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8 - Segundo Sketch

— Falta muito?

 Duas horas de viagem.

 Você acha que ele virá atrás da gente?

 Eu imagino que ele não vá nos encontrar numa cidade tão grande quanto São Paulo. Tem gente demais por lá.

 Mas, mãe, como vamos viver?

 Não se preocupe com isso. Não é seu papel. A gente dá um jeito.

 Você nunca trabalhou, mãe! Vai fazer o quê? Onde vamos morar?

 Eu vou procurar emprego de faxineira. Todo mundo precisa de uma faxineira e eu sou a mais desgraçada de todas...

 Mãe, não fala assim...

 Tudo o que fiz na vida foi limpar merda, Gabriela! Agora que minha vida acabou, vou tentar começar de novo.

 Tá, não precisa ficar nervosa, nem correr tanto.

 Não estou correndo!

 Está sim, olha! Por que tá indo tão rápido?

— O quê? Espera! Gabi... Os freios!

 O que têm os freios?

 Não estão funcionando...

— Mãe, presta atenção! Meu Deus!

Gabriela!

 Olha o carr...

[...]


Gabi abriu os olhos e puxou o ar com força. Permaneceu deitada por um tempo, contemplando as teias de aranha enegrecidas perto da luminária do teto, enquanto sua respiração desacelerava. Um tímido facho de luz projetava-se pelos vãos da veneziana desgastada da antiga janela de madeira, e por um tempo, seus olhos se concentraram na nuvem de minúsculas partículas que só são possíveis de ver em contextos assim.

Não soube dizer quanto tempo demorou para que seu coração entrasse no ritmo. Quando se levantou, suas mãos ainda tremiam, e um mal-estar repentino lhe causou tontura. Amargurada, baixou a cabeça e permitiu que algumas lágrimas corressem livremente.

Fazia anos. Ainda assim, parecia que tinha acabado de acontecer. Cada memória de cada sensação ainda habitava sob sua pele e, às vezes, a fazia arder e queimar. Alguns pontos do seu corpo traziam evidências do dano, enquanto outros danos não apresentavam evidências. Quando as emoções impossíveis chegavam ao auge, um choro modesto ajudava a aliviar a pressão.

Olhou a tela do celular; marcava 5h23. Não conseguiria voltar a dormir, então resolveu entrar no banho. Lavou os cabelos, pensando que já tinha passado da hora de cortá-los. Molhados assim, chegavam à base da cintura e, apesar de serem mais para lisos do que para ondulados, ficavam tão embaraçados e difíceis de lavar que ela demorava uns 20 minutos para finalizar o processo.

Saiu do banho, passou loção de baunilha — um presente que se permitiu quando recebeu seu primeiro pagamento — e secou os cabelos com um secador que ficava desligando sempre que superaquecia. No próximo pagamento, talvez adquirisse um novo.

Não conseguiu tomar o café da manhã. Seu estômago ainda estava embrulhado e uma melancolia persistia em tomar o controle de sua mente. Se não se esforçasse, fatalmente aquilo arruinaria seu humor pelo resto do dia. Pensou no que fazer e, como era cedo, achou por bem caminhar até o trabalho. Daria em média 40 minutos de caminhada e o clima frio evitaria que chegasse suada.

Enquanto andava pelas ruas ainda não muito movimentadas devido ao horário, deixou a mente divagar por assuntos que a distraíssem do pesadelo. Pensou em Pablo e no quanto a relação deles evoluía lentamente. O clima ficou esquisito nos primeiros dias após aquele beijo roubado, mas aos poucos as coisas foram se ajustando.

Ele nunca mais a tocou. Ela não achou isso ruim, afinal, o toque sempre foi um grande problema para ela. Qualquer proximidade, especialmente de origem masculina, fazia sua pele inteira gritar de pânico, um medo que se projetava como uma sombra pronta para assumir o controle a qualquer momento.

Ela se perguntava quando se sentiria uma pessoa "normal". Com Pablo, ela chegou bem perto disso. O toque dele a confortou, não a assustou. Dentro dos braços dele, ela não se sentiu ameaçada, e isso era um bom sinal de que talvez estivesse superando o trauma. Quem sabe, num futuro próximo, poderia desfrutar de um relacionamento tranquilo e confortável com outro alguém?

Leo era o mais empenhado em tentar. O interesse do fotógrafo era constante, e ele não escondia suas intenções. Algumas vezes almoçavam juntos; ele comprava alguma promoção do McDonald's e se sentava com ela à sombra de uma árvore na área aberta do edifício, então desfrutavam da companhia um do outro enquanto fofocavam sobre os colegas de trabalho.

Ele era o funcionário mais antigo da agência e, graças a ele, ela ficou sabendo de vários babados a respeito dos seus patrões. Soube que Jackie era secretária de Pablo e que ele começara a sair com ela apenas três meses depois que ela foi contratada. Namoraram por um ano e oficializaram o noivado, que durou cinco meses, até que ela o traiu com o irmão. Desde então, ele não esteve com mais ninguém, ao menos não seriamente.

Das histórias que ouviu, as mais perturbadoras, obviamente, eram as de Felipe. Leo contara que houve períodos de grande conflito entre os irmãos, pois Felipe era dado a práticas nada ortodoxas e se envolvia com todo tipo de libertinagem. Ele bebia, usava drogas e já havia sido processado por assédio no trabalho, o que fez a agência perder um bom número de clientes. Segundo Leo, curiosamente ele havia melhorado depois da morte do pai, no entanto, mesmo que se comportasse melhor, seu humor havia desaparecido, restando apenas o rancor e a apatia.

Pensando nessas coisas, Gabi nem se deu conta do trajeto, e quando menos esperava, já estava às portas do edifício. Uma garoa fina descia do céu, deixando seus cabelos e roupas úmidos e gelados. Ela buscou entrar o mais rápido possível para se aquecer, perguntando-se quando aquele frio iria embora; desde que chegara à capital, só chovia, fazia frio e menos frio, e ela vivia empacotada. Sentia falta de usar uma roupa mais leve.

Bem, ouvira dizer que os períodos de calor em São Paulo costumavam ser mortais devido ao efeito estufa. Em breve, ela iria descobrir que o ar-condicionado era o bem mais precioso para quem morava naquela selva de pedra.

— Bom dia, Jonas! — cumprimentou o porteiro, que sempre estava por ali quando ela chegava. Parecia fazer parte da paisagem, o que era curioso.

— Bom dia, senhorita. Chegou cedo!

— Alguém já chegou?

— Eu acho que não. Mas logo alguém aparece; já são sete e meia.

Gabi pegou um copinho de plástico com um café que ficava no balcão da recepção e subiu até o 28º andar. No elevador, passou as mãos pela jaqueta fina para espalhar as gotículas acumuladas. A ponta dos dedos e do nariz estavam geladas, e o café não estava quente o suficiente. Ao chegar às portas da agência, ficou feliz em ver as luzes acesas. Alguém havia acabado de chegar.

Ela empurrou a porta, que estava trancada, então tocou a campainha e aguardou. Enquanto isso, tomou o restante do café já morno, e seu estômago protestou, revoltado. O enjoo se acentuou quando viu quem vinha abrir a porta.

— Bom dia... — Felipe pareceu surpreso.

Gabi não teve tempo de responder; correu até o banheiro e despejou o café no vaso sanitário, junto com o que ainda havia em seu estômago. Quando os espasmos cessaram, ela foi até o lavatório e jogou água no rosto. Ao olhar seu próprio reflexo, não gostou nada do que viu.

Sua pele estava pálida, a ponta do nariz e os olhos estavam vermelhos. O cabelo, que ela havia lavado com tanto esmero, agora estava úmido e cheio de frizz por causa do vento. Havia olheiras bem marcadas, o que a deixava com aspecto doente.

Desanimada, removeu a jaqueta e pegou uma escova na bolsa. Soltou os fios e os escovou, depois higienizou os dentes. Conferiu o reflexo mais uma vez, e a aparência de doente ainda estava lá. Talvez melhorasse depois que conseguisse ingerir algo.

— Você está horrorosa! — falou para o próprio reflexo.

— Você é obcecada com isso, não?

A voz de Felipe a sobressaltou. De onde ele surgiu? A sensação de déjà vu teria sido engraçada se a situação não a tivesse perturbado além do normal.

Tudo em Felipe a perturbava além do normal.

— Você está no banheiro feminino!

— Não temos preconceito com isso por aqui, além do mais, eu pago por esse banheiro.

Irritada com a petulância dele, segurou a língua para não perder o emprego.

— Você precisa tomar cuidado para não cruzar a linha do desrespeito — foi tudo o que achou prudente dizer.

Ele desencostou do batente da porta. Na verdade, ele não havia entrado no banheiro, mas agora, se deixava ver através do espelho. Ela se perguntou se ele a tinha escutado vomitando, o que seria no mínimo trágico.

— Estou desrespeitando você? Só me preocupei com a forma como correu pra cá.

Ela o encarou de volta através do espelho. Os olhos prateados pareciam brilhar, e ela sentiu o coração disparar. Não se lembrava de tê-lo achado tão absurdamente bonito antes. Seu cabelo úmido estava jogado para trás, e ele mantinha os polegares encaixados nos bolsos do jeans, que usava junto com uma camisa polo de manga comprida. A barba por fazer parecia ter sido deixada de propósito apenas para realçar seu maxilar perfeito, e um perfume amadeirado pairava no ar, provocando nela um desejo insano de cheirar o pescoço dele só para captar um pouco mais do aroma masculino.

De onde havia tirado essa ideia?

— Está invadindo o meu espaço — respondeu.

Ele deu um meio sorriso. Foi a primeira vez que ele curvou os lábios para ela sem parecer puro deboche.

— E então, você está bem? Parece doente.

Olha! Uma pergunta inocente! Não é que o demônio sabe conversar?

— Estou. Foi apenas o café vencido que caiu errado no estômago.

— Sei como é. Acontece direto comigo.

Ele a fitou por mais alguns segundos, então deu meia volta e se afastou da porta do banheiro. Gabi soltou o ar, sem perceber que o estava prendendo. O que havia nesse sujeito que a colocava em estado de alerta constante?

Quando se certificou de que estava sozinha, removeu as roupas úmidas e vestiu o uniforme. Sentiu os braços gelados, mas permitiu-se ficar sem a blusa térmica que costumava usar sob a camisa de trabalho. O resfriamento do corpo ajudaria a conter o mal-estar e logo que começasse a se movimentar, ficaria aquecida.

Aos poucos, vozes passaram a se projetar pelas paredes finas. A equipe de trabalho estava chegando e com eles, tudo ficava mais alegre. Animada, Gabi prendeu o cabelo, saiu do banheiro e foi fazer café para todos.

[...]

Perto da hora do almoço, Pablo entrou na copa a procura dela. Parecia preocupado quando a abordou.

— Felipe me disse que você não estava bem. Precisa ir ao médico? Precisa de algo?

Gabi achou curioso. Os irmãos teriam voltado a se falar?

— Estou bem. Falei para ele que foi só um café que desceu errado. Nem sei por que ele mencionou isso.

Sim, era estranho. Para alguém que parecia "cagar e andar" para ela, chegava a surpreender que Felipe não tivesse esquecido sua existência assim que lhe deu as costas no banheiro.

— Ei, gata. Você não está bem? — Leo tinha entrado na cozinha logo após o Pablo e havia escutado parte da conversa. Ainda que não houvesse nada entre eles, Leo parecia não se constranger em fazer parecer, tratando-a como se fossem íntimos.

— Ai, gente! Credo. É coisa de mulher, tá legal?

Subitamente embaraçados, ambos deixaram a copa, fugindo como se ela fosse uma anomalia hormonal.

Apelar para dilemas menstruais era sempre a desculpa mais eficaz, em qualquer contexto.

Quando voltou do almoço, que conseguiu ingerir graças aos bons deuses, Gabi já se sentia melhor no corpo, mas sua melancolia ainda persistia. Não conversou com ninguém, limitou-se ao seu cantinho de trabalho, evitando as pessoas e optando por tarefas solitárias.

Na parte da tarde, ela acompanhou de longe um brainstorm entre Felipe e a equipe criativa. Eles buscavam uma solução para a marca dos engenheiros e Gabi manteve os ouvidos interessados bem atentos a todo o processo. Felipe parecia frustrado e foi a primeira vez que ela presenciou um desgaste naquele verniz de arrogância que ele sempre sustentava.

Perto do fim do expediente, depois de levar um café para Pablo, ela cruzou com Felipe e Niko, que conversavam em frente à sala do diretor. O assistente tinha um olhar tão apaixonado para seu chefe que ela teve vontade de rir.

— Você está melhor — a voz de chocolate a atingiu como um sopro quente. Transtornada com a própria reação, parou por um segundo. Nem tinha notado que Felipe a observava, muito menos que ela estava sorrindo quando aconteceu.

— Eu te falei que não era nada demais — afirmou, desviando o olhar para o assistente.

Se Niko portasse uma arma, ela estaria esparramada numa poça de sangue agora.

Embora, se ele fosse mesmo ninja, ela teria o pescoço cortado antes do dia terminar.

Rindo por dentro dos desfechos hipotéticos, ela escapou do olhar mortal do assistente e foi se trocar. Quando voltou pelo mesmo caminho, a equipe já tinha saído, inclusive Niko e Felipe, que manteve a porta da sala entreaberta. Movida por um impulso irresistível, ela adentrou o espaço que tanto apreciava e deu um giro. Seus olhos registraram tudo até se deterem sobre a mesa, onde um bloco de desenho e um lápis-carvão descansavam, convidativos.

Num atrevimento inédito, ela segurou o lápis e tocou a superfície do papel. Um tremor percorreu seu braço, da ponta dos dedos até o ombro. Sem se deixar deter, traçou alguns ângulos rápidos, sombreou e finalizou com algumas letras em caixa-alta. Levantou a folha, olhou de lado e, satisfeita, abandonou o sketch sobre a mesa.

Com um suspiro ansioso, apagou a luz e fechou a porta, depois foi embora.

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