Capítulo 12- Metáforas sexuais pervertidas
. "O amor é a força mais sutil do mundo".
🌻Brunna Gonçalves🌻
Puxei a bolsa para cima do ombro enquanto entrava na biblioteca e caminhava em direção à enorme mesa da recepção, sorrindo para a Sra. Latham, que trabalhava na biblioteca havia décadas. Ela estava lá no dia em que a Sala de Leitura Jorge Gonçalves foi inaugurada, depois que meu pai morreu.
- Boa tarde, Brunna- disse ela, empurrando os óculos para cima do seu pequeno nariz.
Todo o seu rosto, contornado por cabelos castanhos grisalhos, se enrugou quando ela sorriu.
- Boa tarde, Sra. Latham. Você parece bem.
- Obrigada. Você vai usar a sala de leitura? - ela deu uma folheada no livro de agendamentos em sua mesa.
- Vou - entreguei uma folha impressa para ela - Reservei esse dia e horário indefinidamente.
- Ah, aqui está, querida - ela me entregou o formulário de registros, que estava em branco e assinei meu nome.
- Quando minha aluna chegar, você pode pedir que ela venha diretamente até mim depois de assinar?
- Claro Sra. Gonçalves.
Vaguei pelo prédio irretocável, indo na direção da sala de leitura construída como parte dos desejos que Jorge deixou em seu testamento. Sempre amei ler, e meu pai quisera criar um lugar onde não apenas eu mas outras pessoas também pudessem perder-se nas páginas dos livros. O plano dele era fazer isso antes dos 50 anos, o que nunca aconteceu.
Larguei a bolsa em uma das largas mesas de madeira e me sentei. Peguei todo o material para que eu e Ludmilla pudessemos começar a trabalhar imediatamente. Não queria perder tempo. Já ficava nervosa demais na sua presença. A verdade era que já tinha finalmente aceitado que tinha uma queda por ela.
A lembrança de Ludmilla tão civil, ao deixar Arthur Kill voltou à minha memória. Seus cabelos bagunçados, seu corpo coberto por uma camiseta e jeans apertados...
Por que Ludmilla tinha que ser tão gostosa?
Sua boca, seus olhos castanhos, seu sorriso. Também não tinha conseguido desviar os olhos da sua tatuagem. Labaredas deliciosas de tinta preta decoravam a pele dela do cotovelo de um braço até ao pulso do outro, as linhas, ilustrações e palavras intrincadas que não conseguia entender direito eram deslumbrantes. E sexy, muito sexy.
Droga. Estava um caco. Tudo o que queria era agradecer pelo presente de aniversário incrivelmente atencioso que ela tinha me dado, mas acabei gaguejando feito uma idiota. Aquilo foi tão estúpido, e não apenas porque era a professora e ela minha aluna. Ludmilla era de um mundo diferente e isso nada tinha a ver com seu passado criminal, embora ela fosse definitivamente uma complicadora.
Ela era irritadiça e teimosa, hostil e preguiçosa. Era tudo aquilo de que deveria fugir gritando. Mas não conseguia negar que ela era também inteligente, sensível e engraçada. Deus, que bagunça. Por que ela não podia ser uma mulher normal? Como Wynonna.
Dei uma olhada no celular. Wynonna tinha mandado duas mensagens para desejar boa sorte com Ludmilla e contar que estava pensando em mim. Ela era gentil, mas aquela inquietação ainda perdurava. Será que Ludmilla era o motivo pelo qual me sentia tão desconfortável com Wynonna? Será que ela era a causa do peso em meu estômago, do desconforto, do sussurro de desconfiança e a razão pela qual meu coração disparava?
Droga. Tirei a franja do rosto. Aquilo já tinha ido longe demais. Sabia que precisava crescer e parar de agir como adolescente. Aquela era a primeira aula particular com Ludmilla fora de Arthur Kill e, por Deus, iria agir como a profissional que era. Decidida, cruzei as pernas e esperei. À medida que os minutos passavam, meu pé começou a bater no chão. Quinze minutos se passaram e ainda estava sozinha. E, agora, furiosa.
Dei uma olhada no celular para ver se havia alguma ligação perdida ou mensagem dela. Nada. Mordi a bochecha por dentro, morrendo de raiva. Devia saber que ela me decepcionaria. Ela era uma criminosa recém-libertada que precisava recuperar o tempo perdido. Por que razão iria se ocupar comigo, mesmo que aquilo fizesse parte do acordo de sua condicional? Tinha sido estúpida de pensar que Oliveira havia falado sério ao dizer que queria continuar com as aulas.
Mais 15 minutos se passaram e, com uma série de palavrões silenciosos, comecei a arrumar minhas coisas. Dane-se ela. Se Ludmilla não quer levar isto a sério, por que eu deveria me importar?
Uma mão em meu ombro me fez gritar.
- Calma! - pediu Ludmilla, erguendo os braços em rendição - Sou eu.
Coloquei a mão na testa, tentando respirar.
- Caramba. Você me assustou.
- Não diga - respondeu enquanto seus olhos dançavam para cima e para baixo do meu corpo, fazendo-me sentir um aperto no estômago.
Ela grunhiu alguma coisa e passou a mão pelo cabelo. Uma mão que, percebi, estar coberta de graxa. Na verdade, ela estava quase toda coberta de graxa. Estudei-a da cabeça aos pés. Seu cabelo mais brilhante que o normal e seus olhos estavam em um tom castanho claro. Seu rosto, como sempre, lindo de morrer, mas agora havia uma mancha de graxa em sua bochecha direita. Sua camiseta, preta com uma estampa dos Strokes, era justa e estava suja.
- Que diabos aconteceu com você? - perguntei tentando ignorar a luxúria que a simples visão dela segurando um capacete se instalou dentro de mim.
Ela deu um sorriso malicioso.
- Tive uma briga com um motor V8 e perdi. Por isso estou atrasada - a expressão presunçosa no seu rosto lembrou-me de que estava furiosa.
Levantei e joguei o cabelo por cima do ombro.
- Sim, você está atrasada - rosnei - Então a aula está cancelada.
Virei-me para continuar colocando o material na bolsa e Oliveira soltou uma risada incrédula.
- Você está de brincadeira?
- Não - censurei, mantendo-me de costas para ela - Você está atrasada e eu não estou aqui para esperar enquanto você fica se divertindo com seus brinquedos. Nem sequer pensou em mandar uma mensagem ou ligar para avisar!
Ludmilla pegou meu braço e me girou para que ficasse de frente para ela. Engoli em seco ao ver a raiva no seu rosto.
- Ei - rosnou ela, seu nariz a poucos centímetros do meu - Pare de dar piti e falar besteira por um minuto e se acalme!
O cheiro dela penetrou no meu nariz. Era intenso, feminino e muito gostoso, fazendo meus pulmões formigarem.
- Me. Solte. Agora! - ordenei entre dentes cerrados.
Ela olhou para a própria mão no meu braço e a soltou imediatamente.
- Desculpe - murmurou, apesar de seus olhos ainda estarem trovejantes - Olha, não vá embora, tá? Só me deixe explicar.
- Muito bem. Explique - cruzei os braços e os olhos de Oliveira se estreitaram.
- Conforme definido na minha condicional - começou ela com os lábios quase fechados - Meu emprego é na oficina mecânica do meu melhor amigo - ela apontou para a graxa que cobria suas roupas - Zack estava tendo dificuldades com o motor de um Corvette. Me ofereci para ajudar pouco antes de sair e deu tudo errado. Eu teria ligado ou mandado mensagem para você, mas estava ocupada me certificando de que peças de um motor de 90 quilos não caíssem na cabeça dos meus colegas de trabalho.
Analisei o que ela tinha dito. Ludmilla parecia forte, já tinha visto ela apenas de top e era maravilhoso olhar para sua barriga completamente chapada. Quando pegou em meu braço, não me machucou, é claro, mas a sensação das mãos dela em minha pele foi difícil de ignorar. Soltei os braços e dei de ombros.
- Está bem. Tanto faz.
- Me desculpe. O quê? - Oliveira se curvou, de modo que seus olhos ficaram no mesmo nível dos meus.
- Eu disse que tudo bem. Vamos começar de uma vez - resmunguei.
Apontei bruscamente para a cadeira do outro lado da mesa e Ludmilla se sentou, começando a remexer em sua mochila enquanto a observava de forma velada. Ela pegou um pacote grande de bolachas Oreo e o colocou na mesa. Fiquei boquiaberta. Eu não comia Oreos havia anos. Nunca mais tinha conseguido, visto que aquele era um hábito meu e de meu pai. Juntos, conseguiamos devorar um pacote inteiro em minutos.
- Não é permitido comer aqui - falei e ela deu uma olhada em torno da sala vazia.
- Você vai me dedurar?
- Só não faça bagunça - me sentei ao seu lado.
- Pode deixar, Pêssegos.
Ela pegou uma bolacha, abriu-a e lambeu o recheio. Fascinada, fiquei observando a língua dela lamber para cima, para baixo e em volta. Como é que comer uma bolacha podia ser tão sensual, meu Deus?
Pigarreei e empurrei o trabalho de Ludmilla em sua direção. Ela juntou novamente a bolacha sem recheio e a colocou com cuidado em um guardanapo.
- Que foi? Quer minha bolacha?
- Você... hum, só come o recheio?
- Sim - respondeu - Não gosto muito do resto. Sinta-se livre para comer o lado no qual eu não passei a língua toda.
As minhas bochechas queimaram.
- Não. Estou bem assim. Obrigada.
- Bem, a oferta está de pé. E não se preocupe - ela baixou o tom de voz - Também não vou contar a ninguém.
Contive um sorriso. Não muito.
- Me diga o que você sabe sobre este poema.
Ela deu uma olhada para baixo.
- Ora, ora. Esta é uma baita mudança. Bem diferente da "Elegia de Tichborne" - fiz um gesto para que ela continuasse - "A pulga", de Donne, pega uma ação em geral insignificante, matar uma pulga, e a transforma em uma metáfora sexualmente pervertida.
- Sexualmente pervertida? - questionei, com a garganta seca.
Seu olhar sombrio e seu sorriso malicioso e sexy não eram o que eu precisava para me manter focada e profissional.
Ludmilla abaixou o rosto.
- Não se faça de recatada comigo, Pêssegos. Você sabe tão bem quanto eu que o poema é sobre Donne fodendo a amante.
A maneira como a boca dela se curvou na palavra "fodendo" fez minha pulsação disparar.
- Pode falar mais a respeito?
- Quando Donne fala do sangue que a pulga sugou tanto dele quanto de sua amante, ele está falando de sexo, de seus corpos se unindo.
- Hum - falei, mantendo os olhos na mesa e longe dos seus olhos castanhos.
Ludmilla aproximou sua cadeira.
- Isso foi um "hum" de "Concordo com tudo o que você acabou de dizer, Ludmilla" ou um "hum" de "Você não faz a mínima ideia do que está falando"?
- Não, não, você tem toda a razão - respondi, arrependendo-me da escolha daquele poema.
Que diabos eu estava pensando? Sem dizer nada, Ludmilla colocou meu cabelo atrás da orelha e ergueu meu rosto na direção do seu. A sensação dos dedos calorosos dela em minha pele atravessou meu corpo como uma bala.
- Pêssegos - murmurou ela - Cadê você? Você está a quilômetros de distância.
- Só estava pensando... Sei que existe uma resenha sobre este poema aqui em algum lugar - me afastei - Vou procurar. Por que não faz umas anotações na sua cópia para a gente discutir quando eu voltar?
Corri em direção às prateleiras que continham todas as obras e as críticas de cada uma delas. Precisava me afastar de Ludmilla.
🍃Ludmilla Oliveira🍃
Observei Brunna sair e afundei na cadeira. Será que tinha ido longe demais com aquela coisa do cabelo e do queixo? Não queria que ela pensasse que estava tirando proveito da situação agora que não havia guardas nem câmeras, apesar de não ter pensado em outra coisa desde o minuto em que acordei. Droga, ela era tudo o que eu pensava recentemente.
Depois de comer mais três Oreos, ela ainda não tinha voltado. Olhei a hora no celular e suspirei impaciente.
- Foda-se - grunhi, levantando-me.
Enfiei as mãos nos bolsos e saí andando na direção em que ela havia desaparecido.
- Pêssegos? - sussurrei, procurando em cada corredor.
Já tinha checado quatro corredores quando finalmente a avistei de pé em uma escada grande, tentando pegar um livro na prateleira mais alta. Fui até lá, lenta e silenciosamente, meus olhos na altura das suas panturrilhas. Não consegui evitar lamber os lábios ao ver aquela pele macia e morena. Ela não tinha percebido que eu estava ali, encostada nas prateleiras, contornando a curva de suas pernas e sua bunda com os olhos.
Minha mão passou a agir por vontade própria e antes que tivesse ideia do que estava fazendo, estiquei o braço para tocar a parte de trás do joelho de Brunna.
- Oliveira!
Pulei com o seu grito, mas logo me endireitei quando Gonçalves perdeu o equilíbrio em cima da escada e escorregou, agarrando-se aos livros em uma tentativa de não cair. Segurei-a pela cintura, raspando nos contornos de seus seios maravilhosos, garantindo que ela não caísse no chão. Brunna caiu em cima de mim, o que resultou em um barulho retumbante quando as minhas costas atingiram a prateleira do lado oposto.
- Fala sério, Oliveira, esta é a segunda vez que você me assusta hoje - grunhiu, afastando-se de mim.
- É, nem fale - murmurei, esfregando a lombar - Acabei de salvar a sua vida.
- Foi você que me fez cair - apontou.
Pêssegos tinha dado um passo para trás. Que diabos foi aquilo? Fui para perto dela, apoiando a palma da mão nas lombadas dos livros ao lado do seu rosto. Podia sentir o cheiro do cabelo dela. Nossa! Tinha mesmo cheiro de pêssegos.
- Está tudo bem, Srta. Gonçalves? - ambas nos assustamos com a voz da Sra. Latham.
Pisquei, reparando em como nós estávamos perto uma da outra.
- Sim, estou bem - respondeu Pêssegos à velha, que estava de olho em mim.
Dei um sorriso torto.
- Ouvi um grito - ela ajeitou os óculos.
- Sim - interrompi - Fui eu. Vi uma aranha. Enorme. Morro de medo delas. Brunna me salvou.
Dei a ela o sorriso que era minha marca registrada para encerrar o assunto, mas a pequena bibliotecária não pareceu se impressionar.
- Bom, desde que você esteja bem, Srta. Gonçalves.
- Estou bem, obrigada, Sra. Latham - garantiu Pêssegos.
A velha deu uma última olhada de desaprovação em minha direção antes de desaparecer de volta à sua mesa. Pêssegos caiu na risada e ri também, observando o nariz dela enrugar e emitir um pequeno ronco.
- Aranhas - ela conseguiu dizer.
- O quê? - perguntei, me encostando na prateleira ao lado dela - Eu odeio.
- Você é uma figura, Sra. Oliveira .
Sorri.
- Você sabe - ficamos olhando uma para a outra por um breve instante, aparentemente perdidas em nossos próprios pensamentos, até que Pêssegos bateu o grande livro que tinha pegado da prateleira na minha barriga - Nossa!
- Aqui - disse ela com um sorriso - Vamos falar mais sobre suas metáforas sexuais pervertidas.
Gargalhei baixinho e fiquei observando a bela bunda dela se afastar.
- Achei que você nunca fosse pedir - murmurei seguindo-a rapidamente.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro