Capítulo 16 - Uma oportunidade juntas
"Viver não é esperar a tempestade passar. É aprender a dançar na chuva".
🍃Ludmilla Oliveira🍃
- Ora, ora, depilem minha virilha e me chamem de Priscilla! Isso aqui é uma reunião da Arthur Kill! - a voz grave e estrondosa de Riley acertou minha cabeça como um taco de beisebol, antes de seu corpo de mamute atravessar a porta do meu apartamento e esmagar a mim e a Harry em um abraço mortal - Oh, estou tão feliz - cantarolou sarcasticamente enquanto eu, meio desajeitada, resmungava e me desvencilhava dele.
- Cara, se acalme - falei e Riley deu um sorriso malicioso.
- Estou vendo que a liberdade não mudou em nada esse seu temperamento rabugento. Eu, por outro lado, estou solto há 48 horas e tudo está incrível! - ele se virou para Harry antes que eu pudesse responder - Como andam as coisas, Harry?
- As coisas andam bem, Riley. É bom vê-lo. Vejo você na quinta para nossa reunião - ele passou por Riley e acenou - Nos falamos em breve, Ludmilla.
Assenti com a cabeça e fechei a porta enquanto Riley passeava pelo apartamento, analisando-o como se fosse um comprador em potencial ou algo do tipo. Suspirei.
- O que posso fazer por você, Moore?
Ele alisou o peito enorme com as mãos e sorriu.
- Tem cerveja? Estou morrendo de sede.
Com duas cervejas nas mãos, Riley se lançou no sofá enquanto eu mexia no celular, me sentindo descontente. Já tinham se passado dois dias desde o beijo no Central Park e ainda não tinha tido notícias de Pêssegos. Não que esperasse ter, mas isso não me impedia de estar inquieta. Não fazia ideia do que iria dizer a ela quando a encontrasse novamente.
- Estou atrapalhando você? - perguntou Riley, indiferente, bebericando sua cerveja.
Balancei a cabeça, joguei o celular para o lado e acendi um cigarro.
- Então, como é estar aqui fora? Quarenta e oito horas? Fico surpresa por você não ter aparecido antes.
Ele sorriu.
- Você me conhece, Ludmilla: lugares para ver, pessoas para comer - ri, erguendo as sobrancelhas em concordância - Não que você não seja importante para mim, nem nada desse tipo - acrescentou com uma piscada pervertida - Mas eu tinha que organizar algumas coisas.
- Está se metendo com aquela galera da pesada de novo?
Riley franziu a testa.
- Não, Oliveira. Esse erro não vou cometer de novo. Só tinha algumas pendências para resolver. Harry estava aqui para o de sempre?
- Sim - respondi - Giovanna veio mais cedo. Ela teria adorado ver você.
Riley e Giovanna nem sempre tiveram um bom relacionamento. Dizer que ela não entendia o humor boca suja dele era eufemismo.
- Ela me quer - respondeu de forma tranquila - O que posso fazer?
- Claro que quer.
Gargalhei, mas parei abruptamente quando meu celular bipou com uma mensagem que tinha chegado. Era Zack. Droga. Minha expressão caiu visivelmente de desapontamento por não ser Pêssegos.
- É o seu novo... brinquedinho feminino? - Riley piscou.
- Não. E Brunna não é meu novo "brinquedinho" - censurei antes de voltar a olhar para a tela.
- Está bem, está bem - respondeu antes de acender um cigarro - Relaxe, Oliveira. Foi só uma pergunta.
Expirei e esfreguei os dedos na testa.
- Eu sei... É que... Não é bem assim.
- As coisas estão indo bem com a Srta. Gonçalves, suponho - comentou.
Apaguei o cigarro e soprei anéis de fumaça na direção do teto.
- Está tudo bem - respondi secamente.
- Caramba - falou ele em um tom de voz que guardava apenas para momentos de sedução e perversão - Eu realmente sinto falta daquela bundinha arrebitada naquelas saias - ele lambeu os lábios - E aquelas pernas? Eu poderia ficar acariciando aquelas belezinhas por...
- Cale a porra dessa boca, Moore! - berrei, erguendo o braço e apontei de forma ameaçadora para Riley - Dobre a língua quando falar dela.
Ele ficou três segundos atormentado sob a mira do meu dedo antes que seu rosto se enrugasse em um sorriso enorme.
- Ora, pobre de mim - ele conteve um riso, erguendo as mãos - Você e a Srta. Gonçalves, hein? Legal.
Meu braço caiu instantaneamente e um grunhido de satisfação e frustração saiu de mim. Efreguei as mãos no rosto.
- Não é bem assim, tá? Bem, quero que... Quero que ela... Ah, cara!p
Peguei minha cerveja sobre a mesa e me joguei de volta na cadeira. Riley riu e se inclinou para a frente, repousando os cotovelos nos joelhos.
- Olha, Oliveira, não estou interessado no como, no porquê, ou qualquer coisa que seja. Só fico feliz por ter vencido a aposta que tinha comigo mesmo.
Estreitei os olhos.
- Aposta?
- É. Apostei comigo mesmo quanto tempo vocês levariam para foder quando você saísse - ele bateu no peito enorme com os dois punhos - Acho que ganhei, hein?
Pisquei, chocada.
- Pelo amor de Deus, Moore. Nós nem sequer... Cara, não tem a ver com sexo.
- Ah, sim, mas você entendeu o que eu quis dizer - ele sorriu e colocou o cigarro no cinzeiro - Ei, por falar em comer mulheres gostosas, tem uma galera que vai curtir uns bares hoje à noite. Está a fim?
Meneei a cabeça.
- Não. Tenho umas coisas para fazer e preciso comer alguma coisa.
Riley ergueu e abaixou as sobrancelhas.
- Ou comer uma certa latina...
Apesar de tudo, não consegui não dar risada.
(....)
🌻Brunna Gonçalves🌻
No final de minha aula em Arthur Kill, na tarde de terça-feira, caminhei em direção à sala de Harry. Meus pés e pernas estavam letárgicos, quase fazendo com que desistisse mas precisava fazer aquilo. Precisava de respostas e direcionamentos. E, para falar a verdade, mesmo tendo conversado com Kássia a respeito da minha angústia quanto a magoar Ludmilla, necessitava ouvir mais alguém. Recompondo-me, bato de leve na porta.
- Entre - Harry sorriu quando me viu espiar pela porta - Srta. Gonçalves- disse ele, levantando-se - Que bom vê-la. O que posso fazer por você?
Mordi o lábio e permiti que meu corpo deslizasse para dentro da sala. Fechei a porta, agarrando a maçaneta como se minha vida dependesse daquilo. Ele pareceu preocupado.
- Você está bem?
Tentei sorrir para reconfortá-lo, mas não consegui.
- Preciso fazer uma pergunta hipotética a você - murmurei.
Harry franziu a testa.
- Hipotética? - concordei com a cabeça - Bom - continuou - Com certeza farei o meu melhor.
Ele gesticulou para que me sentasse antes dele voltar à sua cadeira e colocar os papéis que estava lendo de volta em uma pasta. Me sentei lentamente. Aquilo era um inferno. Coloquei as mãos sobre o colo e desviei o olhar. Nunca tinha me comportado daquele jeito. Costumava ser tão determinada e estável.
- Srta. Gonçalves- disse Harry, inclinando-se para a frente - Tem certeza de que está bem?
- Sim - respondi roucamente, com a garganta seca - Eu só estava... Eu estava...
- Oliveira fez algo errado? - balancei a cabeça. Não. Tudo que Ludmilla fizera tinha sido, oh, tão perfeito - Eu a vi ontem - continuou - Ela parecia ansiosa com relação a alguma coisa. Não quis me dizer o que era, é claro...
- Com quem devo falar para deixar de dar aulas para ela? - as palavras saltaram de minha boca tão rápido que fiquei surpresa por tê-las dito na ordem certa.
Enquanto aquela pergunta pairava sobre nós, tudo o que sentia era dor. Não física, mas emocional. Estava brava comigo mesma por ter feito a pergunta que jamais imaginei que faria. Meus olhos ficaram embaçados, mas engoli as lágrimas. Já tinha chorado o suficiente por uma vida toda.
- Por que você iria querer fazer isso? - perguntou em um tom suave - Tem certeza de que ela não fez alguma coisa?
O sorriso que tocou os meus lábios era fraco, mas seguro.
- Tenho - murmurei - Com quem devo falar e quais são os procedimentos?
- Brunna - disse - Por que você quer fazer isso? - ele ergueu a mão quando ameacei me intrometer com uma resposta - O que quero dizer é que se ela não fez nada de errado, nem violou a condicional, como é que você vai justificar parar de dar aulas para ela? - fechei a boca, a frustração descendo por meu pescoço - O fato é que - continuou - Se você quiser parar com as aulas, e você tem todo o direito de fazer isso, se assim desejar, você precisa apresentar uma causa justa para a diretoria.
- Mesmo? - perguntei em um tom baixo e derrotado.
Ele descansou os cotovelos na mesa.
- Isso vai suscitar perguntas e não sei ao certo se você iria gostar de respondê-las - concordei com a cabeça - Posso?
Harry fez menção de se levantar e apontou para a cadeira ao meu lado.
- Claro - respondi, assistindo ele dar a volta na mesa e sentar-se do meu lado.
- Não quero chatear você com o que vou dizer.
- Tudo bem, Harry. Estou disposta a ouvir praticamente qualquer coisa agora.
Ele limpou a garganta e ficou brincando com o prendedor de gravata.
- É visível que vocês duas têm... apreço uma pela outra. Mas se você e Ludmilla estiverem envolvidas em um relacionamento que seja mais do que simplesmente professora/aluna, então preciso alertá-la. Preciso avisar que mesmo que Oliveira esteja em condicional, você ainda trabalha para a penitenciária e, assim, está violando as regras de ensino da instituição, incluindo a política de não confraternização com a qual você concordou e se comprometeu por escrito, além de correr o risco de ser processada.
O meu rosto se retorceu. Tudo aquilo parecia muito assustador.
- Harry, Ludmilla e eu não...
- Mas - interrompeu, colocando a mão no meu braço - Se vocês não ficarem juntas até que o período probatório da condicional termine, então não deve haver problemas.
Eu já sabia daquilo. Teria que esperar que o tempo contratual com Oliveira terminasse antes que nós pudéssemos ficar juntas. Se ela quisesse que ficássemos juntas. Era isso que Ludmilla queria? Não sabia mas queria ver o que estava rolando entre nós, é claro, não podia negar essa vontade mas era inútil. As probabilidades estavam contra ambas de nós.
- E para ser totalmente franco - completou - Se você e Ludmilla estiverem juntas e ninguém souber até o final do período da condicional dela, então não deve haver problemas.
Ergui a cabeça. Será que ele estava falando sério? Estreitei os olhos na tentativa de enxergar se havia algo mais por trás daquela conversa. Mas ele estava falando totalmente sério.
- Você está dizendo que...
- Só estou dizendo que o que os olhos não veem o coração não sente.
Por que ele estava disposto a ser discreto em relação ao meu relacionamento com Oliveira? Harry não tinha nada a ganhar com aquilo.
- Por que você está dizendo isso?
Ele apertou minha mão.
- Ela precisa de você, Brunna. Mesmo que ainda não tenha percebido, ela precisa de você.
Balancei a cabeça.
- Não posso fazer isso.
Harry sorriu.
- Brunna , você é a única pessoa que pode. Você a coloca em seu devido lugar, não abaixa a cabeça para as grosserias dela. Tocou-a de uma maneira que ninguém mais conseguiu. Não se apresse e tente não se desesperar ou se preocupar. O que mais posso fazer por você?
Agradeci a Harry por seu tempo e pela compreensão. Confiava que ele manteria o que tinha sido dito ali apenas entre nós. Apesar do medo que tinha da reação de meus amigos e de minha família ao meu relacionamento com Oliveira, saber que havia pessoas que enxergavam como algo positivo fazia meu coração parecer menos pesado. Decidi que iria começar a fazer o mesmo. Ludmilla e eu merecíamos uma oportunidade juntas.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro