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29 - Angústia

— Como isso foi acontecer, Gabriela?  A mãe ladrou.

— Você devia cuidar melhor dessa pequena vadia, mulher! Eu não fico em casa pra fazer seu trabalho, sua inútil! Olha como ela se comporta como uma puta! Deve ter "embuchado" de qualquer moleque por aí!  desdenhou o pai, encostado no batente descascado daquele quarto mofado.

Gabriela! Para de chorar e me fala quem fez isso com você!  a mãe insistia.

 Não sei, mãe...

 Como não sabe? Ninguém mais fica prenha do Espírito Santo, garota! Pare de esconder as coisas! Por Deus! Foi alguém maior de idade? Se foi, tem que ir pra cadeia! Se foi alguém da escola, eu preciso ir atrás dos pais! Diga a verdade, agora!

 Isso mesmo!  O pai tinha um sorriso de deboche no rosto barbado  por que não conta pra sua mãe como isso aconteceu, Gabriela?

Gabi olhou as esferas negras do homem mais desprezível que já conhecera e, enquanto as lágrimas desciam, declarou, cheia de medo.

 Eu não sei quem é o pai.

≈≈≈

 Gabriela...?

 Não, por favor, não...  Gabi se debatia. Os lençóis escuros que envolviam seu corpo estavam enroscados nas pernas que chutavam sem controle, enquanto ela tentava afastar a ameaça distribuindo tapas e empurrões aleatoriamente.

O medo era tamanho que chegava a roubar seu ar. Assim como o lençol a prendia, o terror a oprimia enquanto ela buscava o caminho para a voz que sussurrava em meio ao pesadelo. Ela continuou lutando tenazmente, até que sentiu lábios quentes tocarem sua orelha.

 Gabriela, acorda, meu amor...

Ela conhecia aquele som. A voz de chocolate quente soava tênue, era quase um sussurro, lento e aquecido. O murmúrio em seu ouvido dizia coisas como...

Amor?

Suas pálpebras se abriram lentamente, e um par de olhos prateados a fitou. Felipe estava inclinado sobre seu corpo, o rosto a um palmo do seu, a mão envolvia sua face e a ponta do polegar secava as lágrimas que ainda vertiam.

 Felipe?

 Você não respirava direito e me acordou aos socos. Com o que estava sonhando?

Ela se encolheu involuntariamente, mas ele a segurou pelos ombros, prorrogando o contato e oferecendo a ela a abertura para conversar.

— Não quero falar  sussurrou.

Felipe a olhava preocupado pois ela ainda tremia. Estava gelada e um suor frio cobria seu corpo ainda nu. Ele puxou o edredom emaranhado aos pés da cama e a cobriu com extremo carinho.

Ele havia percebido o pavor noturno, e não tentara acordá-la. Sabia que não deveria, então a amparou e apenas sussurrou suavemente no ouvido dela na esperança de que ela encontrasse sozinha o caminho para a consciência.

Era óbvio que o teor do pesadelo que a atormentara tinha a ver com o pai, pelas palavras de angústia sussurradas nos longos minutos em que foi obrigado a assisti-la sem interferir. Ele só podia supor que tal terror era resultado do encontro que ela tivera na tarde anterior.

 Falar ajuda, Gabriela. Não tenho moral para te dar esse conselho, mas ouvi dizer que faz bem.

 Ouviu quem dizer?

 Meu irmão.

 Pablo consegue espaço pra te dar conselhos?

 Pablo não dá conselhos. Ele julga, deduz e acusa.

 Se não é o Pablo...

 É o outro irmão.

 Thiago...

Gabi sentiu as mãos que ainda a acolhiam se retesarem. Felipe a soltou abruptamente e ela se arrependeu por entrar no assunto assim, sem preparo algum.

 Era óbvio que Pablo já tinha aberto o bico sobre o Thiago contigo. O que mais ele disse? Que foi minha culpa? Que eu não passo de um merda inconsequente? 

 Ele não disse isso. Disse que você era diferente antes do que aconteceu e deu pra perceber que ele te admira muito e sente falta de quem você era antes de tudo acontecer.

Felipe se sentou de costas para ela e ficou um longo tempo encarando um canto do quarto, onde repousava um cavalete com um bloco de papel em que era possível ver o esboço de uma forma masculina. Constrangida pelo momento, ela levou a mão ao dragão tatuado no dorso curvado e contornou o desenho com a ponta da unha. O gesto fez a pele dourada se arrepiar e isso provocou a sombra de um sorriso em seus lábios.

 Você me chamou de amor...

 Hm  ele continuava encarando o canto.

— Algumas vezes...

 Hm.

Eles haviam transado mais de uma vez naquela madrugada. Em alguns momentos, Felipe deixara escapar a palavra e ela chegara a pensar que era um escape inconsciente devido ao momento de prazer. Só que ele a havia chamado de amor de novo e ele não estava exatamente enlevado pelo prazer do ato sexual quando pronunciou a palavra. 

Ela estaria nas nuvens, se sua autoestima quebrada não a influenciasse a duvidar do sentimento implícito nas palavras dele. Estar ali, no espaço dele, fazia sua mente fértil imaginar quantas pessoas teriam ocupado aquela cama antes dela, e ela não conseguia se desvencilhar do sentimento amargo de ser apenas mais uma. 

 Quantos já ocuparam essa cama?

Então ele virou o corpo e fitou seus lábios, depois mirou os olhos de mel. Ele tinha uma ruga na testa e uma sombra de confusão no olhar.

 Você tá obcecada com quem se deita na minha cama. Esqueça isso, ok? Só vai te fazer ficar procurando respostas que não existem.

 Não consigo não pensar.

 Você diz isso por que é ciumenta ou por que gostaria de participar da festinha? – ele desdenhou, propositalmente lhe lançando um sorriso torto  eu não me importaria.

 Por que faz isso? Por que agride quando alguém tenta chegar perto?

 Foi você quem começou esse papo sobre quem ocupa ou não a minha cama. Não sei por que faz isso! É você quem tá aqui, não outra pessoa, ok?

 Não queria levantar discussão agora!

 Então não levanta, e eu não tô discutindo  ele respondeu, desanimado —, só te fiz uma pergunta e tava tentando ser gentil, mas ok, tô acostumado a ser tratado de acordo com a forma como sempre agi.

Ele pareceu tão chateado que Gabi procurou se acalmar. Precisava parar de se colocar para baixo, caso contrário, nunca entenderia o que eles sentiam um pelo outro.

 Desculpa, Felipe. Eu sei que fui infantil, mas você foi um imbecil.

Ele suspirou e voltou a encarar o cavalete. Quando o silêncio começou a ser quebrado pelo ruído de buzinas e sirenes, som característico da cidade acordando, ele voltou a falar.

 Gabriela, apenas diz para mim se você estava sonhando com seu pai.

 Sim  ela respondeu num sussurro  uma lembrança muito ruim.

 Quer me contar?

 Não, não quero. Eu tenho... Vergonha.

 Vergonha de mim? De você? Do que, exatamente? Já fiz tanta merda que acho difícil você ter motivos para se envergonhar de qualquer coisa na minha frente.

 Se eu te contar, você nunca mais vai me olhar da mesma maneira.

— E por acaso sabe como eu te olho, agora?

Excelente pergunta. Gabi pensou por um instante e descobriu que não fazia a menor ideia. Ainda que ele a tivesse resgatado do reencontro pavoroso com o pai, ainda que tivesse deduzido seu quadro de abuso, deixado claro que a desejava e a tivesse chamado de "amor", ele ainda era arredio e se comportava como se esse lance entre eles o incomodasse mais do que o agradasse. 

 Felipe... eu...  Gabi contemplou as costas tatuadas que tanto chamara sua atenção quando o viu pela primeira vez, e acariciou a base da coluna com a ponta do dedo, contando as vértebras na medida que deslizava a unha por sua extensão. As costelas aparentes a deixaram aflita, então ela desviou o olhar para o dragão que soltava fogo e se esqueceu do que ia dizer.

 Você não tem ideia de como eu te vejo  ele murmurou, trazendo-a de volta.

 E como você me vê?

Ele a encarou por cima do ombro. Havia um mundo de sentimentos no olhar, e por um instante, ela teve medo da resposta.

 Como uma tormenta. Um incêndio. Um furacão que devasta tudo por onde passa.

Que reconfortante!

 Tudo isso é muito ruim para mim. Não há um saldo positivo em nenhuma dessas tragédias. Contradiz a forma como você me chamou há pouco e definitivamente não tem nada a ver com  amor.

 E o que é o amor senão um "fogo que arde sem se ver", uma "ferida que dói e não se sente"?

Certo. Ele ia citar Camões. Ou Legião Urbana... tanto faz.

 Felipe...  ela o virou para que ficassem de frente um para o outro  o que está dizendo? Que sente isso por mim?

 Eu avisei que quando dissesse algo a você, seria a mais pura verdade.

Estarrecida, ela não podia acreditar no que ouvia.

 Desde quando?

– Desde antes.

– Antes do quê...? – Seu coração disparou.

 Se você me contar sua história, eu conto a minha.

Ela o encarava, perplexa. Era uma revelação bombástica. Desviou o olhar tentando se recuperar do baque das palavras e seus olhos pousaram no telefone sobre a mesa de cabeceira. Uma mensagem havia chegado e quando ela pegou o aparelho para conferir, viu o horário avançado.

 Ai, caramba! A gente tem que ir trabalhar!

Ela sabia que estava fugindo da situação. Não queria contar a própria história nem estava preparada para algo do tipo, e saber que Felipe sentia aquilo por ela era uma mudança de chave que ela não tinha como prever. Era um absurdo como a autoestima dela era tão baixa que ela sequer previra que ele podia corresponder os sentimentos que ela tinha por ele. 

Você tem.

Ele pareceu indiferente. Levantou da cama num rompante e se enfiou no banheiro. Gabi aproveitou o momento para procurar as próprias roupas e as colocou, preocupada porque chegaria à empresa com a mesma roupa do dia anterior. Se reparassem nesse detalhe, isso seria no mínimo terrível.

Quando Felipe saiu do banheiro usando nada além de uma toalha na cintura, parecia ainda mais distante. Pegou o aparelho e começou a digitar algo na tela.

 Estou chamando um Uber para te levar. Desculpe não oferecer um café da manhã ou um banho, mas não vi o horário. Não quero que você chame mais atenção sobre si, essa situação é para lá de complicada para nós dois e não quero te expor pra minha mãe. Vá, peça algo para comer no escritório e não responda perguntas.

 O que vai fazer?  Ela ficou apreensiva. Sabia que ele estava sendo prudente e não podia julgá-lo por agir de tal forma, mesmo assim, ficou triste ao notar que ele não queria ter o envolvimento de ambos revelado ainda.

Era o certo. Mesmo assim era uma droga!

Sem discutir e profundamente frustrada com a forma como terminava o tempo que haviam desfrutado juntos, ela deu a volta para deixar o quarto, mas antes, Felipe a puxou para um beijo molhado e longo. Por pouco, ela não desistiu de tudo só para ficar com ele pelo resto do dia, mas ele a soltou e a conduziu até a porta.

 Desculpe por isso, Gabriela. Por favor... me perdoa, mas você precisa ir.

Quando ele abriu a porta, ela sentiu um frio na barriga. Ficou em dúvida sobre o verdadeiro teor do pedido de desculpas. Havia uma atmosfera ruim em torno dele, talvez por causa da lembrança do irmão, ou pelo simples fato de ela ainda estar ali. Toda aquela situação era inesperada e inquietante e ela não sabia como agir. 

 Você vai pra lá, hoje?

 Não sei.

E a capa da indiferença havia voltado. Lustrosa e ofensiva. Ela foi até o elevador com a imagem dele usando uma toalha na cintura, como uma estátua grega, e tão fria quanto.

≈≈≈

Felipe viu Gabriela entrar no elevador e fechou a porta. Foi ao quarto, vestiu uma camiseta preta e uma calça qualquer e se jogou no sofá. Ficou contemplando o teto por um longo tempo enquanto seu corpo ainda vibrava por dentro num misto de sentimentos devastadores.

Uma tortura. Lenta e cruel.

Não devia ter trazido Gabriela para o apartamento. Não devia ter feito nada do que fez, ter ido atrás dela, ter feito amor com ela...

Havia cometido um erro. Mais um erro.

Seus olhos pousaram no quadro da garota olhando pela janela. A imagem o reconfortava na maior parte do tempo, mas às vezes o irritava. Irritava porque fazia parte de um passado doloroso, como uma lembrança constante de que não era hora de ser feliz.

Nunca seria.

"Eu não sei quem é o pai". Tais palavras, ditas por Gabriela várias vezes em meio ao pesadelo, o alfinetavam agora. Desconhecer a extensão do dano que ela vivera nas mãos do pai fazia seus próprios traumas parecerem uma birra de criança. 

Mesmo assim, doía. Corroía, queimava e ardia. Ele precisava fazer aquilo parar.

Resignado, caminhou até o banheiro e abriu a última gaveta. Estavam ali, enfileiradas, as caixas dos psicotrópicos outrora receitados por um psiquiatra de boa vontade. Uma fuga, uma alternativa a se afogar no álcool e na cocaína.

Não que um fosse melhor do que o outro.

Sua pele coçou. O suor brotou na testa e a boca ficou seca. O estômago embrulhou por um breve momento e aquela pontada no coração voltou a sangrar.

Thiago.

Era insuportável viver com a culpa pela morte do irmão. Era insuportável sentir. A angústia o levou a destacar um comprimido do blister. Um, dois... três, só para garantir. Foi até a sala, serviu-se de uma dose de vodka e voltou a contemplar a tela da garota na janela.

O caminho para a cura era árduo demais, e ele não passava de um covarde, fracassado e preguiçoso. Se Gabriela soubesse como ele fora o responsável pela morte do próprio irmão e por toda a merda que se sucedeu naquela tarde infeliz, ainda o deixaria se aproximar?

Ele era um monstro, e estava na hora de colocar o monstro para dormir. Engoliu os comprimidos, empurrou com a bebida incolor, e fechou os olhos.

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