Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

9 - Usurpada

Gabi acordou com uma dor de cabeça insuportável. Na verdade, não era só a cabeça que doía. Era tudo! Conferiu as horas, estava atrasada e banho estava fora de cogitação. Com muito esforço, colocou uma roupa quente, calçou os tênis e foi escovar os dentes.

Sua garganta doía. Só podia ser por causa da friagem que tomara no dia anterior. Não devia ter se aventurado na garoa. Pensou em ligar no trabalho e dizer que estava doente, mas não teve coragem. Ela tinha muito medo de ser dispensada, então não queria dar motivo.

Chegou ao trabalho com 20 minutos de atraso. Pior do que chegar adoentada, ainda estava molhada mais uma vez porque, adivinha? Estava chovendo. Assim que cruzou as portas da agência, viu que Felipe estava de pé, perto das estações de trabalho, segurando uma folha. Lembrou-se do esboço que deixara na mesa dele na tarde anterior.

— Gabi? Tudo bem? — Era Cíntia. Gabi queria seguir em frente e escutar o que os criativos conversavam, mas precisou parar para ouvir o que a colega de trabalho tinha a dizer.

— Oi, e aí? — Sua voz saiu fanhosa e rouca, o que a assustou um pouco.

— Está doente? — A garota se aproximou e a observou mais de perto.

— Deve ser só um resfriado. Peguei garoa ontem. Vou fazer um chá e logo melhoro.

— Foi por isso que você se atrasou?

Cíntia parecia tensa. Gabi se perguntou se era por causa do atraso e até ficou um pouco chateada, pois era o seu primeiro atraso desde que começara a trabalhar ali.

— Sim. Eu não consegui me levantar. Por quê? Um dos chefes reclamou?

— Pablo não, pois ele não veio hoje. Felipe perguntou de você, então reclamou porque era a segunda vez que ele te procurava e você não estava disponível, então...

— Que merda! Tudo o que eu queria hoje era ficar no radar dele.

O que não era uma mentira, apesar do tom sarcástico que ela imprimiu à queixa.

— Mas agora ele está mais calmo — Cíntia respondeu —, tinha chegado cuspindo fogo, mas depois de entrar na própria sala, saiu como se lá fosse um portal para uma realidade alternativa e ele tivesse trocado de lugar com algum Felipe de outra dimensão.

— Sério? O que acha que aconteceu? — Ela especulava o que era, mas precisava ter certeza.

— Não sei. Ele chamou os meninos para conversar, foi agora há pouco.

— Acho que vou servir o café para eles — Gabi foi se afastando e, buscando ser o mais ligeira possível, nem colocou o uniforme, apenas jogou o avental por cima. Logo levava uma garrafa de café até as mesas dos designers.

Quando se aproximou, parou a alguns passos esperando autorização para prosseguir. Ela não costumava ter que fazer isso mas, quando Felipe estava na área, ela se continha.

— Eu não sugeri a princípio porque achei que você não ia curtir — Diego falou, apreensivo.

— Não entendi... Desde quando vocês não podem mostrar qualquer coisa para mim? — Felipe parecia aborrecido, quase ofendido.

— Eu achei a ideia um pouco fraca — Rob comentou.

Gabi engoliu em seco. Olhou o próprio desenho na mão de Felipe e ficou óbvio que estavam falando do seu esboço. Um sentimento amargo subiu pelo seu peito e se refletiu em lágrimas nos seus olhos. Não iria chorar por isso, não agora, nem na frente deles. Era apenas sua primeira crítica e ela não precisava lidar dessa forma.

Cresça, sua ridícula!

— Perdeu alguma coisa? — Felipe se dirigiu a ela.

Sempre tão encantador! Acabei de perder a vontade de existir!

— Não, eu... Posso servir o café para vocês?

— Demorou! — Rob foi logo se aproximando. Diego aceitou sem olhar para ela, enquanto Felipe a encarava com uma expressão estranha. Não aceitou o café, também não disse nada, só seguiu seus movimentos fazendo-a ficar ainda mais tensa.

— Desculpe-me pelo atraso — ela se dirigiu a ele, que não respondeu e continuou o assunto com os rapazes.

— Você achou fraco, Rob? E por qual razão, exatamente? — Ele jogou a pergunta e esperou a resposta, só que não olhou para Rob. Continuou encarando-a, como se esperasse que ela respondesse.

— Achei um pouco infantil, sei lá. E meio amador, sabe? Nada pessoal, Diego.

— Qual o seu argumento, Diego?

Diego?

— Ah, eu só tive a ideia e esbocei. Acho que foi uma revelação, sei lá...

Quê?

— Você espera que eu acredite que você psicografou isso? — Felipe parecia nervoso.

Gabi engoliu em seco quando todas as cabeças encararam Diego esperando uma resposta. Ela já tinha visto o quanto Felipe era tenaz no que fazia e como seu profissionalismo podia parecer ameaçador, mas foi a primeira vez que sentiu aquela pressão, a apreensão sob a pele, o medo de dizer a coisa errada... Talvez porque sabia que era o seu trabalho em análise, ainda que, aparentemente, ele tivesse acabado de ser usurpado.

— Foi só uma ideia, Felipe! Eu sabia que não ia dar em nada, mas fiquei com vontade de mostrar e só! Não precisa criar caso com isso, nem ficar me humilhando na frente de todo mundo! — Diego reclamou, tinha a voz baixa e irritada e seu rosto parecia um pimentão.

— O cliente aprovou — Felipe afirmou, sem alarde.

Todos prenderam o ar. Ela principalmente.

— Aprovou? — Rob pareceu acordar de um transe — mas... Nem chegamos a montar uma apresentação!

— Eu não sei em que mundo vocês vivem que acham que eu preciso de "maquiagem" pra fazer meu trabalho! A gente faz apresentação e o caralho a quatro pra convencer o cliente quando o trabalho por si só não fala o que deve! Agora, tem coisas que não precisam de nada pra convencer. Tem vezes que é tão óbvio que ninguém precisa ser convencido!

— Porra, Felipe! Não precisa avacalhar — Leo resmungou.

— E quanto a você, Diego, pode até ter tido a ideia, mas se acha que sou idiota a ponto de acreditar que foi você mesmo quem desenhou isso, então você não aprendeu nada aqui. Eu quero o contato de quem fez, e você vai me passar, porque eu quero essa pessoa aqui dentro; e não vacila na minha empresa senão boto ele no teu lugar, tá me entendendo? Sorte sua que você é bom no digital, caso contrário, você ia agora pro olho da rua! Apoio a ambição, mas com respeito e limites! Esse tipo de comportamento seu é uma merda gigantesca fodendo a imagem da minha agência!

Gabi ficou impressionada porque Felipe falou tudo isso sem alterar o tom de voz; foi direto e firme, e mesmo assim, parecia estar gritando. Ninguém mais ousou se pronunciar, Diego teria desaparecido se tivesse essa capacidade, e Gabi teria dançado uma salsa se seu corpo permitisse tal façanha.

Depois da reprimenda, o demônio voltou para a própria sala, batendo a porta. Só quando o pessoal soltou o ar e voltou aos próprios monitores, foi que ela percebeu que também estava segurando o ar.

E o choro.

Angustiada, correu para o banheiro e se enfiou numa das cabines. Então chorou. As lágrimas desceram, generosas, e pingaram no piso da cabine.

Felipe tinha apresentado seu esboço ao cliente. Primeiro, para ele ter apresentado, era porque tinha gostado.

Ele achou seu esboço digno de consideração!

O cara mais foda de todos considerou sua ideia, e o melhor de tudo...

O cliente tinha aprovado!

Entretanto, um certo loiro peçonhento e oportunista tentou roubar seu crédito. Diego acabara de ascender ao pedestal de demônio subalterno!

— Gabi? — Cíntia bateu à sua porta.

— Já vou sair — Gabi respondeu com uma voz que parecia a de uma velha fumante.

— Você está bem?

Boa pergunta. Excelente pergunta.

— Honestamente? Não.

— Precisa de alguma coisa? Quer que eu fale com o Felipe para você poder ir ao médico?

Sabendo que não ia mais adiantar ficar se escondendo, saiu da cabine.

— Não precisa.

Cíntia pareceu bem assustada quando olhou para ela.

— Você parece horrível!

— É o que eu sempre digo...

Lavou o rosto e respirou fundo. Sentia a cabeça a ponto de explodir, os olhos queimando e a garganta inchada não aceitaria nem água. Os tremores pelo corpo denotavam um estado febril que ela ignoraria ao longo do dia. Talvez um antitérmico não fosse uma má ideia.

Cíntia providenciou paracetamol e Gabi separou um saco preto e produtos de limpeza para começar seu fatídico trabalho.

— Sabe por que o Pablo não veio hoje? — perguntou à amiga.

Gabi sentiu falta dele. Todos os dias, o primeiro café sempre era para ele. Estava acostumada ao bate-papo despretensioso das manhãs, algo que já tinha virado rotina entre os dois. Não o ter visto e ainda ter testemunhado Felipe "jantando" os criativos a deixou angustiada.

— Está viajando.

Gabi esperou mais algum detalhe, que não veio. Cíntia a observava com ar ansioso. Estava tão horrível assim?

Sem mais perder tempo, arrastou-se para remover os lixos de cada dia. Começou pela sala de Pablo. Passou pano nas superfícies, higienizou o banheiro anexo, organizou os papéis e, quando estava para deixar a sala, deu um encontrão com Felipe.

Vendo que ela perdia o equilíbrio, ele a segurou pelo pulso para que não caísse. Quando ela se sustentou de pé, ele tinha um ar zangado, o que não era uma novidade, afinal, sempre que o via, ou ele estava bravo, ou sarcástico...

Ou suspirando de prazer.

Mas que merda! Por que foi lembrar disso bem agora?

— O que você tem? — ele perguntou.

Gabi estava atordoada. Uma porque Felipe ainda segurava seu pulso e provavelmente devia ter percebido como seu coração martelava ensandecido. Outra porque ele tinha uma ruga tão sexy entre os olhos que ela teve vontade de massagear com a ponta dos dedos.

Que pensamento idiota!

— É só um resfriado...

— Não, não é. Você tá queimando!

Ah... Você não faz ideia...

Ele a soltou de uma vez e pegou o celular. Ela estranhou, mas fez menção de sair, afinal, estava acostumada a ser ignorada.

— Espera! Estou chamando um Uber.

— O quê? Por quê?

— Você vai pra casa, ou pro médico, você decide.

— Mas não...

— Agora! Vá agora! Não tem o que discutir!

Gabi sentiu as lágrimas voltando aos olhos. Que inferno! Nem tentando fazer algo bacana ele deixava de ser grosseiro. Babaca de merda! Se ele soubesse que foi ela quem fez o desenho, a trataria de outra forma?

— Não precisa chamar o Uber. Eu me viro — respondeu, sentida.

— Já está chegando. Fique em casa uns dois ou três dias. Será melhor para todos.

Para todos, não é? Ela estava prestes a mandar ele enfiar o Uber no próprio rabo quando viu Leo se aproximando.

— Meu anjo! O que você tem? O que aconteceu com você?

Gabi quis desaparecer. Sério. Precisava se lembrar de pedir umas dicas pro Niko de como fazer isso.

— Leo, volta pra sua mesa! — Felipe grunhiu.

— Qual é, Felipe? Tá me tratando assim por quê?

— Cíntia! — Felipe chamou e a atendente veio correndo. — Por favor, leva ela pra baixo. Tem um carro esperando — ordenou, apontando pra Gabi.

Por que ele tratava do assunto como se ela não estivesse presente?

— Eu posso levá-la até o Uber... — Leo se intrometeu de novo.

— MAS QUE PORRA!

O grito de Felipe fez com que todos paralisassem onde estavam. O silêncio perdurou por alguns segundos, até que ele suspirou pesado e apertou os olhos com as pontas dos dedos. Quando a ordem veio, ninguém mais questionou ou se opôs. Todos fizeram exatamente o que ele mandou.

— Você — apontou pra Gabi —, vai pra casa e só volta daqui três dias. Você — sinalizou para a Cíntia —, vai descer com ela e esperar que embarque no Uber. E você — agora fulminava o Leo —, vai voltar pra sua mesa para terminar seu trabalho!

Depois disso, ele bateu a porta e foi até a própria mesa. Não esperou para ver se suas ordens foram cumpridas. Sabia que seriam. Abriu a última gaveta, retirou dos fundos um saquinho com pó branco e, com as mãos trêmulas e a ajuda de um esquadro que ficava guardado na mesa de desenho, fez três carreiras perfeitas sobre o sketch de autor desconhecido.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro