas coisas na bolsa.

- Ah, não! - ela balançou a cabeça vigorosamente - Não tenho um encontro. Estou... estou solteira.

Ela se calou e fechou os olhos por um instante. Mal podia esconder minha alegria. Ou alívio. Brunna não pertencia a ninguém.

- Ei, Srta.Gonçalves - chamei com um sorriso enquanto ela atravessava a sala com suas coisas - Gostei de hoje.

- Eu também - respondeu, com o mesmo sorriso - Ah, Lud... - ela se virou para mim enquanto o guarda abria a porta - É Pêssegos.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro