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60 - Meio do Nada

De longe, Felipe olhava o casebre cujo mato ao redor quase escondia a entrada. Além da vegetação alta espalhada por todo o terreno, havia uma quantidade considerável de entulho acumulado: montes de ferro-velho, pneus, móveis quebrados e até alguns eletrodomésticos corroídos pela ferrugem. O pavimento não era cimentado, mas coberto por britas, o que favorecia o crescimento descontrolado da vegetação.

A ruela, que cortava o bairro de uma área rural no extremo do município, também era de terra batida, e as poucas casas que acompanhavam o caminho eram separadas por terrenos baldios igualmente cobertos de mato, alguns murados, outros com cercas caindo aos pedaços. Aquela casa específica ficava entre duas áreas extensas e vazias, distante das casas vizinhas.

Parecia um lugar esquecido, abandonado. Olhando assim, realmente se podia crer que ninguém vivia ali, dado o estado da pintura, das portas e janelas descascadas, do portão enferrujado e torto, e de toda aquela tralha acumulada, que imprimia um aspecto sujo e funesto, como um imóvel mal-assombrado.

Felipe não acreditava em fantasmas. Ao menos não nesses de filme de terror. Para ele, almas que não encontravam o caminho para a luz vagavam por aí, e não perdiam tempo assombrando ou prejudicando a vida dos vivos.

Quem fazia isso eram pessoas vivas, não mortas.

Ele sempre soubera onde Gabriela morava, pois a empresa que providenciou a documentação envolvendo as doações havia levantado todas as informações com o pai dela, quando este esteve no hospital; mesmo sabendo o endereço, Felipe nunca havia visitado o local. Se o tivesse feito ao menos por curiosidade, teria percebido a burrada que vinha cometendo. O descaso e o abandono eram tão evidentes que só um louco não teria percebido.

Louco. Talvez ele fosse, no fim das contas. Sempre agira por impulso, por arrogância ou por qualquer outro motivo idiota. Tão sagaz para algumas coisas, era um ignorante no que dizia respeito ao comportamento humano. Se tivesse um mínimo de bom senso nesse quesito, não teria se envolvido com péssimas companhias, e talvez sua história fosse completamente diferente.

Provavelmente ele e Gabriela jamais teriam se encontrado.

Não conseguia decidir se isso seria bom ou ruim. Numa ótica simplista, teria escolhido Thiago, sem sombra de dúvida; mas nada garantia que seus problemas emocionais não o rendessem uma hora ou outra, levando-o a cometer os mesmos erros. Já Gabriela, talvez tivesse realmente morrido naquela curva de estrada e...

— Merda... — praguejou; não conseguia mais conceber um mundo sem ela. Pensar nisso o fazia sentir o peito queimar, como se estivesse doente.

Movido por impulso, ele foi até aquele fim de mundo sem avisar ninguém. Devia ter conversado com Gabriela, mas estava chateado. Não precisamente com ela... ok, talvez estivesse um pouco, mas não lhe tirava a razão. Por mais que ela fosse bem madura em muitas coisas, não tinha experiência em relacionamentos, então um comportamento mais maduro não era esperado. 

Por fim, o fato de ela ter ficado tão grilada com as doações que ele fizera ao pai acabaram adiando a conversa sobre os telefonemas e... Mais uma vez, ele estava agindo pelas costas dela. Prometera a si mesmo que não tomaria nenhuma atitude. Fora até ali apenas para investigar, nada além disso. Não faria nada, a não ser que...

A não ser que desse de cara com aquele homem. Pensar na situação trouxe a imagem completa de quando o viu pela primeira vez, aqueles olhos lascivos lambendo Gabriela no saguão do prédio, as palavras obscenas que "vomitou" para cima dela... Seu sangue começou a correr mais rápido; a boca secou e ele fechou as mãos com força, depois inspirou e soltou o ar lentamente. Precisava se acalmar, parar de procurar ao redor qualquer objeto cortante ou forte o suficiente para abrir o crânio do sujeito. Deixar esses pensamentos intrusivos ganharem força só o meteria em confusão. Andava cansado de estar metido em problemas.

Mesmo assim, nada garantia que não faria o homem sangrar até a morte se estivesse numa situação favorável.

Buscando espantar os recém-descobertos instintos assassinos, aproximou-se do portão e bateu palmas, pois não havia uma campainha por ali. Aguardou um tempo e repetiu o gesto, até que a porta da frente se abriu ligeiramente, apenas uma fresta, e uma voz feminina gritou pela fenda.

— O que quer?

— Boa tarde! Eu... gostaria de falar com o proprietário da casa. Ele se encontra?

— Quem quer falar?

— Eu sou representante de uma empreiteira — ele mentiu, com um sorriso simpático no rosto — há um interesse nos imóveis dessa região.

— Aqui não tem ninguém com quem o moço possa falar. Volte outro dia!

— Eu... não posso falar com você?

— Não. Não pode. Vá embora! — A mulher abriu um pouco mais a porta ao responder, e então ele pôde ver-lhe o rosto, parcialmente coberto por sombras. Ela tinha um aspecto pálido, rosto encovado e parecia ter o cabelo loiro, ou talvez fosse grisalho.

— Eu posso ao menos deixar um cartão com a senhora?

— Deixa aí no portão. Passar bem!

E fechou a porta. Encafifado, Felipe prensou o cartão falso no portão, recolocou o capacete e subiu na moto. Acelerou até a casa vizinha, logo após uma área descampada. Estacionou a moto ali e voltou a pé, tomando o cuidado de caminhar oculto pelas sombras do matagal e rente ao muro. Quando chegou perto do portão, escondeu-se atrás de uma árvore e aguardou.

Não demorou muito, a mulher saiu da casa. Era muito magra, tinha a pele clara salpicada de sardas, e o cabelo loiro, preso num coque, era entremeado de fios brancos. Suas roupas pareciam velhas, gastas, mas estavam limpas. Por ser muito branca, não havia como esconder algumas manchas escuras nos braços, o que ele concluiu serem hematomas.

Ela vasculhou os arredores antes de se aproximar do portão, depois pegou o cartão e correu para dentro da casa, fechando a porta.

Aturdido, ele demorou um tempo a se mover. Seria mesmo aquele o lugar? Talvez o homem tivesse se mudado, mas algo lhe dizia que não, e esse algo eram as manchas no corpo da mulher.

O céu já apresentava uma tonalidade alaranjada quando ele saiu do lugar e caminhou para além da casa, até o terreno ao lado do muro que isolava a residência. A estrada de terra era sulcada e se aprofundava ali, tanto pela valeta natural quanto pela ação de algo mais pesado que costumava transitar naquele trecho. Seus pés calçados com botas pararam às bordas das marcas de pneus de caminhão.

— O homem é caminhoneiro, então... deve ser esse o lugar — murmurou para si mesmo.

Pelo jeito, aquele lixo humano continuava fazendo vítimas. Não seria fácil simplesmente fazer uma denúncia, pois bem sabia como eram essas coisas. Se a mulher defendesse o caminhoneiro, não haveria nada que ninguém pudesse fazer para ajudar. Precisava pensar melhor e, acima de tudo, conversar com Gabriela. Não havia mais desculpas para esconder esse assunto dela.

Determinado, ele caminhou até a moto e, quando estava para colocar o capacete, seu Apple Watch acendeu com uma chamada.

— Oi, meu amor... — ele atendeu e se sentiu meio bobo pela forma como falou. Ele não era de usar palavras fofinhas ou fazer demonstrações de afeto, mas o cumprimento saiu de maneira tão natural que ele nem pôde segurar. Ignorou a própria cafonice e continuou a conversa — como você tá? Tentei falar com você mais cedo.

Tô melhor agora. E você? — ela parecia tristonha. Ele não gostou de percebê-la assim e ficou irritado ao se lembrar de que estava há horas de distância dela.

— Eu tô bem. Preocupado com você. Ainda tá brava comigo?

Não tô brava com você. Fiquei chateada, mas já está passando. Na verdade... bom, a gente conversa quando você voltar.

Ele soltou o ar, constrangido pela forma como suas entranhas se moveram, como se seres com penas habitassem e sobrevoassem seu estômago. Sentiu o coração acelerar e as palmas das mãos umedeceram instantaneamente.

Você é tão patético!

— Eu tô voltando hoje e vou chegar de madrugada, então amanhã a gente vai poder se ver.

Onde você está?

Ele travou a mandíbula, incerto sobre o que responder. Tentou falar a verdade, sem ser muito específico.

— Eu precisei viajar para o interior, pra resolver uns assuntos.

Assuntos da agência?

Merda!

— Não. São assuntos... pessoais.

Houve um silêncio, enquanto ele cutucava a cutícula do dedão, até que uma fisgada o fez parar. Ficou olhando o sangue brotando perto da unha, ansioso.

— Você vai me contar? — ela sussurrou. Parecia tão carente que ele sentiu-se péssimo por já não ter contado a ela.

— Vou te contar tudo quando chegar.

— Sei...

A ansiedade cresceu nele de modo acelerado.

— Amanhã, sem falta, a gente conversa.

— Tá certo. Bom, vou desligar.

Ele segurou o "eu amo você" na pontada língua por tempo demais, até que o vazio da ligação encerrada o fez se mover. Irritado consigo mesmo, subiu na moto, ligou o farol e acelerou rumo à rodovia. 

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