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Capítulo 6- pêssegos

"Raiva e amor andam sempre juntos".

🌻Brunna Gonçalves🌻

Virei-me e desliguei o despertador antes mesmo dele começar a tocar. Eu já estava acordada havia mais de uma hora. Tinha me debatido na cama a noite inteira pensando e analisando qual seria meu próximo passo com Ludmilla. A segunda aula com ela tinha sido um desastre completo e isso já era um eufemismo.

Eu tentei manter a calma. Deus, como tinha tentado. Mas não foi o suficiente. Deixei que ela me enfurecesse mesmo assim. Não fazia ideia do que Oliveira tinha que deixava-me tão pilhada, tão fora de controle. Ela era, no fim das contas, como todos os outros para quem dava aulas. Bom, isso não era totalmente verdade, ela era muito mais combativa, agressiva e muito mais atraente também...

Tentei não reparar nela para além de minha aluna, mas era difícil ignorar uma mulher que estava deixando-me completamente maluca.

Esfreguei as mãos no rosto. Não poderia ser estúpida ao ponto de me envolver, em qualquer sentindo, com qualquer um dos meus alunos. A política de não confraternização da penitenciária era clara, e gostava demais do meu emprego para colocá-lo em risco. Sempre fui profissional e ninguém, nem mesmo Ludmilla, poderia fazer-me esquecer disso.

Mas como fosse possível, Oliveira ficava ainda mais linda quando estava furiosa. A raiva dela parecia fazer sua pele brilhar e as linhas de expressão, que imaginava serem marcas causadas pelo ódio dela por tudo ao seu redor, se dissolviam, deixando seu rosto sereno e perfeito. Ela era, naqueles momentos, a criatura mais estupenda que eu já tinha visto.

Por mais assustada que tivesse ficado ao vê-la atirar a carteira contra a parede durante a aula, tinha sido incapaz de desviar os olhos, observando com fascinação o monstro que habitava dentro dela rugindo. Ludmilla era animalesca e, naquele breve momento, completamente livre. Era esse único pensamento que fazia com que as partes do meu corpo ganhassem vida, de um jeito espetacular, era o lado de Ludmilla que desejava e detestava com o mesmo fervor.

Mesmo assim, o que quer que meu corpo pensasse sobre o assunto, sabia que o fato do guarda ter torcido o pulso dela era completamente inaceitável. Oliveira não merecia aquilo. E iria dizer isso a Anthony Ward assim que chegasse ao trabalho. Mas, por algum motivo, o diretor não estava lá na hora em que cheguei.

Um pouco desanimada e ainda muito confusa, comecei a organizar minha sala, tentando ao máximo não pensar se Ludmilla iria aparecer. Puxei a gola da blusa, frustrada, ao perceber que a maior parte de mim queria ela na sala do que a parte que não queria.

Soltei um palavrão em voz alta.

- Levantou com o pé esquerdo? - a voz de Larissa, parada na porta, dissipou os pensamentos da minha cabeça por uns cinco segundos antes da batalha dentro dela recomeçar. Eu apenas sorri e ergui as sobrancelhas, incapaz de expressar de maneira sensata por que estava xingando uma sala vazia - Ela foi afastada - disse Carvalho de modo casual enquanto colocava a bolsa sobre a cadeira.

- O quê? - virei-me para Larissa sem entender do que ela falava.

- Oliveira - respondeu, dando de ombros - Ward disse a ela que seu temperamento está fora de controle. Ela é uma ameaça a si mesma e aos outros.

- Que droga e como ela reagiu?

- Como sempre reage: alguns palavrões e uma carranca - ela deu um passo em minha direção - Isso vai afetar a liberdade condicional dela.

Ergui as sobrancelhas, surpresa. Nem sequer sabia que Ludmilla estava sendo avaliada para isso.

- Quando o pedido de liberdade condicional vai ser revisto? - perguntei interessada.

- No fim do mês - concordei com a cabeça.

Havia conhecido Oliveira em apenas dois dias, tinha trocado talvez uma dúzia de palavras com ela, a maioria por entre os dentes, mas, mesmo assim sabia, lá no fundo, que existia algo mais nela, algo que a diferenciava dos outros alunos. E que me atraía de uma maneira que jamais conseguiria explicar. A ambivalência dela era frustrante pra caramba e ela tinha uma arrogância que faria qualquer pessoa sã perder a cabeça. Apesar disso tudo, tinha um desejo imenso de fazer as coisas darem certo, de ajudá-la. Essa era minha dívida, afinal de contas.

Meneei a cabeça, resoluta.

- O quê? - perguntou Larissa - No que você está pensando?

Sorri para ela, deixando minha coragem emergir.

- Acho que a Sra. Oliveira vai ter que começar a aguentar ficar perto de mim com mais frequência...

🍃Ludmilla Oliveira🍃

- Mais forte! - grunhiu o homem à minha frente - Eu disse mais forte! Não senti nada! - grunhiu novamente, e mais alto, quando meu punho acertou com força o escudo de proteção vermelho que o oficial da academia do presídio, Niall Horan, estava segurando à sua frente - Minha filhinha de 3 anos bate mais forte! De novo!

Meus olhos se estreitaram e minhas juntas ficaram tão brancas quanto a bandagem em torno delas. Com um grito apavorante, comecei a esmurrar o escudo. Ódio, raiva, desejo, explodiam através dos meus punhos com tanta força que Horan cambaleou para trás. Após trinta segundos, meus braços começaram a diminuir o ritmo, à medida que a adrenalina queimava meus ombros completamente tatuados, descendo por meus braços, que doíam por conta das batidas incessantes.

Ofegante, quase dei um beijo no rosto de Niall quando ele disse que tínhamos terminado. Eu adorava exercícios físicos, eram a única parte do meu tratamento de controle da raiva de que gostava. Harry tinha sugerido que Niall trabalhasse comigo depois de um dos meus memoráveis acessos de fúria, numa tentativa de canalizar parte da tensão.

Desabei no tatame azul e fiquei deitada de barriga para cima, o peito subindo e descendo pesadamente. Eu precisava mesmo parar de fumar. Minhas juntas doíam e meu rosto latejava no ponto em que o guarda tinha esmagado contra a parede durante a aula da Srta. Gonçalves.

- Você mandou bem - murmurou Niall, me entregando uma garrafa d'água.

- Você quase me matou - respondi, pegando a garrafa com a mão trêmula.

Grunhi ao me sentar, os músculos protestando na hora, e virei meia garrafa em três goles gigantescos, derramando um pouco nas costas em uma tentativa de amenizar o calor.

- Você precisa parar de fumar - rosnou Niall, fazendo-me rir - Mas você se esforçou bastante - continuou - Mais do que costume. Alguma coisa nessa cabeça?

Eu e Niall tínhamos construído um relacionamento sincero naqueles doze meses em que vínhamos trabalhado juntos. Respeitava a atitude "tolerância zero" de Horan e gostava da maneira como exigia mais de mim. Mesmo assim, não estava totalmente convencida de que podia lhe contar o que ele queria saber.

Ri por dentro porque, minha nossa! Quem me dera a mim própria saber o que dizer para descrever a confusão que estava em minha cabeça. Estava sinceramente surpresa por ter jogado uma carteira longe na aula da Srta. Gonçalves. Nunca, em toda a minha vida, tinha sido tomada de tal forma pela fúria que a única maneira de extravasar esse sentimento era pegar a carteira e arremessá-la o mais longe possível. Por outro lado, tinha sido uma ideia idiota, mas não tinha controle sobre mim mesma. A única coisa que me incomodava, desde que saí da sala de Ward, após o "incidente", era o fato de ter sido banida das aulas de Brunna.

Definitivamente. Não tinha permissão para chegar perto dela ou de sua sala e, por algum motivo que não estava fazendo sentido para mim, aquilo me deixava puta. A ironia estava ali. Tinha reclamado e ficado de saco cheio por ter sido matriculada naquele curso. Mesmo assim, lá estava eu, confusa pra caramba porque parte de mim queria estar na turma dela, ouvindo-a falar maravilhas sobre poesia e outras besteiras que já sabia. Queria sentar-me na primeira carteira e olhar para ela, tentando intimidá-la.

Gonçalves tinha-me cativado totalmente e verdadeiramente e não sabia ao certo se estava perturbada ou fascinada com aquilo. Mal a conhecia, mal tinha falado com ela e, mesmo assim, não conseguia tirar o seu rosto da minha cabeça. Ela era tão... linda.

Puta merda. Estava perdendo a cabeça. Xinguei-me mentalmente e bebi o que restava da minha água antes de arremessá-la na lata de lixo, onde ela aterrissou com um estrondo.

Horan se largou no chão, sentando-se ao meu lado.

- Eu ouvi falar sobre seu... episódio... na sala de aula - comentou, de forma diplomática. Meu rosto ficou sério e Niall ergueu as mãos, na defensiva - Ei, não estou julgando ninguém - baixei os olhos enquanto ele esperava minha resposta.

- É que... - comecei - Na real, eu estou cagando para essas aulas. Digo, não sou idiota. Eu leio e sei o que sei, mas... preciso delas para minha liberdade condicional - Niall permaneceu em silêncio - Mas essa mulher... Eu não sei - finalizei em voz baixa, mais para mim mesma do que para o homem sentado ao meu lado.

Aquela era a explicação mais honesta que podia dar, pois a verdade era que não sabia. Não sabia por que queria voltar às aulas de Brunna. Não sabia por que ela fazia-me sentir tão desequilibrada e muito menos por que ela me tinha limpado quando estava sangrando. A única coisa que sabia era que tinha gostado. Tinha adorado o que ela fez e tinha adorado tê-la tão perto. Aquilo me deu a chance de olhá-la com atenção. Já tinha ficado com muitas mulheres bonitas, mas havia algo diferente em Gonçalves. Ela era natural, curvilínea, quase não usava maquiagem e tinha certeza absoluta de que a sua bunda era a maior maravilha do mundo.

Eu amo bundas e isso não é um segredo. Tinha pensando em tocar na dela mas o incidente da carteira tinha liquidado essa possibilidade... talvez para sempre.

🌻Brunna Gonçalves 🌻

- Bom dia, Srta. Gonçalves- cumprimentou Ward quando me aproximei da sua mesa, sentando na cadeira à sua frente.

- Bom dia.

- Então - disse Ward, passando as mãos pelos braços de sua cadeira - O que posso fazer por você?

Engoli o nervosismo, indo diretamente ao assunto.

- Ouvi dizer que o incidente com Oliveira pode afetar seu pedido de liberdade condicional antecipada.

- Não existe "pode" nisso - respondeu bruscamente - Ela não vai a lugar nenhum pelos próximos dezessete meses. Vai cumprir a pena completa e achar ótimo.

Alguma coisa no seu tom de voz irritou-me perfudamente.

- Sim - repliquei mantendo o tom de voz agradável - Sei que ela tem uma reunião com a oficial de condicional marcada para logo - Ward confirmou com a cabeça - E também fiquei sabendo que não é apenas o bom comportamento que pode afetar a decisão da Junta de Liberdade Condicional - a minha sobrancelha se curvou quando vi a expressão de surpresa tomando conta do rosto de Ward.

Ele se inclinou, descansando os cotovelos na mesa.

- Srta. Gonçalves, aonde você quer chegar com isso?

- Tomei a liberdade de marcar uma reunião com o conselheiro de Oliveira, Harry Walker, esta tarde e gostaria muito de conversar com a oficial de condicional durante a visita dela. Sei que tanto você quanto Harry podem arranjar isso para mim.

Ele ergueu a mão para me interromper.

- Desculpe, mas tenho que perguntar de novo. Aonde você quer chegar com isso, Srta. Gonçalves?

Engoli em seco

- Quero ser tutora de Oliveira.

Por um momento, Ward ficou completamente perplexo.

- Você já deu aulas para ela - retrucou - E ela foi afastada porque é visível para todos que vocês duas não se dão bem.

Ignorei o veneno nas suas palavras.

- Pode ser, mas talvez eu não tenha sido tão paciente quanto deveria em relação a ela. Quero ajudá-la de todas as maneiras que puder - meu rosto ficou quente frente ao olhar super atento de Ward - Sei que ela foi banida de todos os outros cursos também, então suas opções são mínimas.

Acho que se conseguir dar aulas particulares para Ludmilla, as chances dela perder o controle serão significativamente reduzidas. Tinha considerado essa questão com cuidado antes de entrar na sala de Ward. O fato de Oliveira intimidar meus alunos era um dos motivos pelos quais havia perdido a cabeça com ela. Se fosse só nós duas, isso facilitaria as coisas, certo?

Ward se recostou na cadeira, parecendo totalmente pasmo.

- Srta. Gonçalves- murmurou - Só para esclarecer, você quer ser tutora da Oliveira em aulas particulares, porque quer ajudá-la com o pedido de liberdade condicional antecipada? - dei um sorriso largo e ele ficou olhando para mim, incrédulo - Não posso permitir - meneou a cabeça.

- Hum - respondi, mordendo a parte interna da boca, irritada - Posso perguntar por quê?

Ele deu um sorriso irônico e endireitou os ombros.

- Não posso autorizar que você seja colocada em uma sala sozinha com Oliveira.

- Teria um guarda junto - interrompi.

Ward suspirou.

- Deixando essas obviedades de lado, Srta. Gonçalves, você foi contratada pela penitenciária para dar aulas para um grupo de detentos durante um período específico. Agendado. Não para trabalhar como professora particular - ele ergueu as mãos para os céus em uma empatia zombeteira - Não está no seu contrato e a penitenciária não pode fazer um pagamento extra para isso.

Sorri para Ward, mas não era, de jeito nenhum, um sorriso amável. Sabia que ele veria as coisas por esse ângulo, mas para mim não fazia diferença ser paga ou não. Em geral não falava sobre a fortuna da minha família, pois, no passado, isso já havia gerado certo mal-estar. No entanto, com Anthony Ward não me importaria nem um pouquinho. Ser filha e neta de dois senadores de sucesso garantia que minha conta bancária estivesse sempre bem provida.

- Sr. Ward - comecei, com um tom sarcástico e uma expressão resoluta, que o fizeram se mexer desconfortavelmente na cadeira - Não estou fazendo isso pelo dinheiro.

- Tenho que admitir que estou confuso agora, Srta. Gonçalves - disse ele após um momento tenso de silêncio - Vocês pareceram detestar uma à outra só de se verem. Por que, então, você faria tal coisa? O que ganharia com isso?

- Sou professora, portanto, por definição, meu trabalho é ensinar. E é isso que quero fazer. Parece óbvio que Oliveira tem dificuldades em estar em uma sala de aula com outros alunos. Assim, a única solução é tirá-la de lá - meu olhar se tornou penetrante - Acho que posso ajudá-la, e a aprendizagem dela vai ser o que vou ganhar com isso. Além do mais - continuei, decidida a ferir o orgulho de Ward - Se ela conseguir a liberdade condicional antecipada, isso não tornaria a sua vida mais fácil?

Sabia que não havia, de fato, nenhuma afinidade entre Ward e Ludmilla. O canto da sua boca se curvou.

- Preciso dizer não mesmo assim, Srta. Gonçalves. Isso levanta muitas questões e a hora extra dos guardas...

- Sim, por falar em guardas, o guarda que agrediu Oliveira já foi punido de alguma forma?

- Agrediu?

- Sim - respondi - Ele torceu o pulso dela. Foi desnecessário e completamente hostil. Fiquei chocada.

Sabia que o guarda não tinha sido punido, apesar do seu comportamento ter sido gravado pelas câmeras de segurança da sala de aula.

- Entendo - murmurou Ward - Bom, é claro que não toleramos violência contra nenhum dos detentos. Vou averiguar.

- Ótimo.

A minha família tinha grandes amigos em cargos políticos importantes. Bastaria um telefonema para ficarem todos no pé de Ward.

Ele pigarreou e contraiu os lábios.

- Se eu concordar com isso - falou com arrogância e fazendo um gesto desdenhoso com a mão - O que faz você pensar que Oliveira aceitaria? Ela é conhecida por ser teimosa, como você bem sabe.

Sorri ao ouvir isso.

- Tenho certeza de que se você me deixar conversar com ela, fazendo-a enxergar que só estou tentando ajudar, ela vai superar o orgulho e aceitar. Caso contrário - dei de ombros - Vou esquecer a ideia.

- E isso seria feito no seu horário de trabalho. Sem pagamento - reforçou Ward, apontando um dedo para mim.

- Exatamente - concordei, querendo arrancar o seu dedo da mão - E vou dar a você um cronograma para que possa arranjar um guarda. De preferência não aquele que agrediu minha aluna.

- Está bem.

- Ótimo - sorri e bati as mãos nas coxas - Vou me encontrar com o Harry às duas. Posso conversar com Oliveira? Eu gostaria de resolver tudo antes da folga do fim de semana.

Ward bufou e cruzou os braços.

- Peça que eles me passem um rádio que eu a mando até você.

- Obrigada, Sr. Ward - respondi com um sorriso derretido antes de sair, fechando a porta silenciosamente.

☘️ Harry Walker☘️

Aquela tarde, ouvi a bela latina com total atenção enquanto ela expunha sua proposta em detalhes. Tinha ficado muito intrigado ao receber uma ligação solicitando uma reunião com a Srta. Gonçalves. Meu primeiro pensamento foi de que ela queria registrar uma reclamação contra Ludmilla e seu comportamento, e não a teria culpado por isso. Então fiquei chocado quando ela contou que queria ajudar com o requerimento de liberdade condicional de Oliveira. Se Ludmilla iria topar era uma questão completamente diferente. O temperamento dela sempre me metia em confusões das quais tinha que salvá-la, e o incidente com a carteira não era exceção.

O banimento de Ludmilla das aulas tinha sido um enorme balde de água fria no requerimento de liberdade condicional, portanto tive vontade de abraçar a Srta. Gonçalves até sufocá-la quando ela ofereceu ajuda.

- Preciso confessar que estou surpreso por Ward ter aceitado isso - falei sorrindo, enquanto tomava um gole de café.

- Bem, digamos apenas que sei como apostar nesse jogo - disse Brunna.

Meu sorriso se abriu ainda mais. Já tinha passado da hora de Ward ser posto em seu devido lugar.

- Ah é?

Gonçalves riu ironicamente por trás de sua xícara e não disse mais nada.

A porta da sala sem graça e abafada se abriu e Ludmilla, com uma expressão submissa, entrou, seguida por dois guardas e Ward, que parecia bastante enfurecido.

🍃Ludmilla Oliveira🍃

- Oi, Ludmilla- cumprimentou Harry levantando-se.

- Oi - murmurei antes de desviar os olhos para a mulher ao lado dele - Srta. Gonçalves- cumprimentei, sem mudar o tom de voz e a ouvi suspirar.

- Oliveira, você pode, por favor, se sentar? - observei a postura defensiva dela e senti meu corpo enrijecer.

Ela estava bonita pra caralho, tinha que admitir. Tinha certeza de que Brunna fazia de propósito, só para me atormentar. Larguei-me na cadeira e sorri para Harry enquanto fazia um gesto "me-dê-o-que-eu-quero" com os dedos. Ele pegou um maço de cigarros e alguns fósforos e os jogou na mesa. Retirei um, coloquei na boca, acendi e puxei a fumaça com força.

Observei a Srta. Gonçalves e seus olhos castanhos decididos enquanto exalava a fumaça.

- Vocês têm dez minutos - rosnou Ward, depois caminhou em direção à porta com passos largos e barulhentos.

- Talvez não estejamos prontos em dez minutos - retrucou a Srta. Gonçalves- Vamos passar um rádio para você quando terminarmos.

Ward ficou paralisado e colocou uma das mãos nos quadris enquanto coçava a testa com a outra.

- Está bem.

Olhei para Harry e trocamos olhares impressionados. Fiquei feliz da vida por ela bater de frente com Ward, quem sabe até com um pouco de ciúmes por Ward estar levando uma bronca e eu, não. Parecia absurdo, mas queria muito que ela começasse a brigar comigo.

- Então, alguém vai me contar por que estou aqui? - perguntei olhando alternadamente para Brunna e Harry.

Harry olhou para mim, desaprovando minha atitude, antes de gesticular para que a Srta. Gonçalves falasse. Esperei enquanto ela limpava a garganta, fascinada por seu nervosismo. Era uma versão nova dela, com os dedos agitados e os ombros tensos.

- Bom, acho que podemos admitir que sua participação em minhas aulas não deu muito certo.

Gargalhei.

- É, porra nenhuma, madame.

- Oliveira - advertiu Harry curvando o lábio.

Revirei os olhos e indiquei, erguendo o cotovelo, que Brunna continuasse.

- Fiquei sabendo que sua oficial de condicional virá em breve para conversar sobre o seu requerimento.

- Sim. E daí? - dei de ombros.

Ela manteve o olhar firme e sereno, um facto que fez os meus dedos tremerem.

- Também fiquei sabendo que sua participação nas minhas aulas eram para ajudá-la com seu requerimento.

Expeli o restante da fumaça e apaguei o cigarro no cinzeiro com três batidas bem fortes e calculadas. Continuei encarando a mulher à minha frente enquanto me recostava de novo na cadeira.

- E... - disse, por fim, escondendo o sorriso irônico quando vi aquela intensidade familiar explodir nos olhos de Brunna.

- E... - rosnou ela - Estou me oferecendo para lhe dar aulas particulares, de modo que você possa solicitar a liberdade condicional antecipada, apesar de agir como uma babaca, mesmo quando as pessoas estão tentando ajudá-la.

Harry ficou olhando surpreso depois daquela pequena patada. Deixei meus olhos deslizarem fascinados pelas curvas e pelo rosto de Brunna. Passei a língua pelos lábios. Caramba, ela ficava linda quando estava brava. Abruptamente, Gonçalves se levantou, arrastando a cadeira com força antes de derrubá-la para trás com um barulho alto. Ela olhou para a cadeira, mas não se moveu para erguê-la, em vez disso, pegou a bolsa, derrubando-a duas vezes antes de conseguir segurá-la direito.

Harry também se levantou enquanto ela se atrapalhava toda.

- Srta. Gonçalves? - falou meu conselheiro.

- Esqueça - falou, irritada, para mim - Não vou perder meu tempo. É óbvio que você é incapaz de ser grata quando alguém oferece ajuda - ela colocou a bolsa no ombro - Mas eu entendo. Entendo que aceitar minha oferta não cairia bem para o perfil rebelde que construiu por aqui e entendo que morra de medo de que alguém talvez a enxergue como uma pessoa inteligente que você é. Tenho certeza de que o Sr. Ward vai ficar entusiasmado por ter você aqui pelo resto da sua sentença. Mas quem liga, né?

Caralho! Ao ver o fogo e o desafio em seus olhos e ao ouvir a verdade em suas palavras, percebi que ela estava oferecendo-me um bote salva-vidas, uma forma de conseguir a liberdade condicional que tanto queria, e meu comportamento infantil ia fazê-la sair da sala, deixando-me sem nada. Por mais irritante que a Srta. Gonçalves fosse, não podia negar que estava sensibilizada por ela ter concordado em ajudar-me.

Pigarreai.

- Srta. Gonçalves? - ela parou em seu caminho para a porta. Seus ombros se ergueram quando ela se virou para mim com uma expressão impaciente - Eu, é... - comecei batucando com os dedos na beirada da mesa, incapaz de demonstrar gratidão, muito menos de senti-la - Olha, eu... Eu agradeço.

Brunna olhou para Harry, que parecia igualmente sem palavras.

- Não se preocupe, foi estúpido da minha parte...

- Não - interrompi ela - Não foi estúpido. Foi uma boa ideia - olhei para Harry, buscando auxílio.

- Ludmilla - interveio Harry - Você está dizendo que quer que a Srta. Gonçalves seja sua tutora? - baixei os olhos, fitando a mesa, procurando pelos cigarros - Bom, está bem - sussurrou Harry - Srta. Gonçalves?

- Então - disse ela, virando-se em direção à mesa - Vamos fazer isso?

- Eu disse que sim, não disse? - grunhi em meio à neblina de fumaça que me rodeava.

Uma expressão confusa passou pelo rosto dela antes de retornar a seu lugar. Vinte minutos depois, com a agenda preenchida com os dias e horários em que eu e Brunna nos encontraríamos, Gonçalves se levantou novamente e estendeu a mão a Harry. Ele a apertou com entusiasmo.

- Obrigado, Srta. Brunna Gonçalves Coelho. Vamos conversar mais, tenho certeza.

- Certamente Harry - respondeu ela com um sorriso - Pode me chamar apenas de Brunna ou Gonçalves- ela deu uma olhada em minha direção - Vejo você na segunda.

Mas eu permaneci muda e imóvel como uma estátua, mantendo os olhos fixos na porta, que se fechou atrás dela. Minha pulsação explodia em meus ouvidos, enquanto o som do nome dela reverberava em meu crânio com cada batida feroz do meu coração.

Brunna Gonçalves Coelho. Brunna...Gonçalves... Coelho.

Quando ficamos sozinhos, Harry se virou para mim com um sorriso de orelha a orelha.

- Ludmilla , isso é ótimo! - ele juntou as mãos em uma palma - Ótimo mesmo, né? Ludmilla? - repetiu Harry enfiando as mãos nos bolsos - Ludmilla, você está...

- Do que você a chamou? - perguntei, com a voz rouca.

Minha respiração ficou difícil, fazendo-me ofegar. Coloquei lentamente a mão no peito, onde um aperto, algo que nunca tinha sentido antes, o esmagava de maneira implacável.

- O quê? - perguntou Harry, confuso.

Meus olhos se fecharam. Engoli em seco.

- Do que você chamou a Gonçalves?

Ele franziu a testa.

- De Brunna Coelho. Por quê?

Brunna Coelho, puta que pariu.

Enquanto o mundo à minha volta entrava em pane, fazendo com que o chão da sala sumisse, baixei a cabeça até aos joelhos. Minha respiração vacilava enquanto o ar lutava para chegar aos meus pulmões.

Não podia ser.

De jeito nenhum.

Não.

Quais eram as chances? As chances eram mínimas.

Agarrei minha própria cabeça, incrédula.

- Não pode ser ela.

Puxei todo o ar que consegui, mas era inútil. As paredes se fechavam à medida que o pânico e a incredulidade espremiam minha garganta sem misericórdia. Estava sufocando.

Harry caiu de joelhos à minha frente.

- Quem, Ludmilla ? - perguntou - Ludmilla, fale comigo. De quem você está falando?

Apertei o seu ombro.

- Não pode ser - murmurei.

- Quem? A Srta. Gonçalves?

- Não - respondi, vagamente ciente da urgência na voz de Harry - Ela não é a Srta. Gonçalves, ela é... Puta merda.

- Quem? - perguntou, apertando meu ombro ainda mais.

Finalmente olhei para meu conselheiro com olhos que mal conseguiam enxergar, minha visão embaçada por lembranças tão reais que quase podia tocá-las.

Cabelos médios, ondulados nas pontas. Um vestido azul. Tiros. Gritos.

Segurei o braço de Harry e apertei, agarrando-me com toda a força, precisando de um chão, precisando de algo que impedisse de me desandar completamente. Reprimi um soluço.

A mulher de 27 anos forte e arrogante já não estava ali. Eu era novamente uma bostinha assustada de 11 anos, desesperada por alguém que me amasse, tentando de maneira frenética salvar a vida de uma menininha apavorada.

Tentei responder a Harry. Cara, como tentei. Queria contar tudo a ele. Queria implorar que me tirasse daquela sala antes que perdesse a cabeça. Estava perdendo o controle. Será que a morte era assim?

Como uma represa que se racha, a minha memória se escancarou. Cada imagem parecia um fogo de artifício explodindo em minha visão, zunindo em meu cérebro, gritando em meus ouvidos. Abaixei a cabeça, estreitando os olhos e agarrando a lapela do blazer de Harry, esmagando a lã em minha mão, querendo que todo o meu corpo relaxasse e suprimisse aquela porcaria toda. Irritantemente, quanto mais tentava acalmar minha respiração, mais meu corpo se fechava.

Grunhi de terror quando minha garganta se apertou mais e mais e afundei a testa suada no ombro do meu conselheiro, dizendo coisas que jamais pensei que diria desde aquela noite horrorosa de dezasseis anos atrás.+

- Harry - sussurrei - Ela é a minha Pêssegos.

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