Capítulo 33 - Mãe e filha
"O melhor lugar do mundo é sempre ao lado de quem te faz feliz".
🌼▫️PENÉLOPE BLOSSOM ▫️🌼
Assim que Antoinette deixou a sala de estar, me perdi em pensamentos enquanto observava a neve cair, fresca, limpa e linda. Fiquei lembrando do rosto do homem que tinha sido tudo para mim. Eu amava Harrison de todo o coração, com exceção daquele pedaço que sempre pertenceria a Clifford Blossom.
Sequei as lágrimas e dei uma olhada por cima do ombro quando ouvi o som distante de risadas e uma porta sendo fechada. Precisava dar o braço a torcer em relação a Topaz. Ela se manteve firme, sem pestanejar. Expôs suas ideias de forma articulada, demonstrando amor incondicional e lealdade à minha filha.
Sabia também que Cheryl estava totalmente apaixonada por Antoinette Topaz. Era um amor que muitos nunca chegariam a encontrar na vida, um amor que ninguém jamais poderia extinguir. Era grande, poderoso, do tipo que consumia tudo. Podia vê-lo nos olhos de Cheryl quando ela olhava para Toni ou quando a defendia das minhas palavras. Era o mesmo olhar que eu lançava inúmeras vezes ao meu pai logo que apresentei Clifford à minha família.
Tudo o que queria era que Cheryl fosse amada de um jeito apaixonado, de tirar o fôlego. Queria que minha filha fosse consumida pelo amor, sem medo de se sentir fragilizada por ele ou preenchida por sua força. Queria que Cheryl fosse às nuvens e desse cambalhotas e se perdesse em uma mulher que a amasse tanto quanto ela a amava. Queria tudo aquilo para minha filha, e Cheryl o tinha. Mas Antoinette não poderia ser mais diferente da mulher que tinha imaginado.
Depois de ouvir a confissão de Topaz, a minha ansiedade com relação ao relacionamento delas tinha diminuído de maneira considerável. A mulher tinha salvado meu bebê, pelo amor de Deus. Quando tinha apenas 11 anos. Eu era grata a ela além do que as palavras podiam expressar, mas a mamãe ursa dentro de mim se recusou a recuar.
Entrei na cozinha e encontrei minha mãe e meu parceiro sentados à mesa. Duas garrafas de vinho estavam abertas, bem como uma garrafa de Jameson. A expressão de Nana Rose agora era mais amena.
– Ei – falei baixinho – Cadê...?
– Cheryl está lá fora com Topaz. – Nana Rose suspirou – Venha. Sente-se.
Aproximei-me de Harrison com o estômago pesado. Era amor. Era culpa. Era vergonha. Era lamento. Me sentei devagar e fiquei olhando para o perfil dele. A barba escura por fazer marcava seu maxilar e os olhos castanho-escuros estavam perturbados enquanto fitavam o copo de uísque em suas mãos. Nós tínhamos tanto que dizer um ao outro, mas Cheryl era minha prioridade. Eu precisava consertar as coisas.
Dei uma olhada hesitante para a porta dos fundos.
– Diga a ela como você se sente – disse Harrison, os olhos ainda fixos na mesa.
– Não sei como – confessei.
– Sabe, sim.
– Estamos tão distanciadas.
– Vocês vão se aproximar de novo. Seja honesta – ele tirou o seu casaco de moletom e me entregou – Está frio lá fora.
Peguei o moletom com um sorriso de gratidão.
– Sinto muito, Harrison. E eu amo você. Muito.
– Eu sei – respondeu, olhando para mim pela primeira vez. Aproximei-me e dei um beijo carinhoso no canto da boca do meu marido. Ele se virou na direção do beijo com um suspiro – Vá – pediu com delicadeza.
As unhas de Leo sapatearam com alegria no chão enquanto ele me seguia até à porta. Coloquei o moletom de Harrison, adorando o cheiro e a maneira como ele engolia meu corpo pequeno e abri a porta devagar. Meus olhos logo encontraram dois corpos aconchegados, sentados no degrau da varanda.
Topaz estava com o braço em torno de minha filha, enquanto seus lábios murmuravam palavras suaves, inaudíveis ao meu ouvido. O ar tinha cheiro de fumaça e de frio. A porta fez um ruído, fazendo Antoinette se virar. Abaixei a cabeça em aceitação antes de Topaz repetir o gesto. Cheryl olhou por cima do ombro, sua expressão indecifrável.
Toni deu um beijo no rosto de Cheryl e sorriu.
– Vou dar um momento a vocês duas – Topaz antes de se levantar e passar por mim, seguindo em direção à porta.
– Obrigada, Topaz. – agradeci. A porta se fechou atrás de Antoinette e engoli em seco antes de dar um passo hesitante para me aproximar de Cheryl. – Posso me sentar?
– Se você quiser.
Reunindo toda a minha coragem, me sentei ao seu lado. Por alguns minutos, ficamos em silêncio. Como poderia verbalizar o amor que tinha por minha filha? Nenhuma mãe jamais conseguiria. Era enorme, imensurável e impossível de rotular.
– Cheryl – comecei em voz baixa, morrendo de medo de dizer a coisa errada – Fico feliz por vocês duas estarem aqui – ela permaneceu em silêncio. Não conseguia ver a expressão no perfil de Cheryl, a não ser um leve tremor de seu lábio. Clifford fazia a mesma coisa quando ficava nervoso. Pensar que levava a minha própria filha a se sentir daquele jeito partia meu coração – Queria me desculpar com você – ofeguei e fechei os olhos – Eu amo muito você, querida, e quero que as coisas voltem a ser como antes entre nós. Odeio brigar com você.
– As coisas nunca mais serão como eram, mãe. Muita coisa aconteceu.
Lutei contra o nó que sentia no fundo da garganta.
– Eu... Entendo se você não quiser tentar.
Olhos castanhos fumegantes encontraram os meus.
– Não é que eu não queira tentar, mãe. É que me dói o fato de você não suportar ficar no mesmo recinto que a mulher que amo. Antoinette e eu somos um "pacote" agora. Se você não consegue lidar com isso, então não há esperança de as coisas entre nós um dia voltarem a ser como antes.
Fechei as mãos, unindo-as, querendo que minhas apreensões e minha falta de confiança descessem para o estômago.
– Eu entendo.
– Não – retrucou – Não entende – ela cerrou os olhos e respirou fundo – Só porque ela contou a você sobre ter me salvado não significa que você entenda o que Topaz e eu somos uma para a outra.
– Então me explique – pedi.
Eu queria entender. Precisava.
– Eu a amo mais do que poderia explicar – respondeu sem hesitar – Ela me entende, me mantém segura e me ama também.
– Sei que ama.
Um amor daqueles era inegável.
– Ela é honesta, sensível e uma das pessoas mais corajosos que já conheci. E quero ficar com ela pelo resto da vida – embora meu coração quase tenha saltado do peito, as palavras de Cheryl não me surpreendiam. É claro que ela queria ficar com Topaz para sempre. Antoinette era sua outra metade, assim como Clifford tinha sido a minha. Como podia negar à minha filha a única coisa que desejei para ela desde o dia em que ela nasceu? – Como isso faz você se sentir, mãe? Como se sente ao pensar que um dia a mulher que está lá dentro, que você trata com tanto ódio, vai ser minha mulher, a outra mãe dos seus netos?
Enfiei as mãos debaixo dos braços e fiquei olhando para os jardins, imaginando meus netos correndo em torno das árvores e das flores. Vi Cheryl em um vestido branco simples, com flores silvestres no cabelo, andando com Harrison por um caminho de magnólias brancas na direção de Antoinette, que sem dúvida estaria devastadoramente bonita de terno cinza feminino e camisa branca. Parecia tão simples, tão natural. E, naquele momento, sabia que era inevitável.
– Apavorada.
A confissão escapou de meus lábios em um sussurro.
– Por quê? – quis saber minha filha – Por que o pensamento de me ver feliz a assusta tanto assim?
Fitei Cheryl linda, forte e determinada.
– Me assusta porque você não é mais a minha menininha – me aproximei dela e tirei seu cabelo do ombro, de modo que ele se espalhou maravilhosamente por suas costas – Eu tomei algumas decisões muito ruins na minha vida, sobretudo quando tive que lidar com suas escolhas na carreira e na sua vida amorosa, e por isso lamento de verdade. Mas, por favor, acredite que, quando tiver seus filhos, vai entender tudo com clareza. Eu iria até ao inferno e lutaria com o próprio satanás se qualquer pessoa ameaçasse machucar você. Uma mãe protege os filhos não importam as consequências, tenham eles 5 ou 25 anos – segurei o seu rosto entre as mãos – Depois que seu pai morreu, a consciência de que você era minha única conexão com ele me deixava apavorada. Eu queria mantê-la ainda mais protegida, longe de tudo e de todos que pudessem tirá-la de mim.
Os meus olhos se encheram de lágrimas quando Cheryl acomodou o rosto em minha mão.
– Não é uma desculpa pelo meu comportamento. Eu nunca quis machucá-la nem reprimi-la. Você é tão mais forte que eu, e não lhe dou crédito suficiente por isso. Me desculpe. Sei que vai levar tempo até que confie em mim de novo. Só espero que consiga. Eu quero que você esteja em segurança e feliz, Cheryl. Isso é tudo o que seu pai e eu sempre quisemos.
– Eu sei, mãe – falou – E estou. Estou feliz com Antoinette.
Beijei com suavidade a sua testa.
– Sim, querida. Eu sei – deixando todas as minhas esperanças nas mãos de Cheryl, me levantei – Vou mandar Topaz aqui para fora de novo para você não ficar sozinha.
– Mãe?
Virei lentamente em sua direção, minha mão já na porta.
– Sim, meu amor?
– Me desculpe... E eu também te amo.
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