Capítulo 23 - Só uma provinha
"O tempo tem uma forma maravilhosa de nos mostrar o que realmente importa."
🐍▫️Antoinette▫️🐍
Congelei, meu queixo repousando na pele lisa e macia dela. Meus lábios se contraíram para dar uma resposta, mas não fazia ideia do que dizer. Com um suspiro suave, ergui o corpo e segurei seu rosto com ambas as mãos, apoiando o peso de meus braços nos dois lados de sua cabeça.
- Cher - sussurrei, com o nariz a centímetros do seu e esperei que ela olhasse para mim - Você está aqui - contornei sua bochecha rosada com o polegar e observei a cor se intensificar com meu toque - Isso é tudo o que importa.
Havia conflito nos olhos dela: medo, afeição, mágoa. Senti um certo desconforto. Sabia que ela não tinha se arrependido do que haviamos feito. A maneira como Cheryl me abraçou e como sussurrou palavras deliciosas em meu ouvido asseguravam-me disso. Mas estava irremediavelmente ciente dos perigos que a cercavam por causa das nossas ações. O fato de gostar de Pêssegos não iria fazer diferença em como as pessoas, em especial a mãe dela, me enxergariam. Eu era uma ex-presidiária e, assim, alguém nada confiável. Nenhuma palavra bonita ou frase sofisticada poderia mudar aquilo. Penélope jamais me veria de outra forma. Seu medo e sua mesquinhez a cegariam para o que eu realmente sentia por sua filha.
Meu coração ficou apertado. Rezava para que aquilo que havíamos experimentado juntas fosse suficiente para manter Cheryl ao meu lado pelo máximo de tempo possível. Queria mais com ela, dela, e estava disposta a assumir os riscos para conseguir isso. Pêssegos valia toda aquela merda que seria atirada contra mim e estaria lá para protegê-la da melhor maneira que pudesse.
Cheryl saiu do banheiro e voltou para a cama, deixando que eu envolvesse meu braço em seus ombros, puxando-a para junto de mim. Ela abraçou minha cintura com carinho e minha mão massageou suas costas em círculos reconfortantes enquanto os dedos dela dançavam em torno dos meus seios descobertos. Por mais nova que fosse aquela sensação de ficar abraçadinha com uma mulher na cama, a familiaridade de fazer aquilo com Pêssegos era tão calorosa quanto as cobertas em torno de nós.
Delicadamente pressionei os lábios contra sua cabeça.
- Onde você foi hoje à noite?
Não queria chateá-la, mas estava ansiosa por descobrir o que a tinha levado até à porta do meu apartamento depois de ter gritado comigo com tanta raiva. O que tinha engatilhado a percepção de que a tinha salvado em vez de tê-la impedido de ajudar o pai?
- Fiquei caminhando por um bom tempo - seus dedos apertaram minha cintura - Não sabia o que fazer. Eu estava... Simplesmente doía. Tudo doía - abracei seu pequeno corpo com força - Então cheguei em casa e acho que peguei um táxi - os lábios dela tocaram minha pele - Liguei para minha mãe.
Parei rapidamente o movimento de minha mão em suas costas.
- O quê?
Ela bufou.
- Eu sei. Eu devo ser burra demais por ter ligado para ela, né?
- Pêsse... - assim que ouviu minha voz, Cheryl interrompeu-me com firmeza.
- Ela começou a dizer quão decepcionada estava com o que tinha acontecido na casa da minha avó. Disse que sou ingrata com as pessoas ao meu redor, com quem se preocupa comigo. Que ela só quer o melhor para mim e que sou muito egoísta e estou muito envolvida com você para perceber.
Engoli em seco.
- Ela sabe sobre mim?
- Ela sabe que eu gosto de você - seu indicador deslizou por meu lábio inferior - Sabe que nós nos beijámos.
Um calafrio desceu por minha espinha à medida que a última semana começou a fazer sentido.
- Foi por isso que você fugiu da sua família e dos seus amigos. Foi por isso que você voltou de Chicago - sorri de maneira irônica - Eles sabem.
Cheryl balançou a cabeça.
- Eles acham que sabem o que está acontecendo, mas não sabem. Não fazem a menor ideia - a raiva era clara em sua voz - Topaz, você precisa entender, minha própria mãe pensa que minhas escolhas estão erradas e que ainda sou uma criança que não conhece nada. Ela não sabe quanto amo meu trabalho, quanto amo o que faço todos os dias, quanto amo... - os olhos dela queimavam de fúria - Você é a única pessoa que me trata como se eu fosse eu mesma, que me faz sentir que o que faço é correto e significativo. Não há balelas, não há segredos com você.
Meus lábios se contraíram com o esboço de um sorriso.
- E comecei a enxergar como deve ter sido difícil revelar para mim quem você era - sua mão escorregou por meu maxilar - Topaz, sei que só não me contou porque teve medo. Você é a única pessoa deste planeta que sabe o que passei. E quer saber de algo realmente irônico? Minha família, meus amigos, a polícia, o idiota do meu terapeuta, todo mundo disse que você não era real, que era uma invenção da minha cabeça, um resultado de estresse pós-traumático - ela acariciou meu rosto - Mas você é a coisa mais real na minha vida.
Não conseguia responder. Estava sem palavras e louca por seu toque.
"Cheryl" foi tudo o que consegui murmurar antes de colar a boca na dela. Três palavrinhas eram sussurradas de maneira incansável pela minha mente, borbulhando furiosamente, deixando-me sem ar. Engolindo essas palavras e o medo que sempre as acompanhava, deitei Pêssegos de barriga para cima e acomodei-me ao seu lado, colocando uma das suas pernas em cima do meu quadril. Apesar dela ter gemido, o movimento não tinha uma intenção sexual. Queria Cheryl de novo, mas queria ainda mais garantir para ela que tudo aquilo era real e que sempre estaria ali ao seu lado, onde eu realmente pertencia.
- Fique comigo esta noite. - joguei o cabelo dela para trás, precisando ver seu rosto inteiro - Por favor, Cher, só... só esta noite - busquei por uma resposta nas profundezas dos seus olhos - Mas não fique porque está chateada. Fique comigo porque você quer.
As palavras saíram de minha boca suplicantes. Tudo o que precisava era que ela dissesse "sim".
O sorriso que surgiu no seu rosto poderia ter iluminado toda a Broadway.
- Não vou a lugar nenhum.
(....)
O lobby da WCS Communications Cooper era exatamente como me lembrava: pretensioso, repugnante e fedendo a dinheiro. Até a mobília parecia desconfortável, como se aquela porcaria tivesse sido roubada de uma câmara de tortura. Ri da ironia daquele pensamento em particular. O fato de estar naquele prédio já era uma tortura por si só. Porra, eu estava quase subindo pelas paredes.
Respirando fundo, caminhei na direção da mulher de cabelos negros na recepção, odiando o barulho alto provocado por meus coturnos no piso de madeira brilhante e esperei pacientemente que ela encerrasse a sua ligação.
- Tenho uma reunião às duas com Wynonna - resmunguei quando ela finalmente desligou o telefone.
- Sra. Wynonna Cooper.
Pisquei.
- Como?
- Sra. Wynonna Cooper. - repetiu - Você tem uma reunião às duas com a Sra. Wynonna Cooper. Não Wynonna.
Ela sorriu arrogantemente.
- Tanto faz - censurei - Só faça o seu trabalho e diga para a babaca que Topaz está aqui, sim? - o som do queixo dela caindo ecoou por todo o amplo recinto - Obrigada, docinho.
Segui na direção do odioso sofá creme situado a três metros da recepção e me joguei nele. Tentei ficar confortável, mas as almofadas finíssimas eram tão gostosas quanto enfiar vidro na bunda. Todo aquele lugar parecia construído para deixar seus ocupantes irrequietos e funcionava. Não era de admirar que a recepcionista estivesse tão irritada.
- Antoinette.
Os pelos do meu pescoço arrepiaram-se e o canto de meu lábio se ergueu em um rosnado animalesco ao som da voz de Wynonna. A desgraçada sabia que eu odiava o meu primeiro nome, mas ainda insistia em usá-lo sempre que estavamos na companhia uma da outra.
- Estamos prontos para você - falou, sua cara de paisagem já instalada.
Segui-a até seu escritório e tentei não vomitar com a arte intrincada nas paredes, a mesa ostentosa e a vista ridiculamente incrível do restante do distrito financeiro de Nova York. Para além de nós, havia três outras pessoas na sala: Elisabeth , que acenou de maneira cordial com a cabeça em minha direção quando entrei, e dois homens que nunca tinha visto antes.
- Sente-se - disse Wynonna, apontando para uma poltrona de couro situada perto da mesa gigantesca.
Sentei-me de maneira deselegante, repousando o tornozelo no joelho e expirei com impaciência, tamborilando os dedos nas coxas.
- Então - falei, dando uma olhada em torno da sala - Quem são vocês?
Apontei para os dois homens de terno em pé, junto da janela.
- Este é Steve Fields, advogado da WCS, e David Fall - respondeu Wynonna - Ele é diretor de finanças e contabilidade.
- E aí, Dave? - sorri ao não receber nenhuma resposta - Sou Topaz. - apontei para mim mesma antes de sussurrar alto - Sua chefe.
Wynonna tossiu.
- Bom, na verdade, Antoin...
- Pode parar com essa ladainha de "Antoinette", Wynonna - lati, perdendo a paciência - Só me diga por que diabos estou aqui para que eu possa ir embora o mais rápido possível. Mal estou conseguindo tolerar toda a pretensão e bajulação por aqui.
A raiva enfureceu os seus olhos.
- Está bem - respondeu ela - Você está aqui para que possamos discutir a diluição imediata das suas ações da WCS Communications Cooper.
- Ah é? - perguntei, inclinando a cabeça para trás. Wynonna ergueu as sobrancelhas em resposta e deu a volta na mesa para sentar-se em seu trono de couro e madeira - E como você acha que isso vai ocorrer, Wynonna? - continuei - As ações estão em meu nome. Foram dadas a mim por minha avó. O contrato que foi redigido é legalmente irretocável em um nível que mesmo esse seu grupinho de advogados não vai conseguir alterar - gesticulei de maneira indiferente na direção dos advogados - Você não pode diluir as ações por causa das cláusulas que as regem. Vovô tentou por anos. Não vai rolar.
Wynonna olhou para Steve e David. Os dois homens se sentaram à minha direita. Elisabeth permaneceu em pé à minha esquerda. Eu estava sendo encurralada. Eles estavam usando táticas descaradas de intimidação.
- É por isso que você está aqui - Wynonna deu um sorriso sem mostrar os dentes - Para que possamos discutir as cláusulas em detalhes.
Sorri torto.
- Você quer discutir quanto vai custar para que esses idiotas se livrem de mim, certo? Não dá para ter uma ex-presidiária como dona de uma empresa bilionária, né? O que os jornais iriam dizer? - meneei a cabeça e virei-me para olhar pela janela - Deve ser um pé no saco de vocês o fato de eu possuir a maior parte das ações da empresa que deveria ser sua, hein?
- Não tanto quanto deve ser um pé no seu saco o fato de que controlamos o seu dinheiro todos os meses - a minha cabeça se voltou de imediato para Wynonna, cujo rosto estava contraído e severo - Eu levaria isso em consideração antes de começar com essa sua balela hipócrita, Topaz. Eu mantive você fora da prisão uma vez, mas posso com certeza garantir que você volte para lá.
Fiquei imóvel.
- Está me ameaçando, Wynonna?
- Não - respondeu - Apenas lembrando você de que não é a única com cartas para jogar.
Fiquei em silêncio por um tempo considerável antes de continuar em um tom baixo e firme.
- O dinheiro que eu recebo, tenho total direito a ele. É meu. Na verdade, eu deveria receber mais...
- Você receberia, se não tivesse um histórico criminal.
Escondi a pontada de raiva que coçou minha garganta. Na verdade, não dava a mínima para a grana. Nunca tinha dado. Só me importava com o fato de ser a herdeira legitima das ações sobre as quais Wynonna estava falando.
Elisabeth, colocando um documento que parecia bastante formal na minha frente, interrompeu o jogo de "quem pisca primeiro" entre mim e Wynonna.
- Você não trouxe nenhum apoio legal - falou Elisabeth. - Seria melhor se...
- Eu sei ler, Elisabeth. Só explique o que o documento diz e vamos direto ao ponto - lati, fazendo-a se encolher - Meu advogado pode analisar esta porcaria com calma.
Cooper ficou mexendo nos punhos da camisa e expirou.
- Ao diluir suas ações atuais, o dinheiro que você recebe mensalmente seria triplicado. Por toda a vida - informou ela - Em vez de pagar por uma aquisição das ações, estamos oferecendo a você novas ações da empresa. Ações equivalentes a cerca de cinco milhões...
Bufei, desdenhosa.
- Cinco milhões? Estão de palhaçada comigo? - olhei incrédula de Elisabeth para Wynonna e de volta para Elisabeth. Ambas permaneceram em silêncio - Todos nós sabemos que as ações que eu possuo hoje passam de quinhentos milhões - zombei - Eu esperava me sentir impressionada com sua oferta, não insultada - empurrei os papéis sobre a mesa e me larguei de volta na poltrona - Tentem de novo.
Wynonna ficou visivelmente enfurecida e inspirou tão fundo que fez seus ombros se erguerem.
- Para alguém que afirma não dar a mínima para o negócio, você com certeza parece ser bem protecionista e bem informada sobre ele.
- Wynonna - me enfureci - Há uma diferença grande pra caralho entre não dar a mínima e não gostar de ser enganada por uma idiota que pensa ser um presente de Deus só porque usa vestidos caros. Fui para a prisão, não para a porra de uma escola de retardados. Sua oferta é uma merda. Você sabe. Eu sei. Então, como eu disse, tente de novo.
O silêncio foi ensurdecedor.
- Está bem - resmungou - Vou reunir minha equipe financeira e os advogados para reavaliar e entramos em contato com você de novo.
- Mal posso esperar. Agora posso me retirar? - perguntei com as mãos nos braços da poltrona. Wynonna não respondeu, mas abaixou o queixo por um instante, seu olhar penetrante e raivoso - Porra, ainda bem - grunhi - Tenho uma aula de literatura para assistir.
Quando me levantei, percebi que tanto Elisabeth quanto Wynonna reagiram instantaneamente às minhas palavras. Elisabeth, que ainda estava em pé ao meu lado, se mexeu com certo nervosismo, enquanto Wynonna esfregava uma mão na outra.
- Ah, sim - falou Wynonna quando eu começava a atravessar o escritório - Como está Cheryl.
Congelei com a mão na porta e apertei o aço gelado com os dedos. Era, para qualquer um mais desinformado, uma pergunta simples e educada. Para mim, ela fedia a uma possessividade que ninguém, além de mim, tinha nenhum direito de sentir.
Como é que ela conhecia Cheryl? A minha cabeça doía. Virei-me de maneira lenta, tentando manter uma expressão neutra. Mesmo assim, quando meus olhos encontraram os dela, soube que estava pisando em ovos. A desgraçada sabia. O que, exatamente, não era claro, mas sabia de alguma coisa. Meus olhos se voltaram para Elisabeth, que agora parecia fascinada por seus próprios sapatos.
Respirei fundo.
- Cheryl. - respondi, com a garganta apertada - Está muito bem.
Como uma cobra pronta para dar o bote, Wynonna sorriu.
- Ah, que bom - disse ela com entusiasmo demais - Eu esperava que ela estivesse bem.
- Esperava, é? - perguntei, fervendo de raiva.
Meu olho direito se contraiu e minhas narinas se inflaram.
- Certamente - respondeu, levantando-se. Ela deu a volta na mesa - Ah, você não sabia? Elisabeth é praticamente noiva de Verônica, e ambas conhecem Cheryl há anos. Somos amigas, Cheryl e eu. Eu sabia que ela ia visitar a família em Washington e Chicago, então não a vejo desde sua festa de aniversário.
Engoli em seco e mordi a língua com tanta força que pude sentir o gosto de sangue.
- Festa de aniversário?
- Sim, sim - respondeu - Saímos para jantar. Depois, eu a levei para casa. Nos divertimos muito - falou a babaca, com um sorrisinho - Ela adorou meu presente. É uma menina ótima. Linda, também, mas acho que... você sabe disso.
Eu tremia com uma violência feroz. Cheryl e Wynonna tinham jantado juntas? Ela havia saído com aquela puta. Estivera no carro dela. Sozinha? Será que Cheryl a tinha convidado para subir? Isso significava que elas...? A ânsia subiu por minha garganta ao mesmo tempo que uma dor agonizante se espalhava por meu corpo.
Ela continuou.
- Estou planejando convidá-la para sair de novo, sabe? Um encontro para aliviar a cabeça dela do trabalho e de questões menos importantes - Wynonna apontou para mim e sorriu - Como os alunos.
Em meio à névoa vermelha da fúria, podia ver que aquela filha da puta estava me instigando, provocando, como uma criança com um pedaço de pau entre as barras da jaula de um leão, esperando pela explosão inevitável, querendo que eu perdesse a cabeça e caísse direitinho nas mãos gananciosas dela.
Era fato que a corda da sanidade na qual estava me segurando começava a se dissolver de forma rápida, enquanto a força com que me agarrava a ela era, na melhor das hipóteses, tênue. Tudo o que mais queria era pegar Wynonna pelo pescoço, arrancar os dedos dela com as minhas próprias mãos e arremessá-la da janela do escritório. Mas, e daí, como iria ficar depois disso? Como Cheryl ficaria? Eu seria mandada de volta para a prisão antes mesmo que pudesse dizer Vá se foder, Wynonna.
Com um esforço digno de Hércules e a imagem de minha Pêssegos na noite anterior, retorcendo-se e implorando que a fodesse em minha cama, consegui acalmar a tensão de meu corpo.
- Está bem, Wynonna - disse entre os dentes - Vou dizer à Cheryl que você perguntou por ela - ela ficou perplexa e eu voltei-me novamente para a porta - Mas eu esperaria sentada por essa ligação - acrescentei, dando uma olhada em sua direção por cima do ombro.
- Ah, é? - desdenhou, não mais escondendo o ciúme agressivo em sua voz - E por quê?
- Bem, como você mencionou, ela está ocupada com seus alunos. E comigo... - olhei para minha própria braguilha antes de olhar para Wynonna com um sorriso presunçoso no rosto - As mãos dela estão sempre ocupadas.
Sem esperar por uma resposta, escancarei a porta do escritório, fazendo as dobradiças gemerem em protesto. A batida inevitável atrás de mim foi tudo o que ouvi enquanto atravessava o lobby como um furacão, passando pela vaca de cabelos negros na recepção, enquanto acendia um cigarro e mostrava o dedo do meio para a placa de "Proibido fumar" na saída da WCS.
🍒▫️Cheryl▫️🍒
Quando o relógio marcou 16h05, estava sozinha na sala de leitura da biblioteca, brincando com meu iPhone recém-comprado. Havia tido algumas horas livres entre as aulas em Arthur Kill e a de Antoinette e consegui passar em casa para fazer upload de todas as coisas de que precisava nele. Eu não podia viver sem minhas músicas. Nem um dia. Tinha ficado muito hesitante em colocar o cartão SIM resgatado de meu antigo telefone e, assim que o novo celular começou a bipar incessantemente com chamadas perdidas, mensagens de voz, e-mails e mensagens, logo percebi o porquê. Dei uma olhada em tudo. Os nomes de Verônica, de minha mãe, de Elisabeth e de Antoinette, todos figuravam ali.
Depois de ouvir cinco mensagens de voz de minha mãe, deletei as outras seis, não querendo nem precisando ouvir o ódio dela mais uma vez. O único nome no qual parei foi o de Topaz. Ela tinha enviado uma série de mensagens nos dias em que estava voltando de Chicago para Nova York, e cada uma delas parecia mais desesperada que a outra. As mensagens de Elisabeth, por outro lado, eram curtas e sucintas: Me ligue. Precisamos conversar. Me desculpe.
Não me permiti ficar zangada. Elisabeth não valia a pena e, além disso, qualquer coisa que ela tivesse para dizer a essa altura não adiantava porra nenhuma. As mensagens de Wynonna, como sempre, eram encantadoras e preocupadas: Oi, Cheryl, espero que você esteja bem. Me ligue. Cheryl, Elisabeth ligou, ela e Verônica estão preocupados com você. Eu também estou. Independentemente do que elas me contaram, estou aqui se você precisar de uma amiga. Bjo Estou pensando em você. Wynonna.
- Puta merda - murmurei, deletando cada uma delas antes de jogar o celular na bolsa.
Voltei minha mente para Antoinette, mais precisamente para a noite de ontem. Eu podia sentir chamas toda vez que ela me tocava, beijava, fodia. As minhas entranhas se contraíram com a lembrança daquele corpo negro e suave entre minhas coxas, fazendo minha respiração ficar pesada e meus gemidos altos em seu ouvido. Céus, ela era gloriosa. Apagava todas as amantes que já tinha tido, deixando-me febril de desejo e faminta por mais.
As dores de prazer que ela deixara em meus músculos que sequer sabia que existiam eram deliciosas. Minha pele corou com a lembrança dos beijos sôfregos e da sensação dos anéis dela, que tinham beliscado minhas coxas enquanto Antoinette investia em mim com tudo, deixando marcas vermelhas intensas. Puta merda.
Olhei para a porta vazia da sala de leitura. Onde diabos ela estava? Sabia que Topaz tinha "coisas" para fazer e, até onde sabia, ainda estava sem celular, o que explicava o silêncio. Mesmo assim, fui atingida abruptamente por um pensamento preocupante. Será que ela iria começar a faltar às aulas agora que tínhamos ficado íntimas?
A minha perna começou a se contrair à medida que minha raiva aumentava. Ela teria a maior surpresa se esse fosse o caso. Irritada e agitada, me levantei e comecei a caminhar pela sala de leitura, indo em direção à minha seção favorita: poesia.
Com a ponta do indicador tocando nas lombadas dos livros, serpenteei pelo corredor entre duas estantes enormes de mogno. O cheiro de couro, tinta e madeira era complexo e reconfortante, e lembrava-me da biblioteca de meu pai na casa que nós tínhamos em Westchester. Clifford costumava ler Rossetti e Blake para mim desde que era bem novinha, e sempre que estava chateada ou magoada.
Parei quando cheguei nos poetas românticos, especificamente Woodsworth, precisando das descrições dele do interior da Inglaterra e de seus narcisos ao vento para acalmar meus pensamentos.
Já mais calma e bastante nostálgica após ler três dos poemas dele, coloquei o livro de Woodsworth de volta na prateleira e peguei um livrinho de capa preta com fonte dourada, recheado de sonetos, poemas e declarações de amor. Segurando o livro com uma das mãos, folheei as páginas amareladas com a outra quando, de repente, cada pêlo de minha nuca se arrepiou. Alguém estava atrás de mim.
Antes que pudesse pensar em quem era ou no que a pessoa estava fazendo, uma mão segurou meu ombro e me girou, pressionando minhas costas contra as prateleiras da estante. O livro que estava segurando caiu no chão, fazendo um barulho alto. Tonta por ter sido girada tão rápido, levei um momento para conseguir encontrar meu equilíbrio e me concentrar no rosto à minha frente e, quando o fiz, quis imediatamente não tê-lo feito.
A ponta do nariz de Topaz estava a centímetros do meu, enquanto sua respiração em ondas fortes e quentes batia no meu rosto. Seu peito estava pressionado firmemente contra o meu, mas não foi isso que fez minha garganta se fechar, em pânico. Foi a expressão no rosto dela. Seus olhos estavam tão sombrios que o castanho era quase indistinto e os cantos de sua boca perfeita estavam curvados em um rosnado odioso. Ela estava furiosa.
Abri a boca para falar, mas sua mão a cobriu de imediato, segurando minhas palavras na palma que cheirava a cigarro e menta.
- Não - falou. Ela fechou os olhos e sacudiu a cabeça. Suas narinas se inflaram e Antoinette segurou-me com mais força - Simplesmente não fale.
Os meus olhos se arregalaram, mas assenti com a cabeça, fazendo com que o metal dos seus anéis roçassem em minha pele. Observei-a, fascinada por seu maxilar, que se apertava e se contraía, coberto de gotículas de suor espalhadas ao longo da linha do cabelo. Eu conhecia muito bem o gosto daquele suor.
Ela soltou o ar por entre lábios cerrados antes de finalmente começar a falar.
- Acabo de chegar de uma reunião muito... interessante - cada palavra em sua voz era baixa e ela olhava para os próprios pés. Com a mão direita ainda cobrindo a minha boca e a esquerda apertando meu quadril, Topaz ergueu a cabeça e deixou seu olhar se fixar no meu. Os olhos dela estavam repletos de todas as emoções concebíveis. A vontade esmagadora de abraçá-la e sumir com a dor que permeava suas palavras atingiu meu estômago - Sabe com quem foi a reunião?
Franzi a testa, balançando a cabeça. O sorriso dela era lúgubre. Antoinette se aproximou de mim, parando apenas quando seus lábios estavam ao lado da minha bochecha.
- Wynonna - sussurrou e afastou-se para que pudesse ver meu rosto - Wynonna Cooper.
Um calafrio percorreu meu corpo quando a fúria nos seus olhos se acenderam com aquelas palavras. Sabia que meu próprio rosto tinha ficado pálido de náusea. O que será que Wynonna tinha dito? A resposta de Topaz foi imediata. Seu maxilar relaxou ao mesmo tempo que sua mão soltou minha boca. A mão esquerda dela permaneceu segurando-me, seus dedos apertando meu quadril com mais força.
- É verdade? - murmurou por entre lábios que mal se moviam.
Um pequeno V surgiu entre suas sobrancelhas enquanto seu olhar esvoaçava questionador pelo meu rosto. Respirei fundo. Mesmo tendo sido pega de surpresa por seu comportamento, precisava permanecer calma pelo bem de ambas
- É verdade?
O barulho da conexão do punho dela com a estante de mogno ao lado de minha cabeça ecoou pela sala como uma bomba nuclear.
- Não brinque comigo, Cheryl! - explodiu - Não ouse brincar comigo, porra!
- Não estou brincando - respondi com calma, piscando para assimilar suas palavras raivosas.
- Simplesmente sim ou não - continuou - É tudo o que eu quero saber.
- Não sei, Topaz. O que você está me perguntando?
- Wynonna. Aquela desgraçada... - Antoinette soltou um longo sibilo, equilibrando-se ao apoiar seu corpo no meu - Ela disse que... que vocês... Você fez
- Fiz o quê? - sussurrei.
Os olhos dela alternaram rapidamente entre a luz e a escuridão.
- Você fez sexo com ela?
A minha boca se abriu, fazendo um ruído audível.
- Querida..
- NÃO! - latiu - Não faça isso. Não agora. Só diga sim ou não - ela deu um chute na prateleira debaixo antes de abaixar a cabeça e murmurar no meu ombro - Você fez sexo com ela?
Fiquei parada, paralisada, com Antoinette respirando na pele de meu pescoço.
- Fez, Cheryl? - perguntou de novo em um tom quase derrotado - Por favor, me conte.
Lentamente, como que para não alarmá-la, ergui a mão, que estava parada sem vida ao lado do meu corpo, até ao seu rosto. Antoinette se encolheu com meu toque. Sem me abalar continuei e logo as pontas de meus dedos estavam dançando de forma delicada sobre a bochecha e o maxilar dela.
Antoinette olhou para mim, sua expressão era furiosa.
- Não - murmurei, descendo a mão de seu rosto até seu pescoço - Não fiz.
Traçei um pequeno círculo com a mão, torcendo para que aquilo a acalmasse. O alívio dela ficou evidente apenas na maneira como diminuiu a força com que segurava meu quadril. O rosto dela ainda continha mil e uma emoções e perguntas. Antoinette lambeu os lábios e trocou o peso do corpo de um pé para o outro.
- Não fez?
- Nunca, Antoinette.
Os olhos dela desceram por meu corpo. Não era do jeito sexual com o qual tinha começado a me acostumar, era como se estivesse me vendo pela primeira vez.
- Você não fez - sussurrou, aparentemente vendo o que precisava ver.
Ela deu um passo desequilibrado para trás, soltando-me, e ficou olhando para mim de uma maneira que me fazia querer rir e chorar ao mesmo tempo. Antoinette parecia desgastada e cansada, tinha se tornado a antítese completa da criatura raivosa que era antes. Fiz menção de dar um passo em sua direção mas Topaz ergueu a mão para parár-me. Os olhos dela fitaram seus pés.
- Não - falou, franzindo a testa - Eu estou... Eu... Só fique aí.
Mesmo com o coração partido, me afastei. Fiquei ali parada, observando Antoinette se transformar lentamente na mulher que conhecia. O aperto em seu maxilar se dissolveu, assim como a tensão de seus ombros, mas a tristeza em seus olhos permaneceu.
- Eu não sabia - murmurou - Não sabia que você a conhecia. Que você...
- Ela não é importante...
- Você jantou com ela - respondeu, erguendo o queixo, desafiando-me a negar.
Apertei os lábios em uma linha fina.
- Estávamos em um grupo. Comemorando meu aniversário. Não foi um encontro nem nada do tipo...
- Ela levou você para casa - acrescentou.
Confirmei, e o rosto dela se comprimiu como se estivesse sofrendo de uma terrível dor de cabeça.
- Você ficou sozinha com ela.
Mordi o lábio e minhas mãos se fecharam em punhos na cintura. Como havia sido estúpida de esconder aquilo dela. Tinha xingado minha própria família por não ter sido honesta comigo e fiz exatamente o mesmo com a pessoa mais importante da minha vida. Eu não era nada diferente deles.
- Me desculpe - falei - Me desculpe por não ter contado, mas só descobri que vocês se conheciam na semana passada, na casa da minha avó.
Antoinette olhou na direção do teto.
- Aconteceu alguma coisa? Você a beijou?
- Não! Ela tentou, mas eu me afastei.
A sua cabeça se ergueu de imediato e ela bateu com força nos livros atrás de mim.
- Merda.
- Antoinette. - dei um passo hesitante na sua direção - Por favor, converse comigo. Não aconteceu nada entre mim e ela.
- Não há nada para conversar - retrucou olhando por cima da minha cabeça.
- Há muito o que conversar - falei com firmeza - Você está chateada e eu quero consertar as coisas.
Topaz evitou os meus olhos e ficou arrastando o pé pelo chão. Aproximei-me dela e coloquei as mãos timidamente em seus quadris.
- Topaz. - subi as mãos para seus ombros - Olhe para mim.
Antoinette me ignorou. Estava apertando os punhos com tanta força que suas articulações estavam brancas. As minhas mãos continuaram subindo até ao seu pescoço, que estava vermelho de nervosismo, e seguiram até seu maxilar.
- Topaz, olhe para mim. - puxei o rosto dela para perto do meu. Os olhos dela fitavam meu queixo - Por favor.
Ela se mexeu mais uma vez, relaxando a postura para que eu não ficasse mais nas pontas dos pés. Antoinette ficou olhando para mim, sem falar. Colocou as mãos em minha cintura, apertando-a uma vez antes de fechar os olhos.
- Odeio o fato da possibilidade dela tocar em você - sussurrou.
- Ela não vai tocar - uma expressão mistificada passou por seu rosto - Ninguém nunca me tocará como você - deslizei o nariz por seu queixo, inspirando seu cheiro delicioso - Ninguém nunca me beijará como você.
- Cheryl. - choramingou, pressionando a testa na minha.
- Eu nunca a quis.
- Pêssegos.
- Topaz, me escute - pedi, segurando as mãos dela - Wynonna é atraente - Antoinette fez menção de se afastar, mas a segurei com firmeza - E sim, nós quase nos beijamos. Mas sabe por que não fizemos? Por que eu não consegui fazer? Por que sempre que ela me chamou para sair, me recusei a responder - ela ficou olhando para o chão - Me pergunte por quê.
Um grunhido baixinho saiu de sua garganta.
- Por quê?
- Porque toda vez que estava com ela, cada vez que ela falava, eu pensava em você.
Seus olhos estavam desesperados por acreditarem em mim, mas algo na maneira como sua boca se contraiu e sua sobrancelha se ergueu mostrava que ela estava em dúvida.
- É a verdade - acrescentei - Juro. Eu queria você. Eu quero há tanto tempo. Eu ainda quero tanto. Eu...
- O quê?
- Eu lamento muito que ela tenha chateado você e feito você me odiar.
- Eu não odeio você. Não poderia. É ela que eu odeio. Odeio o que ela transmite: a ganância, a arrogância pretensiosa. E o fato de, desde que éramos pequenas, ela querer coisas que são minhas que não tem direito nenhum de querer, porra.
O duplo sentido das suas palavras envolveram os meus pulmões. Minhas. Baixinho, Antoinette contou-me o que tinha acontecido na reunião, detalhando as intenções de Wynonna de remover Antoinette da empresa da qual ela era proprietária legal.
- Wynonna e eu nunca nos demos bem - explicou - Elisabeth e eu temos idades mais próximas, então, quando crianças, nos encontrávamos e brincávamos juntas. Wynonna era quem iria assumir a empresa dos Cooper. Estava sendo preparada para aquilo e se tornou presunçosa e arrogante. Aos 15 anos já era uma babaca metida - Antoinette fez uma pausa e, então, continuou - Me lembro de um dia específico em que minha mãe tinha me buscado com meu pai para passar o fim de semana com eles, estávamos na casa dos meus avós, o que era um pesadelo de qualquer forma, porque meu avô não suportava olhar para mim.
Ela sacudiu a cabeça.
- Minha avó era completamente diferente. Era legal. Fazia biscoitos e me comprava presentes incríveis de Natal e aniversário. Ela era o único motivo pelo qual passávamos tanto tempo na casa deles. Minha mãe me largava lá e vovó e eu nos divertíamos juntas. Acho que era Dia de Ação de Graças. Wynonna começou no minuto em que chegou. Ela era esperta, aquela desgraçada. Sempre dava a entender, com seus comentários, como eu não era querida, como ela tinha ouvido minha tia dizer que eu era uma decepção para toda a família e Wynonna era implacável. Elisabeth simplesmente ficava parada ali, sem dizer uma palavra. Quando estávamos só nós duas, ela pedia desculpas pela prima, mas nunca fazia isso na frente dela. Nada muda. Os comentários sobre meu pai e o fato de que eu era meio que um segredo continuaram por todo o fim de semana. E, então, eu explodi. Dei um soco na cara dela. Ela caiu no chão, mas eu não conseguia parar. Dei socos, tapas, chutes e, o tempo todo, tudo em que conseguia pensar era que queria que ela sofresse tanto quanto eu. Meu avô me tirou de cima dela e acabou levando uns golpes na confusão. Até que ele me bateu também. Disse que eu deveria ter sido dada para adoção e que eu não faria nada a não ser trazer vergonha à família. Assim como eu tinha feito desde o dia em que tinha sido concebida.
- Oh, Toni. - sussurrei, colocando a mão no pescoço dela.
- Minha avó ficou uma fera - riu de leve - Acho que puxei o temperamento dela. Ela me tirou dali e me levou para sua casa na praia - Antoinette fez uma pausa, perdida na lembrança - Ela chorou, eu me lembro. Chorou e pediu desculpas. Eu não sabia por que ela estava pedindo desculpas. Ela não tinha feito nada de errado. Eu odiava vê-la chorar.
- Quantos anos você tinha?
- Seis - pigarreou - Dois anos depois, minha mãe morreu - continuou - E eu fui enviada para um colégio interno, de acordo com o pedido da minha mãe em seu testamento. Meu pai simplesmente aceitou... Fui expulsa da maioria dos colégios que frequentei. Eu odiava cada minuto daquela merda. Se não era expulsa, fugia. Quando mais velha ficava, mais começava a perceber que se fizesse barulho suficiente, causasse problemas suficientes, maiores eram as chances de os Cooper's terem que lidar comigo em vez de me mandar para longe na esperança de que eu nunca mais voltasse.
Traçei círculos com a mão no seu ombro. O meu coração se partiu perante a menininha que residia naquela mulher à frente.
- Não sei como ela foi com você, Cheryl. - disse - Mas ela é perigosa, egoísta e gananciosa - o ódio se acendeu em suas íris - E eu fico enjoada só dela ter estado perto de você.
- Desculpe.
O que mais poderia dizer? Sem ligar para onde estavamos, ela enrolou os braços na minha cintura.
- Desculpe também. Desculpe por ter assustado você.
- Você não me assustou.
- Assustei, sim - ela deslizou a mão por minha lombar - E me desculpe. Eu só estou...
- Eu sei.
Antoinette apertou os lábios.
- Pensar em você com qualquer outra pessoa me faz querer destruir a cidade toda - confessou - Mas com ela? - balançou a cabeça lentamente - Pensar que você tinha estado com ela quase me matou.
Seu coração palpitava furiosamente debaixo da minha mão.
- Estou com você - sussurrei - Prometo. Não quero mais ninguém.
Os olhos dela brilharam.
- Também não quero mais ninguém. É tão perfeito quando estamos só nós duas, longe de tudo.
Lutei contra a névoa de satisfação que suas palavras causaram, pensando por um instante.
- Sabe, tenho uma amiga... Verônica.
A sobrancelha dela se ergueu, o perigo saltitando em seu rosto.
- Verônica? A noiva de Elisabeth? Devo me preocupar?
- Nem um pouco. Ela não contará nada e é advogada, entre outras coisas - mordi o interior do lábio - Ela pode ajudar você. Com relação a Wynonna.
- Como?
- Verônica consegue descobrir os podres de praticamente qualquer um. Esse é o trabalho dela - dei de ombros - Sei lá. Talvez ela consiga encontrar algo que você possa usar contra ela.
Os lábios de Antoinette se contraíram.
- Combater fogo com fogo, você diz.
- Vale a pena tentar, certo?
Ela considerou a oferta.
- Sei que Wynonna é conhecida por fazer negócios com uns caras de caráter duvidoso.
Sorri.
- Parece ser a especialidade de Verônica.
Topaz me fitou atentamente.
- Você faria isso por mim?
- Quero que você tenha o que é seu de direito. Você merece isso.
Ela suspirou um tanto trêmula.
- Você é de outro mundo, sabia? - seu polegar tocou no meu lábio inferior - Obrigada. Fico devendo uma - fez uma pausa - Talvez eu possa fazer algo por você - mordiscou o meu lábio, hesitante - Podíamos... Eu posso levar você... Digo, você quer... O que, hum, eu estava pensando. Eu... Droga - ela esfregou as mãos no rosto - Sou um fiasco nisso.
Fiz menção de me afastar, para lhe dar um pouco de espaço, mas a mão dela foi direto para minha cintura, interrompendo-me. Ela fechou os olhos e soltou um longo suspiro.
- Tem planos para este fim de semana? Porque, se não tiver, eu gostaria de levar você a algum lugar. Se não quiser, vou entender mas eu realmente gostaria que viesse comigo. Quero passar algum tempo com você. Quero dizer, não sei...
Antoinette resmungou uma série de palavrões variados antes de enfiar as pontas dos dedos nos bolsos da calça.
- Só nós duas?
Seus olhos se ergueram de imediato, brilhando castanhos e esperançosos.
- Sim.
Segurei seu rosto, sorrindo calorosamente.
- Eu adoraria.
Ela piscou, sem nem tentar esconder sua surpresa.
- Sério?
- Foi o que eu disse, não foi?
O peito dela explodiu em uma risada baixinha, zombando de si mesma. Ela deu uma olhada para a porta vazia da sala de leitura e segurou a minha mão, apertando-a gentilmente entre seus dedos.
Antoinette inclinou a cabeça para o lado.
- Sei que é contra as regras das aulas, mas, caralho, eu estou morrendo de vontade de beijar você. - lambi os lábios instintivamente. - Só um beijinho - o polegar dela se infiltrou debaixo da minha blusa, roçando em minha barriga, fazendo meu sangue ferver - Só uma provinha.
Gemi ao ouvir as palavras que Antoinette tinha dito na primeira vez em que tinha me beijado. Assim que nossos lábios se encontraram, meu corpo relaxou. E esqueci das regras e dos riscos. Também me esqueci de Wynonna, de minha mãe e de Elisabeth. Tudo o que importava eram as mãos dela no meu rosto, a força de seu corpo e a maneira como a língua dela possuía cada centímetro de minha boca. Agarrei o cós da sua calça e a puxei mais para perto, nem aí para se alguém visse.
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