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Capítulo 14 - Metade de mim

"O mais engraçado foi não ter precisado de um beijo pra gostar tanto de você".

🍃Ludmilla Oliveira🍃

Depois de parar na clínica para recolher amostras obrigatórias de sangue e urina, concluí que estava morrendo de fome, e, faltava meia hora para minha aula com Pêssegos. Os arcos dourados do McDonald's começaram a acenar em minha direção sem misericórdia. Com o saco de comida na mão e Kala estacionada em segurança, sentei-me do lado de fora da lanchonete e comecei a observar as pessoas enquanto comia meu Big Mac.

Grunhi de satisfação quando dei a primeira mordida no hambúrguer. Não tinha percebido a falta que sentia daquela porcaria enquanto estava presa. Após devorar o sanduíche, juntamente com uma porção de fritas e um refrigerante grande, me recostei no banco e tentei relaxar. Era a primeira vez que de fato relaxava desde que fui solta e, por mais que gostasse de me manter ocupada, também apreciava um descanso. Antes da Arthur Kill, costumava me sentar no Central Park ou no Battery Park, acompanhada de um maço cheio de Marlboro e uma garrafa de Jim Beam, curtindo minha existência.

Sob o sol quente de Nova York, observava a multidão na Quinta Avenida. Minha atenção sendo capturada por um casal que estava se beijando a menos de três metros. O homem estava segurando o rosto de sua mulher, perdido em um beijo carinhoso e demorado. Franzi a testa, confusa. Como aquilo podia ser prazeroso? Nunca tinha beijado daquele jeito, isso quando beijava e certamente nunca tinha "feito amor". Apesar de Zack ter falado sobre fazer amor com Liza, eu nem sequer tinha certeza de que algo assim existia. Antes do relacionamento deles ir por água abaixo, observava, interrogativa, quando meu melhor amigo beijava e abraçava a mulher cheio de cuidado e carinho, como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo. Eu gostava de sexo. Não, eu gostava de foder. E, quando fodia, não havia nada de gentil e carinhoso. Talvez fosse uma babaca por fazer isso dessa forma, mas nunca ninguém tinha reclamado. Todas as mulheres que estiveram na minha cama saíram satisfeitas, e muitas tinham voltado querendo mais.

Desviei os olhos do casal, definitivamente ser gentil e carinhosa não era a minha praia. Ao olhar para o outro lado da rua movimentada, capturei um relance de cabelos castanhos. Inclinei o pescoço, olhando para além das pessoas que estavam paradas à minha frente, os cantos de minha boca se ergueram em um sorriso. Era minha Pêssegos.

Meu Deus. Ela estava usando uma camiseta branca larga que exibia o pescoço e os ombros e jeans pretos. Estava vestida, como sempre, com uma pitada de classe. Transbordava sensualidade sem sequer se esforçar. A sensação estranha que tinha tomado meu estômago na biblioteca três dias antes retornou. Era algo esquisito demais e não gostava daquilo. Não era exatamente a sensação que detestava, mas a inquietação e o senso esmagador de perda de controle.

Eu sabia, se não tivesse me controlado, que teria beijado Pêssegos na escadaria da biblioteca. Como me sentiria se a beijasse? Dura e excitada? Com toda a certeza. Ainda mais desesperada para saber como seria estar dentro dela? Ah, sim. Feliz?

Deslizei as mãos pelo rosto. Droga. Esse processo de pensamento era profundo demais para um sábado à tarde. Precisava pôr a cabeça no lugar e me concentrar no motivo pelo qual estava ali. Dei uma olhada no relógio e ergui as sobrancelhas, surpresa. Ela estava atrasada. Quase 15 minutos.

Levantei, pegando a jaqueta e o capacete e fui até ela. Ao chegar por trás de Brunna, permiti que meus olhos dançassem por suas curvas. Ela estava encerrando uma ligação no celular quando me aproximei o suficiente para sentir o cheiro do seu cabelo. Me abaixei para falar em seu ouvido.

– Isso são horas, Pêssegos?

Ela gritou, virando-se em minha direção. Seu rosto estava espetacular, com os olhos arregalados de choque e a boca aberta. Brunna Gonçalves era linda de qualquer jeito.

– Oliveira – ofegou – Por que você gosta tanto de me assustar o tempo todo, droga? – não respondi, me deleitando com a irritação dela. Arqueei uma sobrancelha e cruzei os braços, esperando por uma explicação para seu atraso. Ela largou o celular na bolsa, evitando os meus olhos – Uma coisa me prendeu.

– Hum – respondi – E eu aqui pensando que era a mulher mais importante da sua vida.

Claro que estava brincando com ela, mas parte de mim realmente queria que aquilo fosse verdade. Minha avidez por Brunna estava se tornando ridícula.

Pêssegos bufou e colocou a mão no quadril.

– Mania de grandeza – retrucou – Além disso, eu não estava com uma mulher.

Meu maxilar relaxou com um alívio inesperado e sem precedentes.

– Acho que posso deixar passar seu atraso desta vez – brinquei, expirando profundamente, fazendo mexas de seu cabelo mexerem. Aproximei-me ainda mais, abaixando o tom de voz para um aviso – Mas que isso não se repita.

Ela engoliu em seco.

– Ou o quê?

Fiquei olhando para Brunna, surpresa por sua pergunta e dura pra caramba por ela estar comendo com os olhos as tatuagens visíveis por debaixo das mangas de minha camiseta dos Beatles.

– Ah, Pêssegos – sussurrei – Você adoraria saber, não é mesmo?

Um brilho fugaz passou pelos olhos dela, mas se foi antes que pudesse decifrá-lo. Ela jogou o cabelo por cima do ombro e fingiu não se importar.

– Não muito – respondeu, franzindo o nariz com indiferença – Venha. Temos trabalho a fazer.

Um riso curto escapou de minha boca quando Brunna passou como um furacão por mim em direção ao parque. Tive que dar uma corridinha para chegar até ela, mas, quando a alcancei, coloquei a mão livre no bolso da calça e a segui.

– Então – disse enquanto passávamos pelos portões e atravessávamos o caminho de pedras – Onde vamos fazer isso

Ela deu uma olhada para o céu azul e sorriu. Era um dia lindo, irracionalmente quente.

– Pensei que podíamos nos sentar perto da lagoa dos barcos. Conheço um lugar ótimo.

– Legal.

Como sempre acontecia em sábados quentes, o parque estava transbordando de gente e tínhamos que desviar de um lado para outro para evitar ser empurradas ou atropeladas por crianças ou cachorros.

🌻Brunna Gonçalves🌻

Percebi como Ludmilla parecia deslocada em meio aos nova-iorquinos comuns e turistas, apenas pelo fato de ela ser tão notável em toda a sua glória alta, tatuada e de cabelos bagunçados. Eu notava os olhares admirados que as mulheres lançavam para ela. No fundo, estava morrendo de medo de encontrar Oliveira fora da biblioteca. Sabia que, tecnicamente, não estava fazendo nada de errado indo com ela ao parque, mas, na verdade, tinha consciência de que estava pisando em terreno duvidoso. Não tinha contado nada a Patrícia, à minha mãe ou a Kássia sobre a aula, ciente de que ouviria algum tipo de sermão de uma delas, se não de todas. Não que tivesse uma chance de conversar com Kássia, que parecia atipicamente quieta nos últimos tempos. Desde o meu aniversário, nós tínhamos trocado algumas poucas mensagens, e nada mais que isso. Patty, com quem conversava ao celular quando Ludmilla me surpreendeu, também parecia confusa com o comportamento da noiva.

Algo estranho estava acontecendo.

– Está tudo bem por aí, Pêssegos? – a voz de Ludmila me trouxe de volta ao parque.

Olhei para seu lindo rosto, onde uma ruga se formava entre suas sobrancelhas, acima dos óculos.

– Sim, estou bem – respondi.

– Aqui – murmurou enquanto colocava a jaqueta no chão – Você pode se sentar nisso.

– A grama está seca – falei e ela deu de ombros.

– Simplesmente sente na porcaria da jaqueta. Não vai matar.

Larguei minhas coisas no chão.

– Obrigada.

Oliveira se acomodou na grama, o braço roçando no meu. Ela acendeu um cigarro, debruçando-se nos cotovelos, e soltou a fumaça pelo nariz. Fiquei observando Ludmilla enquanto ela olhava para o outro lado da água, assistindo as crianças subirem na estátua de Alice no País das Maravilhas à sua direita. Ela estava devastadoramente linda.

– Eu, hum... Trouxe algo para você – remexi na bolsa.

Oliveira ergueu as sobrancelhas, ansiosa. Mostrei para ela um pacote grande de biscoito Oreo. Ela sorriu e o joguei em seu colo.

– Não precisava – ela deu uma risadinha e gesticulei que ela parasse.

– São mais para mim mesma – murmurei, observando a expressão interrogativa no rosto dela – Sei como você fica rabugenta sem o seu Oreo e não preciso tolerar a sua má-criação – sorri antes de mergulhar novamente na bolsa – E não. Eu não trouxe leite.

Ela se sentou, rasgando o pacote.

– Adoro isso aqui.

– Percebi.

– Quer? – ofereceu, segurando o pacote na minha frente enquanto sua língua começava a fazer coisas indecentes com o creme branco no meio da bolacha.

Observei-a, seduzida.

– Hum, não, estou bem.

Era possível sentir inveja de uma bolacha?

Virei-me novamente, pegando o material da aula. Entreguei a Ludmilla uma cópia e pedi que ela refrescasse sua memória quanto ao que tínhamos aprendido sobre o poema sexualmente anormal de Donne. Ela não me dececionou. Parecia que o meu belo presente em formato de bolachas calóricas tinha libertado o lado tagarela dela.

Eu adorava ouvi-la falar. Ouvir sua voz, até quando ela falava palavrões, era como ser envolvida em veludo. À semelhança de sua dona, a voz dela era cheia de contradições. Era suave, mas firme, forte, mas controlada, autoritária, mas submissa. E sensualmente rouca...

– Você gosta desse poema – afirmei quando ela parou de falar.

Oliveira parecia indiferente. Ela se deitou na grama, perto de onde eu estava sentada de pernas cruzadas.

– Gosto das metáforas que ele usa, mesmo não concordando com elas.

Esperei que ela explicasse. Ludmilla respirou fundo, o que fez com que sua camiseta subisse do cós da calça, revelando uma tira preta de cueca e uma fatia branca de pele. Tentei não reparar mas foi impossível!

– Só não consigo relacionar essa ideia de que sexo é como o paraíso – respondeu - Que quando gozamos vemos "estrelas" – mexi-me sobre a jaqueta dela ao ouvir aquelas palavras. Precisava ficar relembrando a mim mesma que Ludmilla falava abertamente quando se tratava de sexo. Ela se apoiou no braço – Sexo é só sexo. São duas pessoas querendo a mesma coisa e fazendo o que precisa ser feito – murmurou ela, dando de ombros. – É primitivo, forte, sei lá, pelo menos, para mim – ela apontou para si mesma – Quando estou na cama com uma mulher...

Ela travou e desviou o olhar.

– Oliveira?

– O quê? – murmurou, brincando com a grama onde estava sentada.

– Você estava dizendo...? – encorajei, abaixando a cabeça, tentando capturar os olhos dela.

– Não importa. Não entendo, então, tanto faz.

🍃Ludmilla Oliveira🍃

Arranquei um punhado de grama. Não conseguia acreditar que minha boca tinha pregado aquela peça. Falar com minha Pêssegos sobre ter estado com outras mulheres era simplesmente esquisito. Não me sentia constrangida ou envergonhada, e sim desconfortável. O que, considerando a minha reputação, era absurdo.

Ela devia imaginar que o meu histórico sexual era tão limpo quanto minha ficha criminal. Mas mesmo assim não conseguia encontrar as palavras para contar a ela sobre minhas aventuras sexuais. Independentemente de ela querer saber ou não, não ia lhe contar, assim como com certeza não iria perguntar sobre as pessoas com quem ela havia estado. Meus punhos se fecharam só de pensar em minha Pêssegos com alguém.

– Sabe – disse ela, puxando os cabelos dos ombros e prendendo-os em um coque bagunçado – Eu mataria por um picolé.

A observei mexer no cabelo, concordou com a cabeça. Conversar sobre sexo não estava ajudando em nada minhas tentativas de ser cavalheira. Meu olhar deslizou por seu corpo. A curva do seu pescoço, na junção com os ombros, simplesmente pedia a minha boca ali. Não tinha dúvidas de que ela seria deliciosa.

– Vou querer um picolé também – coloquei a mão no bolso da calça – Aqui – peguei uma nota de dez dólares – Por minha conta.

Ela olhou para o dinheiro e ergueu uma sobrancelha.

– Por que você tem que pagar?

Sorri.

– Porque eu quero. Agora pegue o dinheiro. Eu devo a você pelo Oreo, de qualquer forma.

Com um sorrisinho, Pêssegos pegou a nota.

– Está bem. Que sabor você quer?

Baixei os óculos até à ponta do nariz, inclinando-me em sua direção.

Pêssego – sussurrei olhando diretamente em seus olhos.

(...)

🌻Brunna Gonçalves🌻

Depois de comprar os picolés me acomodei na grama ao lado de Ludmilla, que estava deitada, relaxando. Nós ficamos em silêncio enquanto apreciávamos o céu azul, a brisa quente e o picolé gelado.

– Isto é bom – murmurei após um instante. Oliveira não respondeu, só lambeu o que restava de suco no palito em sua mão. Suspirei – Eu costumava vir aqui com minha mãe e meu pai quando estávamos em Nova York. Brincávamos de esconde-esconde e ele sempre fingia não conseguir me encontrar, mesmo quando eu sabia que conseguia me ver – fechei os olhos – Ele gostava de sentar aqui – continuei – Gostava deste parque no outono. Havia muitas folhas ao nosso redor e nós simplesmente ficávamos sentados aqui.

– Meu pai e eu costumávamos brincar aqui também – contou ela. Meus olhos se abriram de supetão, claramente surpresos por ela estar revelando informações pessoais. Evitando meus olhos, Ludmilla deslizou o dedo lentamente pelas mechas de seu cabelo, o jogando para o lado – Brincávamos perto da lagoa antes de ir para a estátua – ela apontou com a cabeça na direção da estátua de bronze apinhada de criancinhas – E minha mãe vinha... – ela suspirou – Minha mãe vinha me buscar. Era um local para me passar de um para o outro. Terreno neutro para os dois.

Após uma era de silêncio, ela suspirou.

– Talvez a gente tenha se visto. É um mundo pequeno, no fim das contas – falei enquanto olhava para ela – Às vezes, sinto como se nos conhecêssemos há muito tempo. Estranho, né?

Ludmilla se sentou com rapidez, pegando um cigarro.

– É – conseguiu dizer – Bem estranho.

Sentei-me também e puxei a bolsa e os joelhos mais para perto.

– Então, tenho uma pergunta para você – disse, remexendo na bolsa. Ela soltou a fumaça, fitando o chão entre seus joelhos dobrados casualmente – Qual você quer? – ela franziu a testa quando me viu segurando dois livros em cada mão e tossiu uma risada.

– Não faço a menor ideia. Por quê?

A fitei com olhos sérios.

– Temos que estudar um texto e quero sua opinião. Escolha um.

– Não li nenhum deles – confessou – Conheço o básico deste aqui, mas fora isso, não faço a mínima.

– Bom, eu adoro esta história – falei, apontando para o livro à direita de Ludmilla, aquele sobre o qual ela sabia alguma coisa – Não leio há muito tempo, mas ficou gravada na minha memória.

Ela pegou o livro e leu a sinopse, o cigarro dependurado em seus lábios.

Adeus às armas, de Ernest Hemingway.

– É uma história realmente maravilhosa – complementei – Mas preciso avisá-la de que, apesar das descrições de guerra, é, essencialmente, uma história de amor trágica.

Ludmilla folheou o livro.

– É, eu sei – grunhiu – Tenho certeza de que vou sobreviver.

Oliveira pegou um caderno e uma caneta e fez algumas anotações.

– Quer levar para casa? Posso pedir que você leia uns dois capítulos para discutirmos na próxima aula? – bufei olhando para sua cara de tédio – Por que essa cara? Precisamos fazer isso, Oliveira. Não estou pedindo isso porque sou má.

– Eu sei – ela bateu com o livro no joelho – Só achei que não precisasse mais fazer lição de casa.

Sorri.

– Vamos falar sobre esses capítulos na próxima aula e ver se conseguimos ler mais um pouco juntas.

– Está bem – murmurou, fazendo um gesto com a mão – Tanto faz.

– Você diz muito isso – brinquei com um sorriso malicioso – Talvez precisemos trabalhar seu vocabulário também.

Ludmilla ficou olhando fixamente para mim.

– Está me sacaneando, é? – perguntou, estreitando os olhos, entrando na brincadeira.

Ri e ela cutucou as minhas costelas com o dedo. Gritei alto, surpreendendo tanto Ludmilla quanto a mim mesma.

– Pêssegos – sussurrou de modo diabólico – Você sente cócegas?

🍃Ludmilla Oliveira🍃

Desci os olhos pelo corpo de Brunna, calculando silenciosamente quantos lugares poderia tocar para fazê-la gritar mais um pouco. Agitada, ela ajustou a camiseta e pegou o material para devolvê-lo à bolsa.

– Nem um pouco.

– Ah – retruquei – Ótimo, porque eu odiaria fazer isso – a cutuquei de novo, fazendo-a guinchar – E ouvir você gritar que nem uma menina.

– Eu sou uma menina – censurou, colocando o material na bolsa.

Ri e entreguei o restante dos papéis a ela.

– Você entendeu o que eu quis dizer – a cutuquei de novo.

– Pare com isso! – pediu Pêssegos em um tom bem agudo, batendo na minha mão – Você é tão infantil!

– Me conte algo que eu não saiba – respondi.

Levantei e limpei a grama que estava grudada em minha bunda. Com o capacete na mão e a jaqueta pendurada no braço, comecei a caminhar lentamente até à beira do lago. Já tinha passado do meio da tarde e o parque era um alvoroço de pessoas correndo, andando e brincando. Olhei fixamente para Pêssegos, que me pegou olhando para ela. Brunna corou e sorriu. Enfiei a mão no bolso ao sentir a necessidade de abraça-la e algo estremeceu meu corpo mais uma vez.

Eu era uma idiota por pensar que conseguiria manter aquele relacionamento amigável e provocativo que tinha construído com ela. Tinha pensado em beijá-la e agora queria... O quê? Abraçá-la? Sim, eu queria abraçá-la e, fala sério, eu não abraçava as mulheres. Aquilo era íntimo demais, mas era evidente que Pêssegos se encaixaria perfeitamente sob o meu braço.

– Então – resmunguei – Isso não foi tão ruim, foi?

– Não – respondeu – Foi muito agradável, Sra. Oliveira. Você continua me surpreendendo com seu intelecto literário.

Desviei o olhar.

– Ter uma ótima professora ajuda, sabe?

– O-obrigada – gaguejou – Mas se você está puxando meu saco para ganhar mais biscoito, pode tirar o cavalinho da chuva – ela riu de modo desconfortável, apressando o passo para fugir daquele elogio.

O meu toque em seu cotovelo a fez parar. Ela olhou para cima, confusa, quando tirei os óculos. Ao ver seus olhos nos meus, simplesmente parei de respirar. Os olhos de Brunna tinham o tom castanho mais claro que já contemplei e pareciam olhar dentro de mim, acariciando partes do meu corpo que chegavam a doer.

– Oliveira? – sussurrou quando dei um passo em sua direção.

– Pêssegos – os meus olhos passearam por seu rosto delicado – Eu não disse aquilo para... É verdade. Eu acho que você é...

Meu coração batia ferozmente e meus olhos se fixaram em sua boca, senti um formigamento entre minhas pernas. Brunna molhou os lábios instintivamente com a ponta da língua. Nenhuma mulher jamais tinha olhado para mim do jeito que ela olhava.

– Oliveira – disse ela, colocando a mão em cima da minha – Você está bem?

Minhas costas se curvaram sobre seu corpo, conseguindo sentir seus mamilos enrijecerem. Minha boca se abria e fechava, como se quisesse dizer alguma coisa, mas sem saber como. E, então, abaixei a cabeça, murmurando um palavrão, ao olhar para Wynonna no caminho de pedras. As minhas costas se endireitaram novamente.

– Merda.

Agarrei o braço de Brunna e a puxei de volta na direção da qual tínhamos vindo.

– Oliveira! – protestou enquanto a arrastava para um canto e pressionava suas costas de encontro a uma árvore, largando o capacete e a jaqueta no chão. Inclinei-me na sua direção, os meus braços acima de sua cabeça, agarrando o tronco da árvore – Oliveira? Qual é o problema?

Seus olhos se moviam velozes, da direita para a esquerda, ao mesmo tempo que eu tentava esconder o corpo dela com o meu. Sacudi a cabeça.

– Lud, fale comigo – pediu, colocando a mão em meu ombro – Quem é?

– Uma conhecida – respondi em um tom baixo. Brunna pulou quando minhas mãos bateram no tronco da árvore, acima de sua cabeça – Droga.

Inflei as bochechas e me aproximei ainda mais da árvore, prendendo Brunna entre meus braços.

– Acalme-se – ela fez um carinho, mexendo levemente em minha mão de um lado para o outro.

– Quero vê-la no meu tempo, sabe? Sob as minhas condições – os meus olhos imploravam que ela compreendesse.

– Está tudo bem – confortou com a voz baixa, continuando o movimento com a mão – Você não precisa fazer nada que não queira.

Aos poucos, meu corpo começou a relaxar sob seus dedos carinhosos. Senti o cheiro dos seus cabelos e meu coração voltou a bater rápido, o desejo percorrendo o meu corpo.

– Seu cheiro é bom – sussurrei – Você sabe disso? – vi ela engolir em seco. Sua mão parou no meio dos meus seios – É verdade – falei arqueando os ombros, aproximando meu rosto do seu – Seu cheiro é bom demais.

– Obrigada – respondeu, pressionando as costas no tronco da árvore.

Meu corpo estava em chamas, mesmo com a brisa em torno de nós. Eu estava tão perto.

– No que você está pensando? – perguntei, minha mão deslizou pela árvore até parar acima dos seus ombros.

– Estou... Estou pensando que precisamos... precisamos... Preciso ir para casa – gaguejou ela e meu nariz tocou o lado esquerdo de sua cabeça.

– Você quer ir para casa, Pêssegos?

– Eu deveria – respondeu – Preciso.

Afastei o rosto com os olhos semicerrados.

– Posso dizer uma coisa? – ela concordou com a cabeça. Meu olhar escorregou pelo rosto dela, parando subitamente em sua boca – Quero muito, muito, muito beijar você agora.

– Oliv...

– Sei que não deveria, mas, minha nossa, eu quero – passei o polegar por sua boca – Quero descobrir qual o gosto do seu lábio superior – lambi meu próprio lábio – E depois comparar com o inferior – expirei – Estou desesperada para saber se sua língua tem sabor de pêssegos.

Os olhos de Brunna se fecharam ao ouvir minhas palavras.

– Nós... Eu... Por favor – murmurou – Não.

– Seria tão ruim assim? – perguntei, minha respiração atingindo o seu rosto – Deus, você é tão linda Brunna.

Meu peito rugia, minhas pupilas se dilatavam e meu coração batia ferozmente. Tinha consciência de que ambas estávamos a um passo de cruzar uma linha perigosa que custaria toda a sua carreira.

– Oliveira– sussurrou ela de novo, em uma tentativa final de me parar – Não podemos fazer isso.

– Eu sei – respondi segurando o seu rosto – Só uma provinha. Só uma. É tudo o que eu quero.

E, então, os meus lábios pressionaram os dela. Ah, Deus. Eu estava beijando minha professora. Minha Pêssegos. Era como se tivesse procurado por ela durante toda a vida. Agarrei em seu pescoço com cuidado e a beijei com toda a vontade acumulada em meu corpo. Seus lábios eram mais macios do que imaginei. Tinham o gosto de pêssegos e framboesa, por conta do picolé que ela comeu. Quando minha língua encontrou a sua, senti uma explosão de sentimentos dentro de mim. Sentimentos fortes e nunca antes sentidos. Explorei cada canto delicioso de sua boca e no final mordi seu lábio inferior.

– Por favor – murmurou contra os meus lábios.

– Pêssegos – gemi, pegando a mão dela.

A beijei com mais intensidade, mergulhando a língua ainda mais fundo em sua boca e pressionando o quadril com firmeza contra sua barriga. Brunna balançou a cabeça, fazendo seus lábios deslizarem nos meus.

– Por favor, eu não posso – disse, me empurrando com um pouco mais de força – Pare, Oliveira.

– O quê? – perguntei em meio ao entorpecimento.

– Pare.

Ela me empurrou com força, fazendo-me cambalear para trás. Fiquei olhando para Brunna, totalmente confusa, observando seus lábios vermelhos perfeitamente cheios antes dela cobri-los com a mão. Recompondo-me, percebi com um choque, que ela estava chorando. Meu coração se despedaçou.

– Pêssegos – murmurei, dando um passo na sua direção, mas parei quando Brunna ergueu a mão – Eu... O que foi que...? Droga, eu machuquei você?

Ela balançou a cabeça.

– Não. Você não me machucou.

– Então o que foi?

Arrisquei mais um passo e respirei com mais calma quando ela não me interrompeu. A necessidade de estar perto dela, agora que a tinha provado, era forte demais.

– Nós acabamos de... Não posso acreditar... – ela ergueu os olhos – Você tem noção do que poderia acontecer se as pessoas soubessem o que acabamos de fazer?

Sim, mas, naquele momento, não dava a mínima.

– Pêssegos – disse, oferecendo a mão para ela, que não a pegou – Está tudo bem.

A cabeça dela se ergueu de supetão.

– Bem?! – exclamou – Não tem nada de "bem" com relação a isso, Oliveira. Sou sua professora!

– Não grite comigo – censurei, ficando nervosa – Sei exatamente o que você é. Também sei que gostou disso tanto quanto eu.

– Mesmo assim – retrucou – Isso não pode acontecer de novo. Não vai acontecer de novo.

Uma dor ardente atravessou meu peito.

– Que seja, então! Como se eu desse a mínima para se iria ou não acontecer de novo – respondi furiosa. Os olhos dela encontraram os meus, que imediatamente reconheci a mágoa. Engoli meu próprio orgulho – Pêssegos, eu... Droga... Eu...

Hesitei, sentindo que, de alguma forma, "desculpe" não seria nem de perto o suficiente para consertar a situação.

– Vou para casa – murmurou.

Reparei em quanto Gonçalves parecia cansada e pequena. Estava quase desesperada de desejo de cuidar dela e de melhorar as coisas. Brunna começou a afastar-se de mim.

Dei um passo em sua direção.

– Pêsse...

– Não – implorou, fechando os olhos – Simplesmente... não – ela arqueou os ombros – Oliveira, desculpe se eu... Eu não quis provocar você. O beijo foi... Preciso ir para casa. Vejo você na terça.

Brunna manteve os olhos nos meus por um instante antes de se virar. Fiquei parada em silêncio e a observei ir embora, certa de que ela levava metade de mim junto.

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