Capítulo 29 - lugar certo.
"Se você pudesse sentir minha pulsação agora, ela estaria batendo como uma marreta".
Pov Ludmilla
Os dias se passaram, se transformando em semanas, e eu e Brunna íamos se apegando mais e mais. Com cautela e cuidado, continuamos a nos encontrar na biblioteca três vezes por semana, fazendo o que devíamos fazer, enquanto à noite idolatrávamos o corpo uma da outra em uma tentativa de manter longe as coisas que ameaçavam nos destruir. Durante aquelas horas deliciosas e abençoadas em que nossos membros se emaranhavam e nossos nomes tornavam-se ofegos frenéticos de prazer, tudo se distanciava, deixando-nos imaginar como seria estar juntas sem preocupações nem recriminações.
Observei minha Pêssegos atentamente, ciente de que a tensão da situação tinha começado a macular a resolução dela. Por fora, Brunna parecia a mesma, linda e controlada. Mas percebi que, quando estávamos juntas, ela me abraçava com um pouco mais de força, tocava-me com mais frequência, com mais fervor, como se estivesse morrendo de medo de que o que havíamos construído fosse desmoronar à sua volta a qualquer segundo.
Não era ingênua. Sabia dos obstáculos e me preocupava tanto quanto ela. Wynonna era uma imbecil da pior espécie e com certeza estava planejando uma retaliação que seria certeira e rápida. Zayn ainda estava se rendendo à cocaína sem se importar com aqueles que se preocupavam com ele, e Mirian telefonava incessantemente, apesar de Pêssegos insistir em não querer falar com ela. Toda essa merda em torno da nossa bolha não era nada boa. Sabia que tinha que ser forte por nós duas. E faria qualquer coisa que ajudasse a ver aquele sorriso que tanto adorava no rosto de Brunna.
Esse foi o motivo de insistir para que ela desse uma olhada nas pastas de ofertas de emprego, frutos das boas intenções de Júlia, quando, duas semanas depois, elas ainda permaneciam intocadas na mesa de centro do apartamento. Foi também o motivo pelo qual havia concordado em acompanhá-la quando ela foi devolver o carro da avó em Chicago, a tempo das comemorações do Dia de Ação de Graças. Ter concordado com aquilo e fazer aqueles programas familiares horrorosos indicavam o quanto estava maluca. Mas, na verdade, pensar em Pêssegos longe de mim por qualquer período de tempo era torturante.
A mão pequenina de Brunna atravessou o console central do carro e repousou na minha perna, que sacudia para cima e para baixo. Sem poder pular do Jaguar de Mercedes e correr de volta para meu apartamento, me contentei em aniquilar a unha do polegar, que roía deselegante e enlouquecidamente.
- Querida, relaxe - Pêssegos olhou para mim e, depois, tornou a olhar para a estrada - Vai ficar tudo bem.
Bufei. Bem? Bem? Ela estava louca? A confiança que ela depositava tanto em mim quanto na situação era motivadora, mas o meu cérebro estava em ritmo acelerado desde que tínhamos deixado o apartamento. Meu Deus, apenas o pensamento de conhecer o membro da família preferido de Brunna era suficiente para revirar meu estômago. Meus nervos estavam prestes a explo...
- Eu amo você - os meus olhos se fecharam por um breve momento antes de se virarem para a criatura de tirar o fôlego ao meu lado. Minha mão caiu ruidosamente sobre o colo - E minha avó também vai amar - ela sorriu, os olhos brilhando - Eu sei.
Como é que ela fazia aquilo? Sabia exatamente o que dizer para acalmar-me e, apesar da necessidade de saltar do carro ainda pesar em meu estômago, suas palavras tornavam tudo mais tolerável.
Dei um beijo carinhoso em sua testa.
- Obrigada.
Apesar do meu agradecimento parecer um tanto grosseiro e inadequado perante a maneira como ela me fazia sentir, era tudo o que tinha a oferecer. Recostei-me no banco, segurando a sua mão com firmeza em minha coxa, os dedos entrelaçados, protegendo-me nela. Respirando fundo, fiquei olhando pela janela do carro, observando o mundo passar. Nós tínhamos um longo trajeto pela frente: nove horas, uma parada para passar a noite em um hotel e mais seis horas até Chicago.
Olhei para o relógio. Só faltavam mais oito horas e meia. Maravilha. Tempo mais que suficiente para me irritar. O celular tocou no bolso de minha calça. Dei uma olhada na tela: Zayn estava ligando.
- Fala, cara.
- Onde diabos você está?
As palavras de Zayn eram altas, agudas e mal articuladas. O idiota estava cheirando às nove da manhã. Aquela merda estava saindo de controle.
Suspirei.
- Estou a caminho de Chicago, Zayn. Onde você está? - o som distante da voz de uma mulher ressoou no fundo - Quem está aí com você?
- O que é que você está indo fazer lá, porra? - respondeu, ignorando a minha pergunta.
O tom de voz dele fez-me enervar.
- Dia de Ação de Graças - respondi com firmeza - Brunna me convidou. Eu contei, lembra? Você disse que ficaria numa boa na casa do Paul.
Zayn riu, apesar de ter soado sem alegria alguma.
- Ah é. Você e Brunna. O casalzinho feliz do caralho.
Lá vamos nós de novo. Houve um ruído na ligação, algo caindo no chão, e risadas agudas que só podiam ser fruto de agentes químicos.
- Zayn. Você está bem? O que está acontecendo?
- Não importa - disse ele em tom de censura - Você claramente tem coisas melhores para fazer, minha irmã. Sempre tem.
Enfureci-me.
- Não é verdade. Não seja babaca, Zayn!
Mas a linha ficou muda. Fiquei olhando para a tela do celular, incrédula e raivosa. Eu e Zayn tínhamos conversado pouco sobre meu relacionamento com Brunna, em especial porque a amargura e a raiva de Zayn por Lizzie embaçavam sua capacidade de enxergar como eu estava feliz. Quanto mais apaixonada ficava por Pêssegos, mais ressentido ele parecia ficar. A minha alegria aparentava ter pouca importância para Zayn, que estava envolvido demais em sua própria aflição. E a quantidade de cocaína que ele usava diariamente só agravava a situação.
Estava de mãos atadas. Toda vez que me oferecia para ajudar, fosse com dinheiro ou apoio moral, encontrava resistência. O orgulho de Zayn era quase tão difícil de penetrar quanto sua teimosia. Eu e Paul tínhamos discutido uma intervenção, a única saída para Malik agora era a reabilitação, mas ambos sabíamos que aquilo só podia acabar mal.
- Está tudo bem?
A expressão de Pêssegos era ansiosa.
- Não.
Enviei uma mensagem para Justin e Paul, pedindo a eles que fossem à oficina e se certificassem de que Zayn não tinha se afogado no próprio vômito ou algo do tipo. Irritada, comecei a remexer no rádio, brincando de trocar de estação por uns bons cinco minutos, grata pelo fato de Brunna não ter insistido em saber mais.
- Não se esqueça de que você precisa ligar para Giovanna quando atravessarmos a fronteira - disse ela.
- É, eu sei - concordei, recostando-me no banco de couro do Jaguar XJ e deixando que o som de "Angel", de Fifth Harmony, relaxasse meus ossos.
Cantarolei junto e toquei os acordes invisíveis da música na veia azul do pulso de Brunna. Levei a mão dela até meus lábios e dei um beijo na articulação de seu dedo.
- Me conte o que está preocupando você - murmurou. Respondi com uma erguida rabugenta dos ombros, como se aquilo fosse desencorajá-la a fazer perguntas. A verdade era que não havia como escapar de Pêssegos e de qualquer coisa que ela me indagasse. Iria continuar presa a um banco de couro creme, afivelado, viajando pelo país a 110 quilômetros por hora. Que ótimo - Me conte.
Massageei entre as sobrancelhas.
- Muitas coisas me preocupam. Não consigo pensar em apenas uma.
- Certo - ela tentou tranquilizar-me - Mas você deveria saber que na realidade não há motivo para...
A minha paciência se esgotou, as palavras explodindo apressadamente.
- Pelo amor de Deus, sou uma criminosa, Pêssegos. É claro que tenho motivo para me preocupar.
Não queria ter sido grossa, mas estava mais que irritada. Minha espinha doía e meu estômago estava cheio de nós, alternando entre o medo e o pânico. É, eu estava um caco.
Brunna permaneceu em silêncio. Arrependi-me de imediato.
- Olha, merda, me desculpe, Bru...
- Não, está tudo bem - interrompeu - Isso é complicado para você. Desculpe se não lidei com isso de forma adequada, desculpe mesmo - a sinceridade dela deixou o meu peito apertado - É só dizer que dou meia-volta, se for demais para você. Não quero que se sinta desconfortável assim.
O que tinha feito para merecer essa mulher?
- Não quero que dê meia-volta - respirei fundo, virando-me para vê-la melhor - Não que não aprecie o gesto, mas quero passar o fim de semana ao seu lado - passei a mão pelos cabelos - Só quero que sua avó veja que não sou só uma... - torci os dedos no peito, pensando em uma lista de adjetivos não muito lisonjeiros - Você sabe... E que eu gosto de você.
Brunna diminuiu a velocidade quando nos aproximávamos de um cruzamento.
- Ela vai ver. Minha avó é a melhor pessoa que conheço. Ela não julga - Pêssegos colocou a mão no meu pescoço, deslizando o polegar por meu maxilar - Podemos ser nós mesmas. Você e eu.
- Promete?
- Prometo.
(....)
Nós estávamos apenas a vinte minutos da casa de Mercedes quando meu estômago começou a dar cambalhotas. Minhas costas também estavam suadas, o que era ridículo, considerando que estava um frio desgraçado lá fora. Tinha até nevado um pouco.
- Você está bem?
Repousei a cabeça no banco, observando Brunna dirigir.
- Vou ficar - murmurei, pressionando a bochecha no encosto - Vou ficar observando você até chegarmos lá.
Ela sorriu com os olhos ainda na estrada.
- Como quando você toma vacina contra a gripe, né?
Franzi a testa.
- Como?
Pêssegos olhou no retrovisor, trocando de faixa.
- Quando eu era pequena, meu pai me levava para tomar vacinas e sempre dizia que, se eu não olhasse, ia doer menos. Não era tão assustador quando você não sabia o que estava por vir - ela sorriu novamente, seus olhos melancólicos - Eu me escondia no pescoço dele e rezava para que acabasse logo.
- Funcionava?
- Todas as vezes.
Os cantos da minha boca se ergueram. Ela havia falado muito sobre o pai desde que saímos de Nova York. Não podia negar que gostaria de ter conhecido Jorge Gonçalves, independentemente de como o homem iria reagiar quando namorasse sua filha.
- Você acha... - enrolei o polegar no mindinho de Brunna , esperançosa - Acha que ele teria gostado de mim?
Brunna parou o carro no semáforo, que estava vermelho, e se virou para mim.
- Acho que você e meu pai são mais parecidos do que eu mesma consigo perceber. Ele teria achado você incrível.
Céus, como queria que aquilo fosse verdadeiro o suficiente para apagar o medo sombrio que espreitava debaixo de minha pele.
- Você acredita mesmo nisso?
- Sim - respondeu, sem qualquer sombra de dúvida na voz - Me dá um beijo?
Mexi-me para que meus lábios encontrassem os dela. Mantendo os olhos abertos, observei os olhos de Brunna revirarem de desejo. Contornei lentamente o seu lábio inferior com a língua e suspirei quando ela se afastou e continuou dirigindo.
- Não me lembro de ter tomado minhas vacinas - confessei baixinho.
Brunna olhou na minha direção.
- Não?
Balancei a cabeça, tentando me recordar. Pêssegos arqueou os ombros, fazendo uma voz alegre e indiferente, mas sabia que ela estava com pena de mim. A empatia pinicou minha pele como uma picada de urtiga, fazendo meus molares rangerem.
- Talvez isso seja bom - sugeriu - Tomar vacina é horrível.
Parecia uma coisa tão ridícula de se lembrar. Expirei com força ao trazer de volta minhas lembranças. Dor. Lágrimas. Solidão. Ódio. Foda-se, pensei, quando a raiva começou a crescer. Não havia como mudar o passado. Precisava olhar para a frente, e ter Brunna ao meu lado era um passo gigantesco na direção certa. Apertei a perna dela, os dedos deslizando pela costura do jeans que contornava a parte interna de sua coxa.
- Oliveira? - ela engoliu em seco.
- Sim?
- Chegamos.
Virei a cabeça de imediato e vi uma casa de tijolos enorme no final de uma longa entrada de pedras, rodeada de jardins. Meu coração deu um salto ressonante por trás das costelas. Fiquei repentinamente desesperada por um cigarro. Passando a mão de maneira frenética pelo meu próprio corpo, encontrei o maço no bolso da calça e ficou aliviada. Graças a Deus.
De repente, um pensamento terrível passou por minha cabeça: e se a avó de Brunna odiasse fumantes?
- Oliveira? - a voz de Brunna parecia estar a quilômetros de distância e, quando me virei para olhar em sua direção, tive a sensação estranhíssima de estar debaixo d'água, incapaz de respirar. Ela desafivelou o cinto de segurança - Você está bem? Parece um pouco pálida.
Esfreguei o centro do peito, querendo que minhas vias aéreas se abrissem. Não ajudou. Uma onda de suor frio se espalhou por mim, descendo por minhas costas como garras geladas. Não conseguia respirar. Deus. Meus pulmões estavam se comprimindo. O que estava fazendo? Por que tinha concordado com aquela palhaçada? Não queria fazer isso. Não era de conhecer famílias. Era digna de risada, na verdade, pensar que a avó de Brunna me aceitaria. Ela jamais me aceitaria porque eu não era boa o suficiente. Jamais seria boa o suficiente. Sou uma idiota imbecil.
- Ei - disse Brunna, tirando as minhas mãos do meu rosto e colocando no seu colo.
- Bru, eu... Eu não... - ofeguei - Não consigo.
- Está tudo bem. Estou aqui e está tudo bem - Pêssegos colocou as mãos no meu pescoço e o massageou com os polegares - Me diga - murmurou, beijando as pontas dos meus dedos da mão direita - Me diga que você sabe o que significa para mim.
Os meus pulmões tremiam.
- Eu sei. Eu sei. Mas...
Brunna encostou a testa na minha, segurando-a, segurando-me.
- Não. Nada de "mas". É só nisso que você tem que pensar.
Respirando fundo três vezes, o meu coração desacelerou. Focando-me nos dedos de Brunna, que desenhavam círculos em minha pele, consegui me sentar um pouco mais ereta. Precisava me recompor. Não podia permitir que meu medo fosse a primeira coisa que a avó de Pêssegos iria ver. De jeito nenhum.
Inclinei-me para a frente, capturando os seus lábios.
- Desculpe.
- Não tem por que se desculpar. Você está bem agora?
Abaixei os olhos para o chão do carro.
- Só não me deixe sozinha, tá?
- Não vou deixar - respondeu com firmeza - Agora venha.
Antes que pudesse pará-la, Pêssegos saiu do carro tamborilando animadamente no capô.
- Isso vai dar merda.
Abri a porta do carro e saí. Fechei a porta e enfiei as mãos nos bolsos por conta do ar gelado e das memórias repentinas. Lembrei de todas as vezes que era deixada na porta da frente de minha mãe e via a expressão no seu rosto quando olhava para mim: arrependida e incomodada. Deus, eu era só uma criança, assustada pra caramba e sozinha.
Engoli em seco e lutei contra as lembranças. Elas logo foram esquecidas quando a porta da frente se abriu e um cachorro preto e branco enorme saiu correndo, abanando o rabo e balançando a língua.
- Leo! - gritou Brunna, abaixando-se. O cachorro ganiu e latiu de felicidade. Ela fez um carinho na barriga do vira-lata até ele começar a chutar suas patas traseiras como um lunático - Eu também senti sua falta - murmurou ela.
- Brunna!
Pov Brunna
Ergui os olhos e vi Mercedes, usando uma parca enorme, vindo a correr da porta, maravilhosa como sempre. Trevor, seu ajudante, a seguia com um sorriso caloroso nos lábios.
- Vovó - ofeguei, instantaneamente em paz.
Levantei meu corpo e deixei que minha avó me envolvesse em um dos seus abraços.
- Meu anjo. É maravilhoso ver você.
- Você também.
Dei um beijo em seu rosto antes de me afastar. Mercedes deu uma olhada na direção de Jauregui, que estava se mexendo sem sair do lugar. Peguei na sua mão e a puxei para junto de mim. Ludmilla segurava minha mão com tanta força que doía, mas aguentaria tudo para garantir que ela se sentisse protegida e confortável.
- Vó - falei, abaixando o rosto - Esta é Oliveira. Ela é a minha... Ludmilla.
A cabeça de Oliveira quase caiu dos ombros de tão rápido que ela olhou para mim. Seus olhos estavam arregalados de surpresa, mas o sorriso que ameaçava nos cantos de sua boca perfeita diziam que aquelas tinham sido as palavras certas.
- É um prazer conhecer você, Oliveira.
Minha avó esticou a mão para ela e deu um sorriso eufórico que enrugava seu rosto de mil maneiras diferentes.
Ludmilla limpou a garganta.
- É um prazer finalmente conhecê-la também - declarou Ludmilla ao apertar sua mão. Os braços ávidos de Mercedes circundaram a cintura de Oliveira para um abraço - Hum, oi - murmurou, enquanto olhava para mim por cima do chapéu de lã da velha senhora.
Sorri.
- Eu estava tão ansiosa para conhecer a mulher que roubou o coração da minha Brunna - sussurrou minha avó. Ela deu um passo para trás e passou um dedo sob os olhos lacrimejantes - Ai, céus - riu, notando as lágrimas em sua pele - Velha boba.
- Nem um pouco - disse Ludmilla com um meio sorriso.
Abuela colocou a mão no rosto de Oliveira de forma carinhosa.
- Querida, você é mesmo tão linda quanto Brunna descreveu - ri da expressão emudecida no belo rosto de Ludmilla e enganchei o braço na curva do cotovelo dela - Vamos entrar. Está frio demais aqui fora. Brunna, dê as chaves a Trevor. Ele vai pegar as malas.
Ludmilla me puxou, segurando a minha mão como se sua vida dependesse daquilo. Deslizei a mão para cima e para baixo em seu braço, acalmando-a. A angústia era quase visível em torno dela, cruel e implacável. Mordi o interior da boca. O ódio que nutria pela família de Ludmilla fez meus dentes estalarem. Eles a tinham ameaçado com tanta sordidez. Nunca a amaram, se preocuparam ou cuidaram dela à medida que crescia, e agora ela se achava inferior, sem a menor noção da mulher incrível que se tornou.
Aquilo era dolorosamente trágico.
- A viagem foi boa? Tudo certo com o carro? - perguntou Mercedes.
Ela fechou a porta e tirou o chapéu.
- Sim - aproximei-me de Ludmilla, sabendo da sua necessidade por contato físico - Oliveira não reclamou de mim como motorista nenhuma vez - sorri quando vi Ludmilla revirar os olhos, seu dedo enrolando uma mecha do meu cabelo - Talvez você a tenha transformado em uma fã de Jaguares.
Os olhos de abuela se iluminaram.
- Você gosta de carros?
Ludmilla coçou o pescoço.
- É, eu, hum, eu manjo um pouco.
- Oliveira gosta de motos também - interferi, ignorando a olhada severa que Ludmilla deu na minha direção.
Minha avó arfou.
- Uma Steve McQueen da vida real! Oh, acalme-se, meu pobre coração.
Ri no ombro de Ludmilla e adorei quando a ouvi soltar uma gargalhada.
- Eu não acho que é para tanto - murmurou Oliveira- Mas eu gosto, sim.
- Bom, vou lhe mostrar a Triumph que tenho na garagem depois - Mercedes piscou para ela - Vocês precisam de uma bebida quente, crianças.
Ludmilla ficou olhando a velha mulher se afastar a caminho da cozinha.
- Ela tem uma Triumph?
Seus olhos castanhos brilhavam. Gargalhei de sua reação.
- E um Aston antigo. Venha. Ela faz um chocolate quente dos deuses.
Sentadas ao redor da enorme mesa de madeira de minha avó, permiti que o calor da casa, o amor e a aceitação me penetrassem, preenchendo as lacunas de insegurança que tinham se aberto nos últimos meses. Oliveira, cuja mão livre estava sempre tocando em mim, ficou sentada ouvindo enquanto, antes, durante e depois do jantar de enchiladas e cheesecake de Oreo, vovó contava a ela história após história sobre mim e minhas aventuras de criança. Histórias detalhando eu caindo de cavalos, subindo em árvores e atirando bolas de beisebol em janelas mantiveram Ludmilla entretida.
Vê-la tão relaxada, ouvi-la rir e observá-la notar, lentamente, que não havia nada a temer era tudo o que poderia ter sonhado. Tudo o que queria do nosso fim de semana com Mercedes era que ela percebesse que se encaixava em minha vida. Queria que ela visse que havia pessoas que não se importavam com seu passado e com os erros que tinha cometido. Era essencial que Oliveira entendesse que nem todo mundo os usaria contra ela. Eles não a definiam.
Ouvi abuela perguntar a Oliveira sobre seus hobbies, sorrindo quando Ludmilla ficou todo tímida e modesta com relação à sua paixão por todas as coisas velozes e de metal. Ela falou sobre Kala e seu desejo de comprar outra moto, o que levou minha avó a contar histórias sobre mim e meu pai pilotando para cima e para baixo pela praia por horas, simplesmente para ter o som do motor em nossos ouvidos e o vento em nossos rostos.
- Ela não mudou - pontuou Oliveira, sorrindo para mim, fazendo minhas bochechas corarem.
Minha avó foi incrível, rindo e brincando, e sem fazer perguntas que poderiam deixar Ludmilla desconfortável. Aos poucos, os ombros de Oliveira relaxaram e seu sorriso começou a aparecer com mais facilidade. Ela passou até mesmo a apertar minha mão com menos força. Apesar disso, Ludmilla ainda tinha que resolver uma questão em particular que sabia que aquilo a estava deixando louca. Sorri, perspicaz, quando a vi se contorcer pela milésima vez.
- Você sabe que pode ir fumar um cigarro, né?
Oliveira deu uma olhada de desculpas para Mercedes.
- Estou bem.
- Trevor costuma fumar na varanda dos fundos, querida - disse abuela, ignorando-a, enquanto colocava uma tigela de Doritos e outra de molho sour cream sobre a mesa - Por favor, sinta-se à vontade. Você está de férias.
Ludmilla analisou os meus olhos, buscando permissão.
- Está tudo bem - garanti, achando aquela timidez cativante pra caramba.
- Ok - cedeu ela - Preciso ligar para Zayn também. Eu vou... Não vou demorar.
Ludmilla levantou e caminhou até à porta dos fundos. Leo, cujas unhas arranhavam avidamente o piso de madeira, se levantou do lado de Mercedes e a seguiu. Oliveira olhou para o cachorro ao seu lado, erguendo uma sobrancelha questionadora. Leo se sentou e balançou o rabo com animação.
- Ele vai segui-la - explicou minha avó - Ele gosta de você.
- Certo - murmurou, ainda olhando com alguma desconfiança para o cachorro antes de abrir a porta e ambos saírem na noite fria de Chicago.
Fiquei olhando para a porta depois que ela fechou.
- Ela é maravilhosa - abuela bebericou seu vinho tinto - Ela adora você, querida.
- Eu também a adoro - confessei. Contornei o pé de minha taça - Oliveira estava tão nervosa, avó. Queria tanto causar uma boa impressão. Eu só queria que ela soubesse que não precisava se preocupar. Ela não consegue se ver com clareza.
- Ela verá com o tempo, Brunna. Se ouvir isso o suficiente, ela verá - vovó sorriu para si mesma - Oliveira me lembra tanto... - ela sacudiu a cabeça.
Repousei o queixo na mão.
- Quem?
- Seu pai - respondeu - Ela é exatamente como Jorge quando sua mãe o trouxe aqui pela primeira vez, todo agitado e coçando-se por um cigarro.
- Meu pai fumava?
Tossi na taça de vinho.
- Ele parou quando sua mãe engravidou de você.
Olhei para a mesa, sorrindo.
- Eu nunca soube disso.
- Há muitas coisas que posso lhe contar sobre seu pai.
- Por favor - encorajei.
- Seu avô nunca aprovou a escolha de sua mãe - Mercedes sorriu, saudosa - Ninguém era bom o suficiente para Mirian.
Expirei de maneira sarcástica.
- É, deve ser de família.
Isso fez minha avó rir.
- Sim, sua mãe é muito parecida com o pai - pensei por um momento, todas as formas que minha mãe usou para fazer-me sentir uma completa desgraçada por ter escolhido Ludmilla, por ter optado por Arthur Kill - Ela é protetora porque ama você, meu anjo - murmurou abuela, como se lesse os meus pensamentos - Ela morre de medo de perdê-la.
- Ela já perdeu.
- Você não está falando sério, Brunna - repreendeu, fazendo-me sentir instantaneamente arrependida. Girei o vinho na taça - Então você tem uma entrevista para um novo trabalho - disse, mudando de assunto sem rodeios.
- Em um centro de detenção juvenil no Brookly - confirmei - É para começar no ano que vem.
Aquele emprego tinha sido um dos primeiros que encontrei na pasta que Júlia me entregou e, embora odiasse admitir, parecia perfeito. Nós havíamos aceitado sua inscrição de imediato. Apesar de estar um pouco triste por deixar Arthur Kill, estava animada.
- E é isso que você quer? - perguntou.
- Eu quero Oliveira.
Os olhos de Mercedes brilharam com o romance daquilo tudo.
- Desde que você esteja feliz. Isso é tudo com que me importo. Sua mãe vai se conformar.
Havia tanta convicção na sua voz que quase acreditei. Apesar das palavras dolorosas que ouvira da minha mãe e da animosidade que ainda persistia entre nós, daria tudo para tê-la sentada à mesa, tomando uma taça de vinho, sendo compreensiva e feliz. Semanas haviam se passado e nós duas ainda estávamos em guerra. Para mim, a raiva tinha dado lugar à tristeza e à aceitação. As coisas entre nós jamais seriam as mesmas.
Mergulhei um Dorito no sour cream com a mão cansada, precisando de uma distração.
- Então, me conte mais sobre porque o vovô não gostava do meu pai.
Ela riu.
- Jorge tinha uns esqueletos escondidos no armário também, assim como a sua Oliveira- ela me fitou atentamente - Antes de conhecer sua mãe, ele tinha feito coisas das quais não se orgulhava. E seu avô sempre pegou no pé dele por causa disso. Tenho algumas coisas lá em cima nas quais você pode dar uma olhada. Acho que seria mais fácil explicar desse jeito.
- Não é nada ruim, é?
- Não. Não é nada ruim - vovó hesitou - Ao contrário de sua mãe, que acha ser desnecessário, acredito que esteja na hora de você saber mais sobre o que eles passaram para ficarem juntos - ela colocou a mão sobre a minha - Garanto que não é nada assustador e vai fazer sentido quando você vir o que tenho aqui - deu uma olhada na direção da porta dos fundos - Só saiba que Oliveira e seu pai são muito parecidos em vários sentidos.
Antes que pudesse perguntar mais, a porta dos fundos se abriu e Ludmilla entrou correndo, cheia de bolotas de neve cobrindo seu cabelo escuro, seguida por Leo, que parecia estar congelando.
- Meu Deus, está frio pra caralho lá fora - grunhiu. Ela esfregou a mão nos cabelos, respingando água no chão - Não consigo sentir meus malditos dedos! - ela parou de repente, percebendo o que tinha dito e na presença de quem - Merda - piscou - Quero dizer, droga, desculpe.
Mercedes bufou alto e colocou as mãos na boca para abafar os risos.
- Está tudo bem - conseguiu dizer por entre os dedos - Já ouvi coisas bem piores. Fui casada com o avô de Brunna por quase quarenta anos.
Os meus ombros sacudiam de tanto segurar o riso. Oliveira suspirou e voltou para o sofá, onde tomou um gole enorme de sua cerveja.
- Não se preocupe - vovó conteve uma risada, fazendo um carinho no joelho dela - Simplesmente seja você mesma. Você é perfeita do jeito que é.
(...)
Pov Ludmilla
- Tem certeza de que não tem problema?
Observei Brunna arrastar as pequenas malas de fim de semana para o quarto que iríamos dividir sob o teto de sua avó, com Mercedes do outro lado do corredor.
- Sabe - cantarolou - Para uma criminosa condenada, você tem ideias pudicas com relação ao nosso relacionamento.
Revirei os olhos. Ela entrou saltitando na suíte, tirando o moletom. Pudicas? Claro, era por isso que já estava meia bomba só de ver as costas nuas dela.
- Não estou sendo pudica - defendi-me - Eu... É a casa da sua abuela.
Sentei na beirada da enorme cama, tirando os coturnos e as meias. Estava esfregando o rosto, tentando afastar o cansaço, quando Brunna emergiu do banheiro, se apoiando no caixilho da porta com uma expressão peculiar no rosto.
- Você a chamou de abuela? - sussurrou, passando o dedo pela barra da camiseta da Lana del rey. A minha camiseta.
A bainha tocava em suas coxas suculentas, ao passo que a gola V se estendia por entre seus seios.
- Sim - respondi, comendo-a com os olhos.
Ela andou na minha direção. Afastou meus joelhos com os dela e colocou as mãos em meus ombros, enquanto eu colocava as minhas nos seus quadris.
Ela se abaixou e raspou o nariz na lateral do meu pescoço.
- Adoro ouvir você falar espanhol - fiz um ruído apreciativo quando nossos lábios se encontraram, carinhosos e quentes - Está se sentindo melhor?
Ela colocou um joelho na cama, entre as minhas coxas. Sorri junto ao seu pescoço.
- Estou, sim - me afastei um pouco, concentrando-me na maneira como os cabelos de Brunna se curvavam nas pontas - Me sinto ótima - indiquei a porta com o queixo - Ela é incrível - sacudi a cabeça - Ela é simplesmente tão... Bem, a mulher me fez um cheesecake de Oreo! Isso é legal demais! - beijei o maxilar de Pêssegos.
Deslizei as mãos pela cintura de Brunna e fiz cócegas na parte de trás de suas coxas.
- Pela primeira vez em muito tempo - murmurei - Eu não me sinto como se estivesse perdendo algo - colei os lábios nos seus - Sinto como se eu estivesse no lugar certo.
- Você está - disse ela - Seu lugar é ao meu lado.
As suas palavras deixaram o meu corpo mole. Abracei-a ainda mais e a beijei. Mas dei um pulo para trás, como se tivesse sido pega fazendo alguma coisa imperdoável, quando ouvi uma batidinha na porta. Brunna deu um beijo na ponta do meu nariz, desmontou de cima de mim e foi até lá para abri-la.
- Desculpe incomodar, querida - disse Mercedes do outro lado da porta - Mas eu queria entregar isto a você antes de dormir. São os detalhes sobre seu pai.
Inclinei o pescoço para ver além de Pêssegos, mas só consegui enxergar um envelope pardo grande e amassado em sua mão.
- Obrigada, vovó.
- Boa noite, meu anjo - cantarolou ela - Boa noite, Oliveira - acrescentou com um sorriso permeando suas palavras.
- Boa noite - respondi.
Ela me fazia lembrar tanto de minha própria avó que era, às vezes, um pouco assustador. Até mesmo o cheiro dela me deixava nostálgica, todo doce e floral. Tirei o suéter e a calça jeans, ficando apenas de sutiã e cueca boxer. Brunna fechou a porta e bateu no envelope com as articulações dos dedos.
- O que aconteceu?
Ergui as cobertas da cama e deslizei para debaixo delas.
- Nada - ela ergueu o envelope - São só umas coisas sobre meu pai. Mercedes queria que eu desse uma olhada.
- Que coisas?
- Não sei.
Brunna segurava o envelope com as duas mãos. Inclinei-me para a frente e abaixei a voz.
- Você, hum, quer que eu olhe junto com você? - uma expressão de amor intenso e gratidão iluminou o seu rosto. Empurrei o edredom para o lado, passando a mão pelo colchão - Venha aqui.
Pêssegos saltitou até à cama e se sentou ao meu lado. Coloquei o braço sobre seus ombros e beijei seus cabelos enquanto ela abria o envelope. Fiz um carinho em seu braço, observando-a pegar diversos recortes de jornal e colocá-los cuidadosamente sobre o colo. Ela os espalhou, parando em alguns que detalhavam a morte do pai, seu funeral e os diversos eventos em sua memória.
Puxei Brunna para junto de mim quando vi uma foto dela tirada na noite do assassinato. Ela estava de olhos arregalados, claramente apavorada, enrolada em um cobertor da polícia que engolia seu corpo pequeno.
- Você era tão pequena - sussurrei, passando o dedo pela foto em preto e branco - Mas tão forte.
Nós passamos alguns minutos olhando os recortes antes de Brunna arfar e soltar um palavrão.
- O que foi? - perguntei com um sorriso.
Sua boca suja era totalmente sexy. Gostava de incitá-la a isso.
- Olhe só.
Ela me entregou o jornal, ignorando meus olhares lascivos. A foto do artigo era da mãe e do pai de Pêssegos, vestidos para impressionar e parecendo como todos os outros casais de políticos que já tinha visto. Contudo, a manchete capturou a minha atenção:
"Senador Jorge cumpriu pena por contravenções".
Puta merda. Olhei para Brunna antes de pegar o recorte e começar a lê-lo. As contravenções iam de pichação, embriaguez, conduta desordeira e posse de narcóticos a, o mais impressionante, roubo de carros. As penas que ele cumprira tinham sido tranquilas, por conta da idade do senador no momento em que os crimes foram cometidos. E ficava claro, pelo tom do artigo, que o passado do senador só tinha vindo à tona por conta de uma tentativa de manchar seu nome. Mas, mesmo assim, não sabia se ficava satisfeita ou perplexa. De qualquer forma, estava muito intrigada.
- Não consigo acreditar que minha mãe não me contou porra nenhuma - enfureceu-se Brunna - Depois de tudo - ela se jogou nos travesseiros. Sua voz ficou mais aguda - Depois de tudo o que ela falou sobre meu trabalho, sobre você.
Peguei todos os recortes e os coloquei com cuidado na mesa de cabeceira.
- Como Mirian pode ser tão hipócrita? - perguntou entre os dentes - Como pode dizer coisas tão horríveis sobre as minhas escolhas tendo feito exatamente as mesmas que fiz?
- Não são exatamente as mesmas - contrapus. Pêssegos arqueou uma sobrancelha - Olha, não estou defendendo o fato de ela não ter contado a você. Isso não é nada justo, mas seu pai roubou uns carros e pichou umas paredes - dei de ombros - Comparado a mim, ele está limpo.
Os olhos dela ficaram sombrios.
- Não é essa a questão, Oliveira. Ela omitiu essa informação e fez-me sentir um lixo por querer ficar com você e por desejar trabalhar em algo que me ajudasse a superar meus medos e me tornasse mais forte. Ela não fez nada além de diminuir a mim, a você e as decisões que eu tomei, enquanto, ao mesmo tempo, sabia que meu pai tinha um histórico criminoso - segurei seu rosto, numa tentativa de acalmá-la - Não se trata de uma competição baseada em quem fez a coisa pior ou cumpriu pena por mais tempo - continuou ela, enojada - Aos olhos desses idiotas preconceituosos que andam por aí com o nariz empinado, julgando as pessoas, você e meu pai são iguais - ela sacudiu a cabeça - Minha mãe sabia disso. Por isso não disse nada.
Brunna se aproximou de mim, aconchegando o corpo no meu. Passei com delicadeza o indicador pela ponta do seu nariz, seguindo o contorno do lábio superior que sabia que tinha gosto de framboesa.
- Você está brava com seu pai?
- Não - sussurrou, contornando o meu sutiã com o dedo - Como poderia ficar? Ele tomou algumas decisões ruins quando era jovem. E daí? Ainda é uma das melhores pessoas que já conheci - ela hesitou - Como você.
Não conseguia tirar os olhos dela. Suas palavras me desmontavam. Não havia como negar. Céus, ela estava tão linda, com seu fervor e seu calor esquentando o quarto ao nosso redor. De repente, meu peito se agitou e algo pareceu apertar minhas entranhas. Mexi-me, tentando amenizar a pressão que crescia em meu corpo, subindo por meu estômago, por minha garganta. Tudo dentro de mim ficou imediatamente grande demais, como se alguma força desconhecida estivesse fazendo meus órgãos incharem e se espremerem uns contra os outros. Aquilo me deixou sem ar e me deu um frio na espinha. Minha pele se arrepiou e meus dedos dos pés se curvaram em uma súplica ao que quer que aquela porra fosse.
- O que foi? - perguntou Brunna, percebendo a minha angústia.
Esfreguei os olhos com as mãos.
- Só uma indigestão, eu acho.
Ela deu um beijinho carinhoso na minha barriga.
- Melhor?
Agarrei os seus braços, puxando-a mais para perto, para cima do meu corpo.
- Não. Você está longe demais.
Beijei-a, precisando dela em cima de mim, em baixo, cobrindo-me, engolindo-me. A beijei de forma intensa, inspirando a onda de vida que emanava de seus lábios, capturando o calor e a cor que ela havia trazido à minha vida miseravelmente cinza. Ela retribuiu o beijo, a preocupação evidente no seu toque. Pêssegos se afastou, seu olhar bailando, analítico, pelo meu rosto.
Engoli em seco.
- Estou bem.
Tentei manter a voz calma, tentei mostrar, em meu rosto, que tudo estava às mil maravilhas e o caralho, mas, por dentro, um maldito festival estava acontecendo e, por tudo o que era mais sagrado, não fazia ideia de como pará-lo, nem se queria pará-lo.
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