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72 - Reconciliação


Era estranho para Felipe ter sua mãe no mesmo ambiente por muito tempo. Não se lembrava da última vez que ocuparam o mesmo cômodo por mais de uma hora seguida, salvo o velório de seu pai. Que dizer de um quarto de hospital, local onde, de fato, ele não se lembrava de tê-la visto sequer uma vez no passado.

No entanto, lá estava ela, sentada em uma cadeira ao lado do leito onde ele se recusava a permanecer deitado. De pé e distante dela, ele olhava pela janela do quarto, ansioso por sair dali, preocupado com Gabriela e irritado por não saber o que se passava além daquela porta.

Pablo estava se inteirando da situação, coisa que Felipe não podia fazer porque, segundo os policiais, ele era um dos envolvidos no caso. Tal situação o deixava à mercê de Graça, que não desgrudava os olhos dele um instante sequer.

— Você deveria ficar em repouso — ela arriscou, mesmo sabendo o quão arisco Felipe podia ser em situações assim.

— É só um corte na cabeça, não um traumatismo craniano.

Ele não chegou a ser grosseiro, apenas soou entediado. Porém, mesmo sem intenção, suas palavras fizeram a mãe empalidecer.

— Não me surpreende que você mencione isso depois do que te contei — a voz dela era amarga —, no entanto, uma concussão pode ser perigosa. Você deveria levar essas coisas a sério.

— Eu tô bem, mãe. E não mencionei o traumatismo craniano por maldade, na real, eu nem me lembrava mais disso.

Graça se colocou de pé e caminhou lentamente até ele. O som seco dos saltos contra o piso ecoou pelo quarto e penetrou sua mente, ativando uma memória longínqua, de quando ainda era criança. Seus pelos se eriçaram, e ele segurou o ar.

Talvez ele não se lembrasse daquele período, quando ficou internado após a queda provocada pela mãe. Mas se lembrava do som desses passos, constantes, ininterruptos. Ele teve absoluta certeza de que ela estava lá, ele só não podia... enxergá-la. 

— Olha pra mim, filho.

Hesitante, ele desgrudou os olhos da escuridão além do vidro da janela e voltou-se para ela. Quando os olhos da mesma cor se conectaram, algo chacoalhou dentro dele. Era como se houvesse ali um buraco muito profundo, tão escuro quanto a noite lá fora, mas que, ao perceber a preocupação real no semblante da matriarca, foi perfurado por uma nesga de luz.

Graça ergueu a mão e a aproximou da bandagem em torno da cabeça do filho. O breve tremular dos dedos pôde ser percebido por ele, mesmo na visão periférica. Felipe travou a mandíbula, contendo o ímpeto de se afastar do toque.

— Eu tô bem — ele insistiu, mas já não sabia mais a que tal frase se referia.

Ele estava mesmo bem?

Estivera bem em algum momento de sua vida?

O que, afinal, significava estar bem?

— Eles rasparam sua cabeça da outra vez — ela soltou a frase, que mais pareceu uma conversa fora de contexto.

— Eu realmente não me lembro.

— Eu sei. Eu acredito em você, apesar de você se lembrar de tudo o que veio depois. É curioso, mas talvez seja uma bênção não se lembrar daquele período. Esse privilégio jamais me caberia, pois, ainda que fosse possível esquecer o que fiz, não mudaria o que aconteceu. Eu sinto que destruí sua vida.

Ele abriu a boca para negar, mas não conseguiu. Nunca foi de meias palavras ou eufemismos e, embora não fosse algo proposital, sua mãe realmente havia prejudicado seu desenvolvimento, direta ou indiretamente. Ainda assim, jamais a responsabilizaria pelas péssimas decisões que tomou ao longo da vida.

— Foi um acidente, mãe, e o que aconteceu depois não foi exatamente culpa sua. Nunca precisei de ajuda pra ferrar comigo mesmo.

A mão que pairava ao lado de seu rosto finalmente o tocou, fazendo-o ofegar. A ponta dos dedos femininos contornou a bandagem e terminou o movimento espalmando o rosto do filho. Felipe fechou os olhos sob o calor daquela palma que ele não se lembrava de tê-lo tocado desde a infância.

— Me perdoa, filho.

Felipe abriu os olhos e viu lágrimas na superfície prateada dos olhos de Graça. Ele mesmo sentiu uma dor na garganta, como se houvesse ali uma fera há muito enjaulada, desesperada por se libertar.

— Pelo quê, exatamente?

Ele poderia ter aceitado as palavras e engolido suas próprias constatações, mas não faria isso de novo. Meses de terapia teriam servido para alguma coisa, afinal.

— Por não ter expressado o quão extraordinário você sempre foi.

— Não que eu possa assumir isso como algo nato. Está mais para um defeito muito maneiro...

— Não diga bobagens, Felipe! Não agora!

Ele engoliu em seco diante do tom firme, mas sustentou o olhar da matriarca.

— Não precisa disso, ok? Tá tudo bem, eu já disse.

— Não é um detalhe como memória fotográfica ou hipersensibilidade que faz de você uma pessoa impressionante, Lipe. Você sempre foi, desde bebê! Nem sempre assumi, pois isso era aterrorizante pra mim! 

— Não entendo... — ele murmurou, uma ruga entre os olhos demonstrando sua confusão interna.

— Enquanto seus irmãos me tinham como suporte e acolhimento, você nunca precisou de mim. Aprendeu a andar e falar sem ajuda, cada fase que você conquistava por si me afastava ainda mais. Eu consegui educar Pablo e Thiago, mas você sempre ignorou minhas palavras e fazia tudo do seu jeito.

— Acho que rebeldia não torna ninguém "extraordinário"... — desdenhou.

— Você era rebelde sim — ela o interrompeu —, mas hoje eu sei que não era por capricho, e sim porque você nunca aceitou que te dissessem como agir, ser ou pensar. Sua intransigência era o reflexo de algo muito maior, uma determinação inabalável. Você parecia saber quem era e o que queria para si. Isso era difícil demais de lidar.

— Tá enganada. Passei a vida toda perdido, mãe...

— Seu pai entendia, sabe? — ela continuou, como se ele não tivesse dito nada. — Ele dizia que você seria brilhante e que eu precisava te deixar livre, que eu tinha que parar de tentar te moldar, mas meu medo estragou tudo.

Felipe sentia-se extremamente desconfortável com aquela conversa, mas sabia que não deveria fugir do assunto. Ouvir aquelas palavras de sua mãe era como se garras o arranhassem por dentro, arrancando cascas de feridas ainda em cicatrização.

— Vai ver a intransigência é um traço de família — ele ironizou.

— Talvez, o pior de todos. — Ela deu um longo suspiro e deixou a mão tombar ao lado do corpo. — Mas é isso, Felipe. Acho que demorei demais a ter essa conversa.

Ele pensou por um tempo. Seu olhar se desgrudou dela e alcançou a porta fechada logo atrás. Uma TV ligada num programa de vendas marcava a hora: 3h40 da madrugada. Estava exausto, dolorido e sem cabeça para dramas.

— Não sei o que dizer.

Não sabia mesmo. Só queria que o tempo passasse mais rápido para que pudesse voltar para casa, de preferência com Gabriela. Tinha consciência de que aquela única conversa não resolveria os problemas entre eles, mas seria cretino da parte dele não ouvir o que a mãe tinha a dizer, e leviano não se importar. 

No fundo, tudo não passava de medo. Insegurança de acreditar que seria diferente dessa vez. O terapeuta constantemente o incentivava a ter mais fé, a parar de perseguir tragédias. Talvez fosse a hora de abrir esse quarto trancado por tantos anos para que uma brisa movesse o acúmulo de sujeira. 

 — Não diga nada — ela concluiu —, apenas pense nisso, ok? Pense em perdoar essa mãe por ter sido tão orgulhosa. Você passou por tanta coisa, foram tantos percalços, mas está conseguindo, como sempre, do seu próprio jeito. Eu deveria ter te apoiado, participado das suas escolhas... Eu deveria ter acreditado em você, ter te visitado na reabilitação... ter deixado de ignorar seus problemas. Por muito tempo eu fingi que eles não existiam, mas não significa que cada um deles não me afetou profundamente. É por essas coisas que eu preciso me retratar, entende?

Ele mantinha os olhos baixos agora, incapaz de encará-la. Em seu peito, a vontade de chorar era sufocante.

— Tá bem. Vamos conversando sobre isso. 

Ele poderia ter dito que sim, que a perdoava, mas havia um longo caminho pela frente. Ao menos, o primeiro passo foi dado, um passo bem importante.

— Posso te abraçar? — ela pediu, soando mais segura do que realmente estava.

Ele hesitou mais uma vez. Não entendia como um gesto tão simples vindo de sua própria mãe podia parecer tão assustador. Entretanto, após minutos que pareceram bem mais que isso, ele abriu os braços, meio sem jeito.

— Tudo bem.

Quando ela o envolveu, ele sentiu como se aquele nó na garganta explodisse em milhares de pedaços. O desconforto o fez arfar, e seus olhos nublaram com lágrimas reprimidas. As últimas palavras de Graça soaram com uma voz embargada:

— Eu quero que saiba que, apesar de tantas críticas que fiz, eu sempre me orgulhei de você, filho. Sei que não foi o que pareceu, mas essa é a grande verdade. Talvez eu ainda não entenda como você funciona, mas estou disposta a tentar, se você deixar.

Felipe deixou uma lágrima correr, e essa puxou outras consigo. Aquele que sempre se sentiu incapaz de atender as expectativas, percebeu naquele instante que ainda havia um lugar que só pertencia a ele.

— Eu aceito tentar. 


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