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67 - Sonhos

Gabi mantinha os olhos no velocímetro do Honda HRV alugado que os transportava para sua cidade natal. Sempre que o conta-giro digital passava dos 100 km/h, ela pressionava a coxa de Felipe, advertindo-o para que tirasse o pé do acelerador.

— Viajar com você é muito chato — ele resmungou. Gabi sorriu e beliscou a coxa dele, fazendo-o soltar um palavrão.

 — Dessa vez ninguém tá morrendo, nem estamos atrasados pra nada, então, que tal apreciar a viagem? Olha aquelas vaquinhas ali, que fofas.

— Vacas fofas? Em que mundo?

— Para de ser um pé no saco, Felipe! 

Ele deu um sorriso arrogante e girou o pescoço em direção a ela.

— Acho foda quando você solta a língua, Gabriela.

— Solto... eu não soltei nada!

— Ah, vai! Manda um palavrão aí! Sou doido pra ver essa boquinha delicada falando sacanagem.

— Se ficar me enchendo com isso, você não vai ver minha boquinha fazendo nada por uns dias!

— Ah, não? — ele levou a mão até a coxa dela, insinuando os dedos em direção à virilha — aposto que não consegue...

— Para de ser arrogante! 

Ele deu uma gargalhada breve e grave. O efeito em Gabi era sempre o mesmo: um milhão de borboletas se debatendo para todos os lados.

E logicamente, a resposta do corpo explicitava que Felipe tinha razão.

Fazia três horas que tinham deixado a capital rumo a Votuporanga. Optaram por viajar no sábado, logo pela manhã, assim não perdiam nenhum dia de trabalho conforme Gabi havia determinado. 

Os últimos dois dias na agência foram um pouco estranhos para ela. Logo que chegaram, na manhã seguinte ao evento envolvendo a recuperação de Thiago e a crise de Felipe, ele fez o anúncio de que ele e Gabi estavam num relacionamento. A forma como comunicou lembrou um pouco o antigo Felipe: mordaz e peremptório.

A primeira sensação que ela teve foi de que a equipe estava de boa com a questão, principalmente seus amigos mais próximos: Rob, Cíntia, Diana e Nay. Ao longo do dia, porém, algo no olhar de Leo, e o mau-humor ácido de Diego passaram a incomodá-la. Yara não comentou nada; Niko, surpreendentemente, não a assassinou em silêncio em algum canto escuro do local, e Henrique, o outro designer, continuou com seus AirPods, no mundo da lua,  alheio a qualquer clima residual; contudo uma frase dele a deixou surpresa:

"Pra mim vocês sempre foram um casal". 

No fim do segundo dia, Diego a cercou na copa, como sempre, cheio de peçonha. Começou uma conversa insinuando que ela se colocava em situações que obrigavam Felipe a notá-la. Ela respondeu que isso não era da conta dele, até que ele lançou a frase mais maldosa que já ouvira dentro daquelas paredes.

"Você foi esperta em usar sua beleza para se destacar e conseguir oportunidades na carreira. Sorte sua que Felipe sempre preferiu as loiras, diferente de Pablo."

Chocada, Gabi abriu a boca para responder, mas a voz que a interrompeu foi muito mais firme, imperiosa e incontestável.

"Diego, quero que pegue suas coisas agora e se dirija ao escritório de contabilidade. Não precisa dizer nada a ninguém, você assinará os papéis quando chegar lá. Não quero ouvir mais um pio, nem ver mais essa sua cara lavada na minha frente. Não sei nem como Felipe te deu a chance de voltar, foi só mais uma das decisões questionáveis dele, mas eu não dou a mínima. Você tem dez minutos."

Gabi cruzou o olhar com Rob, apoiado ao batente da porta, às costas de Diego. Ele tinha seus avantajados braços cruzados e uma postura agigantada pela autoridade que emanava. Parecia um orixá justiceiro. Ela nunca o havia visto desta maneira, e foi... estranho. Um "estranho" muito bem-vindo e muito bom.

Diego ainda tentou argumentar que o coordenador não tinha o direito de demiti-lo, já que não era diretor da agência, e Rob desafiou-o a irem até a sala de Felipe contar o motivo da dispensa. Nesse momento, Diego que não era idiota, decidiu acatar a decisão de Rob, pois certamente seria o fim de sua carreira se Felipe soubesse daquela conversa.

— Eu nunca entendi por que você recontratou o Diego, principalmente depois de ele ter usurpado meu trabalho — ela mencionou de repente, fazendo Felipe a sondá-la, curioso.

— Nossa... esse assunto assim, do nada? 

— É, ué. Pensei nisso agora, afinal, ele foi demitido.

Ele fez uma pausa prolongada antes de responder.

— Bom, eu o contratei porque precisava de alguém com urgência e não estava com saco pra procurar.

— Mas... ele agiu de um modo horrível!

— Eu sei. Eu também ajo de modo horrível na maior parte do tempo. Na real, eu só quis resolver um problema de modo rápido.

— Pragmático.

— Entre outras coisas. Não tem que se preocupar com isso agora, Rob se livrou dele pra mim.

— Ai, credo! Precisa falar como se ele fosse um acessório descartável?

Ele ficou em silêncio por um instante, até que se pronunciou, um tanto quanto contrariado.

— Primeiro, você acha ruim quando o rapaz volta, depois reclama pela forma como ele foi mandado embora? Eu sinto muito, mas a vida é assim, Gabriela. As pessoas vêm e vão, e o mundo continua girando. Não posso considerar esses lances passageiros como definitivos. Mesmo o que parece definitivo não é garantia de que vá durar.

Ela engoliu em seco. Ele não estava errado, e ela, como sempre, se repreendeu por viver divagando, como se houvesse um significado importante para cada coisinha que acontecia na sua vida. 

— Quando diz isso, você inclui... nós?

Ele soltou um longo suspiro, e Gabi se arrependeu por ter feito a pergunta. Certamente ele agora estava conjecturando acerca de como um bate papo despretencioso sobre limites de velocidade se transformara numa análise sobre a durabilidade das relações humanas.

O silêncio perdurou por uns vinte minutos. Gabi já nem esperava mais uma resposta, e lutava contra a sonolência que o ronco do carro lhe proporcionava quando ele finalmente se pronunciou:

— Eu não fico pensando em quanto vai durar. Cada dia da minha vida é um milagre. Eu deveria ter morrido aos dez anos de idade, quando caí do carro. Deveria ter morrido no acidente que levou meu irmão e sua mãe embora. Deveria ter morrido em cada uma das quatro overdoses que sofri, mas eu continuo aqui. Isso, pra mim, já é a eternidade, entende? É muito mais do que eu julgo merecer. Então, o que isso tem a ver com eu e você? Que um único dia com você é tudo o que eu ouso esperar. Se um dia virarem dois, um mês, um ano, uma vida... Será um presente não merecido.

Depois dessa, ela não conseguiu falar mais nada. O impacto das palavras causou um aperto em sua garganta, e a similaridade do que ele dissera com a forma como ela interpretava a própria existência era assustadora. 

Ela era uma sobrevivente. Dos traumas, do acidente, dos riscos que correu para chegar onde estava. Cada dia era um presente, e ela precisava aprender a aceitar essa dádiva para que seu passado não roubasse mais seu futuro.

Após mais uma hora de viagem, pararam num complexo comercial de beira de estrada para tomar um café e espantar o cansaço das longas horas sentados.

— Sabe, eu amo viajar. Essa coisa de pegar um carro e sair por aí sem destino... — Gabi começou a falar enquanto esperavam na fila em frente ao caixa da cafeteria, mas acabou parando para rir de si mesma, desconcertada. — Affe! E o que eu sei sobre isso? Nunca fiz nada parecido! Só peguei um ônibus para São Paulo e tô aqui pagando de garota viajada...

— O que tem a ver o fato de não ter feito? — Felipe a interrompeu, abraçando-a pela cintura e depositando um beijo na ponta do seu nariz. — Sonhar é quase tão poderoso quanto realizar. Sem sonhos, não há desejos. Sem desejos, a vida perde o sentido. 

— Sonhar... é, acho que posso me considerar uma sonhadora. Sabe que, antes mesmo de ser contratada pela agência, eu sonhei com você?

— Sonhou? — Ele pareceu genuinamente surpreso.

— Pois é. Eu fiquei com você na cabeça, depois de ter cruzado contigo no banheiro — sua expressão mudou de repente —, e você ter sido um grosso comigo.

— Eu fui grosso?

Mais uma vez, Gabi se perguntou se ele realmente não percebia o quanto era austero na maior parte do tempo.

— Foi. Me deixou com a mão estendida, esperando saber seu nome.

Ele moveu os olhos ligeiramente de um lado para o outro, repetidamente. Gabi achava engraçado esses momentos, quando parecia que ele estava lendo um texto em alta velocidade, ou procurando arquivos numa prateleira entulhada. 

— Sim... talvez. Mas não foi intencional. Eu fiquei aturdido, sem saber como reagir. Minha mente entrou em colapso quando te reconheci, e eu precisava fugir. Mas você disse que sonhou comigo depois... — Ele ergueu o canto do lábio num esboço de sorriso e arqueou as sobrancelhas, algo que o deixou com a expressão tão sexy que Gabi sentiu o coração acelerar.

— Eu... hm, então, não foi nada demais. Sonhei com você num metrô vazio, e eu usava uma roupa parecida com a que usei no evento da Tijolo Engenharia... — então fez uma pausa, conjecturando. — Você acredita que sonhos possam mostrar o futuro?

— Não, de fato. Não sonhos, mas acredito que nossos desejos nos apontam o caminho, e, em algum momento, a gente se depara com os objetos desses desejos. Quando acontece, realizá-los ou não é decisão nossa. 

— Você me desejou, em algum momento? Digo, não a mim, mas alguém como eu?

Ele sorriu, pediu no caixa um café preto para si e um achocolatado conforme desejo de Gabi, e a levou pela mão até uma das mesas da cafeteria do complexo; só então respondeu.

— Meu pai sempre me dizia que um dia alguém me veria além da caricatura. Eu nunca acreditei nele. Acho que ele sonhou por nós dois. 

— Seu pai deve ter sido um grande homem.

— Ah sim. Ele era "o cara"... — então soltou o ar e mirou em algum ponto distante, além das vidraças do complexo. — Ele e o Thiago me viam além da caricatura. Quando se foram, eu me senti enclausurado num mundo escuro, e achei que nunca mais ninguém me encontraria. Então... você apareceu, toda molhada num banheiro unissex e... caralho! Eu passei a desejar outra vez. 

— Ooowwwnnn — ela se inclinou sobre a mesa e o beijou de leve os lábios — meu demônio favorito tá todo emotivinho...

— Para — ele fingiu estar irritado, mas seus olhos sorriam. Foi especial aquele momento singelo, que antecedia o encontro macabro que teriam logo mais. 

Consumiram os próprios pedidos e passaram o restante do tempo num silêncio confortável. Quando voltaram para a estrada, era meio da tarde. Gabi cochilou e a passagem das próximas horas se deu sem que ela sentisse.

Contrário a ela, Felipe sentia cada segundo pesando, tornando-o mais apreensivo sobre o que iriam enfrentar quando chegassem à cidade. O pai de Gabriela estaria lá? Quem era aquela mulher? Seria apenas uma isca para atrair Gabriela? Seria um truque nojento daquele homem desprezível?

Ele não queria pensar nisso agora. Tudo o que sabia, é que aquela história estava prestes a ser desvendada, e em nenhuma hipótese, Gabriela seria submetida a qualquer risco, nem teria sua existência marcada novamente por aquele nojento execrável. 

Algum tempo depois, quando finalmente o automóvel virou na ruela onde Gabi havia vivido boa parte da vida, o solavanco da pista esburacada a acordou do cochilo. A apreensão em seus olhos foi tão notória que, por pouco, Felipe não manobrou o carro e adiou o confronto.

Contudo, seguiu em frente, com os faróis baixos ligados. Ao se aproximarem da casa, a silhueta do caminhão podia ser vista além da mureta que separava a residência decadente do terreno ao lado.

— Ele está em casa — Gabi afirmou num fiapo de voz.

— Você está pronta pra isso? — ele perguntou, preocupado.

— Estou — ela respondeu, resoluta.

— Então, vamos acabar logo com isso.

Desceram do carro e, de mãos dadas, caminharam até o portão. Antes que anunciassem sua presença, o farol do caminhão se acendeu, alertando-os de que o motorista ocupava o veículo, e que acabara de acionar a ignição.

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