Capítulo 5- O que essa mulher está fazendo comigo?
"O que te faz diferente de todos, é que você nunca foi igual a nenhum".
🍃Ludmilla Oliveira🍃
Por doze horas, não consegui fazer nada além de sentir raiva e de pensar como tornar a vida da minha nova professora um inferno. Ainda estava perplexa por Gonçalves ter falado comigo daquele jeito.
Ninguém falava assim comigo. Ninguém. Jamais na vida.
Muito tempo depois da aula, ainda não tinha conseguido me livrar da ira que Brunna tinha provocado em mim, da fúria absoluta de ter sido tratada daquela forma e, mais enfurecedor do que tudo, do tesão selvagem que tinha feito tremer meu corpo todo.
Uma corrente elétrica pareceu instalar-se entre nós duas, quando a latina despejou aquelas palavras em cima de mim. Aqueles peitos perto do meu rosto e seu tom de voz venenoso fizeram as partes inferiores do meu corpo estremecer e pulsar, partes que andavam dormentes fazia tempo o que levava-me a querer fazer coisas selvagens e desvairadas com ela em cima de sua mesa, até que ela aprendesse como devia me tratar.
Repreendi-me por pensar aquelas coisas de uma mulher com quem estive apenas por 55 minutos. Sim, ela era gostosa, qualquer pessoa podia perceber isso. Os lábios rosados e cheios, a bunda perfeita e uns peitos médios que davam vontade de colocar as mãos. Deus, ela era sexy pra caramba! Mas a maneira como me confrontou podia ver o quanto Brunna era uma hipócrita que precisava aprender rapidinho que não iria tolerar que ela falasse e agisse tão... sem medo de mim.
Cocei o nariz, lembrando-me da expressão no rosto dela quando me deu uma bronca. Não havia um pingo de medo, nenhuma faísca que sugerisse que eu a intimidava. Aquela mulher tinha uma energia tão feroz que podia senti-la no ar. Eu até podia ter atendido seu pedido e escrito aquela palavra na qual baseava minha vida. Não que ela fosse entender, muito menos ter uma experiência daquilo em sua vidinha linda e perfeita.
Outra coisa que havia me irritado era o fato de que os caras da turma pareciam gostar dela, até mesmo Riley, que tinha dado risada enquanto eu estava furiosa. Durante a hora de almoço eu e ele discutíamos à cerca do assunto, mas já estava preparada para o tom protetor em sua voz.
- Você espera que eu respeite uma madame qualquer que provavelmente nasceu num berço de ouro e nunca teve que lutar por nada?
- Não seria de todo mal - Riley respondeu, erguendo os ombros com indiferença.
Soltei um riso rápido e meneei a cabeça. De jeito nenhum.
- Então - falou Riley, quebrando o silêncio - Ela é gostosa, né?
Não consegui evitar de gargalhar. Ela era e só um cego não poderia ver isso. A maneira como ela anda esbanja sensualidade, a forma como seu olhar pode hipnotizar qualquer um, o sorriso que mesmo irônico me deixou terrivelmente excitada. Se não existe alguém perfeito, ela é sem dúvida a pessoa que mais chega perto da perfeição.
- Se é - concordei prendendo o lábio inferior com os dentes.
- Tá aí mais uma imagem para sua coleção punheteira, minha irmã - sugeriu ele, piscando.
🌻Brunna Gonçalves🌻
Na manhã seguinte, após algumas xícaras de café, comecei a organizar a sala. Depois de uma noite relativamente boa de sono, tinha passado a enxergar o problema com um pouco mais de objetividade. E concluí que Ludmilla estava em um ambiente altamente tenso e emotivo, e o fato de ordenar Oliveira que fizesse o que queria não a tornaria mais cooperativa.
Olhei para a cadeira vazia dela, imaginando sua postura relaxada e seu olhar penetrante. Senhor. Ia ser muito complicado trabalhar com ela ali.
O que li em sua ficha não foi uma surpresa. Oliveira era uma garota-propaganda dos rebeldes marginais. Condenada a três anos de prisão por posse de cocaína. Desde os 15 anos, Ludmilla vinha passando pelo menos seis meses por ano em centros de detenção ou encarceramento de algum tipo. Ela havia largado a escola, onde sua nota final estava acima da média, aos 17. Destacava-se em esportes e inglês e tinha listado J. D. Salinger, John Steinbeck e Hubert Selby Jr. como seus escritores preferidos. Estava claro que era inteligente, um fato que ela tinha tornado visível com seus comentários sobre quão "básica" ela achava a atividade que havia proposto na aula.
Só de pensar nisso ficava irritada. Sabia que podia mandar tirá-la da sala para mostrar que era eu quem estava no comando. Mas aí ela teria vencido. Desistir e fugir ou ignorar o problema não funcionariam para mim. Jamais seria forçada a fugir de qualquer coisa na vida novamente. Ela não me derrotaria.
Por conta da ânsia para que a manhã passasse o mais rápido possível, estava andando de um lado para outro enquanto os detentos entravam, liderados por Ariana, que me deu um sorriso largo. Riley se curvou em reverência e a seguiu em fila indiana. Ri de sua figura e voltei minha atenção para a porta. Meu coração começou a palpitar quando Ludmilla entrou na sala, ignorando-me completamente e empurrando Corey para longe do caminho para chegar à sua cadeira.
Pigarreando, retornei para à minha mesa.
- Fico feliz por estarmos todos aqui. Hoje vamos iniciar nossos estudos de poesia, que é o que faremos pela próxima semana, antes de começar nossa peça de Shakespeare - depois de distribuir um poema para cada um dos alunos encostei-me na mesa, enquanto minha pele formigava. Tinha notado a reação de Oliveira ao ver o poema mas me forcei a ficar quieta, mordendo o lábio inferior com tanta força que consegui sentir o sabor de sangue. Concentrei-me em continuar falando e não no desejo de fazer uma careta, mostrar a língua ou fazer qualquer outro gesto igualmente inapropriado. Deus! Supermaduro, meu comportamento! Respirei fundo umas duas vezes e depois continuei - Gostaria de começar perguntando o que vocês pensam de poesia.
A turma permaneceu em silêncio. Riley ficou examinando o teto, como se a resposta estivesse escrita lá, enquanto Ariana e Corey ficaram olhando para mim como se eu tivesse três cabeças. Samuel manteve os olhos na carteira.
Ariana ergueu a mão lentamente, os olhos trêmulos encontrando os meus.
- Elas podem rimar?
- Com certeza podem - respondi com um breve sorriso - Assim como o poema que vamos estudar, mas esse nem sempre é o caso.
- São sempre coisas mela-cueca, tipo amor - reclamou Riley.
- Isso é verdade em alguns casos, Riley, mas não neste - respondi meneando a cabeça - Acha que eu faria isso com vocês?
Riley riu.
O som claro de Ludmilla murmurando alguma coisa no dorso da mão me fez virar a cabeça em sua direção.
- Desculpe, Oliveira, não entendi - ela largou as mãos sobre a carteira e lançou um olhar fulminante em minha direção - Temos uma regra bem simples nesta aula - complementei, visto que o silêncio continuou - Se você tem algo a dizer, diga. Está bem?
Depois que acabei de falar dei um sorriso gentil, talvez a fizesse sentir mais confortável para responder.
- Ou então o quê? - respondeu grossa.
Inclinei a cabeça para o lado, estudando-a.
Ela era inegavelmente atraente, suas tatuagens, os lábios, os olho castanhos que parecem duas galáxias. Aquela mulher é linda e completamente sensual.
- Ou então pode ir embora. É simples assim - me aproximei, falando em voz baixa - Eu já disse. Esta é a minha aula. Minhas regras. Você faz o que é pedido - ergui o lado esquerdo da minha boca em um sorriso irônico - Não é básico demais para você, é?
- Básico - murmurou Corey por trás da mão.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Oliveira socou a carteira com força suficiente para quebrá-la e a empurrou com tanta força que ela bateu na carteira de trás. Um silêncio furioso tomou conta da sala.
- Tem algo engraçado, porra? - grunhiu ela para Corey, antes de dar uma olhada para o oficial West, que tinha saído de seu posto perto da porta - Que tal compartilhar? - Ludmilla continuou avançando em direção à sua presa - Não gosto de ser deixada de fora de uma piada.
Ela era apavorante e maravilhosa. Eu estava enfeitiçada.
Movi-me lentamente em sua direção.
- Oliveira, acalme-se - ela me ignorou, curvando-se para encarar os olhos de Corey.
- Você está rindo de mim?
- Vamos lá, Oliveira - murmurou o oficial West enquanto olhava preocupado na minha direção.
- Oliveira, sente-se - pedi escondendo o pânico por trás de um tom de voz firme e autoritário - Não há necessidade disso. Relaxe.
- É - continuou Corey - Relaxe.
Em um movimento rápido, Ludmilla colocou as mãos debaixo da carteira de Corey e a lançou com força contra a parede com um urro onipotente. O som da madeira atingindo os tijolos revestidos ressoou pela sala como sinos fúnebres. Todo mundo se levantou imediatamente. O oficial West pegou o cassetete e bateu em Ludmilla antes que ela se aproximasse ainda mais de Corey, que estava paralisado em sua cadeira. O meu corpo congelou atrás de um Riley pilhado, que tentava proteger-me com o corpo enquanto outros três guardas caíam em cima de Oliveira.
Chocada, observei por trás dos bíceps gigantescos de Riley o oficial West jogar ela contra a parede. Os guardas, chamados pelo alarme de pânico acionado por Larissa, estavam em cima dela em um segundo. Encolhi-me quando ouvi os grunhidos e os xingamentos de Ludmilla enquanto eles a empurravam e esmurravam com força ao algemá-la.
- Está machucando, porra! - gritou ela na cara de um dos guardas antes de ter o rosto esmagado contra a parede de novo.
O oficial torceu o pulso dela ainda mais com um sorriso sádico no rosto, fazendo-a gritar de dor.
- Ei! - gritei, escapando por debaixo do braço de Riley e passando por Corey, que ria.
Corri até o tumulto de homens raivosos. Ludmilla , cuja a bochecha esquerda estava pressionada contra a parede, olhou furiosa para mim mas ignorei, olhando zangada para o guarda que tinha tentado quebrar o osso do pulso dela.
- Eu vi aquilo - falei, apontando para as algemas de Ludmilla- Você não precisa machucá-la. Não é necessário.
- Ah, Srta. Gonçalves, é muito necessário - retrucou o oficial com voz firme - É preciso manter essas pessoas na linha, sabe?
Ele colocou Oliveira de pé e vi na hora o sangue escorrendo do seu nariz até sua boca.
- Ela está sangrando!
- Ela está bem - rosnou o guarda.
O guarda empurrou Ludmilla para a frente, mas fui mais rápida e consegui impedi-lo com a mão firme e imóvel em seu braço.
- Espere!
Parei por um segundo antes de ir até à bolsa pegar um pacote de lenços. Peguei um e voltei até Oliveira, cujo o rosto expressava mil e uma coisas diferentes.
Ela começou a protestar quando a minha mão foi até seu rosto.
- Você não precisa fazer is...
- Cale a boca e me deixe ajudar você - retruquei com tamanha determinação e insistência que a fez ficar muda.
Ludmilla respirou fundo quando o lenço na minha mão limpou seu sangue. Os seus olhos estavam no meu rosto, deixando um rastro de calor desde os meus cabelos até à minha boca. Tentando ignorar o fato de que meu coração estava prestes a explodir, concentrei-me ao máximo, passando o lenço de maneira milimétrica.
Cada vez que sentia a sua respiração sussurrando em minha mão, engolia em seco, e cada vez que o seu rosto se contorcia, meus pulmões se comprimiam. Limpei o rosto dela com delicadeza, mas também com determinação, até que ficasse melhor, após a forma violenta com que os policiais tinham lidado com a situação.
Ela não tinha merecido aquele tratamento. Olhei com atenção para o rosto de Ludmilla e notei uma marca começando a aparecer em sua bochecha. O desejo de tocar o hematoma me fez tremer até ao último fio de cabelo. Limpei a garganta e parei de olhá-la nos olhos. Parecia que não tinha controle sobre minha própria mão. Queria amenizar a vermelhidão com as pontas dos dedos e diminuir a dor que sabia estar queimando sob a sua pele mas não podia.
- Prontinho - murmurei, limpando uma mancha de sangue do seu polegar.
Oliveira franziu a testa. Ela chegou a abrir a boca, mas nenhuma palavra saiu. Em vez disso, só bufou antes dos três guardas a arrastarem para fora da sala.
Dei um suspiro e joguei o lenço ensanguentado na lixeira...
o que essa mulher está fazendo comigo?
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