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47 - Nova

OITO SEMANAS DEPOIS

— Não é justo! — Gabi quase gritou quando a carta '+4' do Jogo Uno foi lançada no monte à sua frente. Diana, Cíntia, Rob e o marido Fábio, riram deliciados pela jogada que a faria comprar mais cartas, evitando o fim do jogo naquela rodada. 

— Sem choro, Gabi. Além do mais, você já ganhou hoje!

— Uma vez! Só uma vez e vocês ganharam um monte de vezes!

Certo, ela estava um pouco alterada e esse comportamento competitivo era algo que vinha despontando nela de modo ferrenho nas últimas semanas.

— Aquieta o facho, mulher, credo! — Fábio emendou a fala numa gargalhada que acabou puxando os demais num riso coletivo.

— Ah, claro. Óbvio que vão rir da minha cara — Gabi resmungou encarando Fábio. O rapaz baixinho de pele sardenta, cachos ruivos e porte magro fazia um contraste fascinante com Rob, e tinha um humor ácido que apimentava qualquer socialização.

— Lógico, você fica toda ofendidinha. — Diana empurrou o monte para que Gabi comprasse as cartas obrigatórias.

Gabi pegou as cartas e acabou relaxando. Precisava se lembrar de que não estava em uma corrida pela sobrevivência, como passara a vida inteira fazendo. Não havia nada ali que ameaçasse roubar o que ela vinha conquistando e, se parasse para pensar, não deveria haver nada capaz de atrapalhar sua paz de espírito.

As coisas iam bem, ao menos na aparência. Gabi continuava trabalhando na agência, tinha sido promovida de aprendiz a assistente de criação, recebera um aumento de salário e estava curtindo sua primeira noite de jogos no pequeno estúdio que, finalmente, conseguira alugar para si.

O espaço tinha menos de 40 metros quadrados, contava com um banheiro, uma cozinha minúscula e um cômodo maior onde ela dormia e também socializava. Seus móveis não passavam de um sofá-cama, uma geladeira adquirida em um outlet de usados, duas banquetas, um micro-ondas e uma estante com poucos livros. O espaço já vinha com armário embutido e um balcão dividindo a cozinha, então, com isso, ela tinha o mínimo para se virar sozinha.

Seus amigos não se importaram em se esparramar no chão para a noite de jogos. O piso, revestido com um acabamento emborrachado que imitava madeira, era até aconchegante na quente noite primaveril. A brisa que entrava pela janela aberta era morna e levemente poluída, mas todos estavam acostumados. De um celular aleatório, o timbre suave de Billie Eilish competia com as gargalhadas dos amigos em mais uma partida.

Por um momento, Gabi se perdeu em divagações. Fábio estava deitado com a cabeça nas pernas de Rob, numa postura totalmente relaxada, enquanto Cíntia e Diana usavam as costas uma da outra como apoio. Dois casais homoafetivos, e ela seguia sozinha. Leo deveria ter vindo, mas um imprevisto impediu sua presença no 'open house' de Gabi.

— Acorda, Gabi! É sua vez!

Trazida de volta, Gabi jogou uma carta de 'reverso'. Sorriu vingativa ao ver a expressão desolada de Diana ao comprar mais cartas para a próxima jogada, pegou uma pipoca do balde à sua frente e deu um gole na lata de refrigerante, que deixava círculos suados no piso.

— Prometo que da próxima vez que vierem, terei uma mesa pra isso — lamentou, envergonhada pelo fato de estarem comendo coisas apoiadas no chão.

— Relaxa com isso — Rob a tranquilizou enquanto brincava com uma pipoca, tirando-a do alcance da boca de Fábio —, tá super tranquilo tudo isso aqui. Gostei de verdade do seu espaço, Gabi, você deu seu toque e deixou tudo tão gostosinho... fiquei bem feliz por você não ter ficado constrangida em convidar a gente.

— Ficar eu até fiquei um pouco, mas estava tão orgulhosa de mim mesma...

— E com razão — Diana enfatizou — todo mundo aqui sabe o desafio que é viver nessa cidade, e você tá indo super bem. 

— Adorei os desenhos na parede! São todos seus? — Fábio perguntou, contemplando as folhas metodicamente coladas numa única parede às costas do sofá-cama. 

Gabi observou as páginas alinhadas como um mosaico, cobrindo a pintura cor de creme da parede. Em meio a diversas ilustrações de dragões, paisagens, bustos sem rosto e animais variados, no centro de todas, havia três ilustrações distintas, uma delas marcada por linhas amassadas. Eram os três esboços da garota olhando pela janela, e, na do centro, a mesma garota tinha o rosto virado de lado.

— Nem todos... — respondeu, absorta pela imagem do meio. 

— Eu sempre desconfiei que fosse você — Rob murmurou.

Gabi encarou o amigo, surpresa. A troca de olhares durou alguns segundos, tempo suficiente para que se comunicassem de forma furtiva sobre algo que apenas eles entendiam. Os demais não prestaram atenção a isso e continuaram jogando, enquanto Gabi guardava a informação para outro momento.

Seu celular vibrou. Ela atendeu, porém a ligação foi encerrada assim que ela disse 'alô'. Havia dias que isso vinha ocorrendo, e ela desconfiava que fosse alguma ligação eletrônica de telemarketing pois quando ela ligava de volta, só dava ocupado.

— Continuam te ligando? — Cíntia perguntou.

— Não deve ser nada. 

— Entra naquele site 'Não Perturbe' e cadastra seu número lá. Essas ligações tendem a diminuir depois disso.

— Presta atenção no jogo, Cíntia! Você jogou um '8 vermelho' em cima de um '2 verde'! — Fábio reclamou e a ruiva riu, sem graça. 

 A brincadeira ainda se estendeu por pouco mais de uma hora. Ao final da jogatina, conversaram por um tempo sobre amenidades e, por fim, perto das 23h, todos resolveram que já era hora de ir embora, visto que teriam de trabalhar no dia seguinte.

— Adorei seu cafofinho, gata! — Rob a abraçou com carinho, seguido por Cíntia e Diana. Fábio deu um beijo desajeitado no rosto de Gabi e ela os acompanhou até o elevador antigo do edifício cinquentenário.

— Até amanhã, pessoal. Até a próxima, Fábio. Obrigada por terem vindo — despediu-se.

Quando voltou ao estúdio, contemplou o espaço por um tempo. Dois baldes de pipoca, com várias latas de refrigerante e cerveja dentro, repousavam ao pé do sofá-cama. O piso estava ligeiramente sujo por algumas pipocas espalhadas e marcas circulares das latas. Havia sacolas com presentes para a casa, trazidos pelos amigos. Os sinais de que pessoas estiveram ali lhe causaram um prazer tão intenso que produziram um sorriso genuíno de gratidão. Fechou a porta, caminhou até o sofá-cama e se jogou ali, com o corpo meio de lado, enquanto observava seu mural de ilustrações.

— É, minha pequena bolha. Amanhã vou ver se consigo comprar umas lampadinhas de natal para enfeitar essa área — falou para as paredes enquanto contornava as linhas da ilustração da garota na janela com a ponta do dedo.

Seu coração se contraiu dentro do peito. A breve atmosfera de prazer foi aos poucos escurecendo, como uma sombra que dessatura as cores, uma nuvem que bloqueia o sol e seu calor. Cruzou os braços, como se a brisa da noite trouxesse um mau presságio, e soltou o ar lentamente, concentrando-se na respiração.

Fazia três meses desde que vira Felipe desaparecer numa esquina. Três meses em que a única informação que tinha a respeito dele era que continuava vivo, já que fazia videoconferências com Rob a cada quinze dias. Em tais ocasiões, ela sequer ouviu a voz do demônio, pois Rob costumava se fechar na sala do diretor criativo para os encontros virtuais. Ela sabia que ele fazia isso porque precisava passar informações sobre a equipe, e não faria isso na frente de todos, obviamente.

Ela se perguntava o que eles conversavam em tais ocasiões. Felipe perguntava sobre ela? Voltaria quando? Estaria bem? Ela se coçava para saber e Rob, por mais amigo que fosse, era um profissional extremamente diligente e levava suas obrigações muito à sério. Seria inútil tentar tirar qualquer informação dele.

Seu celular brilhou com a chegada de uma notificação. Era de Pablo. Ela alcançou o aparelho e leu a mensagem curta e direta.

"O bebê está bem".

Soltou um suspiro aliviado e apoiou o queixo no encosto do sofá-cama. Estava feliz em saber que tudo ia bem com o bebê. Ainda que ela e Pablo tivessem se afastado, aos poucos, voltaram a conversar, nada muito próximo, mas um contato natural por trabalharem no mesmo ambiente. Àz vezes, por educação, ela perguntava sobre o bebê que, no momento, todos já sabiam que estava a caminho. 

Pela manhã, Pablo esbarrou nela na porta da sala enquanto saía apressado do escritório. Preocupada com a expressão dele, ela perguntou se estava tudo bem, e foi quando ele informou, sem muita cerimônia, que Jackie estava com um sangramento e o esperava no hospital. Por fim, ela pediu que ele mandasse notícias e ficou pensando nisso ao longo do dia.

Apesar das artimanhas de Jackie, Gabi não guardava mais rancor. O sentimento, que já não era muito sólido antes, acabou evaporando com o tempo. No momento, ela só pensava que um bebê estava a caminho; nem tinha nascido ainda e já tinha os pais separados. Pablo parecia cada vez mais envolvido com a paternidade, pelas poucas conversas que ela ouvia quando ele compartilhava algo com Leo ou Rob de vez em quando, e ela chegava a sentir um pouco de nostalgia por não ter mais nenhuma proximidade real com os De Santis.

Ao menos, nunca mais vira o ar da graça de Graça De Santis. Soubera, por intermédio de Cíntia, que a matriarca não voltara para a Alemanha com as gêmeas. Mesmo com Felipe ausente, ela também não mais pisou na agência, o que era surpreendente. Gabi não perdia tempo especulando sobre a mulher, mas seu pensamento não se desconectava um segundo do Demônio.

Fechou os olhos. Por um instante, deixou a mente vagar sem rumo até se encontrar numa casa de campo: cheiro de mato, uma lareira acesa... um ofurô de madeira. Tudo voltou como a brisa da noite e a envolveu como uma carícia. O perfume do shampoo, o toque das mãos, o hálito quente contra seus lábios, o aço dos olhos...

O som de outra notificação a tirou do devaneio. Pegou o aparelho e abriu a mensagem. Era de Rob.

"O cliente acabou de mandar a mensagem. Aprovaram sua ideia! Mais uma conta garantida, Gabi, graças a você! Se prepara porque esse bônus vai te ajudar a comprar aquela mesa!"

Um sorriso incontido dissipou a sensação de vazio que Felipe deixara. Ela absorveu a notícia com gosto de vitória e apreciou a conquista com grande satisfação. Abraçou o aparelho, curvou-se sobre uma almofada com capa de crochê e relaxou.

Era o seu momento. Não havia espaço para cozinhar uma dor antiga. O que viesse, viria de qualquer forma, e, embora cada pedacinho de si ansiasse pelo reencontro, ela trabalharia as emoções para estar forte o suficiente quando aqueles olhos gelados, que tudo registravam e guardavam, a escaneassem novamente.

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